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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Bento XVI: o Vaticano II, tal como eu o vi (Discurso ao Clero de Roma, 14/02/2013, legendado em Português)


Como funciona um Conclave?


“E os milhões mortos pela Santa Inquisição?”, perguntam. E eu respondo.

Escrevi em alguns posts que os valores essenciais do cristianismo certamente conduzem um juiz a um bom caminho — isso se o crucifixo estivesse em alguns tribunais por isso. Mas a razão, como já expliquei, é outra. Sempre que se fala do cristianismo, conjugam-se as mais variadas correntes de difamação da religião, especialmente do catolicismo, que se foram formando ao longo da história. A mais recente — historicamente falando — e mais poderosa, claro, é o marxismo. Atrocidades foram cometidas por autoridades eclesiásticas em quase dois mil anos de história? Foram, sim! E a própria Igreja se debruçou sobre isso.

Uma das técnicas da militância política, que deveria causar repúdio aos historiadores, é distorcer os fatos para vender uma ideologia. Infelizmente, no Brasil e em boa parte do mundo, quando o tema é religião, a irracionalidade predomina… em nome da razão! Nos colégios, nos cursinhos, nas universidades, professores se referem aos “milhões de mortos da Inquisição”, por exemplo, para tentar criticar não aquela Igreja do passado, mas a do presente. Parece que não há diferença entre as práticas do século 17 e as do século 21!!! Imaginem se todas as barbaridades que os cientistas já cometeram, na comparação com o que sabemos hoje, fossem usadas para considerar a ciência, então, um discurso brutalizante. “Religião não é ciência”, gritará alguém. De fato, a crença não é um objeto que possa ser dissecado à luz das leis da natureza. Mas existem uma ciência teológica e uma ciência moral que remetem ao conjunto de experiências e conhecimentos acumulados no terreno da fé. Adiante.

Ao longo do tempo, por bons e maus motivos, a Igreja foi uma inimiga poderosa de poderosos. Misturou-se e não se distinguiu da política durante um largo período. E foi, nem poderia ser diferente, alvo de difamações. Uma delas diz respeito justamente aos tais “milhões” de mortos da Inquisição. Uma leitora, Tereza Cristina, manda o comentário que segue. Ao responder a ela, respondo a dezenas, talvez centenas de outros comentários de igual teor. Leiam.

Reinaldo, você pode até discordar da Liga Brasileira de Lésbicas é um direito seu. Mas negar parte da história do Cristianismo no seu discurso é inaceitável. As acusações feitas a Liga hoje por você já foram práticas do Cristianismo. Não vamos esquecer da SANTA INQUISIÇÃO: momento que sabemos muitos morreram, foram torturados, sofreram perseguição religiosa e que a proteção da vida não foi lembrada. Seria bom também, se tivéssemos como voltar no tempo e perguntar aos africanos que vieram para o Brasil sobre PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA.Só para lembrar: A Inquisição foi um espécie de Tribunal religioso criado na Idade Média para condenar TODOS que eram contra os dogmas pregados pela Igreja Católica.Mandou para a fogueira milhares de pessoas como você mesmo falou ” crime simplesmente por não concordar com eles. De que mesmo a Liga está sendo acusada???? Contra fatos não há argumentos.

Comento
Em primeiro lugar, não acusei a “Liga Brasileira de Lésbicas” de coisa nenhuma — só de intolerância. Quanto à Santa Inquisição, republico um texto do site católico Veritatis Splendor – Memória e Ortodoxia Cristãs, que põe as coisas nos seus devidos lugares, com as necessárias referências bibliográficas.

Quem ainda estiver disposto a aprender alguma coisa vai se surpreender com o texto. Quem já sabe ficará satisfeito com a divulgação dos fatos — ou vai se zangar porque a mentira lhe é útil. E há sempre aquele que não vai querer aprender nada: “Ah, o Reinaldo está dizendo que a Inquisição foi bolinho”. Atenção! A fase do Terror, da Revolução Francesa, matou, em um ano, milhares de pessoas — os números variam de 16 mil a 40 mil. Muitas vezes mais do que a Inquisição em quatro séculos! Fidel Castro fuzilou, sozinho, muito mais do que o Santo Ofício ao longo da história: 17 mil pessoas. Se considerarmos, então, os mais de 80 mil que morreram afogados tentando fugir da ilha… Mao Tse-Tung matou 70 milhões; Stálin, 25 milhões; Hitler, 6 milhões…

Não, senhores! Eu não estou negando que a Igreja tenha praticado brutalidades. Como vocês verão abaixo, no entanto, ela podia ser muito mais branda que os tribunais civis. Mas isso é o de menos. Invariavelmente, os que querem mandar a Igreja, mesmo a de hoje, para o banco dos réus costumam mandar para o trono Robespierre, Fidel, Mao, Stálin…

Leiam o artigo, reflitam, pesquisem.
*
A Inquisição exterminou 30 milhões de pessoas?
Para muitos estes supostos dados de “milhões de mortes” são as provas claras e literais do obscurantismo e corrupção da Igreja católica durante a “Idade das Trevas” podemos então afirmar a veracidade destes números que pressupõem que um verdadeiro “holocausto” foi promovido por parte do clero da Igreja Católica?

É comum vermos na literatura secular, em filmes e documentários, pior nas escolas do ensino fundamental e médio e até em faculdades e universidades, a afirmativa de que a Igreja “torturou e matou milhares”, alguns dizem milhões de pessoas aniquiladas pela Inquisição. Há também diversos ambientes acadêmicos no Brasil em que é nítido tal interpretação, são muitos autores e professores universitários a partilhar dessas objeções.

É inegável a atuação da Inquisição assim como os julgamentos, qualquer contraposição é uma aberração um erro grotesco de história, a crítica veiculada neste texto é dirigida aos números de mortes e incidentes referentes aos cerca de 386 anos de atuação, deste tribunal eclesiástico.

Muitos podem até dizer que números não importam, contudo ela “matou e torturou”, a questão é que nesta situação os números representam o maior pretexto e fonte de contradições a temática, pois tendem a alimentar e propagar a ideia de uma tragédia histórica, sem controle, um crime, um perverso e criminoso ato, vindo da Igreja contra a humanidade. Não levando em conta os fatores, o contexto e as posições religiosas da época estaria correto colaborar com estas argumentações e afirmações? Teria sido uma ferramenta de perseguição e extermínio de quem ousava pensar diferente? ou trata-se de posições subjetivas oriundas do homem contemporâneo?

Vale salientar que estas sociedades eram claramente ligadas ao bem e ‘alegria social’ (Pernoud, 1997) e da religião “em função da fé cristã” (Daniel Rops, Vol. III. p. 43), tinham como ferramentas de prevenção, a condenação de grupo ou individuo, para evitar a contaminação de confusões e divisões que ruíam ‘todo o sistema e ordem social da época’ (Gonzaga, 1994) além de evitar a propagação de heresias e divisões entre os fieis na Cristandade, assim os códigos penais abraçavam e previam comumente a tortura e a morte do réu. E o povo entendia que estes eram os princípios jurídicos e inquisidores (cf. Mt 18,6-7) que evitavam a expansão de cismas e heresias.

Mas seriam verdadeiros estes indicies sobre a Inquisição? Ou é maquinação vinda dos inimigos da religião que tiram proveito não só da Inquisição ou das Cruzadas, centram-se também nos erros e faltas morais de alguns filhos da Igreja para fazê-los de “cavalo de batalha na sua guerra contra a religião e para perpetuamente as estarem lançando em rosto à Igreja.” como disse o historiador e Pe. W. Devivier, S.J.  Fato que “é da natureza da Igreja provocar ira e ataque do mundo” segundo Hilaire Belloc.

A principal finalidade do artigo não é amenizar os efeitos da Instituição ou fazê-la mais branda, mas trazer a tona os fatos e verdadeiros números da referida instituição, cujos estudiosos sérios testemunham para que possamos construir uma justa interpretação do tema, sem nos veicularmos a nenhuma propaganda anticatólica.

Vamos tomar como referência as Atas do grande Simpósio Internacional sobre a Inquisição, em que 30 grandes historiadores participaram vindos de diversas confissões religiosas, para tratar historicamente da Inquisição, proposta motivada pela Igreja. O Papa João Paulo II afirmou certa vez: “Na opinião do publico, a imagem da Inquisição representa praticamente o símbolo do escândalo”. E perguntou “Até que ponto essa imagem é fiel à realidade”.

O encontro realizou-se entre os dias 29 e 31 de Outubro de 1998. Com total abertura dos arquivos da Congregação do Santo Oficio e da Congregação do Índice. As Atas deste Simpósio, foram anos depois reunidas e apresentadas ao público, sob forma de livro contendo 783 paginas, intitulado originalmente de “L’Inquisione” pelo historiador Agostinho Borromeo, professor da Universidade de La Sapienza de Roma. O mesmo historiador lembrou “Para historiadores, porem, os números têm significado” (Folha de S. Paulo, 16 junho 2004).

As atas documentais do Simpósio, já foram utilizadas em vários obras de historiadores, e continuam a ser, tais documentos são resultados de uma profunda pesquisa sobre os dados de processos inquisitoriais: as seguintes afirmações foram declaradas pelo historiador Agostinho Borromeo.

Sobre a “famigerada e terrível” Inquisição Espanhola:
“A Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7% (13) foram condenados em “contumácia”, ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou mortos que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos.”

Sobre as famosas “caças às bruxas”.
“Dos 125.000 processos de sua historia [tribunais eclesiásticos], a Inquisição espanhola condenou a morte 59 “bruxas”. Na Itália. 36 e em Portugal 4.”

E a propaganda de que “foram milhões”.

Constatou-se que os tribunais religiosos eram mais brandos do que os tribunais civis, tiveram poucas participações nestes casos, o que não aconteceu com os tribunais civis que mataram milhares de pessoas.

Sentenças de um famoso inquisidor:
“Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou em 15 anos, houve 139 absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações de peregrinações, 307 prisões e 42 “entregas ao braço secular” ([citado em] AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. 1 ed. Cleofas. Lorena. 2009, p. 23).

O Simpósio conclui que as penas de morte e os processos em que se usava-se tortura, representam números pouco expressivos, ao contrario do se imaginava e foi propagado. Os dados são uma verdadeira demolição e extirpação de muitas ideias falsas e fantasiosas sobre a Inquisição.

“Hoje em dia, os historiadores já não utilizam o tema da inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja. Diferentemente do que antes sucedia, o debate se encaminhou para o ambiente histórico com estatísticas sérias” (Historiador Agostinho Borromeo, presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos: AS, 1998).

Bom que tudo isto tem mudado é sinal de esperança, tomara que haja uma nova reconstrução “hermenêutica”, sendo esta necessidade histórica. Que com uma justa crítica acurada, superem-se as ambiguidades historiográficas.

Pena que as correntes históricas penduram-se e os teóricos antigos, dizem eles os “conceituados” continuam a ser as referencias “fidelíssimas”, assim na prática pedagógica e histórica; seja superior (acadêmica) ou (média e fundamental) ensinos públicos, continua à ritualista tradição a-histórica, não transparente sobre os acontecimentos e de tom feiticista e alienado, incluindo dentre destes, muitos estudiosos, professores, e jornalistas brasileiros e do resto do mundo. “Há milhões de pessoas que odeiam o que erroneamente supõe o que seja a Igreja Católica” (Bispo americano, John Fulton Sheen).

Referencias:

AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. 1º ed. Cleofas. Lorena. 2009.

DEVEVIER, W. A Historia da Inquisição, curso de apologética cristã. Melhoramentos, São Paulo, 1925.

L’INQUISIONI. Atas do Simpósio sobre a Inquisição, 1998.

PERNOUD, Régine. A Idade Média: Que não nos ensinaram. Ed. Agir, SP, 1964.

ROPS. Henri-Daniel. A Igreja das Catedrais e das Cruzadas. Vol. III. Ed. Quadrante, São Paulo. 1993

Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Bento XVI e o jornalismo arregão

O jornal Gazeta do Povo publicou hoje um artigo que responde o insulto travestido de jornalismo feito pela senhora Barbara Gancia no jornal Folha de São Paulo no último dia 15 e que provocou a indignação de muitos católicos.


Bento XVI e o jornalismo arregão

Já foi dito por muitos católicos que acompanhar a cobertura desta renúncia papal e do próximo conclave por determinada imprensa era um tipo excelso de sacrifício. Não é de se admirar. Já teve jornal de primeira linha divulgando desde que a renúncia criava um precedente para se acabar com a infalibilidade papal - oi? - até que o momento era uma deixa para um Concílio Vaticano III. Mas até aí, sejamos tolerantes, opiniões jogadas ao vento, aceitas por qualquer papel.

O nível geral, no entanto, desceu drasticamente na última sexta feira, dia 15, quando a Folha de São Paulo divulgou o artigo de Barbara Garcia sobre o tema em questão.

Muito diferente dos outros textos, em que opiniões e especulações - por mais mirabolantes que fossem - eram colocadas em pauta com um mínimo de fundamento e seriedade, esse artigo chocou pelo seu caráter estrito de folhetim, propaganda e ataque pessoal. Dá para ver o veneno contido por entre a tipografia. Ao que tudo indica, a idéia era mesmo debochar, invocar ar de superioridade e capitalizar.

O artigo se intitula "Bento XVI, o Arregão". O escopo do artigo versa que Bento XVI se acovardou diante dos desafios da Igreja, que sua renúncia foi um sinal de "derrotismo", "frouxidão", e que este sai "de cena mordido", incapaz de imitar a Cristo. Começa criticando o fato do papa ter renunciando em latim - não ficou claro qual seria a sugestão para se falar diante de cardeais do mundo inteiro que falam em comum, o latim - depois entra nos clichês sobre pedofilia e encerra de forma épica qualificando João Paulo II de misógino. Mas a idéia toda do artigo é a exploração do próprio título, sendo o conteúdo conseguinte apenas desculpa para se divulgar o rótulo e ridicularizar.
Bento XVI, seria então arregão.

Quando Joseph Ratzinger fez exatos 75 anos, confessou num seminário em Roma que estava muito cansado e doente. Era diabético, hipertenso, já tinha sofrido AVC e pedido dispensa 3 vezes do seu cargo a João Paulo II, sendo as 3 vezes negada. Já usava marca-passo há algum tempo. Dois anos depois, quando João Paulo II morre e seu sonho de voltar para a Alemanha lecionar finalmente surge no horizonte, os cardeais votam em maioria pela eleição de Ratzinger. Ele poderia ter dito não. Além de todo o vasto campo de trabalho que o cargo de chefe de estado exige - precisando receber Presidentes, Primeiros-Ministros, Diplomatas, etc - Ratzinger ainda teria que zelar pelo rebanho de 1 bilhão de fiéis no mundo. Que empreendimento humano pede tanto a uma pessoa idosa, com saúde delicada? Nenhum. Como dito, ele poderia ter recusado. A história nos mostra no entanto, que ele disse sim.

Mas para Barbara Garcia, Bento XVI não passa de um arregão.

A Igreja Católica tem 4 mil bispos no mundo, sendo que como Papa, Bento XVI precisaria gastar tempo individualmente com cada um deles e periodicamente. Some a estes, outros 180 núncios apostólicos espalhados em quase todos os países. Como Papa, Bento XVI precisaria escrever cartas, encíclicas, constituições e exortações apostólicas, homilias, discursos, preparar catequeses e audiências semanais. Como Papa, Bento XVI precisaria viajar, e muito. Como Papa, Bento XVI precisaria governar o Estado do Vaticano e a Cúria Romana. Como Papa, Bento XVI precisaria rezar, e as vezes, até dormir. Como sabemos, ele disse sim para tudo isso.

Mas para Barbara Garcia, Bento XVI não passa de um arregão.

Em apenas oito anos e já com idade avançada e saúde frágil, Bento XVI fez pelo menos 28 viagens fora da Itália, sendo algumas delas extremamente pesadas. Em 2005, jovens do mundo todo foram escutar o Papa professor em Colônia. Em 2006 foi a vez de se encontrar com as famílias, em Valência. Em 2007 celebrou a canonização do nosso primeiro santo. Em 2008 visitou o "Ground Zero", em New York, e rezou pelas vítimas do terrorismo além de se encontrar com as vítimas dos injustificáveis abusos sexuais. Em 2009 rezou no muro das lamentações, na Terra Santa e nos anos seguintes ainda visitaria Portugal, Reino Unido, Chipre, Croácia, Madri, Alemanha, Benim, México, Cuba…até para o Líbano o Papa viajaria, no meio de tumultos, tiros, e convulsões civis…e em cada viagem, quilos de papéis com discursos, protocolos com autoridades locais, eclesiásticas, além das atividades espirituais próprias para com cada comunidade.

Mas como sabemos, para Barbara Garcia, Bento XVI não passa de um arregão.

De 2005 a 2012, Bento XVI nos deixou ao menos 279 cartas, 139 cartas apostólicas, 117 constituições apostólicas, 18 motu proprio, 4 exortações apostólicas, 3 encíclicas, 3 extensos livros narrando a sua biografia de Jesus Cristo, além de milhares (sim, milhares) de discursos e homilias. Os números são quase miraculosos, não fossem o rigor e a disciplina germânica que sempre marcaram a atividade de Joseph Ratzinger (doutor em 7 universidades), aquele mesmo que 8 anos antes já havia pedido 3 vezes por dispensa.

É, mas para Barbara Garcia, Bento XVI não passa de um arregão.

O código de direito canônico prevê a renúncia de todos os cargos eclesiásticos, inclusivo de um Papa. Não é um fato comum que um Papa renuncie, mas é um fato normal, ou seja, dentro da normalidade da Igreja. Bento XVI já havia emitido sua opinião em entrevista a Peter Seewald: se um Papa não consegue mais assumir os seus encargos, não apenas teria o direito de renunciar mas poderia até mesmo ter o dever de fazê-lo. O mesmo Seewald revelou nesse sábado, dia 16, que Bento XVI estava "esgotado há muito tempo", e que este ouvira do Papa um comovente "sou um homem idoso, as forças me abandonaram, acho que basta o que fiz até agora". Seewald ainda confidenciou que o último livro do Papa fora escrito "com suas últimas forças".

Bem, você já sabe o que a Barbara Garcia pensa de Bento XVI: arregão.

Nos dias seguintes a renúncia, autoridades do mundo todo vieram se manifestar em consideração a Bento XVI. O presidente da Itália disse que se tratava de um ato "de grande coragem e generosidade". Barack Obama disse que seu "apreço e orações" estavam com o papa. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que aquela era uma "decisão difícil que deve ser respeitada". David Cameron, primeiro-ministro britânico, disse que Bento XVI foi um papa que fez todos se sentarem e pensarem e que "fará falta como um líder espiritual de milhões de pessoas". "Eu acredito que ele merece muito crédito para o avanço das relações inter-religiosas em todo o mundo e entre o judaísmo, o cristianismo e o islamismo”, afirmou o rabino chefe israelense, Yona Metzger.

Ao contrário dessas pessoas, Barbara Garcia considera Bento XVI um arregão.

Peço desculpas pela insistência em reafirmar a opinião da jornalista tantas vezes. Era apenas para deixar claro que Barbara Garcia teve uma grande chance de escrever com seriedade, com decoro e honestidade. Deixou de lado a ética e optou pelo deboche, pela injúria pura e simples. Neste artigo, Barbara desistiu de fazer jornalismo, ou em outras palavras, Barbara decidiu arregar.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Leonardo Boff é a fonte preferida para falar do Papa. A saber: trata-se do seu maior inimigo

O teólogo Leonardo Boff está sendo uma das fontes mais consultadas sobre a renúncia de Bento XVI. Até aí, nenhum problema. Mas ele deveria ser apresentado como é: trata-se de um dos principais inimigos da Igreja Católica (da qual foi afastado) e do próprio Papa Bento XVI (um dos responsáveis por afastá-lo da Igreja). Ratzinger, antes do papado, contrariou as teses do brasileiro ligadas à Teologia da Libertação – uma interpretação marxista do Evangelho. Desde então, o teólogo se dedica diuturnamente a fulminar a Santa Sé.

O problema – e aí estamos falando de técnica jornalística – está no fato de que, não raras vezes, Boff é apresentado como mero escritor, analista, intelectual. E até pode ser tudo isso, ao menos para quem se abastece de sua produção. Ocorre que sua causa de viver é justamente a militância contra os objetos sobre o qual é convidado a opinar: a Igreja e o seu atual Papa.

E aí fica mais simples de entender suas entrevistas: as críticas que faz são inversamente proporcionais ao seu jeito afável e às palavras aparentemente dóceis. Ele só vê maldades em tudo o que vem de Bento XVI e da hierarquia católica.

Chamar Leoanrdo Boff para falar da renúncia do Papa é o mesmo que chamar Fidel Castro para falar de amor à liberdade.

O jornalismo precisa ser amigo da verdade. Boff tem liberdade para dizer tudo o que quiser e pode ser ouvido sempre que quiserem, repito. Só é preciso apresentá-lo, também repito, como quem verdadeiramente é.

Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Rachel Sheherazade e a Renúncia de Bento XVI. Perfeito!



Renúncia, uma lição de amor!

"Tenho 23 anos e ainda não entendo muitas coisas. E há muitas coisas que não se podem entender as 8h da manhã quando te acordam para dizer em poucas palavras: “Daniel, o papa renunciou.” Eu apressadamente contestei: “Renunciou?”. A resposta era mais que óbvia, “Renunciou, Daniel, o papa renunciou!”.

O papa renunciou. Assim amanheceu escrito em todos os jornais, assim amanheceu o dia para a maioria, assim rapidamente alguns tantos perderam a fé e outros muitos a reforçaram. Poucas pessoas entendem o que é renunciar.

Eu sou católico. Um de muitos. Desses que durante sua infância foi levado à missa, cresceu e criou apatia. Em algum ponto ao longo da estrada deixei pra lá toda a minha crença e a minha fé na Igreja, mas a Igreja não depende de mim para seguir, nem de ninguém (nem do Papa). Em algum ponto da minha vida, voltei a cuidar da minha parte espiritual e assim, de repente e simplesmente, prossegui um caminho no qual hoje eu digo: Sou católico. Um de muitos sim, mas católico por fim. Mas assim sendo um doutor em teologia, ou um analfabeto em escrituras (desses que há milhões), o que todo mundo sabe é que o Papa é o Papa. Odiado, amado, objeto de provocações e orações, o Papa é o Papa, e o Papa morre sendo Papa. Por isso hoje quando acordei com a notícia, eu, junto a milhões de seres humanos, nos perguntamos “por que?”. Por que renuncia senhor Ratzinger? Sentiu medo? Sentiu a idade? Perdeu a fé? A ganhou? E hoje, 12 horas depois, creio que encontrei a resposta: O senhor Ratzinger renunciou toda a sua vida.

Simples assim.

O papa renunciou a uma vida normal. Renunciou ter uma esposa. Renunciou ter filhos. Renunciou ganhar um salário. Renunciou a mediocridade. Renunciou as horas de sono pelas horas de estudo. Renunciou ser só mais um padre, mas também renunciou ser um padre especial. Renunciou preencher a sua cabeça de Mozart, para preenchê-la de teologia. Renunciou a chorar nos braços de seus pais. Renunciou a, tendo 85 anos, estar aposentado, desfrutando de seus netos na comodidade de sua casa e no calor de uma lareira. Renunciou desfrutar de seu país. Renunciou seus dias de folga. Renunciou sua vaidade. Renunciou a defender-se contra os que o atacavam. Sim, isso me deixa claro que o Papa foi, em toda sua vida, muito apegado à renuncia.

E hoje, voltou a demonstrar. Um papa que renuncia a seu pontificado quando sabe que a Igreja não está em suas mãos, mas nas mãos de alguém maior, parece ser um Papa sábio. Nada é maior que a Igreja. Nem o Papa, nem seus sacerdotes, nem os laicos, nem os casos de pedofilia, nem os casos de misericórdia. Nada é maior que ela. Mas ser Papa nesse tempo do mundo, é um ato de heroísmo (desses heroísmos que acontecem diariamente em nosso país e ninguém nota). Recordo sem dúvida, as histórias do primeiro Papa. Um tal... Pedro. Como morreu? Sim, em uma cruz, crucificado igual ao teu mestre, mas de cabeça para baixo. Hoje em dia, Ratzinger se despede de modo igual. Crucificado pelos meios de comunicação, crucificado pela opinião pública e crucificado pelos seus irmãos católicos. Crucificado pela sombra de alguém mais carismático. Crucificado na humildade que tanto dói entender. É um mártir contemporâneo, desses que se pode inventar histórias, a esses que se pode caluniar e acusar a vontade, que não respondem. E quando responde, a única coisa que faz é pedir perdão. “Peço perdão pelos meus defeitos”. Nem mais, nem menos. Quanta nobreza, que classe de ser humano. Eu poderia ser mórmon, ateu, homossexual e abortista, mas ver uma pessoa da qual se dizem tantas coisas, que recebe tantas críticas e ainda responde assim... esse tipo de pessoa, já não se vê tanto no mundo.

Vivo em um mundo onde é engraçado zombar o Papa, mas que é um pecado mortal zombar um homossexual (e ser taxado como um intolerante, fascista, direitista e nazista). Vivo em um mundo onde a hipocrisia alimenta as almas de todos nós. Onde podemos julgar um senhor de 85 anos que quer o melhor para a Instituição que representa, mas lhe indagamos com um “Com que direito renuncia?”. Claro, porque no mundo NINGUÉM renuncia a nada. Ninguém se sente cansado ao ir pra escola. Ninguém se sente cansado ao ir trabalhar. Vivo um mundo onde todos os senhores de 85 anos estão ativos e trabalhando (sem ganhar dinheiro) e ajudam às massas. Sim, claro.

Mas agora sei, senhor Ratzinger, que vivo em um mundo que vai sentir falta do senhor. Em um mundo que não leu seus livros, nem suas encíclicas, mas que em 50 anos se lembrará como, com um simples gesto de humildade, um homem foi Papa, e quando viu que havia algo melhor no horizonte, decidiu partir por amor à sua Igreja. Vá morrer tranquilo senhor Ratzinger. Sem homenagens pomposas, sem um corpo exibido em São Pedro, sem milhares aclamando aguardando que a luz de seu quarto seja apagada. Vá morrer, como viveu mesmo sendo Papa: humildemente.

Bento XVI, muito obrigado por renunciar."