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domingo, 1 de dezembro de 2013
sábado, 30 de novembro de 2013
Lição de teologia
Olavo de Carvalho - Jornal da Tarde,
2 de março de 2000
Um amigo meu, cristão devoto e
estudioso, preparou uma caprichada tradução dos Comentários de Ricardo de S. Vítor ao Apocalipse . Teólogos e
filósofos, Ricardo e seu confrade Hugo, ambos da abadia de S. Vítor na França,
escocês o primeiro, saxão o segundo, são daqueles pensadores para os quais o
qualificativo de “gênios” é micharia. Não há gênio pessoal que explique os
lampejos de pura sabedoria celeste. Os dois escreveram pouco. Mas esse pouco
está entre as jóias supremas do tesouro espiritual da Igreja e da Humanidade. A
tradução foi enviada a uma editora católica e daí repassada a um teólogo para
apreciação. Resposta do teólogo:
“Esta tradução tem a sua utilidade e
importância como livro documentário para fins de pesquisa por acadêmicos...
Mas, como livro na linha pastoral para o povo simples de hoje, infelizmente
perdeu o seu valor... É produto da mentalidade do século 12...”
E por aí vai, inclusive recomendando, em
lugar do perempto Ricado de S. Vítor, a obra Como
Ler o Apocalipse: Resistir e Denunciar , escrita por um sr. José
Bortolini. Não li essa obra, mas, pelo título, atualidade não lhe falta, já que
a palavra “denunciar” faz vibrar a corda mais sensível dos corações midiáticos,
apelando àquilo que a militância do escândalo considera o primeiro e mais alto
dever moral do homem.
Esse parágrafo é cheio de ensinamentos,
dos quais, até onde alcançam as minhas luzes, pude apreender os seguintes:
1) A teologia católica, em vez de se
desenvolver por acumulação, somando as descobertas de hoje às dos séculos
passados como o fazem todas as demais teologias – muçulmana, judaica, vedantina
ou budista –, evolui por substituição
, colocando o moderno no
lugar do antigo, exatamente como se faz na moda indumentária ou nos
catálogos das gravadoras de rock
.
2) O catolicismo também se distingue das
demais religiões porque, enquanto estas dão maior credibilidade às
interpretações mais próximas da fonte originária da revelação, os católicos,
inspirados pelo espírito do progresso, tanto mais se aprofundam na compreensão
da mensagem de Jesus Cristo quanto mais se afastam d'Ele no tempo e mais se
esquecem do que os santos disseram d'Ele no século 12, isto para não falar do
11, do 10.º e de outros mais antigos ainda.
3) Por força talvez do avanço
tecnológico, o habitante das grandes cidades de hoje tornou-se mais “simples”
do que os lavradores, boiadeiros, artesãos e fiandeiras do século 12, todos
eles sofisticados e eruditíssimos leitores de Ricardo de S. Vítor.
4) As visões espirituais dos sábios, dos
santos e profetas refletem menos a luz da eternidade do que as limitações
mentais da sua época histórica, sendo tão datáveis e perecíveis quanto as
cotações da bolsa ou os pareceres dos teólogos de aluguel. Por força desse
implacável desgaste entrópico, as palavras dos próprios apóstolos, remotas de
12 séculos em relação às de Ricardo de S. Vítor, empalidecem ainda mais do que
estas ante a majestosa atualidade evangélica do sr. Bortolini.
Não é maravilhoso que a exegese católica
da Bíblia possa
ser tão inerme ante a ação desgastante do tempo e, não obstante, estar sempre
subindo para aqueles patamares cada vez mais altos de compreensão que, até o momento,
culminam na pessoa do sr. Bortolini? Ó santíssima evolução!, proclamaria, em
êxtase, o pe. Teilhard. Joãozinho e Maria, atrasados pagãozinhos, precisavam
deixar sinais no chão para se orientar na floresta. Os católicos foram
abençoados com o dom de tanto mais saber onde estão quanto mais se esquecem do
caminho percorrido. Não me perguntem como isso é possível. É um novo mistério
da fé, substituído, pela moderna teologia, àqueles admitidos nos tempos
bárbaros de Ricardo de S. Vítor. Convém denominá-lo, com a devida unção,
“mistério da historicidade”, fazendo a festa de sua comemoração coincidir, no
calendário litúrgico, com o natalício de S. Antonio Gramsci, padroeiro desse
gênero de coisas.
O que não é mistério de maneira alguma é
que uma Igreja que se rebaixa a esse ponto ante o espírito mundano, chegando a
desprezar os ensinamentos de seus mestres porque não estão atualizados com a
última versão dos Pokemons ,
corre o risco de terminar como aquela prostituta velha do Livro de Ezequiel , que, já
não encontrando clientes que lhe paguem, tem de lhes dar dinheiro para que a
possuam.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
A educação grega e nós
A educação na Grécia antiga, cujo
sucesso inegável é amplamente comprovado pela criatividade em todos os campos
do saber e da arte, voltava-se, acima de tudo, à preparação dos jovens para os
altos postos da vida pública: a política, a magistratura e a educação mesma. Se
não é, portanto, uma fórmula que se possa copiar na instrução das massas em
geral, e se nos dias de hoje seria utópico tentar imitá-la até mesmo para a
formação da classe dominante, dos políticos, dirigentes de empresas,
comandantes militares, bispos e cardeais, ela continua, no entanto, um modelo
excelente para a educação da elite intelectual.
Não pretendo que seja possível ou mesmo desejável montar uma escola, muito menos um sistema nacional de educação, segundo o formato grego. Não é nesse sentido que uso a palavra “modelo”. Uso-a para designar apenas uma unidade de comparação e de medida que possa servir para a orientação pessoal, seja de alguns educadores, seja de pais de família interessados em homeschooling, seja de estudantes devotados a educar-se ou reeducar-se a si mesmos. Alguns dos meus alunos já têm clara consciência disso e vêm tirando proveito do exemplo grego, tanto para si mesmos quanto para seus filhos e, quando são professores, para seus alunos (v., por exemplo, http://radiovox.org/2013/10/24/carlos-nadalim-encontrando-alegria/).
Atendida essa limitação, a primeira coisa que deve nos chamar a atenção é a prioridade absoluta que, na educação infantil, se dava ao treinamento literário e artístico. Após a instrução moral básica dada pela educação doméstica, praticamente só o que se ensinava às crianças, tão logo elas estivessem alfabetizadas, era ler e decorar as obras dos grandes poetas, participar de encenações teatrais, cantar, dançar e fazer ginástica. Isso era tudo. O resto cada um aprendia por si ou com professores particulares.
Eis como Platão descreve esse processo:
“Quando
os alunos aprendem a ler e começam a compreender o que está escrito, tal como
faziam antes com os sons, dão-lhes a ler em seus banquinhos as obras de bons
poetas [épicos], que eles são obrigados a decorar; obras cheias de preceitos
morais, com muitas narrativas de louvor e glória dos homens ilustres do
passado, para que o menino venha a imitá-los por emulação e se esforce por
parecer-se com eles... Depois de haverem aprendido a tocar cítara, fazem-nos
estudar as criações de outros grandes poetas, os líricos, a que dão acompanhamento
de lira, trabalhando, desse modo, para que a alma dos meninos se aproprie dos
ritmos e da harmonia, a fim de que fiquem mais brandos e, porque mais ritmados
e harmônicos, se tornem igualmente aptos tanto para a palavra quanto para a
ação. Pois, em todo o seu decurso, a vida do homem necessita de cadência e
harmonia. Em seguida, os pais entregam-nos ao professor de ginástica, para que
fiquem com o corpo em melhores condições de servir ao espírito virtuoso, sem
virem a ser forçados, por fraqueza de constituição, a revelar covardia, tanto
na guerra quanto em situações semelhantes.”
(Protágoras, 325 d7 ss. Tradução de Carlos Alberto Nunes ligeiramente modificada.)
(Protágoras, 325 d7 ss. Tradução de Carlos Alberto Nunes ligeiramente modificada.)
Em seu livro densamente
documentado, Arts Libéraux et Philosophie dans la Pensée Antique (Paris,
Vrin, 2005), a erudita germano-francesa Ilsetraut Hadot acrescenta: “Os jovens
de famílias prósperas recebiam também, desta vez gratuitamente, uma educação
complementar tomando parte num côro trágico ou lírico, por ocasião das festas
cultuais locais. Essas demonstrações eram, com freqüência, primeiras
representações de uma peça de teatro ou de uma poesia lírica de autor
contemporâneo; eram portanto a ocasião, para os jovens, de ser colocados em
contato com todas as novas criações literárias do seu tempo e de aprendê-las de
cor. Esta espécie de educação era tão importante, que Platão, nas Leis (II,
654 a-b), se vê levado a identificar o homem culto (pepaidymênos) com
aquele que participou de um côro com freqüência suficiente (ikanos
kekoreykôta) e, ao contrário, o homem sem cultura com aquele que jamais fez
parte de um côro (akôreytos).”
Não há exagero em dizer que os jovens gregos, muito antes de entrar na vida pública, já tinham uma cultura literária superior à da média dos nossos atuais professores de Letras.
A preparação para a cidadania só começava depois de encerrada a etapa da educação escolar:
“Quando saem da escola, a cidade, por sua vez, os obriga a aprender leis e a tomá-las como paradigma de conduta, para que não se deixem levar pela fantasia e praticar alguma malfeitoria.”
Isso já era assim desde antes do advento dos sofistas, professores ambulantes que iam de cidade em cidade ensinando a arte da oratória e dos debates públicos. Os sofistas introduziram essas matérias na educação de alunos que já vinham não só com uma boa base literária e artística, mas com algum conhecimento das leis e princípios que regiam a vida social, conhecimento do qual a sofística era apenas um complemento técnico mais avançado. Prossigo esta explicação e tiro algumas conclusões dela no próximo artigo.
Professor Olavo de Carvalho - Filósofo, Jornalista e ensaísta
Publicado no Diário do Comércio.
PLC 122: o projeto de destruição da família.
O Projeto de Lei da Câmara n. 122/2006, conhecido nos meios cristãos
como lei da "mordaça gay"01 e originariamente apresentado pela
deputada Iara Bernardi (PT-SP) modificando várias normas do Direito brasileiro
e criminalizando a chamada "homofobia", recebeu um substitutivo, de
autoria do senador Paulo Paim (PT-RS) – que seria submetido à votação no dia 20
de novembro, mas, graças às ligações e mensagens do povo brasileiro aos seus
parlamentares, teve sua apreciação adiada02.
O relatório do parlamentar petista pretende colocar panos quentes em
toda a discussão gerada pelo projeto original. "Ouvimos todos e não
entramos na polêmica da homofobia. Essa foi a primeira mudança para elaboração
desse relatório"03, diz o texto do novo projeto. No
entanto, mesmo sem entrar "na polêmica da homofobia", o novo PLC 122
traz uma arma perigosa e ainda mais letal: a ideologia de gênero. O instrumento
para ludibriar a população continua sendo a manipulação da linguagem, pelo qual
é inoculado em termos aparentemente inofensivos um conteúdo ideológico e
revolucionário. Assim, se o antigo texto disfarçava sob a expressão
"homofobia" qualquer discordância da agenda homossexual, o novo texto
esconde a ideia de que as pessoas não apenas recebem sua sexualidade como um
dado biológico, mas são responsáveis por construir sua "identidade de
gênero" – o termo aparece 5 vezes no substitutivo do senador Paulo Paim. Ou
seja, embora a ênfase tenha mudado, a perversão continua.
As modificações introduzidas no texto do projeto de lei integram um
script pré-concebido para desestabilizar totalmente a família tradicional. Ao
contrário do que os meios de comunicação mostram, este processo de subversão
não é algo "automático", como se o reconhecimento de "novas
configurações" de família fosse uma expressão do zeitgeist ("espírito
dos tempos") ou do "progresso" da civilização. Trata-se de um
programa de ação sistemática idealizado justamente para destruir a família, já
que esta, da forma como é concebida pela moral judaico-cristã, é um empecilho
para que aconteça a revolução comunista tanto querida por Karl Marx. Para
identificar isto, basta que se leia o famoso "A Origem da Família, da
Propriedade Privada e do Estado", iniciado por Marx, mas concluído por
Engels; basta que se procurem as obras dos ideólogos de gênero, para descobrir
quais são seus verdadeiros intentos.
Já que a família tradicional não está tragicamente fadada a desaparecer,
a menos que os seus defensores fiquem de braços cruzados, é importante que os
cristãos e conservadores deste país se juntem neste esforço político comum: combater
a implantação da agenda de gênero na sociedade brasileira.
Católicos, protestantes, judeus, espíritas ou quaisquer homens de boa
vontade são chamados a fazer uma coalizão a fim de defender o patrimônio moral
que moldou o Ocidente, independentemente das diferenças que existam entre si,
por maiores que sejam. O adversário – a esquerda – sabe perfeitamente qual o
esquema para vencer: colocar os conservadores – especialmente os cristãos – uns
contra os outros.
Ora, é evidente que os católicos, acatando as posições morais e
doutrinárias da Igreja Católica, continuarão tentando converter os protestantes
– e vice-versa. No entanto, é preciso que todos aqueles que creem em Cristo
tomem consciência do perigo maior que ronda a sociedade neste momento. Não se
pode brigar por causa de um "arroz queimado" na cozinha quando a casa
inteira está sendo incendiada. É preciso, antes, apagar o fogo da casa, para,
depois, discutir o arroz. Da mesma forma, ao invés de lançar brigas no seio do
movimento conservador, é necessário que os cristãos se unam contra o inimigo
comum; se não, ambos serão destruídos.
O que os socialistas realmente querem é a destruição da moral
judaico-cristã, e não o reconhecimento de supostos "direitos
homossexuais". Os marxistas estão a utilizar os homossexuais como
"ponta de lança", pois é sabido que, nos regimes comunistas de Stálin,
Mao e Fidel Castro, foram justamente os homossexuais os primeiros a morrer, ora
fuzilados em "paredões", ora oprimidos em campos de concentrações.
Isto explica por que, diante de padres e pastores tentando ser fiéis à sua
religião, o movimento gayzista faz um alarde, mas, diante dos crimes
perpetrados pelas ditaduras socialistas contra os homossexuais, eles se calam: o
movimento LGBT é amplamente subvencionado pelo marxismo cultural.
A votação do PL 122 na Comissão de Direitos Humanos não foi cancelada, mas
apenas adiada. Por isso, é importante que a população brasileira continue
enviando e-mails e telefonando ao Senado Federal, para mostrar que não quer a
agenda de gênero implantada em nosso país. Os telefones e e-mails dos senadores
da referida Comissão estão disponíveis no site do articulista Julio Severo04.
Material de Estudo
Referências
1.
Ao final de
2011, o padre Paulo gravou uma aula sobre os perigos deste projeto. Cf. Aula Ao Vivo n. 9: PL 122, a lei da
mordaça gay.
2.
"A
pressão sobre o PLC 122 foi tão grande que o senador Paulo Paim, autor de uma
mudança no PLC 122 que supostamente deixava o projeto "inócuo," teve
de retirá-lo da pauta da votação, que seria hoje", segundo o blog do Julio Severo.
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