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sábado, 17 de dezembro de 2016

“Nossas esposas e filhas têm medo de ataques sexuais,” diz ministro alemão, que avisou que Alemanha perdeu o controle de suas ruas e precisa deportar centenas de milhares de imigrantes muçulmanos

- juliosevero.blogspot.com.br
Markus Söder, ministro do interior e economia da Bavária, fez os comentários depois do assassinato da adolescente Maria Ladenburger, e um ano desde que centenas de moças alemãs sofreram ataques sexuais na cidade de Colônia. Ele avisou: “Nossas mulheres e filhas estão cada vez mais com medo de ataques sexuais.”
Ele afirmou que a polícia está frustrada com a impunidade legal para com imigrantes que cometem crimes sexuais. Um imigrante muçulmano de 17 anos está sendo acusado de estuprar e matar Ladenburger, de 19 anos.
No começo deste mês, um muçulmano iraquiano de 31 anos foi preso por estuprar duas mulheres em Bochum. Na virada de ano no ano passado, centenas de moças alemãs sofreram ataques sexuais de muçulmanos africanos.
Söder disse: “No ano passado, a Alemanha perdeu o controle de suas fronteiras. Agora, a Alemanha está perdendo o controle de suas ruas.” A única solução, ele apontou, é realizar uma deportação em massa de imigrantes muçulmanos.
Com informações do DailyMail.

Ano ruim para a esquerda.

O ano de 2016 foi, de fato, um ano ruim para a esquerda. Eis os motivos, nas ordem em que me lembro.

- Dilma é defenestrada da Presidência da nefasta República;

- Lula é Tetra-réu na Lava-Jato / Zelotes, e já sente o frio das algemas tocar-lhe a pele dos punhos;

- A esquerda, representada por inúmeros partidos, teve uma derrota clamorosa nas eleições municipais deste ano. No Rio, o cristão Marcelo Crivella - do qual não nutro grandes simpatias derrotou Marcelo Freixo, o paladino dos direitos da bandidagem;

- Donald Trump, contra todas as previsões dos jornalistas de meia tigela do Brasil, e confirmando a sagacidade dos intelectuais conservadores que previram sua Vitória, é eleito Presidente dos Estados Unidos da América;

- Na França, temos Marine Le Pen, que a mídia brasileira insiste de forma idiota em alcunhá-la como sendo uma candidata de "extrema-direita", como o principal nome para a eleição presidencial francesa em 2017. A esquerda não tem a mínima chance contra Le Pen, principalmente após o desastre das imigrações ilimitadas e à eleição de Donald Trump;

- Na Inglaterra, temos Theresa May, do Partido Conservador, como Primeira-Ministra;

- Depois do Brexit, outros países cogitam sua saída da União Européia;

- A Venezuela saiu do Mercosul;

-Morre o ditador sanguinário Fidel Castro

- Morre Dom Paulo Evaristo Evaristo Arns, o mesmo que escreveu bilhetinho de congratulações para Fidel Castro quando da derrubada de Fulgêncio Batista, dizendo que "a fé cristã descobre nas conquistas da Revolução os sinais do Reino de Deus;

- Jair Messias Bolsonaro está, segundo pesquisa do Data Folha, em segundo lugar nas intenções espontâneas de voto, o que significa que sem nenhum outro nome mencionado pelo entrevistador, o nome que salta da boca do brasileiro quando interrogado sobre em quem votaria no pleito de 2018 é o de Jair Bolsonaro. Se o Data Folha seguir fielmente sua competência das estatísticas da últimas eleições, podemos ter certeza de que Jair Bolsonaro não está em segundo, mas em primeiro lugar nas intenções espontâneas de voto;]

Certamente tem mais coisa, mas isto, por hora, é o que me lembro.

Que venha 2018.





Dom Athanasius Schneider – palavra final sobre ‘Amoris Laetitia’.

- Fratres in Unum.com 

A seguinte palestra foi proferida por Sua Excelência Reverendíssima Dom Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana, Cazaquistão, na Fundação Lepanto, em 5 de dezembro, e traduzida por Matthew Cullinan Hoffman de LifeSiteNews – tradução para o português de Rafael Ribeiro de Faria especialmente para FratresInUnum.com.

Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Karaganda, Cazaquistão.
Dom Athanasius Schneider,..
ROMA, Itália, 9 de dezembro de 2016 — Quando Nosso Senhor Jesus Cristo pregou a verdade eterna dois mil anos atrás, a cultura, isto é, o espírito reinante daquele tempo, estava radicalmente oposto a Ele. Especificamente, havia o sincretismo religioso, o gnosticismo das elites intelectuais e a permissividade moral das massas, especialmente no que diz respeito à instituição do matrimônio. “Estava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não o reconheceu.” (João 1:10.)
A maioria do povo de Israel, em particular os sumos sacerdotes, os escribas e os Fariseus, rejeitaram o Magistério da divina revelação de Cristo e também a proclamação da indissolubilidade absoluta do matrimônio. “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam”. (João 1:11). Toda a missão do Filho de Deus na Terra consistiu na revelação da Verdade: “É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo”. (João 18:37).
Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para salvar a humanidade do pecado, oferecendo a Si mesmo em perfeito e agradável sacrifício de louvor e expiação a Deus Pai. A morte redentora de Cristo também contém o testemunho que Ele deu em todas as Suas palavras. Cristo está preparado para morrer pela verdade de cada uma de Suas palavras: “Mas, agora, procurais tirar-me a vida, a mim que vos falei a verdade que ouvi de Deus!… Por que não compreendeis a minha linguagem? É porque não podeis ouvir a minha palavra. Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas eu, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem de vós me acusará de pecado? Se vos falo a verdade, por que me não credes?” (João 8: 40, 43-46). A disposição de Jesus em morrer pela verdade incluía toda a verdade que Ele anunciou, certamente incluindo a verdade da absoluta indissolubilidade do matrimônio.
Jesus Cristo é o restaurador da indissolubilidade e da santidade original do matrimônio, não apenas por meio de Sua palavra divina, mas de uma forma mais radical por meio da sua morte redentora, com a qual Ele elevou a dignidade criada e natural do matrimônio à dignidade de um sacramento. “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela… Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja – porque somos membros de seu corpo. ‘Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne.’ Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja.” (Ef. 5: 25, 29-32). Por essa razão as seguintes palavras da pregação da Igreja são aplicadas também ao matrimônio: “Ó Deus, que de modo maravilhoso criastes em sua dignidade a natureza humana e de modo mais maravilhoso ainda a reformastes” (Missa Tridentina, Rito do Ofertório).
Os Apóstolos e seus sucessores, em primeiro lugar os Romanos Pontífices, sucessores de Pedro, guardaram com devoção e transmitiram com fidelidade a doutrina inegociável do Verbo Encarnado sobre a santidade e indissolubilidade do matrimônio, também no que diz respeito à pratica pastoral. Essa doutrina de Cristo é expressa na seguinte afirmação do Apóstolo: “Considerai o matrimônio com respeito e conservai o leito conjugal imaculado, porque Deus julgará os impuros e os adúlteros” (Heb. 13: 4) e “Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não se separe do marido. E, se ela estiver separada, que fique sem se casar, …-Igualmente, o marido não repudie sua mulher.” (1 Cor. 7:10-11). Essa palavra inspirada pelo Espírito Santo sempre foi proclamada na Igreja por dois mil anos, servindo como uma instrução obrigatória e como uma norma indispensável para a disciplina sacramental e para a vida prática dos fiéis.
O mandamento de não casar novamente após a separação de um cônjuge legitimo não é fundamentalmente uma norma positiva ou canônica da Igreja, mas é a Palavra de Deus, como São Paulo Apóstolo ensinou: “Mando não eu, mas o Senhor” (1 Cor. 7:10). A Igreja proclamou essa palavra ininterruptamente, proibindo aos fiéis validamente casados de buscarem o matrimônio com um novo parceiro. Consequentemente, a Igreja, conforme a razão – divina e humana – não possui autoridade para aprovar, mesmo implicitamente, uma união more uxorio (conjugal) fora de um matrimônio válido, admitindo tais pessoas adúlteras à Santa Comunhão.
Uma autoridade eclesiástica que emite normas ou orientações pastorais que prevê tal admissão, arroga para si um direito que Deus não concedeu. Um acompanhamento e discernimento pastoral que não comunica à pessoa adúltera, os chamados divorciados recasados, a obrigação divinamente estabelecida de viver em continência como uma condição sine qua non para admissão aos sacramentos, trata-se, na realidade, de clericalismo arrogante, uma vez que não há clericalismo tão farisaico como aquele que arroga para si os direitos reservados a Deus. 
Um dos mais antigos e evidentes testemunhos da imutável prática da Igreja Romana de rejeitar uniões adúlteras pela disciplina sacramental – uniões de fiéis que ainda estão ligados a um cônjuge legítimo por um vínculo matrimonial – é o autor de uma catequese penitencial conhecida pelo título pseudônimo de “o Pastor de Hermas”. A catequese foi escrita, muito provavelmente, por um sacerdote romano no começo do século II, como indicado pelo estilo literário de “apocalipse” ou relato de uma visão.
O segundo diálogo entre Hermas e o anjo da penitência, que aparece a ele na forma de um pastor, demonstra com admirável clareza a doutrina e a prática imutável da Igreja Católica nesse campo: “O que, ó Senhor, fará o marido se sua mulher persiste nessa paixão do adultério?” “Deve repudiá-la e viver sozinho. Contudo, se depois de ter repudiado sua mulher, ele se casar com outra, então ele também comete adultério.” “Senhor, e se a mulher depois de ter sido repudiada, arrepender-se e quiser voltar a seu marido, ele deverá acolhê-la?” “Sim. E se o marido não a receber, ele cometerá pecado e carrega-se de grande culpa. Ele deve, ao contrário, acolher aquela que peca e se arrepende… É por causa da possibilidade desse arrependimento que o homem não deve se casar de novo. Essa obrigação vale tanto para a mulher como para o homem. O adultério não é apenas macular o corpo. Quem vive como os pagãos, também comete adultério… Por essa razão é que se ordena permanecer sozinho, tanto o homem como a mulher, é porque em tal caso é possível o arrependimento… mas aquele que pecou não deve pecar de novo” (O Pastor de Hermas, Quarto Mandamento, 1).
Sabemos que o primeiro grande pecado eclesiástico foi o pecado do sumo sacerdote Aarão, quando cedeu à impertinente solicitação dos pecadores e permitiu que venerassem o ídolo do bezerro de ouro (Cf. Ex. 32:4), substituindo, nesse caso particular, o Primeiro Mandamento do Decálogo de Deus, isto é, substituindo a vontade e a palavra de Deus pela vontade pecadora do homem. Aarão justificou seu ato de clericalismo exacerbado recorrendo à misericórdia e à sua compreensão das necessidades do homem. A Sagrada Escritura diz exatamente assim: “Moisés viu que o povo estava desenfreado, porque Aarão tinha-lhe soltado as rédeas, expondo-o assim à mofa de seus adversários.”(Ex. 32:25).
Esse primeiro pecado eclesiástico está se repetindo hoje na vida da Igreja. Aarão deu permissão ao povo para pecar contra o Primeiro Mandamento do Decálogo de Deus, e estar ao mesmo tempo sereno e contente ao fazê-lo, e o povo de fato estava dançando. Foi uma idolatria alegre: “O povo assentou-se para comer e beber, e depois levantaram-se para se divertir.” (Ex. 32:6). Em vez do Primeiro Mandamento, como foi no tempo de Aarão, muitos eclesiásticos, até nos níveis mais altos, substituem, em nossos dias, o Sexto Mandamento pelo novo ídolo das relações sexuais entre pessoas que não estão validamente casadas, o que, de certo modo, é o Bezerro de Ouro venerado pelos clérigos de nosso tempo.
A admissão de tais pessoas ao sacramento, sem pedir que vivam em continência como uma condição sine qua non, significa fundamentalmente uma permissão para não observar, em tal caso, o Sexto Mandamento. Tais eclesiásticos, como novos “Aarões”, satisfazem tais pessoas, dizendo que elas podem ficar tranquilas e alegres, isto é, que podem continuar na alegria do adultério, por causa de uma nova “via caritatis” (via de caridade) e por causa do sentido “maternal” da Igreja, e que podem até receber o sustento da Eucaristia. Com tais orientações pastorais, os novos clérigos “Aarônicos” fazem do povo Católico o escárnio de seus inimigos, isto é, do mundo descrente e imoral, que poderá realmente dizer, por exemplo:
“Na Igreja Católica pode-se ter uma nova parceira além da própria esposa, e a união com ela é permitida na prática.”
“Na Igreja Católica, consequentemente, é permitido uma espécie de poligamia.” 
“Na Igreja Católica, a observância do Sexto Mandamento do Decálogo, tão odiado por parte de nossa sociedade moderna, ecológica e iluminada, pode ter legítimas exceções.”
“O princípio do progresso moral do homem moderno, de acordo com o qual a legitimidade de atos sexuais fora do casamento deve ser aceita, é finalmente aceito de forma implícita pela Igreja Católica, que sempre foi retrógrada, rígida e contrária à alegria do amor e ao progresso moral do homem moderno.”
É assim que os inimigos de Cristo e da verdade divina estão começando a dizer, esses que são os verdadeiros inimigos da Igreja. Pelo trabalho do novo clericalismo Aarônico, a admissão daqueles que, sem arrependimento, praticam adultério, faz dos filhos da Igreja Católica o escárnio de seus adversários.
O fato de que o primeiro santo a dar sua vida como testemunho de Cristo ter sido São João Batista, o Precursor do Senhor, permanece sempre como uma grande lição e um sério aviso aos pastores e aos fiéis da Igreja. O testemunho de João Batista consistiu na defesa, sem sombra de dúvida ou ambiguidade, da indissolubilidade do matrimônio, e na condenação do adultério. A história da Igreja Católica é gloriosa nos exemplos luminosos deixados por aqueles que seguiram o exemplo de São João Batista ou que, como ele, deram testemunho de seu sangue, sofrendo perseguições e prejuízos pessoais. Esses exemplos devem guiar especialmente os pastores da Igreja hoje, porque eles não cederam à clássica tentação eclesiástica de buscar agradar o homem mais que a santa e exigente vontade de Deus, uma vontade que é ao mesmo tempo amorosa e muito sábia.
Entre os numerosos imitadores de São João Batista como mártires e confessores da indissolubilidade do matrimônio, vamos recordar apenas alguns dos mais significantes. O primeiro grande testemunho foi o do Papa São Nicolau I, que recebeu o nome de “Magno”. Houve um conflito no século IX entre o Papa Nicolau I e Lotário II, o rei de Lorena. Lotário inicialmente estava unido, mas não casado, com uma aristocrata de nome Valdrada, contraindo depois matrimônio com a nobre Teuberga por razões políticas. Depois se separou dela e se casou com sua antiga companheira, e quis que o Papa, a todo custo, reconhecesse a validade do segundo casamento. Mas, apesar de Lotário gozar do apoio dos bispos de sua região e do apoio do Imperador Luís II, que invadiu Roma com seu exército, Nicolau I não cedeu às suas exigências e de forma alguma reconheceu o segundo casamento como legítimo.
Lotário II, o rei de Lorena, depois de repudiar e trancar sua consorte Teuberga num mosteiro, passou a viver com Valdrada, e recorrendo a calúnias, ameaças e torturas, pediu aos bispos locais por um divórcio, para poder casar com ela. Os bispos de Lorena, no Sínodo de Aachen em 862, cederam às maquinações do rei, aceitaram a confissão de infidelidade de Teuberga, sem levar em conta que foi extorquida por violência. Lotário II então se casou com Valdrada, que se tornou rainha. Em seguida houve um apelo da rainha deposta ao Papa, que interveio contra os bispos que consentiram, provocando desobediência, excomunhão e retaliação por parte de dois deles, que se voltaram para o imperador Luís II, irmão de Lotário.
O Imperador Luís decidiu agir com força e no começo de 864 ele chegou a Roma com o exército, invadindo a Cidade Leonina com seus soldados, desfazendo até procissões religiosas. O Papa Nicolau foi forçado a deixar a Basílica de Latrão e buscar refúgio na Basílica de São Pedro, e declarou que estava preparado para morrer, ao invés de permitir uma união more uxorio fora de um casamento válido. No final, o imperador cedeu à heroica constância do papa e aceitou seus decretos, chegando a obrigar os dois arcebispos rebeldes, Gunter de Colônia e Tietgaldo de Tréveris, a aceitar a decisão do papa.
O Cardeal Walter Brandmüller faz a seguinte avaliação desse evento emblemático na história da Igreja: “No caso que examinamos, significa que, considerando o dogma da unidade, da sacramentalidade e da indissolubilidade do matrimônio entre duas pessoas batizadas, não há caminho de volta a não ser – inevitável, e portanto, rejeitado – considerá-lo um erro que deve ser corrigido. O modo de agir de Nicolau I na disputa quanto  ao novo casamento de Lotário II, tão consciente de princípio como inflexível e destemido, constitui um marco importante no caminho da afirmação da doutrina do matrimônio no contexto cultural germânico. O fato de que esse Papa, como vários de seus sucessores em ocasiões similares, ter provado ser um advogado da dignidade da pessoa e da liberdade dos fracos – que em geral eram mulheres – tornou Nicolau I digno de respeito de historiadores, da coroa da santidade e do título de ‘Magno.’”
Outro brilhante exemplo de confessores e mártires da indissolubilidade do matrimônio é dado por três figuras históricas envolvidas no caso do divórcio de Henrique VIII, Rei da Inglaterra. Eles são o Cardeal São João Fisher, São Thomas More e o Cardeal Reginald Pole.
Quando ficou claro pela primeira vez que Henrique VIII buscava uma maneira de se divorciar de sua legítima esposa, Catarina de Aragão, o bispo de Rochester, João Fisher, publicamente se opôs a seus esforços. Ele é o autor de sete publicações onde condena o iminente divórcio de Henrique VIII. O Primaz da Inglaterra, Cardeal Wolsey, e todos os outros bispos do país, com exceção do bispo de Rochester, John Fisher, apoiaram a tentativa do rei para dissolver seu primeiro e válido matrimônio. Talvez eles o tenham feito por motivos pastorais e para avançar na possibilidade de um acompanhamento e discernimento pastoral.
Ao contrário, o bispo John Fisher teve coragem o suficiente para fazer uma declaração bem clara na Câmara dos Lordes, afirmando que o matrimônio era legítimo, que um divórcio seria ilegal, e que o rei não tinha o direito de tomar esse caminho. Na mesma sessão do Parlamento, o famoso Ato de Sucessão foi aprovado, o qual requeria de todos os cidadãos o juramento de sucessão, reconhecendo os filhos de Henrique e Ana Bolena como os herdeiros legítimos do trono, sob pena de ser culpado de alta traição. O Cardeal Fisher recusou o juramento, foi preso em 1534 na Torre de Londres e no ano seguinte foi decapitado.
O Cardeal Fisher havia declarado que nenhum poder, humano ou divino, poderia dissolver o matrimônio do rei e da rainha, pois o matrimônio era indissolúvel, e ele estava pronto para dar a vida de bom grado por essa verdade. Ele notou que em tais circunstâncias, João Batista não viu outra maneira mais gloriosa de morrer do que pela causa do matrimônio, não obstante o fato que de o matrimônio não era tão sagrado naquele tempo como o seria depois, quando Cristo derramou Seu Sangue para santificá-lo.
Em pelo menos dois registros de seu julgamento, São Thomas More observou que a verdadeira causa da hostilidade de Henrique VIII contra ele era o fato de que Thomas More não acreditava que Ana Bolena era esposa de Henrique VIII. Uma das causas da prisão de Thomas More foi sua recusa em afirmar por juramento a validade do casamento entre Henrique VIII e Ana Bolena. Naquele tempo, diferente do nosso, nenhum Católico acreditava que uma relação adúltera poderia, em circunstâncias particulares ou por motivos pastorais, ser tratada como se fosse um casamento verdadeiro.
Reginald Pole, futuro cardeal, era primo distante do Rei Henrique VIII, e em sua juventude recebeu dele uma bolsa generosa para os estudos. Henrique VIII lhe ofereceu o arcebispado de York, se o apoiasse na causa de seu divórcio. Então Pole teria de ser um cúmplice no desrespeito que Henrique VIII tinha pelo matrimônio. Durante uma conversa com o rei no palácio real, Reginald Pole disse-lhe que não poderia aprovar seus planos, pela salvação da alma do rei e por causa de sua própria consciência. Ninguém, até aquele momento, havia ousado se opor ao rei em sua face. Quando Reginald Pole pronunciou essas palavras, o rei se enfureceu ao ponto de tirar seu punhal. Pole pensou que naquele momento o rei o esfaquearia. Mas a cândida simplicidade com a qual Pole falou, como se tivesse pronunciado uma mensagem de Deus, e sua coragem na presença de um tirano, salvaram sua vida.
Alguns eclesiásticos naquele tempo sugeriram ao Cardeal Fisher, ao Cardeal Pole e a Thomas More, que eles deveriam ser mais “realistas” quanto ao assunto da união adúltera e irregular de Henrique VIII com Ana Bolena, e menos “preto e branco”, e que talvez fosse possível realizar um processo canônico breve para certificar a nulidade do primeiro casamento. Desse modo, se poderia evitar um cisma e prevenir que Henrique VIII cometesse pecados mais graves e monstruosos. No entanto, há um grande problema com esse raciocínio: todo o testemunho da palavra revelada da divina e ininterrupta tradição da Igreja diz que a indissolubilidade de um matrimônio verdadeiro não deve ser repudiada, nem pode ser tolerado um adultério consolidado pelo tempo, quaisquer que sejam as circunstâncias.
Um último exemplo de testemunho é dos chamados “cardeais negros”, no caso do divórcio de Napoleão I, um nobre e glorioso exemplo de membros do Colégio Cardinalício para todos os tempos. Em 1810, o Cardeal Ercole Consalvi, então Secretário de Estado, se recusou a comparecer à celebração do casamento entre Napoleão e Maria Luísa da Áustria, dado que o papa não pôde se expressar quanto à não validade da primeira união, entre o Imperador e Josefina de Beauharnais. Furioso, Napoleão ordenou que os bens de Consalvi e de outros doze cardeais fossem consfiscados, e que eles deveriam ser privados de sua posição. Esses cardeais então tinham que se vestir como padres comuns, sendo apelidados de “cardeais negros.” O Cardeal Consalvi reconta o caso dos treze “cardeais negros” em suas memórias:
“No mesmo dia fomos obrigados a parar de usar a insígnia de cardeais, e a nos vestir de preto, de onde veio a denominação “Negro” e “Vermelho”, pela qual os dois partidos do Colégio ficaram distinguidos… Foi um milagre que, na sua fúria inicial, o Imperador ordenou que três dos treze cardeais fossem executados, isto é, Opizzoni, eu e um terceiro, cuja identidade é desconhecida (talvez fosse o Cardeal di Pietro), e depois, quando limitou-se a mim apenas, a execução  não foi realizada.”
Então o Cardeal Consalvi conta com mais detalhes: “Após muitas deliberações entre nós treze, concluiu-se que, sobre o convite do Imperador, por nosso respeito ao matrimônio, nós não compareceríamos, isto é, nem no religioso, pela razão dada acima, nem no civil, pois não acreditamos que seja apropriado que um cardeal autorize, com sua presença, a nova legislação, a qual separa tal ato da chamada benção nupcial, e que apesar da suposição de que o ato foi desligado da sua anterior associação, não acreditamos que o foi legitimamente. Decidimos, portanto, não comparecer. Quando o casamento civil foi realizado em Saint-Cloud, nós treze não comparecemos. Chegou o dia do casamento religioso. Os assentos foram preparados para todos os cardeais, com a esperança de que no último momento todos compareceriam, ao menos no evento que mais interessava à Corte. Mas os treze cardeais não foram. Os outros quatorze compareceram… Quando o Imperador entrou na capela, seu primeiro olhar foi na direção do lugar onde os cardeais estavam e, ao ver apenas quatorze, sua face tinha tal expressão de raiva, que todos os presentes perceberam claramente.”
“Então chegou o dia final. Depois de trazer todos os treze cardeais ao Ministério de Culto, fomos levados a uma sala onde nos encontramos com o Ministro da Polícia, Fouché. Quando entramos, o Ministro Fouché estava na lareira e me aproximei para cumprimentá-lo. Ele me disse em voz baixa: “Eu lhe avisei, Senhor Cardeal, que as consequências seriam terríveis: o que me dói é ver-lhe entre as vítimas.” O Ministro de Culto começou a falar e acusou o cardeal e seus doze colegas de estarem envolvidos numa conspiração. “Sobre esse crime, proibido e punido com a maior severidade na lei vigente, ele se encontrou na desagradável necessidade de mostrar as ordens de Sua Majestade para nós, que foram essas três coisas, a saber: primeiro, que nossos bens, não apenas eclesiásticos, mas também patrimoniais, seriam retirados de nós a partir daquele momento e confiscados; segundo, estávamos proibidos para sempre de usar a insígnia de cardeais ou qualquer outro uniforme apropriado à nossa dignidade, pois Sua Majestade não mais nos considerava cardeais; terceiro, que Sua Majestade reservou para si o direito de decidir sobre nossas pessoas, o que nos fez compreender que talvez fossemos levados a julgamento… No mesmo dia fomos obrigados a parar de usar a insígnia de cardeais, e a nos vestir de preto, de onde veio a denominação “Negro” e “Vermelho”, pela qual os dois partidos do Colégio ficaram distinguidos.”
Que o Espírito Santo levante, entre todos os membros da Igreja, desde o mais simples e humilde dos fiéis ao Supremo Pastor, sempre mais numerosos e corajosos defensores da verdade da indissolubilidade do matrimônio e da correspondente prática imutável da Igreja, ainda que, por tal defesa, eles se arrisquem a perder vantagens pessoais consideráveis. A Igreja deve mais do que nunca se exercer no anúncio da doutrina matrimonial e do cuidado pastoral, de modo que na vida dos esposos, especialmente dos chamados divorciados recasados, seja observado o que o Espírito Santo disse na Sagrada Escritura: “Considerai o matrimônio com respeito e conservai o leito conjugal imaculado” (Heb. 13: 4)”. Somente uma abordagem pastoral do matrimônio que continue a levar a sério essas palavras de Deus, se revela verdadeiramente misericordiosa, pois leva a alma do pecador ao caminho seguro da vida eterna. E é isso o que importa.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Nota do Cardeal Dom Orani João Tempesta sobre a decisão do STF, a respeito do Aborto

“NOTA EM DEFESA DA DIGNIDADE DA VIDA HUMANA

Diante da decisão da primeira turma do Supremo Tribunal Federal, no último dia 29 de novembro, não considerando mais o aborto cometido até os três meses de vida do feto como crime, o Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, com seus Bispos Auxiliares e Eméritos, vem lamentar tal sentença e reafirmar o valor incondicional e inviolável da vida humana, desde o momento da sua concepção até o seu término natural, pois ela é um direito fundamental de toda a pessoa humana, razão de ser de todos os outros direitos e base da sociedade.

Recordamos aqui as corajosas palavras de São João Paulo II escritas na sua encíclica “Evangelho da vida”, parágrafo 11: “Nossa atenção quer concentrar-se, em particular, num outro gênero de atentados relativos a vida nascente e terminal, que apresentam características novas com respeito ao passado e suscitam, o caráter de delito e a assumir, paradoxalmente, o de direito, até ao ponto de pretender com isso um verdadeiro e próprio reconhecimento legal por parte do Estado e a sucessiva execução por meio da intervenção gratuita dos próprios agentes sanitários. Estes atentados golpeiam a vida em situações de máxima precariedade, quando está privada de toda capacidade de defesa.”

Afirmamos também com o Papa Francisco, no seu recente documento “Misericórdia et Misera”, número 12: “Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente.”

Nesses momentos de aumento da violência urbana e de guerras em várias partes do mundo, a proclamação, a valorização e a defesa da dignidade da vida humana é uma exigência ética, humanitária e religiosa para cada cidadão brasileiro.

Confiamos ao Coração maternal de Nossa Senhora da Conceição Aparecida a vida de cadabrasileiro desde os primeiros meses até os últimos instantes da sua existência.


Rio de Janeiro (RJ), 1º de dezembro de 2016.

Cardeal Orani João Tempesta, O.Cit. Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

Dom Antonio Augusto Dias Duarte Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Roque Costa Souza Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Luiz Henrique da Silva Brito Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Assis Lopes Bispo Auxiliar Emérito do Rio de Janeiro

Dom Karl Josef Romer Secretário Emérito do Pontifício Conselho para a Família”.



A verdade sobre a Lava-Jato


terça-feira, 29 de novembro de 2016

O STF e o assassinato de crianças, ou: o gemido dos inocentes

Uma turma do Superior Tribunal Federal decidiu, quando julgava o caso de um grupo de assassinos  (alguns os dizem médicos) presos em um reduto de Aborteiros no Município de Caxias (RJ), que assassinar crianças nos ventres de suas mães, até o terceiro mês de gestação é lícito. Esta é uma decisão que, tecnicamente, aplica-se apenas ao caso do abatedouro ( alguns chamam-no de "clínica") de Caxias, mas os juristas têm sido unânimes de que isto gerará um precedente perigoso para que esta anuência ocorra em todos os outros casos. Notoriamente, estamos diante da teoria do "Navio quebra-gelos", onde através de um buraquinho mínimo intenta-se criar uma cratera. Nesta fase da gestação, a criança tem braços, pernas, sexo definido; nesta fase crescem unhas, os órgãos vitais da Criança já estão completamente formados, já há tubo neural, ou seja, é um ser humano completo. Mesmo se não tivessem se formado todas estas estruturas, ainda sim, o que está no ventre de uma gestante é um ser humano, a não ser que algum iluminado consiga provar que o que está no ventre de uma gestante transformar-se-á numa árvore ou em um ornitorrinco, ao invés de desenvolver-se a ponto de tornar-se um homem.

São emissários do Diabo estes que legislam, quando não lhes é de suas alçadas, com o pretenso e infame pretexto de estarem julgando, algo que a esmagadora maioria da população brasileira, esta, conservadora, é absolutamente e peremptoriamente contra. O Brasileiro, em sua maioria, repudia este crime de assassinato contra crianças indefesas nos ventres de suas mães. A unica diferença entre um bebê no ventre da mãe e estes juízes que coadunam com este crime, é o tempo e a nutrição: os bebês estão em simbiose com a mãe, enquanto os juízes comem feijão e arroz. Portanto, qual a diferença entre matar uma criança e matar um destes iluminados de toga? 

Mas no Brasil é assim: basta que algum político infeliz rele as mãos nos bolsos do povo para roubar-lhes seu dinheiro, imediatamente há panelaços, ruas fechadas, mega-manifestações, invasão de prédios públicos, enfim, um movimento notável e até certo ponto comovente. Mas para uma criancinha que é assassinada no ventre de sua mãe, sem direito a julgamento, defesa, e todos os trâmites jurídicos que são concedidos por lei ao pior dos facínoras, não há nem uma ruela fechada.

Querem conhecer uma república falida, onde os governantes não governam para o bem comum, e defecam e deambulam para a vontade do povo, este, donde emana o poder? Ei-lo: chama-se Brasil. 

Mas por gentileza, não tenham-me por anti-patriota. Amo meu país, e por amá-lo é que digo que a única salvação para o Brasil é olhar para a Polônia e imitar-lhes um gesto excelso: é instaurar o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas para isto, Ele deve primeiro reinar em todos os corações.

domingo, 27 de novembro de 2016

O Tempo do Advento

Findamos mais um ano litúrgico e adentramo-nos num dos períodos mais propícios à conversão de todo o ano Litúrgico: o Advento. O Advento é, em suma, uma espera. Mas não é uma espera na qual não temos certeza de se alcançaremos o esperado. É uma espera com certa verossimilhança com a espera de uma mulher grávida. A gestante vive uma espera de nove meses, com a absoluta certeza, salvo alguma intercorrência, de que terminado o período de gestação, nascerá uma criança. A espera do Advento é parecida: esperamos, em estado de vigília, a chegada de Nosso Senhor Jesus Cristo, seja esperando a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, na qual chegar-nos-á qual um ladrão (Mt 24,43), seja esperando como uma gestante. Sim, uma gestante! Em muitos de nós, Jesus ainda não nasceu, e por este motivo, é-nos muito urgente a vivência profunda e radical da Santa Escravidão. Dito isto, o tempo do Advento põe-nos diante dos olhos para uma amorosa contemplação, dois mistérios excelsos: o mistério da Encarnação, e a meditação dos Novíssimos.

Meditando sobre o mistério da Encarnação do Verbo, defrontamo-nos de imediato com a questão magnífica de um Deus omnipotente, omnisciente e omnipresente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, que por amor decidiu, num decreto Divino, viver a sua primeira aniquilação com a finalidade de criar uma ponte para que a humanidade decaída pelo pecado de Adão pudesse tocar, mesmo que às apalpadelas, a Divindade. O mistério da Encarnação é o mistério onde Deus assume a iniciativa do reencontro com a sua criação mais sublime, que por fraqueza e pequenez próprias de pequenos insetos, não conseguem alcançar Deus. Deus nos alcança primeiro.

Há uma lógica no mistério da Encarnação e em sua conveniência: Comunicar-se com os outros é um bem. Deus é o sumo bem. Ora, Deus comunicar-Se com sua criação mais sublime – o Homem – é sumamente bom.  Logo, era convenientíssimo que Deus se encarnasse. Cientes desta conveniência, olhamos para o mistério da Encarnação como que uma intercessão entre o Céu e a terra; como um ponto, em determinado momento da história, onde o Céu toca a terra com o objetivo de que na terra hajam janelas e letreiros luminosos que apontem para o Céu.

Mas de que maneira meditar no mistério da Encarnação do Verbo auxilia-nos na edificação de nossa vida interior?

Em primeiro lugar, destaco a humildade, virtude esta que anda um tanto quanto ignorada pelas almas que dizem-se devotas. A humildade, em primeiro lugar, é silenciosa. Tocarmos trombetas alardeando nossa própria humildade é prova apodítica de nossa soberba e vaidade! Basta-nos que Deus saiba-nos humildes.
A Humildade dá-nos também a oportunidade de termos uma maior qualidade na vida de oração. Quando, embalado espiritualmente pela virtude da humildade, a nossa oração é a oração de escravos que sabem-se vermes asquerosos, e que imploram de sua Senhora a Graça de serem apresentados como predestinados à Majestade Divinia, assim como Rebeca, afim de cumprir uma promessa feita por Deus (Gen 25) apresentou Jacó a Isaac, no lugar de Esaú (Gen 27). Viver o mistério da Encarnação é olharmos para a nossa miséria e sabermos que mesmo assim, o Senhor escolheu-nos para fazer morada dentro de nós, e que com tão Sublime hóspede habitando no castelo de nossa alma, devemos entretermo-nos com Ele constantemente. Qual anfitrião deixa um visitante aguardando sozinho na sala de estar de sua casa? Se não fazemos isto com visitantes menos dignos, porque o faríamos com Jesus, nosso Esposo adorável?

Viver o mistério da Encarnação neste Advento é pedir para que Maria Santíssima prepare em nossos corações uma paupérrima manjedoura na qual possa Ela depositar seu Santíssimo Filho quando chegar o tempo do Natal.

Para esta espera, é-nos salutar que purifiquemo-nos e vivamos uma certa ascese espiritual para estarmos preparados para este momento em que atualizaremos esta data tão marcante para a humanidade, que é o dia do Nascimento de Nosso Redentor. Para isto, ensina-nos a Igreja a vivermos o Jejum e a Oração. O Jejum afim  de que mortifiquemo-nos para as nossas vontades, fazendo com que vivamos apenas da Vontade de Deus, e a Oração para que mortificados para o mundo possamos unirmo-nos mais intimamente com Deus. Não há intimidade sem conversa. Com Deus não é diferente.

Mas o Advento aponta-nos também para uma leitura apocalíptica dos Evangelhos. A Liturgia nestes dias apresentar-nos-á textos que são-nos avisos claríssimos da Segunda vinda de Jesus, quando Ele virá não miserável como no Mistério da Encarnação, mas Glorioso e Juiz. Pobre mundo este que descrê do caráter judiciário de Jesus! Ele vem para Julgar e para separar o Joio do Trigo; os réprobos dos predestinados; os Salvos dos condenados. Neste dia, ou ressuscitaremos gloriosos para gozarmos da eternidade com Jesus, ou ressuscitaremos em corpos danados que serão eternamente atormentados pelo fogo inestinguível. Eis um tempo para meditarmos em três verdades da nossa Fé: o Céu, o Purgatório e o Inferno. Estes dois ultimos, lamentavelmente, não figuram mais entre os temas predileitos dos sermões das paróquias. Os padres – com raríssimas e santas excessões - não pregam mais sobre o Inferno e sobre o Purgatório, verdades estas tão salutares para a salvação das almas. Temos uma única chance: o aqui! Depois do processo da morte, vem o Juízo (Hb 9,27), onde já não haverá nada a ser feito, a não ser contemplarmos no julgamento Divino as vezes em que tivemos a oportunidade de vivermos santamente, e preferimos as nossas vontades e os impulsos da nossa carne. Para mortificarmos estas nossas vontades e estes nossos impulsos, devemos iniciar o nosso purgatório ainda nesta terra. Quanto mais sofremos nesta terra, e quanto mais entregamos estes sofrimentos a Deus como uma oferenda, mais nos santificamos e mais nos aproximamos do Céu.

Depois de confessados nossos pecados, estes são apagados, mas ainda restam-nos efeitos detes pecados apagados em nossa alma. Os Jejuns, os sofrimentos, as batalhas, e as labutas atuam como purificadores destes efeitos. Caso morrêssemos com estas “sujeiras” na alma, não entraríamos no Céu, e padeceríamos no purgatório, para que quando estivéssemos inteiramente puros, entrássemos no Céu, pois nada de impuro entra no Céu. Logo, do purgatório só há uma única saída: o Céu, pois as almas do purgatório já estão salvas, e sofrem horrivelmente devido à soma entre seu amor infinito a Deus e sua distância d’Ele.
É sinal de pouca inteligência preferir os gozos desta terra às delícias do Paraíso.

Minha mensagem para este tempo do Advento, é que tanto nas meditações do mistério da Encarnação, quanto nas meditações dos Novíssimos, o façam tendo a Santíssima Virgem como guia. Ninguém viveu um melhor Advento do que Ela. Ninguém, além de Deus, conhece as realidades espirituais como Ela. Ela já mostrou-nos o Inferno nas suas aparições; livra diariamente muitas almas do Purgatório, e Reina do alto do Céu ao lado de Seu Filho Benditíssimo, sobre todos os anjos e Santos. Que neste Advento, possamos humilharmo-nos ainda mais, falarmos e aparecermos ainda menos, e orarmos em abundância.

Diogo Pitta

Viva Cristo Rei!

sábado, 26 de novembro de 2016

A herança de Fidel

Há, no Youtube, um vídeo que mostra-nos um dos últimos embates de Margaret Thatcher, no Parlamento Britânico, e neste vídeo a "Dama de Ferro" do conservadorismo destroça seu adversário político, partidário do Socialismo.  Trocando em miúdos, o que Thatcher diz a seu adversário é que o Socialismo é a política da inveja, ou seja, que os ricos não podem ser ricos pelo simples fato de que os pobres são pobres, e que para que haja igualdade entre as classes, cláusula pétrea do marxismo, deve-se fazer com que ricos fiquem mais pobres, afim de igualá-los socialmente aos mais pobres. Isto faz-se, em parte, através dos impostos, pois como o próprio nome diz, é uma tarifa "imposta" à sociedade, que na recusa de pagamento, incorre o relutante em uma determinada pena. Tendo em vista que o meu dinheiro é minha propriedade ganha às custas do meu trabalho, e que contra a minha vontade e sob a ameaça de uma penalidade em caso de recusa, o estado impõe-me um valor a ser pago para fazer algum tipo de caridade assistencialista, que em nada assemelha-se com algum tipo de caridade franciscana, isto nada mais é do que uma expropriação da minha propriedade privada: o meu dinheiro. 

Uma das formas de constatarmos a existência de algo é dedicarmos algum tempo na contemplação dos seus efeitos, por exemplo: quando Santo Tomás de Aquino, numa de suas provas racionais apodíticas da existência de Deus, diz-nos que podemos auferir algo sobre a existência de Deus, contemplando seus efeitos (Rom 1,20), pois não há efeito sem causa; ou podemos, caso queiram, aderir ao adágio popular "onde há fumaça, há fogo". Dito isto, uma das provas da existência enraizada do pensamento marxista no Brasil, cuja implantação foi sistematicamente pensada, planejada e orquestrada por políticos comunistas, professores comunistas de ciências sociais e humanas, e Intelectuais que no dialeto gramsciano são chamados "intelectuais orgânicos", é o que foi noticiado (curiosamente, tratando-se de um jornal reconhecidamente de esquerda) na Folha de São Paulo: Desigualdade cai no Brasil com todas as classes sociais ficando mais pobres . Ou seja, o discurso atávico de igualdade que impera nas rodas intelectuais e midiáticas no Brasil, rendeu-nos efeitos visíveis: o brasileiro está mais pobre. Se pudéssemos resumir o socialismo em uma única palavra, poderíamos resumi-lo com o uso da palavra miséria. 

Por onde quer que tenha passado o Socialismo, a unica coisa que pôde produzir, além de riquezas incalculáveis para o Partido Comunista e sua cúpula, foi a miséria dos povos e o assassínio voraz dos seus opositores. 

Hoje, dia em que Fidel Castro saiu da condição de Juiz iníquo de opositores políticos, para a condição de réu da Eternidade, a herança que deixa-nos é uma América Latina infestada de Socialismo. 

Fidel Castro, este finado genocida, é co-criador do Foro de São Paulo. O Foro de São Paulo é uma entidade internacionalista criada em 1990, por Fidel juntamente com Luís Inácio Lula da Silva e o então comandante das FARC, Manuel Marulanda. O objetivo do Foro de São Paulo,  de médio a longo prazo, era recriar na América Latina aquilo que havia sido perdido no Leste Europeu, com a dissolução da URSS, ou seja, um bloco de repúblicas socialistas. Mas desde a década de 60, Fidel Castro foi incansável na luta pela implantação do socialismo no Brasil, seja no suporte logístico e de inteligência através de agentes implantados no Brasil, seja pelo fornecimento de treinamento militar para membros dos movimentos revolucionários que atuavam àquela época no Brasil como o VAR-Palmares de Dilma Rousseff. 

Desde então, graças à Teoria da Panela de Pressão do General Golbery do Couto e Silva, que para aliviar a pressão da guerrilha urbana cedeu, literalmente, os ambientes universitários para a esquerda, as universidades brasileiras foram inundadas do pensamento de António Gramsci, cuja síntese de sua doutrina é: ao invés de ganhar o poder pela força, para criar uma hegemonia cultural marxista, cria-se através dos "intelectuais orgânicos" espalhados nas mídias e no universo das letras, uma hegemonia cultural marxista, para depois ganhar democraticamente o poder, utilizando-se de uma pseudo-democracia. 

Gramsci preconiza que usar armas para tomar o poder, que em sua linguagem é uma Guerra de movimento, é um gasto desnecessário de energia e munição, e que o ideal era que fosse empreendida uma guerra de posição, paulatina, que seria um processo constante de destruição dos pilares sustentaculares da Sociedade Ocidental ( a saber: direito Romano, Filosofia Grega e Moral Judaico-Cristã). É por isso que os partidos socialistas defendem o assassinato de crianças nos ventres das mães, que chamam aborto, a ideologia gay e a descriminalização das drogas. Numa sociedade com religião forte, alta cultura, e um arraigado sentimento moral o Socialismo não encontra meios de instalar-se.

Tudo isto têm sido cumprido à risca. O Brasil, cujas riquezas foram sistematicamente desviadas de seus objetivos para a manutenção do Foro de São Paulo, sofreu seu mais duro golpe com os anos de governo petista. O PT, principal representante do Foro de São Paulo no Brasil conseguiu levar à presidência o Criador do Foro de São Paulo. Desde então, foi um esbanjar sem fim do dinheiro do brasileiro - adquirido com os malditos impostos - não apenas com projetos assistencialistas malucos, mas com o financiamento de obras, via BNDES, nas republiquetas comunistas mundo afora, que fazem parte do Foro de São Paulo, como a Venezuela, países ditatoriais africanos e Cuba. Logo, qualquer análise da conjuntura política e econômica brasileira que não considere a ação do Foro de São Paulo como sangue-suga de nossas artérias, é infantil, para não dizer criminosa. 

Mesnsalão e Petrolão são efeitos diretos da existência do Foro de São Paulo, criado por Fidel e Lula. Obviamente, que o problema do Brasil, a priori, não é o comunismo. O problema do Brasil é a República. 

O Brasil está mais pobre porque ao invés de ter a riqueza como parâmetro de uma pretensa igualdade, tem a pobreza. Como não é possível uma sociedade onde todos sejam igualmente ricos, resta-nos aceitar o fato de que em qualquer sociedade sadia há ricos e pobres, e que o que os ricos têm a fazer com relação aos pobres é, por amor a Deus, praticar a caridade Cristã, esta que foi tão macaqueada pela esquerda no discurso da Teologia da Libertação. 

Hoje, dia da morte de Fidel Castro, o assassino de milhares e destruidor das esperanças do povo cubano, fica-me um sentimento de tristeza e de alegria. Explico-me: 

Tristeza: por ter morrido Fidel Castro sem conversão, até onde se sabe, e por todas as centenas de milhões de vítimas do Comunismo no mundo todo.

Alegria: deixa este mundo um assassino. Um homem que foi responsável pela morte e miséria de muitos. Uno-me em júbilo aos milhares de dissidentes e refugiados cubanos que hoje comemoram a ida do ditador comunistas desta para melhor, ou pior.

Que a Virgem de Guadalupe pouse sobre a América Latina seus santíssimos olhos, e livre-nos desta prega chamada Socialismo.





quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Dom Athanasius Schneider em defesa dos Cardeais que escreveram a Francisco.

Uma voz profética de quatro Cardeais da Santa Igreja Romana.
Movidos por uma “profunda preocupação pastoral”, quatro Cardeais da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, Sua Eminência Joachim Meisner, Arcebispo Emérito de Colônia (Alemanha), Sua Eminência Carlo Caffarra, Arcebispo Emérito de Bolonha (Itália), Sua Eminência Raymond Leo Burke, Patrono da Soberana Ordem Militar de Malta, e Sua Eminência Walter Brandmüller, Presidente Emérito do Pontifício Comitê para Ciências Históricas, publicaram, em 14 de novembro de 2016, o texto de cinco questões, chamado dubia (em latim, “dúvidas”), que previamente, em 19 de setembro de 2016, eles enviaram ao Santo Padre e ao Cardeal Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, juntamente com uma carta.
Dom Athanasius em entrevista a Fratres in Unum.
Fevereiro de 2015 – Dom Schneider concede entrevista a Fratres in Unum.
Os Cardeais pedem ao Papa Francisco para esclarecer a “grave desorientação e grande confusão” acerca da interpretação e aplicação prática, particularmente do capítulo VIII, da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e suas passagens relacionadas à admissão de divorciados recasados aos sacramentos e ao ensino moral da Igreja.
Em sua declaração intitulada “Criar clareza: alguns nós por resolver em Amoris Laetitia“, os Cardeais afirmam que para “muitos – bispos, párocos, fiéis –, estes parágrafos fazem alusão, ou ensinam explicitamente, uma mudança da disciplina da Igreja a respeito dos divorciados que vivem numa nova união”. Ao dizê-lo, os Cardeais meramente afirmaram fatos reais na vida da Igreja. Esses fatos são demonstrados pelas orientações pastorais a cargo de diversas Dioceses e por declarações públicas de alguns Bispos e Cardeais, que afirmam que, em alguns casos, católicos divorciados recasados podem ser admitidos à Sagrada Comunhão, embora continuem a gozar dos direitos reservados pela Lei Divina a esposos validamente casados.
Ao publicar um apelo por clareza em uma matéria que toca a verdade e a santidade simultaneamente de três sacramentos, Matrimônio, Confissão e Eucaristia, os quatro Cardeais apenas cumpriram seu dever básico enquanto Bispos e Cardeais, que consiste em contribuir ativamente a fim de que a revelação transmitida pelos Apóstolos possa ser sagradamente guardada e fielmente interpretada. Foi, especialmente, o Concílio Vaticano II que recordou todos os membros do colégio dos bispos, enquanto sucessores dos apóstolos, de sua obrigação, “por instituição e preceito de Cristo, à solicitude sobre toda a Igreja, a qual, embora não se exerça por um acto de jurisdição, concorre, contudo, grandemente para o bem da Igreja universal. Todos os Bispos devem, com efeito, promover e defender a unidade da fé e disciplina comum a toda a Igreja” (Lumen gentium, 23; cf. também Christus Dominus, 5-6).
Ao fazer um apelo público o Papa, Bispos e Cardeais deveriam ser movidos por uma genuína afeição colegial pelo Sucessor de Pedro e Vigário de Cristo na terra, na esteira do ensinamento do Concílio Vaticano II (cf. Lumen gentium, 22); ao fazê-lo, devem render “serviço ao ministério primacial” do Papa (cf. Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos, 13).
Toda a Igreja, em nossos dias, deve refletir sobre o fato de que o Espírito Santo não inspirou em vão São Paulo a escrever na carta aos Gálatas sobre o incidente de sua correção pública a Pedro. Deve-se confiar que o Papa Francisco aceitará esse apelo público de quatro Cardeais no espírito do Apóstolo Pedro, quando São Paulo o corrigiu fraternalmente, para o bem de toda a Igreja. Possam as palavras do grande doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino, iluminar e confortar-nos a todos: “Correndo iminente perigo a fé, os súditos devem advertir os prelados, mesmo publicamente. Por isso, São Paulo, súdito de São Pedro, repreendeu-o em público, por causa de perigo iminente de escândalo para a fé. E, assim, diz a Glosa de Santo Agostinho: ‘O próprio Pedro deu aos maiores o exemplo de se porventura desviarem do caminho reto, não se dedignem ser repreendidos mesmo pelos inferiores’” (Suma Teológica, II-II,  q. 33, ad 2).
O Papa Francisco, frequentemente, clama por um franco e destemido diálogo entre todos os membros da Igreja em matérias relacionadas ao bem espiritual das almas. Na Exortação Apostólica Amoris Laetitia, o Papa fala da “necessidade de continuar a aprofundar, com liberdade, algumas questões doutrinais, morais, espirituais e pastorais. A reflexão dos pastores e teólogos, se for fiel à Igreja, honesta, realista e criativa, ajudar-nos-á a alcançar uma maior clareza” (n. 2). Ademais, o relacionamento em todos os níveis na Igreja deve ser livre de um clima de medo e intimidação, como pediu o Papa Francisco em vários de seus pronunciamentos.
À luz desses pronunciamentos do Papa Francisco e do princípio do diálogo e aceitação da legítima pluralidade de opiniões, promovido pelos documentos do Concílio Vaticano II, as reações incomumente violentas e intolerantes provenientes de alguns Bispos e Cardeais contra o calmo e circunspecto apelo de quatro Cardeais causa enorme perplexidade. Dentre esses reações intolerantes pode-se ler afirmações como: os quatro Cardeais são tolos, ingênuos, cismáticos, heréticos, e mesmo comparáveis aos hereges arianos.
Esses julgamentos claramente sem misericórdia revelam não só intolerância, recusa ao diálogo e ira irracional, mas demonstram também uma capitulação à impossibilidade de dizer a verdade, uma capitulação ao relativismo doutrinal e prático, na fé e na vida. As reações clericais mencionadas contra a voz profética de quatro Cardeais ostentam, em última análise, impotência diante da verdade, que inquieta e importuna a aparentamente pacífica ambiguidade desses críticos do clero.
As reações negativas à declaração pública dos quatro Cardeais assemelha-se à confusão generalizada da crise Ariana no quatro século. É útil citar, na situação de confusão doutrinal de nossos dias, algumas afirmações de Santo Hilário de Poitiers, o “Atanásio do Ocidente”.
“Vós [os bispos da Gália], que ainda permaneceis juntos de mim fiéis a Cristo, não cedais quando ameaçados com a investida da heresia, e agora, ao encontrar essa investida, rompeis toda a sua violência. Sim, irmãos, vós conquistastes, para a abundante alegria daqueles que compartilham vossa fé: e a vossa inalterada constância conquistou a dupla glória de manter uma consciência pura e dar um exemplo de autoridade” (Hil. De Syn., 3).
“Vossa fé invencível mantém a honrosa distinção de cioso valor e, contentada por repudiar a ação astuta, vaga ou hesitante, seguramente obedece em Cristo, preservando a profissão de sua liberdade. Pois, desde que sofremos todos profunda e penosa dor pelas ações dos iníquos contra Deus, apenas dentro de nossas fronteiras pode ser encontrada a comunhão em Cristo, a partir do momento em que a Igreja passou a ser atribulada por perturbações como o exílio dos bispos, a deposição dos padres, a intimidação do povo, a ameaça à fé, e a definição do significado da doutrina de Cristo por força e vontade humana. Vossa resoluta fé não pretende ignorar esses fatos ou professar que se possa tolerá-los, notando que, por um assentimento enganoso, ela se veria diante das grades da consciência” (Hil. De Syn., 4).
“Hei dito o que eu mesmo creio, consciente de que era meu dever como soldado ao serviço da Igreja, segundo o ensinamento do Evangelho, o enviar-lhes por estas cartas a voz do ofício que sustento em Jesus Cristo. Corresponde a vós discutir, prover e atuar, e que possais guardar com corações zelosos a fidelidade inviolável que mantendes, e que continueis sustentando o que sustentais” (Hil de Syn., 92).
As seguintes palavras de São Basílio Magno, dirigidas aos bispos latinos, podem ser aplicadas em certos aspectos à situação daqueles que em nossos dias solicitam clareza doutrinal, incluindo os quatro cardeais: “Um dever que certamente obriga sob severos castigos é o de manter cuidadosamente as tradições de nossos pais na fé. Não estamos sendo atacados por riquezas, glória ou benefícios temporais. Descemos ao campo de batalha para lutar por nossa herança comum, pelo grande tesouro da fé recebido de nossos pais. Aflijam-se conosco todos que amam a seus irmãos, pelo silêncio dos homens da verdadeira religião, pela abertura dos lábios ousados e blasfemos de todos os que pronunciam injustiças contra Deus, e pelos pilares da fé sendo destruídos. Nós, cuja insignificância há permitido que passemos ignorados, e estamos privados de nosso direito de falar livremente” (Ep. 243, 2.4).
Hoje, estes bispos e cardeais que solicitam clareza e que intentam cumprir seu dever guardando santa e fielmente a Revelação Divina transmitida em relação aos sacramentos do Matrimônio e da Eucaristia, já não estão exilados como o estavam os bispos nicenos durante a crise ariana. Ao contrário do tempo da crise ariana, tal como escreveu em 1973 Rudolf Graber, bispo de Ratisbona, hoje o exílio de bispos é substituído por estratégias para silenciá-los e por campanhas de difamação (Cf. Athanasius und die Kirche unserer Zeit, Abensberg 1973, p. 23).
Outro campeão da fé católica durante a crise ariana foi São Gregório Nazianzeno. Ele escreveu a seguinte descrição do comportamento da maioria dos pastores da Igreja daquele tempo. Essas palavras do grande doutor da Igreja deveriam ser uma advertência salutar para os bispos de todos os tempos: “Certamente os pastores agiram como insensatos, porque, salvo um número muito reduzido – que resistiu por sua virtude, mas que foi desprezado por sua insignificância, e que havia de restar como uma semente ou raiz de onde renascesse o novo Israel sob o influxo do Espírito Santo -, todos os outros cederam às circunstâncias, com a única diferença de que uns sucumbiram mais logo e outros mais tarde, uns estiveram na linha de frente dos campeões e chefes da impiedade, e outros se uniram às filas de seus soldados em batalha, vencidos pelo medo, pelo interesse, pela adulação ou, o que é mais inexcusável, por sua própria ignorância” (Orat. 21, 24).
Quando no ano de 357, o papa Libério assinou uma das denominadas fórmulas de Sirmium, na qual descartava deliberadamente a expressão dogmaticamente definida de “homoousios”, e excomungou a Santo Atanásio para ficar em paz e harmonia com os bispos arianos e semi-arianos do leste, alguns fiéis católicos e bispos, especialmente Santo Hilário de Poitiers, escandalizaram-se profundamente. Santo Hilário transmitiu a carta que o papa Libério escreveu aos bispos orientais, anunciando a aceitação da fórmula de Sirmium e a excomunhão de Santo Atanásio. Com grande dor e consternação, Santo Hilário agregou à carta, em uma espécie de desesperação, a frase: “Anathema tibi a me dictum, praevaricator Liberi” (Eu te digo ‘anátema’, prevaricador Libério), cf. Denzinger-Schönmetzer, n. 141. O papa Libério queria paz e harmonia a todo custo, incluso às expensas da verdade divina. Em sua carta aos bispos heterodoxos latinos Ursace, Valêncio e Germinius, anunciando-lhes as decisões acima mencionadas, escreveu que preferia antes paz e harmonia do que o próprio martírio (cf. Denzinger-Schönmetzer, n. 142).
“Em que contraste dramático jazia o comportamento do papa Libério frente à seguinte convicção de Santo Hilário de Poitiers: “Não conseguimos paz às custas da verdade, fazendo concessões para adquirir a fama de tolerantes. Conseguimos paz lutando legitimamente segundo as regras do Espírito Santo. Há um perigo em aliar-se secretamente com a impiedade que se adorna com o formoso nome da paz” (Hil. Ad Const., 2, 6, 2).
O beato John Henry Newman falou sobre esses lamentáveis e inusuais feitos com a seguinte afirmação sábia e equilibrada: “Se bem seja historicamente certo, não é de nenhuma maneira doutrinariamente falso que um papa, como doutor privado, e muito mais os bispos, quando não ensinam formalmente, possam errar, tal como vemos que erraram no século quarto. O papa Libério podia assinar a fórmula Eusebia em Sirmium, e a missa dos bispos em Ariminum ou outro lugar, e apesar desses erros continuar sendo infalível em suas decisões ex cathedra.” (The Arians of the Fourth Century, London, 1876, p. 465).
Os quatro cardeais, com sua voz profética demandando clareza doutrinária e pastoral, têm um grande mérito diante de suas próprias consciências, diante da história, e diante dos inumeráveis fiéis católicos simples de nossos dias, empurrados para a periferia eclesial por sua fidelidade aos ensinamentos de Jesus Cristo sobre a indissolubilidade do Matrimônio. Mas, sobretudo, os quatro cardeais têm um grande mérito aos olhos de Jesus Cristo. Devido à coragem de suas palavras, seus nomes brilharão resplandecentes no dia do Juízo Final. Eles obedeceram à voz de suas consciências, recordando o que dissera São Paulo: “Nada podemos fazer contra a verdade, mas somente a favor desta” (2 Cor 13, 8). Seguramente, no Juízo Final, os já mencionados críticos dos quatro cardeais, em sua maioria clérigos, não terão uma resposta fácil a dar por seu ataque violento ao justo, valioso e meritório ato destes quatro membros do Sagrado Colégio Cardinalício.
As seguintes palavras inspiradas pelo Espírito Santo retêm seu valor profético, especialmente diante da crescente confusão doutrinal e prática a respeito do sacramento do Matrimônio em nossos dias: “Porque virá um tempo em que os homens não suportarão mais a sã doutrina, mas sim, com ânsias de ouvir novidades, se darão mestres que agradem sua concupiscência. Apartarão o ouvido da verdade, para voltá-lo às fábulas. Por tua parte, sê sóbrio em tudo, suporta o adverso, faz obra de evangelista, cumpre bem teu ministério” (2 Tim 4, 3-5).
Que todos aqueles que, em nossos dias, levam a sério seus votos batismais e suas promessas sacerdotais e episcopais, recebam a fortaleza e a graça de Deus para reiterar, junto com Santo Hilário, as palavras: “Que fique eu para sempre no exílio, desde que a verdade comece a pregar-se outra vez!” (De Syn., 78). Desejamos de todo coração essa fortaleza e graça aos quatro cardeais, assim como aos que os criticam.
+ Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Maria en Astana

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Machado de Assis e a Monarquia


"Quanto às minhas opiniões, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a república de Platão. A realizada é o sistema representativo ( a Monarquia). É sobretudo como brasileiro que me agrada esta última opinião, e eu peço aos deuses (também creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia  que o sol jamais alumiou"     

 Machado de Assis na crônica À Opinião Pública, publicada em 5 de Março de 1867 no Diário do Rio de Janeiro.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

República: o algoz da felicidade

Por Diogo Pitta

Machado de Assis, em "O velho Senado", publicado em 1898, traça como que um prelúdio do que viria a ser a política de hoje, sob as botas moralmente asfixiantes da República, este golpe militar com o qual o Brasil foi duramente ferido em 1889. Neste conto, o Bruxo do Cosme Velho fala-nos, como que entre um gole e outro de chá, sobre o quão virtuoso era o Senado na década de 60 do século XIX. Depois de expôr as virtudes dos políticos e do Senado à época, Machado de Assis faz um paralelo daqueles políticos com os de sua época, ou seja, após a Proclamação da República. E termina assim seu conto admirável: 

E após ele vieram outros, e ainda outros, Sapucaí, Maranguape, Itaúna, e outros mais, até que se confundiram todos e desapareceu tudo, coisas e pessoas, como sucede às visões. Pareceu-me vê-los enfiar por um corredor escuro, cuja porta era fechada por um homem de capa preta, meias de seda preta, calções pretos e sapatos de fivela. Este era nada menos que o próprio porteiro do Senado, vestido segundo as praxes do tempo, nos dias de abertura e encerramento da assembléia geral. Quanta coisa obsoleta! Alguém ainda quis obstar à ação do porteiro, mas tinha o gesto tão cansado e vagaroso que não alcançou nada; aquele deu volta à chave, envolveu-se na capa, saiu por uma das janelas e esvaiu-se no ar, a caminho de algum cemitério, provavelmente. Se valesse a pena saber o nome do cemitério, iria eu catá-lo, mas não vale; todos os cemitérios se parecem. (1)
Assumo a audácia de interpretar esta passagem final do conto do grande Machado de Assis: a República enterrou de uma vez os valores construídos com esmero por uma tradição feliz, na qual os homens eram felizes por serem virtuosos, e por que com estas virtudes, serviam ao bem comum, finalidade da política. Aquele período felicíssimo da Nação, onde mesmo com as dificuldades inerentes à raça humana os homens eram felizes, e onde escravos foram verdadeiramente libertos, foi forçosamente enfiado neste corredor metaforicamente citado por Machado de Assis, e com o tempo e a ideologia fazendo o papel do porteiro "vestido segundo as praxes do tempo", é trancafiado no corredor abstruso da história.

Hoje não é dia para comemorações. Antes de um feriado cujo objetivo é festejar a instituição golpesca de um regime político, hoje deveria ser o dia propício para a reflexão profunda sobre para onde estamos caminhando a passos largos. Estamos, enquanto República, caminhando a galopes para o brejo político, se lá já não estamos. Certamente dar-me-ão a alcunha de dramático. Mas para dirimir dúvidas que porventura possam haver sobre a minha constatação, basta, num esforço do intelecto, pôr-se imaginariamente fora do tempo e do espaço, e contemplar de cima, todas as desastrosas primaveras pelas quais passou, aos trancos e barrancos, a República. Em 127 anos, a República do Brasil produziu golpes atrás de golpes, ditaduras, revoluções, presidentes depostos, escândalos de corrupção clamorosos, uma inflação partidária nunca vista na história do mundo, o que gera lutas partidárias cuja amoralidade faria corar de vergonha o mais vil dos homens. 

A instituição da República, na verdade, foi um golpe; diria até, a Mãe de todos os golpes! O Quinze de Novembro, na verdade, é a data onde lembramos pesarosos a largada para o início da derrocada moral e política do Brasil. Neste dia lembramos, enlutados, o dia em que o maior estadista que esta nação já conheceu, Dom Pedro II, foi expulso desta com toda a sua família. Dom Pedro II foi talvez o homem que mais amou o Brasil. Causa-nos tristeza ( a nós, Monarquistas) ver a indiferença e até mesmo o escárnio com o qual a maioria da população trata os nossos grandes e verdadeiros heróis. 

Se os políticos hodiernos cultivassem as virtudes que possuía - por que as cultivava - Dom Pedro II, talvez o Brasil pudesse erigir-se desta areia movediça na qual foi lançado após o Golpe de 1889, perpetrado por um horda de bandidos, capitaneados por Marechal Deodoro da Fonseca.

Esta junta de facínoras políticos promoveu, no curso da história, uma ruptura com o regime político que alçou o Brasil a um excelso patamar de prosperidades econômicas, morais, políticas, e  com isto fez do Brasil uma grande potência. Sim o Brasil já foi uma grande potência.

Para não romper o luto, limito-me a estas palavras. E como monarquista, digo que o que nos resta é estudar, rezar, lutar pela volta da Monarquia (mesmo que eu não esteja vivo para vê-la) e - por que não? -, ouvir um Réquiem, na certeza de uma vindoura ressurreição.

Viva a Monarquia!

1 - Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, V.II, 1994. Publicado originalmente em Revista Brasileira, Rio de Janeiro, 1898.