Findamos
mais um ano litúrgico e adentramo-nos num dos períodos mais propícios à
conversão de todo o ano Litúrgico: o Advento. O Advento é, em suma, uma espera.
Mas não é uma espera na qual não temos certeza de se alcançaremos o esperado. É
uma espera com certa verossimilhança com a espera de uma mulher grávida. A
gestante vive uma espera de nove meses, com a absoluta certeza, salvo alguma intercorrência,
de que terminado o período de gestação, nascerá uma criança. A espera do
Advento é parecida: esperamos, em estado de vigília, a chegada de Nosso Senhor
Jesus Cristo, seja esperando a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, na
qual chegar-nos-á qual um ladrão (Mt 24,43),
seja esperando como uma gestante. Sim, uma gestante! Em muitos de nós, Jesus
ainda não nasceu, e por este motivo, é-nos muito urgente a vivência profunda e
radical da Santa Escravidão. Dito isto, o tempo do Advento põe-nos diante dos
olhos para uma amorosa contemplação, dois mistérios excelsos: o mistério da
Encarnação, e a meditação dos Novíssimos.
Meditando sobre o mistério da Encarnação do Verbo,
defrontamo-nos de imediato com a questão magnífica de um Deus omnipotente,
omnisciente e omnipresente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis,
que por amor decidiu, num decreto Divino, viver a sua primeira aniquilação com
a finalidade de criar uma ponte para que a humanidade decaída pelo pecado de
Adão pudesse tocar, mesmo que às apalpadelas, a Divindade. O mistério da
Encarnação é o mistério onde Deus assume a iniciativa do reencontro com a sua
criação mais sublime, que por fraqueza e pequenez próprias de pequenos insetos,
não conseguem alcançar Deus. Deus nos alcança primeiro.
Há uma lógica no mistério da Encarnação e em sua
conveniência: Comunicar-se com os outros é um bem. Deus é o sumo bem. Ora, Deus
comunicar-Se com sua criação mais sublime – o Homem – é sumamente bom. Logo, era convenientíssimo que Deus se
encarnasse. Cientes desta conveniência, olhamos para o mistério da Encarnação
como que uma intercessão entre o Céu e a terra; como um ponto, em determinado
momento da história, onde o Céu toca a terra com o objetivo de que na terra
hajam janelas e letreiros luminosos que apontem para o Céu.
Mas de que maneira meditar no mistério da Encarnação do
Verbo auxilia-nos na edificação de nossa vida interior?
Em primeiro lugar, destaco a humildade, virtude esta que
anda um tanto quanto ignorada pelas almas que dizem-se devotas. A humildade, em
primeiro lugar, é silenciosa. Tocarmos trombetas alardeando nossa própria
humildade é prova apodítica de nossa soberba e vaidade! Basta-nos que Deus saiba-nos
humildes.
A Humildade dá-nos também a oportunidade de termos uma
maior qualidade na vida de oração. Quando, embalado espiritualmente pela
virtude da humildade, a nossa oração é a oração de escravos que sabem-se vermes
asquerosos, e que imploram de sua Senhora a Graça de serem apresentados como
predestinados à Majestade Divinia, assim como Rebeca, afim de cumprir uma
promessa feita por Deus (Gen 25) apresentou Jacó a Isaac, no lugar de Esaú (Gen
27). Viver o mistério da Encarnação é olharmos para a nossa miséria e sabermos
que mesmo assim, o Senhor escolheu-nos para fazer morada dentro de nós, e que
com tão Sublime hóspede habitando no castelo de nossa alma, devemos entretermo-nos
com Ele constantemente. Qual anfitrião deixa um visitante aguardando sozinho na
sala de estar de sua casa? Se não fazemos isto com visitantes menos dignos,
porque o faríamos com Jesus, nosso Esposo adorável?
Viver o mistério da Encarnação neste Advento é pedir
para que Maria Santíssima prepare em nossos corações uma paupérrima manjedoura
na qual possa Ela depositar seu Santíssimo Filho quando chegar o tempo do
Natal.
Para esta espera, é-nos salutar que purifiquemo-nos e
vivamos uma certa ascese espiritual para estarmos preparados para este momento
em que atualizaremos esta data tão marcante para a humanidade, que é o dia do
Nascimento de Nosso Redentor. Para isto, ensina-nos a Igreja a vivermos o Jejum
e a Oração. O Jejum afim de que
mortifiquemo-nos para as nossas vontades, fazendo com que vivamos apenas da Vontade
de Deus, e a Oração para que mortificados para o mundo possamos unirmo-nos mais
intimamente com Deus. Não há intimidade sem conversa. Com Deus não é diferente.
Mas o Advento aponta-nos também para uma leitura
apocalíptica dos Evangelhos. A Liturgia nestes dias apresentar-nos-á textos que
são-nos avisos claríssimos da Segunda vinda de Jesus, quando Ele virá não
miserável como no Mistério da Encarnação, mas Glorioso e Juiz. Pobre mundo este
que descrê do caráter judiciário de Jesus! Ele vem para Julgar e para separar o
Joio do Trigo; os réprobos dos predestinados; os Salvos dos condenados. Neste
dia, ou ressuscitaremos gloriosos para gozarmos da eternidade com Jesus, ou
ressuscitaremos em corpos danados que serão eternamente atormentados pelo fogo
inestinguível. Eis um tempo para meditarmos em três verdades da nossa Fé: o
Céu, o Purgatório e o Inferno. Estes dois ultimos, lamentavelmente, não figuram
mais entre os temas predileitos dos sermões das paróquias. Os padres – com raríssimas
e santas excessões - não pregam mais sobre o Inferno e sobre o Purgatório,
verdades estas tão salutares para a salvação das almas. Temos uma única chance:
o aqui! Depois do processo da morte, vem o Juízo (Hb 9,27), onde já não haverá
nada a ser feito, a não ser contemplarmos no julgamento Divino as vezes em que
tivemos a oportunidade de vivermos santamente, e preferimos as nossas vontades
e os impulsos da nossa carne. Para mortificarmos estas nossas vontades e estes
nossos impulsos, devemos iniciar o nosso purgatório ainda nesta terra. Quanto
mais sofremos nesta terra, e quanto mais entregamos estes sofrimentos a Deus
como uma oferenda, mais nos santificamos e mais nos aproximamos do Céu.
Depois de confessados nossos pecados, estes são
apagados, mas ainda restam-nos efeitos detes pecados apagados em nossa alma. Os
Jejuns, os sofrimentos, as batalhas, e as labutas atuam como purificadores
destes efeitos. Caso morrêssemos com estas “sujeiras” na alma, não entraríamos
no Céu, e padeceríamos no purgatório, para que quando estivéssemos inteiramente
puros, entrássemos no Céu, pois nada de impuro entra no Céu. Logo, do
purgatório só há uma única saída: o Céu, pois as almas do purgatório já estão
salvas, e sofrem horrivelmente devido à soma entre seu amor infinito a Deus e
sua distância d’Ele.
É sinal de pouca inteligência preferir os gozos desta
terra às delícias do Paraíso.
Minha mensagem para este tempo do Advento, é que tanto
nas meditações do mistério da Encarnação, quanto nas meditações dos Novíssimos,
o façam tendo a Santíssima Virgem como guia. Ninguém viveu um melhor Advento do
que Ela. Ninguém, além de Deus, conhece as realidades espirituais como Ela. Ela
já mostrou-nos o Inferno nas suas aparições; livra diariamente muitas almas do
Purgatório, e Reina do alto do Céu ao lado de Seu Filho Benditíssimo, sobre
todos os anjos e Santos. Que neste Advento, possamos humilharmo-nos ainda mais,
falarmos e aparecermos ainda menos, e orarmos em abundância.
Diogo Pitta
Viva Cristo Rei!
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