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sábado, 31 de dezembro de 2011

Divini Illius Magistri - Papa Pio XI acerca da educação Cristã da juventude.


 " ... É portanto da máxima importância não errar na educação, como não errar na direção para o fim último com o qual está conexa íntima e necessariamente toda a obra da educação. Na verdade, consistindo a educação essencialmente na formação do homem como ele deve ser e portar-se, nesta vida terrena, em ordem a alcançar o fim sublime para que foi criado, é claro que, assim como não se pode dar verdadeira educação sem que esta seja ordenada para o fim último, assim na ordem actual da Providencia, isto é, depois que Deus se nos revelou no Seu Filho Unigênito que é o único «caminho, verdade e vida», não pode dar-se educação adequada e perfeita senão a cristã.
  Daqui ressalta, com evidência, a importância suprema da educação cristã, não só para cada um dos indivíduos, mas também para as famílias e para toda a sociedade humana, visto que a perfeição desta, resulta necessariamente da perfeição dos elementos que a compõem.
  Dos princípios indicados aparece, de modo semelhante, clara e manifesta, a excelência (que bem pode dizer-se insuperável) da obra da educação cristã, como aquela que tem em vista, em última análise, assegurar o Sumo Bem, Deus, às almas dos educandos, e a máxima felicidade possível, neste mundo, à sociedade humana. E isto no modo mais eficaz que é possível ao homem, isto é, cooperando com Deus para o aperfeiçoamento dos indivíduos e da sociedade, enquanto a educação imprime nos espíritos a primeira, a mais poderosa e duradoura direção na vida, segundo a sentença muito conhecida do Sábio: «o jovem mesmo ao envelhecer, não se afastará do caminho trilhado na sua juventude». Por isso, com razão, dizia S. João Crisóstomo: «Que há de mais sublime do que governar os espíritos e formar os costumes dos jovens?».
 Mas não há palavras que nos revelem tão bem a grandeza, a beleza, a excelência sobrenatural da obra da educação cristã, como a sublime expressão de amor com a qual Nosso Senhor Jesus Cristo, identificando-se com os meninos, declara: «Todo aquele que receber em meu nome um destes pequeninos, a mim me recebe» .
Divini Illius Magistri - Papa Pio XVI
PAX CHRISTI
Diogo Pitta

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Santo Estevão, o primeiro Mártir.


Com o coração ainda cheio de admiração e inundado pela luz que promana da gruta de Belém, onde com Maria, José e os pastores adorámos o nosso Salvador, hoje recordamos o diácono Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão. O seu exemplo ajuda-nos a compreender em maior medida o mistério do Natal e testemunha-nos a maravilhosa grandeza do nascimento daquele Menino no qual se manifesta a graça de Deus, portadora de salvação para os homens (cf. Tt 2, 11). 

De facto, aquele que geme na manjedoura é o Filho de Deus feito homem, que nos pede para testemunhar com coragem o seu Evangelho, como fez Santo Estêvão o qual, cheio do Espírito Santo, não hesitou em dar a vida por amor do seu Senhor. Ele, como o seu Mestre, morre perdoando os próprios perseguidores e faz-nos compreender como a entrada do Filho de Deus no mundo dê origem a uma nova civilização, a civilização do amor, que não cede perante o mal e a violência e abate as barreiras entre os homens, tornando-os irmãos na grande família dos filhos de Deus.

Estêvão é também o primeiro diácono da Igreja, que fazendo-se servo dos pobres por amor de Cristo, entra progressivamente em plena sintonia com Ele e segue-o até ao dom supremo de si. O testemunho de Estêvão, como o dos mártires cristãos, indica aos nossos contemporâneos muitas vezes distraídos e desorientados, em quem devam depor a sua confiança para dar sentido à vida. De facto, o mártir é aquele que morre com a certeza de saber que Deus o ama e, nada antepondo ao amor de Cristo, sabe que escolheu a melhor parte. Configurando-se plenamente com a morte de Cristo, está consciente de ser germe fecundo de vida e de abrir no mundo veredas de paz e de esperança. Hoje, apresentando-nos o diácono Santo Estêvão como modelo, a Igreja indica-nos, de igual modo, no acolhimento e no amor aos pobres, um dos caminhos privilegiados para viver o Evangelho e testemunhar de modo credível aos homens o Reino de Deus que há-de vir.

A festa de Santo Estêvão recorda-nos também os numerosos crentes, que em várias partes do mundo, são submetidos a provas e sofrimentos por causa da sua fé. Confiando-os à sua celeste protecção, empenhemo-nos em apoiá-los com a oração e a nunca faltar à nossa vocação cristã, pondo sempre no centro da nossa vida Jesus Cristo, que nestes dias contemplamos na simplicidade e na humildade do presépio. Invoquemos para esta finalidade a intercessão de Maria, Mãe do Redentor e Rainha dos Mártires, com a oração do Angelus.

Papa Bento XVI – Angelus - 26 de Dezembro de 2009, Festa de Santo Estevão; Fonte: http://www.vatican.va

PAX CHRISTI
Diogo Pitta

sábado, 24 de dezembro de 2011

O Nascimento da Luz Invicta.



“No estábulo de Belém nos está dado o sinal que nos manda responder alegremente: sim; pois esta criança – o Filho Unigênito de Deus – está posta como sinal e garantia de que no fim Deus fica tendo a última palavra na história da humanidade, Ele que é a verdade e o amor. Este é o verdadeiro sentido do Natal; é o “dia do Nascimento da Luz Invicta”, o solstício da história universal que em todos os seus altos e baixos nos dá a certeza de que também aqui a Luz não morrerá, mas já tem na mão a vitória final. O Natal nos liberta do segundo e maior temor do qual nenhuma física nos pode livrar, o temor pelo homem e do homem mesmo. É uma certeza Divina para nós que na profundidade escondida da história a luz venceu e que todos os progressos do mal no mundo em última análise não podem mais mudar nada disso. O solstício da história aconteceu de modo irreversível no nascimento do menino de Belém”

Papa Bento XVI – Dogma e Anúncio, ed. Loyola, Cap.3 – Três meditações sobre o Natal – Pg.327

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

Pronunciamento de Natal - Papa Bento XVI

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

Gravação da aula ao vivo: "Ó admirável intercâmbio!"


Extraído de padrepauloricardo.org

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A oração atravessa toda a vida de Jesus - Papa Bento XVI


Nas últimas catequeses reflectimos sobre alguns exemplos de oração no Antigo Testamento, e hoje gostaria de começar a olhar para Jesus, para a sua oração, que atravessa toda a sua vida, como um canal secreto que irriga a existência, as relações e os gestos, e que O guia, com firmeza progressiva, rumo ao dom total de Si mesmo, segundo o desígnio de amor de Deus Pai. Jesus é o Mestre também das nossas orações, aliás, Ele é o nosso sustento concreto e fraterno, cada vez que nos dirigimos ao Pai. Verdadeiramente, como resume um título do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, «a oração é plenamente revelada e realizada em Jesus» (nn. 541-547). Nas próximas catequeses desejamos olhar para Ele.

Um momento particularmente significativo deste seu caminho é a oração que se segue ao baptismo, ao qual se submete no rio Jordão. O Evangelista Lucas escreve que Jesus, depois de ter recebido, juntamente com todo o povo, o baptismo das mãos de João Baptista, entra numa oração extremamente pessoal e prolongada: «Todo o povo tinha sido baptizado; tendo Jesus sido baptizado também, e estando Ele a orar, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele» (Lc3, 21-22). Precisamente este «estar em oração», em diálogo com o Pai, ilumina a obra que Ele realizou juntamente com muitos do seu povo, que acorreram à margem do Jordão. Rezando, Ele confere a este seu gesto, do baptismo, uma característica exclusiva e pessoal.

João Baptista tinha dirigido um apelo vigoroso a viver verdadeiramente como «filhos de Abraão», convertendo-se para o bem e produzindo frutos dignos de tal mudança (cf. Lc 3, 7-9). E um grande número de israelitas moveu-se, como recorda o Evangelista Marcos, o qual escreve: «Saíam ao seu encontro [de João] todos os habitantes da Judeia e de Jerusalém, e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados» (Mc 1, 5). João Baptista anunciava algo realmente novo: submeter-se ao baptismo devia marcar uma mudança determinante, abandonar um comportamento ligado ao pecado e começar uma vida nova. Também Jesus acolhe este convite, entra na multidão triste dos pecadores que esperam à margem do Jordão. Mas, como aos primeiros cristãos, também em nós surge a interrogação: por que Jesus se submete voluntariamente a este baptismo de penitência e de conversão? Não tem pecados para confessar, não tinha pecados, e portanto também não tinha necessidade de se converter. Então, por que este gesto? O Evangelista Mateus descreve a admiração de João Baptista, que afirma: «Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti e Tu vens a mim?» (Mt 3, 14), e a resposta de Jesus: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça» (v. 15). O sentido da palavra «justiça» no mundo bíblico é aceitar plenamente a vontade de Deus. Jesus mostra a sua proximidade àquela parte do seu povo que, seguindo João Baptista, reconhece que é insuficiente o simples considerar-se filho de Abraão, mas quer cumprir a vontade de Deus, deseja comprometer-se para que o seu comportamento seja uma resposta fiel à aliança oferecida por Deus em Abraão. Então, descendo ao rio Jordão, Jesus sem pecado torna visível a sua solidariedade para com aqueles que reconhecem os próprios pecados, escolher arrepender-se e mudar de vida; faz compreender que pertencer ao povo de Deus significa entrar numa perspectiva de novidade de vida, de vida segundo Deus.

Neste gesto, Jesus antecipa a cruz, dá início à sua actividade assumindo o lugar dos pecadores, carregando sobre os seus ombros o peso da culpa da humanidade inteira, cumprindo a vontade do Pai. Recolhendo-se em oração, Jesus mostra o vínculo íntimo com o Pai que está nos Céus, experimenta a sua paternidade, captura a beleza exigente do seu amor e, no diálogo com o Pai, recebe a confirmação da sua missão. Nas palavras que ressoam do Céu (cf. Lc 3, 22) há a referência antecipada ao mistério pascal, à cruz e à ressurreição. A voz divina define-o «O meu Filho muito amado», evocando Isaac, o amadíssimo filho que o pai Abraão estava disposto a sacrificar, segundo a ordem de Deus (cf. Gn 22, 1-14). Jesus não é só o Filho de David,descendente messiânico real, ou o Servo do qual Deus se compraz, mas é também o Filho unigénito, o amado, semelhante a Issac, que Deus Pai oferece para a salvação do mundo. No momento em que, através da oração, Jesus vive em profundidade a própria filiação e a experiência da paternidade de Deus (cf. Lc 3, 22b), desce o Espírito Santo (cf. Lc 3, 22a), que o guia na sua missão e que Ele efundirá depois de ter sido elevado na cruz (cf. Jo 1, 32-34; 7, 37-39), para que ilumine a obra da Igreja. Na oração, Jesus vive um contacto ininterrupto com o Pai, para realizar até ao fim o desígnio de amor pelos homens.

No fundo desta oração extraordinária encontra-se toda a existência de Jesus, vivida numa família profundamente ligada à tradição religiosa do povo de Israel. Demonstram-no as referências que encontramos nos Evangelhos: a sua circuncisão (cf. Lc 2, 21) e a sua apresentação no templo (cf.Lc 2, 22-24), assim como a educação e a formação em Nazaré, na casa santa (cf. Lc 2, 39-40 e 2, 51-52). Trata-se de «cerca de trinta anos» (Lc 3, 23), um tempo prolongado de vita escondida e útil, embora com as experiências de participação em momentos de expressão religiosa comunitária, come as peregrinações a Jerusalém (cf. Lc 2, 41). Narrando-nos o episódio de Jesus no templo quando tinha doze anos, sentado no meio dos doutores (cf. Lc 2, 42-52), o Evangelista Lucas deixa entrever como Jesus, que reza depois do baptismo no Jordão, tem um prolongado hábito de oração íntima com Deus Pai, arraigada nas tradições, no estilo da sua família e nas experiências decisivas nela vividas. A resposta do menino de doze anos a Maria e José já indica aquela filiação divina, que a voz celeste manifesta após o baptismo: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» (Lc 2, 49). Ao sair das águas do Jordão, Jesus não inaugura a sua oração, mas continua a sua relação constante, habitual com o Pai; e é nesta união íntima com Ele que realiza a passagem da vida escondida de Nazaré, para o seu ministério público.

O ensinamento de Jesus sobre a oração deriva, sem dúvida, do seu modo de rezar, adquirido em família, mas tem a sua origem profunda e essencial no seu ser o Filho de Deus, na sua relação singular com Deus Pai. À pergunta: De quem aprendeu Jesus a rezar?, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica assim responde: «Jesus, segundo o seu coração de homem, foi ensinado a rezar por sua Mãe e pela tradição judaica. Mas a sua oração brota de uma fonte secreta, porque Ele é o Filho eterno de Deus que, na sua santa humanidade, dirige a seu Pai a oração filial perfeita» (n. 541).

Na narração evangélica, as ambientações da oração de Jesus colocam-se sempre na encruzilhada entre a inserção na tradição do seu povo e a novidade de uma relação pessoal singular com Deus. «O lugar deserto» (cf. Mc 1, 35; Lc 5, 16) em que se retira com frequência, «o monte» onde sobe para rezar (cf. Lc 6, 12; 9, 28) e «a noite» que lhe permite a solidão (cf. Mc 1, 35; 6, 46-47; Lc 6, 12) evocam momentos do caminho da revelação de Deus no Antigo Testamento, indicando a continuidade do seu desígnio salvífico. Mas, ao mesmo tempo, indicam momentos de importância particular para Jesus que, de modo consciente, se insere neste plano, totalmente fiel à vontade do Pai.

Também na nossa oração temos que aprender, cada vez mais, a entrar nesta história de salvação, cujo ápice é Jesus, renovar diante de Deus a nossa decisão pessoal para nos abrirmos à sua vontade, pedir-lhe a força de conformar a nossa vontade com a sua, em toda a nossa vida, em obediência ao seu desígnio de amor por nós.

A oração de Jesus diz respeito a todas as fase do seu ministério e a todos os seus dias. As dificuldades não a impedem. Aliás, os Evangelhos deixam transparecer um hábito de Jesus, de transcorrer em oração uma parte da noite. O Evangelista Marcos narra uma destas noites, depois do dia pesado da multiplicação dos pães, e escreve: «Jesus obrigou logo os seus discípulos a subirem para o barco e a irem à frente, outro outro lado, rumo a Betsaida, enquanto Ele próprio despedia a multidão. Depois de os ter despedido, foi ao monte para orar. Já era noite, o barco estava no meio do mar e Ele sozinho em terra» (Mc 6, 45-47). Quando as decisões se fazem urgentes e complexas, a sua prece torna-se mais prolongada e intensa. Na iminência da escolha dos doze Apóstolos, por exemplo, Lucas sublinha a duração da oração preparatória de Jesus à noite: «Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer a oração e passou toda a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos» (Lc 6, 12-13).

Olhando para a oração de Jesus, em nós deve surgir uma pergunta: como rezo eu, como oramos nós? Que tempo dedico à relação com Deus? Tem-se hoje uma educação e formação suficiente para a oração? E quem pode ser mestre nisto? Na Exortação Apostólica Verbum Domini falei sobre a importância da leitura orante da Sagrada Escritura. Reunindo o que sobressaiu na Assembleia do Sínodo dos Bispos, pus em evidência especial a forma específica da lectio divina. Ouvir, meditar e silenciar diante do Senhor que fala é uma arte, que se aprende praticando-a com constância. Certamente, a oração é um dom, que todavia é necessário acolher; é obra de Deus, mas exige o nosso compromisso e continuidade; sobretudo, a continuidade e a constância são importantes. Precisamente a experiência exemplar de Jesus mostra que a sua oração, animada pela paternidade de Deus e pela comunhão do Espírito, aprofundou-se num exercício prolongado e fiel, até ao Horto das Oliveiras e à Cruz. Hoje, os cristãos são chamados a tornar-se testemunhas de oração, precisamente porque o nosso mundo se encontra muitas vezes fechado ao horizonte divino e à esperança que contém o encontro com Deus. Na amizade profunda com Jesus e vivendo nele e com Ele a relação filial com o Pai, através da nossa oração fiel e constante, podemos abrir janelas para o Céu de Deus. Aliás, ao percorrer o caminho da oração, sem uma consideração humana, podemos ajudar outros a percorrê-lo: também para a oração cristã é verdade que, caminhando, se abrem veredas.

Amados irmãos e irmãs, eduquemo-nos para uma relação intensa com Deus, para uma prece que não seja esporádica, mas constante, cheia de confiança, capaz de iluminar a nossa vida, como nos ensina Jesus. E peçamos-lhe que possamos comunicar às pessoas que estão próximas de nós, àqueles que encontramos ao longo do nosso caminho, a alegria do encontro com o Senhor, Luz para a nossa existência. Obrigado!

Fonte: http://www.vatican.va - Papa Bento XVI - 30 de Novembro de 2011 - Audiência Geral

Pax Christi

Diogo Pitta

Gravação da aula ao vivo: "PL122 - A lei da mordaça gay"


Fonte: padrepauloricardo.org

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

São João da Cruz


Queridos irmãos e irmãs,


 duas semanas apresentei a figura da grande mística espanhola Teresa de Jesus. Hoje gostaria de falar de outro importante santo daquelas terras, amigo espiritual de santa Teresa, reformador com ela da família religiosa carmelita: são João da Cruz, proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio xi em 1926, e chamado na tradição Doctor mysticus, «Doutor místico».

João da Cruz nasceu em 1542 no povoado de Fontiveros, perto de Ávila, na Velha Castela, de Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. A família era extremamente pobre porque o pai, de nobre origem de Toledo, tinha sido expulso de casa e deserdado por ter casado com Catalina, uma humilde tecelã de seda. Órfão de pai em tenra idade, com nove anos, transferiu-se com a mãe e o irmão Francisco para Medina del Campo, perto de Valladolid, centro comercial e cultural. Ali frequentou o Colegio de los Doctrinos, desempenhando também alguns trabalhos humildes para as irmãs da igreja-convento da Madalena. Em seguida, considerando as suas qualidades humanas e os seus resultados nos estudos, foi admitido primeiro como enfermeiro no Hospital da Conceição, depois no Colégio dos Jesuítas, recém-fundado em Medina del Campo: ali João entrou com dezoito anos e estudou ciências humanas, retórica e línguas clássicas durante três anos. No final da formação, ele viu claramente qual era a sua vocação: a vida religiosa e, entre as muitas ordens presentes em Medina, sentiu-se chamado ao Carmelo.

No Verão de 1563 começou o noviciado com os Carmelitas da cidade, assumindo o nome religioso de João de São Matias. No ano seguinte foi destinado à prestigiosa Universidade de Salamanca, onde por três anos estudou artes e filosofia. Em 1567 foi ordenado sacerdote e voltou a Medina del Campo para celebrar a sua primeira Missa circundado pelo carinho dos familiares. Precisamente ali teve lugar o primeiro encontro entre João e Teresa de Jesus. O encontro foi decisivo para ambos: Teresa expôs-lhes o seu plano de reforma do Carmelo também no ramo masculino da Ordem e propôs a João que se adaptasse «para maior glória de Deus»; o jovem sacerdote ficou fascinado pelas ideias de Teresa, a ponto de se tornar um grande defensor do projecto. Os dois trabalharam juntos alguns meses, compartilhando ideais e propostas para inaugurar quanto antes possível a primeira casa de Carmelitas Descalços: a abertura ocorreu a 28 de Dezembro de 1568 em Duruelo, lugar solitário da província de Ávila. 

Com João formavam esta primeira comunidade masculina reformada outros três companheiros. Ao renovar a sua profissão religiosa segundo a Regra primitiva, os quatro assumiram um novo nome: Então, João denominou-se «da Cruz», como depois será conhecido universalmente. No final de 1572, a pedido de santa Teresa, tornou-se confessor e vigário do mosteiro da Encarnação em Ávila, onde a santa era priora. Foram anos de estreita colaboração e amizade espiritual, que a ambos enriqueceram. A esse período remontam inclusive as mais importantes obras teresianas e os primeiros escritos de João.

A adesão à reforma carmelita não foi fácil, e causou a João também graves sofrimentos. O episódio mais traumático foi, em 1577, o seu rapto e aprisionamento no convento dos Carmelitas de Antiga Observância de Toledo, devido a uma acusação injusta. O santo permaneceu preso durante meses, submetido a privações e constrições físicas e morais. Ali compôs, além de outras poesias, o célebre Cântico espiritual. Finalmente, na noite entre 16 e 17 de Agosto de 1578, conseguiu fugir de modo aventuroso, refugiando-se no mosteiro das Carmelitas Descalças da cidade. Santa Teresa e os companheiros reformados celebraram com imensa alegria a sua libertação e, após um breve período de recuperação das forças, João foi destinado para a Andalusia, onde transcorreu dez anos em vários conventos, especialmente em Granada. Assumiu cargos cada vez mais importantes na Ordem, até se tornar Vigário provincial, e completou a redacção dos seus tratados espirituais. Depois, voltou para a sua terra natal, como membro do governo geral da família religiosa teresiana, que já gozava de plena autonomia jurídica. Habitou no Carmelo de Segóvia, desempenhando a função de superior daquela comunidade. Em 1591 foi eximido de qualquer responsabilidade e destinado à nova Província religiosa do México. Enquanto se preparava para a longa viagem com outros dez companheiros, retirou-se num convento solitário perto de Jaén, onde adoeceu gravemente. João enfrentou com serenidade e paciência exemplares normes sofrimentos. Falceu na noite entre 13 e 14 de Dezembro de 1591, enquanto os irmãos de hábito recitavam o Ofício matutino. Despediu-se deles, dizendo: «Hoje vou cantar o Ofício no Céu». Os seus restos mortais foram trasladados para Segóvia. Foi beatificado por Clemente x em 1675 e canonizado por Bento XIII em 1726.

João é considerado um dos mais importantes poetas líricos da literatura espanhola. As obras principais são quatro: Subida ao Monte Carmelo, Noite obscura, Cântico espiritual e Chama de amor viva.

No Cântico espiritual, são João apresenta o caminho de purificação da alma, ou seja, a posse progressiva e jubilosa de Deus, até que a alma chegue a sentir que ama a Deus com o mesmo amor com que é por Ele amada. A Chama de amor viva continua nesta perspectiva, descrevendo mais pormenorizadamente o estado de união transformadora com Deus. A comparação utilizada por João é sempre a do fogo: assim como o fogo, quanto mais arde e consome a madeira, tanto mais se torna incandescente até se tornar chama, também o Espírito Santo, que durante a noite obscura purifica e «limpa» a alma, com o tempo ilumina-a e aquece-a como se fosse uma chama. A vida da alma é uma festa contínua do Espírito Santo, que deixa entrever a glória da união com Deus na eternidade.

A Subida ao Monte Carmelo apresenta o itinerário espiritual sob o ponto de vista da purificação progressiva da alma, necessária para escalar a montanha da perfeição cristã, simbolizada pelo cimo do Monte Carmelo. Tal purificação é proposta como um caminho que o homem empreende, colaborando com a obra divina, para libertar a alma de todo o apego ou afecto contrário à vontade de Deus. A purificação, que para alcançar a união com Deus deve ser total, começa a partir daquela da vida dos sentidos e continua com a que se alcança por meio das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, que purificam a intenção, a memória e a vontade. A Noite obscura descreve o aspecto «passivo», ou seja, a intervenção de Deus neste processo de «purificação» da alma. Com efeito, o esforço humano sozinho é incapaz de chegar às profundas raízes das más inclinações e hábitos da pessoa: só os pode impedir, mas não consegue erradicá-los completamente. Para o fazer, é necessária a acção especial de Deus, que purifica radicalmente o espírito e o dispõe para a união de amor com Ele. São João define «passiva» tal purificação, precisamente porque, embora seja aceite pela alma, é realizada pela obra misteriosa do Espírito Santo que, como chama de fogo, consome toda a impureza. Neste estado, a alma é submetida a todo o tipo de provações, como se se encontasse numa noite obscura.

Estas indicações sobre as obras principais do santo ajudam-nos a aproximar-nos dos pontos salientes da sua vasta e profunda doutrina mística, cuja finalidade é descrever um caminho seguro para alcançar a santidade, a condição de perfeição à qual Deus chama todos nós. Segundo João da Cruz, tudo o que existe, criado por Deus, é bom. Através das criaturas, nós conseguimos chegar à descoberta daquele que nelas deixou um vestígio de Si. De qualquer modo, a fé é a única fonte confiada ao homem para conhecer Deus como Ele é em si mesmo, como Deus Uno e Trino. Tudo o que Deus queria comunicar ao homem, disse-o em Jesus Cristo, a sua Palavra que se fez carne. Jesus Cristo é o único e definitivo caminho para o Pai (cf. Jo 14, 6). Qualquer coisa criada nada é em comparação com Deus, e nada vale fora dele: por conseguinte, para alcançar o amor perfeito de Deus, todos os outros amores devem conformar-se em Cristo com o amor divino. Daqui deriva a insistência de são João da Cruz sobre a necessidade da purificação e do esvaziamento interior para se transformar em Deus, que é a única meta da perfeição.

 Esta «purificação» não consiste na simples falta física das coisas ou do seu uso; o que torna a alma pura e livre, ao contrário, é eliminar toda a dependência desordenada das coisas. Tudo deve ser inserido em Deus como centro e fim da vida. Sem dúvida, o longo e cansativo processo de purificação exige o esforço pessoal, mas o verdadeiro protagonista é Deus: tudo o que o homem pode fazer é «dispor-se», estar aberto à obra divina e não lhe pôr obstáculos. Vivendo as virtudes teologais, o homem eleva-se e valoriza o próprio compromisso. O ritmo de crescimento da fé, da esperança e da caridade caminha a par e passo com a obra de purificação e com a união progressiva com Deus, até se transformar nele. Quando alcança esta meta, a alma imerge-se na própria vida trinitária, e são João afirma que ela consegue amar a Deus com o mesmo amor com que Ele a ama, porque a ama no Espírito Santo. Eis por que motivo o Doutor místico afirma que não existe verdadeira união de amor com Deus, se não culmina na união trinitária. Neste estado supremo a alma santa conhece tudo em Deus e já não deve passar através das criaturas para chegar a Ele. A alma já se sente inundada pelo amor divino e alegra-se completamente nele.

Caros irmãos e irmãs, no fim permanece esta pergunta: com a sua mística excelsa, com este árduo caminho rumo ao cimo da perfeição, este santo tem algo a dizer também a nós, ao cristão normal que vive nas circunstâncias desta vida de hoje, ou é um exemplo, um modelo apenas para poucas almas escolhidas que podem realmente empreender este caminho da purificação, da ascese mística? Para encontrar a resposta, em primeiro lugar temos que ter presente que a vida de são João da Cruz não foi um «voar sobre as nuvens místicas», mas uma vida muito árdua, deveras prática e concreta, quer como reformador da ordem, onde encontrou muitas oposições, quer como superior provincial, quer ainda no cárcere dos seus irmãos de hábito, onde esteve exposto a insultos incríveis e a maus tratos físicos. Foi uma vida dura, mas precisamente nos meses passados na prisão, ele escreveu uma das suas obras mais bonitas. 
E assim podemos compreender que o caminho com Cristo, o andar com Cristo, «o Caminho», não é um peso acrescentado ao fardo já suficientemente grave da nossa vida, não é algo que tornaria ainda mais pesada esta carga, mas é algo totalmente diferente, é uma luz, uma força que nos ajuda a carregar este peso. Se um homem tem em si um grande amor, este amor quase lhe dá asas, e suporta mais facilmente todas as molésticas da vida, porque traz em si esta grande luce; esta é a fé: ser amado por Deus e deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus. Este deixar-se amar é a luz que nos ajuda a carregar o fardo de todos os dias. E a santidade não é uma obra nossa, muito difícil, mas é precisamente esta «abertura»: abrir as janelas da nossa alma, para que a luz de Deus possa entrar, não esquecer Deus, porque é precisamente na abertura à sua luz que se encontra a força, a alegria dos remidos. Oremos ao Senhor para que nos ajude a encontrar esta santidade, deixando-nos amar por Deus, que é a vocação de todos nós e a verdadeira redenção. Obrigado!

Fonte: http://www.vatican.va -  16 de Fevereiro de 2011 -  Papa Bento XVI - Audiência Geral

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

sábado, 10 de dezembro de 2011

As exigências do pensamento: Raízes da Intelectualidade Cristã



As primeiras literaturas cristãs apresentam-se, pois, sob um aspecto modesto: os seus fins e seus meios são limitados. Mas em breve, a partir da segunda metade do século II, começa a expandir-se  e a ganhar altura. À medida que a planta cristã cresce, razões de ordem interna condicionam o seu desabrochar progressivo e uma fixação mais profunda das suas raízes, ao mesmo tempo que com uma flexibilidade e um poder de absorção admiráveis, vai buscar aos elementos exteriores tudo o que possa servir para o seu desenvolvimento.
A princípio, a Igreja não contava com intelectuais. São Paulo escrevia aos Coríntios; “Vede, irmãos, quem foi chamado entre vós; pois não há muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres” (1 Cor 1,26). Este predomíniode gente humilde e de poucas letras durará perto de dois séculos, será reconhecido pelos cristãos e tronar-se-á motivo de ironia para os seus adversários. Mas já a partir do reinado de Adriano, o cristianismo penetrará nos meios cultos, e no fim do século II são já numerosos os intelectuais que, evidentemente, meditam na sua fé segundo os processos que lhes são familiares e entendem dever defende-la das críticas no terreno que lhes é também habitual. Assim esboça-se a filosofia cristã.
Para avaliar a força das exigências do pensamento que o cristianismo vai sofrer, é preciso ter em conta a atividade intelectual que animava a sociedade greco-romana dos primeiros séculos, o seu gosto, ou melhor ainda, a sua paixão pelas ideias. Em páginas muito curiosas,  o filósofo Sêneca conta à Lucílio que na sua juventude seguia com frenesi os ensinamentos dos mestres e se submetia com amor às regras de ascetismo que estes lhe aconselhavam. A filosofia estava então na moda. Em muitas escolas, um público numeroso acorria aos cursos, como há anos o público parisiense acorria às aulas de Bergson. É certo que o esnobismo contribuía em parte para essa aflu~encia, mas havia também almas sinceras que procuravam nas doutrinas uma resposta para os grandes problemas e um apaziguamento para suas inquietações. Verificava-se um renascimento peripatético, devido á edição das obras de Aristóteles por Andrônico de rodes, bem como uma renovação platônica encarnada por Plutarco de Cesaréia e Apuleio; esta corrente, além disso, fazia sentir a sua influência sobre o neoptagorismo de um Moderato de Gades ou de um Nicômaco de Gerasa. E havia sobretudo uma expansão do estoicismo, que conta nos dois primeiros séculos com nomes eminentes como Sêneca, Epicteto, e Marco Aurélio. Desta meneira, os intelectuais Cristãos irão encontrar pela frente um corpo de pensamento efetivamente poderoso.

A reação natural dos fiéis cultos é pois, mostrar que tiveram razão em adotar a fé em Cristo, que a sua religião não é mais uma superstição bárbara de que tenham de curar-se, como lhes disse Celso, e que o Cristianismo sustenta-se intelectualmente. É isto o que os levará a das os primeiros passos nos caminhos da dialética cristã, um caminho que será trilhado posteriormente por Orígenes, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Mas as dificuldades não foram pequenas. Os filósofos profissionais, que nesta época, se se ocupavam sobretudo dos problemas morais, gostavam de ser considerados como mestres na direção das almas, viam com certa irritação que as suas funções passavam para as mãos dos pregadores que alardeavam princípios novos e doutrinas sem glória. Minúcio Félix, o apologista, diz que a maior parte dos filósofos não se dignava escutar e se envergonharia de responder-lhes. Mas isso não correspondia inteiramente à verdade, pois por ocasião do processo de São Justino, verificou-se entre a numerosa assistência uma curiosidade por conhecer sua pessoa e as suas ideias. O que Minúcio Félix diz com muito mais exatidão, porém, é que os intelectuais Cristãos, embora desprezados e criticados, e desempenhando um papel muito difícil, se sentiam impelidos por uma força invencível. “Talvez não digamos grandes coisas, mas somos nós que temos a Vida!”

O primeiro fim que tinham em vista, era portanto, afirmar a dignidade do pensamento cristão. Ora, haverá melhor meio de opor-se a uma doutrina do que ir buscar ao adversário suas próprias armas? Os filósofos invocam a razão? Mas não é Cristo a razão encarnada, a suprema sabedoria? E não há nos sistemas gregos, elementos que possam ser anexados ao Cristianismo? Os intelectuais Cristãos em torno do ano 150 já haviam compreendido a necessidade daquilo que a Igreja saberá fazer maravilhosamente no decorre dos séculos, isto é, segregar o seu mel, servindo-se de todas as fontes. Mais do que Aristóteles, em quem a maior parte das vezes não veem senão “o físico”, e até o ateu; mais do que os estóicos, tão próximos às vezes pelo seu vocabulário, das palavras evangélicas, é principalmente de Platão que eles se servem, a tal ponto que se pôde falar de um platonismo dos Padres da Igreja. Sem deixarem de apontar as lacunas da doutrina platônica, o erro das preexistência da matéria e várias aberrações na sua moral, verão no sábio filósofo um vidente superior, em quem preexiste o eco de certas afirmações cristãs. É segundo os seus métodos que se fará apelo à razão para justificar a existência de Deus, a imortalidade da alma, a distinção entre o bem e o mal, assim como o Juízo Final.

Rops, Henri-Daniel, “A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires”, Ed. Quadrante, vol I, 1988, SP, p. 272 – 273

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A importância do silêncio na liturgia


"O silêncio do infinito me aterroriza”, dizia Pascal, mas nós podemos dizer que o silêncio de Deus nos edifica e nos encanta, pois é no silêncio que Deus nos fala e se nos revela (Cf. 1Rs 19,11-13). O silêncio é, pois, liturgia, e não mera ausência de sons ou de vozes. 
Romano Guardini  dizia que o silêncio é a condição primordial para toda ação sagrada e, se fosse interrogado, diria que é com o aprendizado do silêncio que se deve começar a vida litúrgica. De fato sabemos que o silêncio favorece a meditação, mergulha-nos no mistério de Deus e de nós mesmos, como também favorece em nós a contemplação dos bens eternos. 

A realidade, porém, de muitas de nossas celebrações pode ser um desafio para a aprendizagem do silêncio, pois estas passaram de um acontecimento até então silencioso e equilibrado para uma celebração exageradamente sonora, cheia de palavras e músicas, com sons às vezes estridentes, ruidosos mesmo, em detrimento da mensagem do canto e, o que é pior, abafando a voz da assembleia celebrante, sem ainda levarem em conta que muitos dos que vêm celebrar já foram “bombardeados” pelo vozerio atordoante do mundo em que vivemos.

A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II (Cf. SC nº 30) redescobriu a importância do silêncio litúrgico, retomando assim os valores de uma venerável tradição da Igreja, inspirada na revelação bíblica. Assim, o silêncio não pode mais ser descuidado, e até sacrificado, em nome de uma suposta participação ativa que se quer expressar apenas com vozes e gestos.  

O episcopado francês, falando das exigências mal-orientadas e reguladas de participação ativa, “as quais não deixam mais espaço a um só momento de silêncio”, convida também a “observar a diferença profunda entre o silêncio de inércia das assembleias individualistas e informais, que precisa desaparecer, e o silêncio comunitário, alimentado e preparado pelo canto e pela catequese. O silêncio é o ápice da oração; é pela sua qualidade que se mede o esforço de participação”.

Analisando o texto dos diversos documentos da Igreja e de autores consagrados, percebe-se a qualificação do silêncio como “parte da celebração”, uma descoberta então feliz, que precisa ser entendida e aceita por todos, afastando aquele conceito às vezes negativo em que se vê o silêncio como momento estéril, de não participação ou de inércia. 

Assim, em chave pedagógica, o silêncio é indicado como um dos elementos da liturgia a estar sempre presente na formação litúrgica de toda a Igreja. De acordo, pois, com a Instrução do Missal (IGMR nº 45), a natureza do silêncio depende do momento em que ele tem lugar na celebração, havendo sempre uma motivação mais geral que é a de promover a participação ativa dos fiéis (SC 30), levando-os a uma disposição viva para celebrarem os divinos mistérios, inserindo assim a assembleia no mistério que se celebra, pois o silêncio, favorecendo a escuta da Palavra de Deus, favorece também a sua acolhida e a resposta da meditação (IGMR nº 56). 

Como dizia Dionísio, o Areopagita, capaz de criar o clima e as atitudes espirituais necessárias à experiência litúrgica e de oferecer às pessoas, comprometidas com a ação comunitária, um espaço vital para a sua inserção na ação celebrativa, com presença de viva interiorização, pois o silêncio “abre a fonte interior de onde brota a Palavra”, e seu cultivo na liturgia é sinal de maior maturidade celebrativa, silêncio, pois, que não é mutismo espiritual, mas momento vivificante da graça, na ação do Espírito.

Dom Nelson Francelino Ferreira
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro - RJ


PAX CHRISTI

Diogo Pitta



domingo, 27 de novembro de 2011

A mensagem de Jesus sobre a dor



A Quaresma é um tempo em que a Cruz de Jesus nos fala como um símbolo vivo do amor misericordioso de Deus. Eleva-se como um feixe de luz no cimo da montanha do Calvário, e os seus raios horizontais esticam-se para abraçar toda a angústia humana. Mostra-nos que aquilo que parece ser o fim da esperança é, na realidade, um novo começo.
Santa Teresa de Lisieux reflecte sobre o sofrimento humano e como este tem sentido para além da nossa capacidade pessoal de o aguentar. “Eu aceito com gratidão os espinhos que estão misturados com as flores”, escreveu ela. Porquê a gratidão? Ela continua, “A minha alegria é lutar incessantemente para dar à luz filhos espirituais. Eu continuo a dizer a Jesus “Por Ti... eu sou feliz porque sofro” (Poesias). Ela está a explicar que a nova vida pode nascer do ventre da nossa tribulação. Assim, a compressão da dor que nos tem agarrados dentro das suas cordas esticadas alarga-se para alcançar os outros nas suas necessidades. A dor pessoal não está fechada em si mesma mas assume poder apostólico.
Teresa declara: “Jesus fez-me compreender que era através do sofrimento que Ele me queria dar as almas”. Ela não diz que os seus desejos apostólicos a levaram a um aumento de dor. Ela diz “Jesus fez-me compreender”. Por outras palavras, a graça iluminou-a para ver que o sofrimento não era simplesmente devastação mas semente com fruto. A aceitação verdadeira daquilo que cada dia continha levou-a a uma “paz tão doce, tão profunda que seria impossível expressar... esta paz interior tem sido a minha herança, e não me abandonou no meio das maiores dificuldades” (História de uma Alma).
Santa Teresinha reflecte sobre o que é que o sofrimento pode fazer por nós no tempo, e também espera uma recompensa eterna que pague aquilo que nós aguentamos. Ela escreve à sua irmã Leónia: “Este pensamento da pequenez da vida dá-me coragem, ajuda-me a aguentar a fadiga da estrada... Jesus foi à nossa frente para nos preparar um lugar na casa do Seu Pai.... vamos esperar... a hora do descanso está a aproximar-se... alegro-me quando vejo quanto Deus te ama e te dá as Suas graças. Ele encontra-te merecedora de sofrer por Seu Amor, e esta é a maior prova de ternura que Ele te pode dar, porque o sofrimento nos faz como Ele” (Carta 173). Ela está a dizer-nos que a adversidade tem o seu trabalho especial a fazer em cada vida humana.
Mas, de que modo é que o sofrimento nos faz como Deus? Para compreender esta parte do mistério, vamos aos evangelhos e vemos como Jesus se relaciona com a aflição. “Depois, começou a percorrer a Galileia... curando entre o povo todas as doenças e enfermidades.... trouxeram-lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam doenças e tormentos, os possessos, os epilépticos e os paralíticos e Ele curou-os” (Mt 4, 23-24). Aqui vemos Deus Encarnado movimentando-se entre nós, revelando o divino amor num coração humano que bate com compaixão por cada membro da multidão que O segue. Os doentes eram curados das suas aflições. No entanto, à sua frente ainda estavam outras aflições — do corpo, da mente e do coração. O seu desaparecimento através do toque de Jesus foi só um alívio temporário porque a vida tinha ainda outras perdas. Teria sido só temporário? O que é que Jesus faz quando toca uma vida humana? O que é que acontece? O que é que é tão bom na Boa Nova?
Nós, cristãos, como os outros filhos do planeta terra, nascemos numa realidade em que será necessário incorporar a dor e a lamentação. Aceitamos isto realmente e rejeitamos qualquer explicação que diz que o nosso sofrimento é uma perda ou está fundamentado numa ilusão. Para descobrir o sentido dos nossos sofrimentos, subimos uma montanha onde o Deus-que-se-fez-homem morre em agonia. Depois desse acontecimento culminante, todo o resto da história humana tem uma nova iluminação — uma luz nascida da escuridão do Calvário. Nós vemos o espantoso espectáculo de um Deus na mais profunda necessidade, lutando em dor. Santa Teresinha descreve a face de Jesus como “luminosa .... no meio de feridas e lágrimas” (Carta 95).
O pecado original foi aceitar a promessa da serpente, “Vós sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal” (Gén. 3,5). E dessa decisão humana veio o sofrimento e a morte. Quem teria imaginado a resposta divina a esta traição, em que Deus abraçaria o castigo verdadeiro imposto pelo pecado: o sofrimento e a morte? Os salmos cantam vezes sem conta a abundante bondade de Deus, o amor de Deus que nunca se cansa. No entanto, nós cristãos cantamos uma misericórdia que não só derrama compaixão mas que entra na experiência da nossa desolação. Nós temos um Deus infinito que quis sentir as nossas limitações, mesmo as mais pequenas.
Jesus não explica a existência humana desde fora. Ele permitiu a Si próprio ser limitado pelas fronteiras da humanidade que Ele partilha connosco. Mas fazendo assim, Ele transforma essas mesmas limitações e enche-as de poder.
Ele olha para nós em qualquer incapacidade de andar que nos esteja a agarrar e a impedir de nos movimentarmos ao seu encontro. As suas palavras ressoam nos nossos ouvidos. “Levanta-te e anda” (Mt 9,5). Com este poder a dar-nos energia, nós sabemos que o caminho diante de nós, sim, neste mesmo dia, com todas as suas dificuldades, nos leva à vida eterna.

Ir. Margaret Dorgan DCM
(Tradução de Antonieta Vigário)
(inhttp://carmelitesofeldridge.org/dorgancurrentr.html)



PAX CHRISTI

Diogo Pitta

Estudo comprova que homossexuais não “nasceram assim”



e 2011


Sabemos que basta um caso de mudança de orientação sexual para provar que os homossexuais não são prisioneiros inevitáveis desse estilo de vida, e que a orientação sexual não é uma característica imutável, como a raça. Como diz o ditado, é impossível encontrar um ex-negro, mas agora se constatou que não é impossível encontrar um ex-homossexual.
Na verdade, há um monte deles por aí.
A pesquisa provando que é possível um homossexual corrigir sua situação foi publicada em uma revista científica. Tendo sido conferida pelos próprios interessados, isso invalida uma velhaca e irritante objeção alardeada pelo conluio de desviados sexuais.
Stanton L. Jones e Mark A. Yarhouse publicaram no Journal of Sex and Marital Therapy um estudo estatístico sobre mudança de orientação sexual por meios religiosos (Vol. 37, páginas 404-427). Apesar de os ativistas homossexuais insistirem em que a mudança de orientação é impossível, e que a tentativa de alteração é prejudicial, estes pesquisadores descobriram que de fato o oposto é que é verdadeiro.
No passado, a Associação Americana de Psicologia (APA) enfiou os dedos nos próprios ouvidos, e estupidamente entoou: “A homossexualidade não pode ser mudada – os riscos potenciais da terapia reparadora são grandes, incluindo depressão, ansiedade e comportamento autodestrutivo”.
Mas ela está absolutamente errada.
Jones e Yarhouse acompanharam durante 6 a 7 anos 61 indivíduos que completaram o trabalho de terapia reparadora com a Exodus International. Desses 61 homens e mulheres, 53% tiveram resultados bem sucedidos. Vinte e três por cento conseguiram uma conversão bem sucedida para a heterossexualidade, tanto na orientação como na funcionalidade, enquanto outros 30% alcançaram castidade comportamentalbem como substancial “des-identificação” com a orientação homossexual (vinte por cento abandonaram o processo e aderiram totalmente à identidade homossexual).
Quanto a ser prejudicial o próprio tratamento, na média o sofrimento psicológico não aumentou, e para muitos houve melhorias significativas.
Os autores têm o cuidado de advertir contra projeções exageradas com base em suas pesquisas, mas evidentemente suas descobertas são uma dramática recusa para o estribilho de que a mudança é impossível, e que a própria tentativa de mudança é prejudicial.
Os autores ressaltam algumas atitudes a tomar. Uma delas é que, sendo a mudança de orientação sexual claramente possível, a decisão de pessoas que procuram mudá-la deve ser respeitada e sustentada.
Quais as probabilidades de ser confrontado pela comunidade homossexual com algo assim: “Já tomei minha decisão, não me confunda com os fatos”? A probabilidade está entre mínima e nenhuma, pois a esquerda é profundamente anti-científica, e sua reação a essas descobertas será previsivelmente anti-científica.
Da mesma forma, se os defensores do homossexualismo fossem honestos e acatassem os resultados da pesquisa científica, deixariam agora de invalidar a terapia corretora para pessoas interessadas em corrigir de orientação sexual. Infelizmente, o compromisso cego, irracional e emocional deles com a própria agenda torna isso impossível, exceto para os poucos dentre eles que não são preconceituosos.
Um desses poucos não preconceituosos é Nicholas Cummings, ex-presidente da American Psychological Association. Quando os pesquisadores publicaram seus resultados preliminares no livro “Ex-gays?”, Cummings afirmou: “Este estudo abriu novos caminhos [...] e abre novos horizontes para a investigação. [...] Esperei mais de trinta anos por este estudo refrescante, penetrante”. Em seguida passou a referir-se ao livro como “leitura obrigatória” para os terapeutas, conselheiros e psicólogos acadêmicos.
Essas descobertas refletem o que afirmou, em 2003, o psiquiatra Dr. Robert Spitzer, de Columbia, depois de estudar 200 ex-homossexuais que obtiveram algum grau de mudança: “As alterações que se seguiram à terapia reparadora não se limitaram ao comportamento sexual e ao reconhecimento da própria orientação sexual. Abrangeram atração sexual, excitação, fantasia, desejo, como também o sentir-se incomodado por sentimentos homossexuais. São mudanças que abrangem os principais aspectos da orientação sexual”.
Estas observações do Dr. Spitzer são particularmente importantes, pois foi ele quem liderou a campanha política que em 1973 retirou a homossexualidade da lista oficial de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria. A APA vai ter que atualizar seu website, pois contém esta declaração cientificamente incorreta: “Até esta data, não houve nenhuma pesquisa científica adequada para demonstrar que a terapia que visa mudar a orientação sexual [...] é segura ou eficaz”.
Bem, agora existe a “pesquisa cientificamente adequada” para mostrar que a mudança é possível. Será que a APA vai afinal entrar no século 21 e admitir isso? Não alimente grandes esperanças.
O próprio procurador-geral, Eric Holder, está confinado na mentalidade depressiva e anti-ciência dos fundamentalistas, pois sustentou em fevereiro acreditar que “a orientação sexual é uma característica imutável”. Parece que precisamos de um novo procurador-geral.
Última linha: A mudança de orientação sexual é possível, e este estudo é a prova. Deixemos para trás a insensatez biológica e psicológica de que homossexuais “nascem assim”, e que nada se pode fazer sobre isso. Tanto a Sagrada Escritura quanto a investigação científica dizem algo muito diferente.

Fonte: adf.org.br/ (Associação Devotos de Fátima)


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Diogo Pitta