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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Extremismo cristão

Uma breve análise bíblica e histórica

Por Eguinaldo Hélio de Souza

“... Vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus” (Jo 16.2).

Cristianismo e extremismo religioso

A primeira coisa a dizer sobre o assunto é o seguinte: qualquer violência, de qualquer espécie, que tenha acontecido na história sob a bandeira do cristianismo não passa de uma distorção desse mesmo cristianismo. Isso porque o cristianismo nasceu do ensino de Cristo e de seus discípulos e apóstolos, e seus escritos são a única fonte autorizada da doutrina cristã. E tudo aquilo que não está de acordo com ela não pertence a ela, definitivamente!

A Guerra dos Trinta Anos, que varreu a Europa de 1618 a 1648, e o atual conflito entre as Irlandas do Norte e do Sul, são embates de natureza política, cujos grupos antagônicos se identificaram com determinado ramo do cristianismo. Os conflitos por lá existem sim, mas não por causa do evangelho, e muito menos por conseqüência dele.

As guerras e as revoluções são efetivadas como resultado de uma busca pelo poder e riqueza. Os povos, ou mesmo os governantes envolvidos nesses conflitos, apresentam uma cultura particular, muitas vezes uma cultura cristã, seja ela católica, protestante ou outra. Cultura cristã, todavia, não é sinônimo de cristianismo, e muito menos de doutrina cristã. Agressões podem ter sido feitas em nome do cristianismo, mas nunca com sua aprovação. Não negamos que atos reprováveis desta natureza tenham acontecido no passado ou aconteçam no presente tempo. O que queremos esclarecer é que estes atos não têm o mínimo apoio das Escrituras.

O cristianismo bíblico é sofredor e não agressor

“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem...” (Mt 5.38-45).

Matar, ferir, agredir, prender, coagir em nome da fé cristã é uma negação desta mesma fé cristã. Nenhum cristão, em obediência à Palavra de Deus, está autorizado ou motivado a cometer ações extremas em nome de Cristo. Se um soldado cristão já o fez, fê-lo em nome de seu país, justa ou injustamente, mas não por ser um cristão.

Na verdade, nem mesmo as agressões aos cristãos nos países de maioria não-cristã justificam uma reação agressiva por parte da Igreja, quer seja provocada pela manifestação popular, que seja pela ação estatal. O espírito pacifista do cristianismo foi um ingrediente poderoso para a promoção da conversão do Império Romano. A paciência e resignação dos mártires diante de seus algozes convenceram a população do Império quanto à superioridade da mensagem cristã. Os cristãos primitivos estavam prontos a morrer por sua fé, mas nunca a matar por causa dela.

O cristianismo bíblico é persuasivo e não impositor

“Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1Co 9.19-22).

Esta é a forma bíblica de expansão do evangelho. Nada de agressões verbais ou físicas. Nada de imposições ou obrigações estabelecidas, seja pelo Estado, seja por alguma instituição sujeita ao governo. Pregar e ensinar foram o método estabelecido por Jesus para divulgar sua mensagem ao mundo e foi justamente dessa forma que seus discípulos procederam. Se pessoas mudariam sua fé, elas o fariam por meio da persuasão dos pregadores e não pela coação.

O cristianismo nasceu ancorado somente no poder da Palavra divina. Não dispunha de poder político, econômico ou militar. E, em seus escritos, jamais considerou esses elementos necessários para cumprir sua missão. Só veio apropriar-se desses meios mais de três séculos após sua existência, mas, mesmo assim, somente uma pequena parcela de seus seguidores lançou mão deles. O cristianismo continuou se expandido. E, se no período colonial cresceu ancorado em ações estatais, a fé cristã, no entanto, não deixou de se espalhar, mesmo depois de haver perdido esse apoio. Na verdade, passou a manifestar seu verdadeiro caráter: persuadir os homens à fé por meio da pregação inspirada pelo Espírito Santo de Deus.

O cristianismo bíblico é espiritual e não bélico

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais...” (2Co 10.4), diria o apóstolo. O combate pelo evangelho, tantas vezes mencionado (Ef 6.12; Fl 1.27,30; Cl 1.29), era apenas uma analogia, uma comparação. Em nenhum momento, a espada foi colocada como meio de propagação da Palavra de Deus. “Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão”, disse Jesus (Mt 26.52).

As atuais dimensões da fé evangélica no mundo, principalmente no hemisfério Sul, são fruto do movimento missionário do século 19. Em poucas vezes, houve a imposição das forças imperialistas. Em sua maior parte, dependeu da dedicação de homens consagrados à tarefa de ganhar almas e dos avivamentos decorrentes de seu trabalho.

Em sua busca de evangelizar o mundo, o “fator indivíduo”, não o “fator país”, predomina no que diz respeito à visão de expansão da fé bíblica. A idéia de ganhar os governantes para converter a nação não é corrente. Cada indivíduo de cada nação precisa ser levado a uma decisão por Cristo. Esse é o fundamento das Escrituras, que mostram a mensagem de salvação não como algo destinado a ser cultura de um povo específico, mas como experiência particular de cada pessoa.

Extremismo filosófico

Ninguém se apóie em extremismos cristãos ocorridos na história e em atuais conflitos bélicos justificados pela religião para condenar o cristianismo. Os grupos ateístas e secularistas modernos gostam de atribuir à religião a culpa exclusiva pelos embates bélicos mundiais. Deduzem que se não houvesse ideologias religiosas, haveria paz.

Todavia, isto não é verdade. Qualquer extremismo é nocivo, seja ele religioso ou não. A intolerância, e não a convicção de qualquer espécie, atua como um motor por trás da agressão e do terrorismo. Qualquer ideologia, por mais passiva e neutra que seja, pode se tornar fonte de conflitos quando levada a extremos. A história é testemunha disso.

Entre os exemplos mais próximos, temos o nazismo e o comunismo. Estes não têm base religiosa, ao menos declaradamente. Entretanto, apoiados em pressupostos raciais ou filosóficos, produziram uma infinidade de mortos e um sem número de guerras em todo o mundo. Segundo O livro negro do comunismo, lançado pela editora Bertrand Brasil, o comunismo produziu entre 85 e 100 milhões de mortos, geralmente por se oporem à revolução, ou como tática política para efetivação da mesma.1

Logo, conflitos não são exclusividade da religião.

Nota de referência:

O livro negro do comunismo, Courtois, Werth, Panné, Paczkowski, Burtosek e Margolin, Bertrand Brasil.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

8.3 A Igreja Católica: Construtora da Civilização - A Caridade Católica

Palavras do Papa Bento XVI Sobre a Renovação Carismática Católica

A volta do Espírito – Cardeal Ratzinger

Do livro: A FÉ EM CRISE? O Cardeal Ratzinger se interroga – Ed. E.P.U. – 1985, São Paulo,

V. Messori: Hoje, observo eu, processa-se uma redescoberta do Espírito Santo, talvez esquecido demais pela teologia ocidental. È uma redescoberta não apenas teórica, mas que envolve crescente massas populares nos movimentos chamados “Renovação carismática”ou “Renovação do Espírito”.

Cardeal Ratzinger: “De fato. O período pós conciliar pareceu corresponder bem pouco às esperanças de João XXIII, que esperava um “novo Pentecostes”. Sua oração, entretanto, não ficou sem resposta no coração de um mundo feito árido pelo ceticismo racionalista, nasceu uma nova experiência do Espírito Santo que assumiu a amplidão de uma moção de renovação em escala mundial. Tudo o que o Novo Testamento escreve a propósito dos carismas que apareceram como sinais visíveis da vinda do Espírito Santo não é mais história antiga apenas, encerrada para sempre: essa história torna-se hoje vibrante de atualidade.

Não é por acaso, em confirmação de sua visão do Espírito como antítese do demoníaco, que, “enquanto uma teologia reducionista trata o Demônio e o mundo dos espíritos maus como uma mera etiqueta, no contexto da Renovação surgiu uma nova e concreta tomada de consciência das Potências do mal, unida, bem entendido, à serena certeza da Potência de Cristo, que a todas submete.

É preciso antes de tudo salvaguardar o equilíbrio, evitar uma ênfase exclusiva sobre o Espírito, que, como lembra o próprio Jesus, “não fala por si mesmo”, mas vive e age no interior da vida trinitária. Semelhante ênfase poderia levar a opor, a uma Igreja organizada sobre a hierarquia (fundamentada, por sua vez, em Cristo),uma outra Igreja “carismática”, baseada apenas na “liberdade do Espírito”, uma Igreja que se considere a si mesma como “acontecimento” sempre renovado.

Salvaguardar o equilíbrio significa também o justo relacionamento entre instituição e carisma, entre fé comum na Igreja e experiência pessoal. Uma fé dogmática sem experiência pessoal permanece vazia; uma mera experiência sem ligação com a fé da Igreja é cega. Enfim, não é o “nós” do grupo que conta, e sim o grande “nós ” da Igreja universal. Só esta pode oferecer o contexto adequado para “não extinguir o Espírito e manter o que é bom”, segundo a exortação do Apóstolo.

Além disso, para atingir os últimos recônditos dos riscos, é preciso precaver-se de um ecumenismo fácil demais, pelo qual grupos carismáticos católicos podem perder de vista a sua unidade e ligar-se de modo acrítico a formas de pentecostalismo de origem não católica, em nome exatamente do “Espírito”, visto como oposto `a instituição. Os grupos católicos da Renovação no Espírito devem, pois, mais do que nunca “sentire cum Ecclesia”, agir sempre em comunhão com o bispo, também para evitar os danos que surgem toda vez que a Escritura é desenraizada do seu contexto comunitário: o fundamentalismo, o esoterismo e o sectarismo.

Certamente [a Renovação no Espírito] trata-se de uma esperança, de um positivo sinal dos tempos, de um dom de Deus para a nossa época. È a redescoberta da alegria e da riqueza da oração contra a teoria e práxis sempre mais enrijecidas e ressecadas no tradicionalismo secularizado. Eu mesmo constatei pessoalmente a sua eficácia: em Munique, algumas boas vocações ao sacerdócio vieram-me do movimento. Como em todas as realidades entregues ao homem, dizia eu, também esta é exposta a equívocos, a mal-entendidos e a exageros. O perigo, porém, seria ver apenas os riscos, e não o dom que nos é oferecido pelo Espírito. A necessária cautela não muda, portanto, o juízo positivo do conjunto.”

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Reflexão sobre a Missa em latim.

Carta a todos os Presbíteros que exercem o seu ministério no Patriarcado de Lisboa Caros Padres,

1. Dirijo-me a vós num momento da vida da Igreja, em que se exige particular discernimento pastoral: a publicação por Sua Santidade o Papa Bento XVI da Carta Apostólica, dada sob a forma de “Motu Proprio”, “SummorumPontificum Cura”. O “Motu Proprio” regula o uso, na Liturgia, do “Missale Romanum”, na sua última edição de 1962, promulgada pelo Papa João XXIII,como forma extraordinária de celebração da Liturgia católica segundo o RitoRomano.>> Ao apresentar este “Motu Proprio”, o Santo Padre escreveu uma Carta aos Bispos de todo o mundo, cujo texto é indispensável para a interpretação eaplicação pastoral do referido “Motu Proprio”. Ambos os textos serão publicados no “Vida Católica”.

O Santo Padre reconhece que a notícia da publicação destas Normas provocou duas reações: uma entusiasta aceitação e uma férrea oposição. Espero que,entre nós, nenhuma destas atitudes extremas prevaleça. Considero que as pessoas que desejam celebrar a Liturgia do Missal de 1962 são, entre nós,uma minoria, embora permeáveis ao que se passa noutras Igrejas. É mais plausível a reação daqueles que sentem desgosto, pensando que se pôs em questão o Concílio Vaticano II e o seu “ex libris” que é a Reforma Litúrgica. De fato, muitos de nós vivemos com grande entusiasmo a Reforma Litúrgica e o espírito de “aggiornamento” proposto pelo Concílio, e isso modelou a nossa forma de ser cristão e imprimiu o rosto às comunidades cristãs, que aprenderam a viver a Liturgia, não apenas como manifestação da fé pessoal, mas como expressão viva de um Povo que se reconhece como comunidade quando celebra a Sagrada Liturgia.

Em espírito de comunhão com o Santo Padre, escutando-o e obedecendo-lhe, queremos pôr pastoralmente em prática, com o discernimento que a sua aplicação a uma situação concreta exige, a sua orientação para toda a Igreja, percebendo as motivações que o moveram e os objetivos que pretende alcançar. Apesar de o “Motu Proprio” dar uma grande autonomia de decisão aos Párocos e, em certos casos, a todos os Sacerdotes, o Bispo não deixa de ser, como o Santo Padre reconhece, citando a “Sacrossanctum Concilium”, nº 22, o moderador da Liturgia na própria Diocese: “O governo da Liturgia depende unicamente da autoridade da Igreja: pertence à Sé Apostólica e, nas regras do direito, ao Bispo” (S.C., nº22). Na construção da unidade da Igreja diocesana, a aplicação deste “Motu Proprio”, no respeito pela autoridade do Santo Padre, expressamente manifestada, será definida pelo Bispo diocesano,com a colaboração do Departamento de Liturgia da Diocese. Os motivos e objectivos do Santo Padre.

2. Antes de mais, o bem dos fiéis, daqueles que desejam a celebração segundo o Missal de 1962, porque procuram aí a dimensão sagrada do mistério da Eucaristia, que também podem encontrar na celebração segundo o Missal de Paulo VI, que devem em qualquer hipótese aceitar, porque continua a ser, para toda a Igreja, a forma normal de celebrar a Liturgia. O Santo Padre afirma mesmo que, vencidos os exageros de uma criatividade litúrgica mal concebida, é ocasião de imprimir nesta forma normal de celebrar a Missa toda a sua dimensão sagrada. Diz Bento XVI na Carta aos Bispos: “Na celebração da Missa segundo o Missal de Paulo VI, poder-se-á manifestar, de maneira mais intensa do que frequentemente tem acontecido até agora, aquela sacralidade que atrai muitos para o uso antigo.”

Celebrando “com grande reverência, em conformidade com as rubricas; isto torna visível a riqueza espiritual e a profundidade teológica deste Missal”.- O “bem dos fiéis” é, pois, o único motivo que pode levar os Párocos a usar o Missal de 1962, pelo que um Pároco não pode impor à Paróquia o Missal de 1962 apenas motivado pela sua perspectiva pessoal. - O “bem dos fiéis” supõe discernimento: quantos são os fiéis, quais os motivos que os levam a pedir essa Liturgia; que formação cristã e litúrgica possuem. De fato o Santo Padre afirma: “O uso do Missal antigo pressupõe um certo grau de formação litúrgica e o conhecimento da língua latina; e quer uma quer outro não é muito freqüente encontrá-los”. Que ninguém se precipite nem facilite, na certeza de que encontraremos de modo justo, uma resposta para os fiéis que o pedirem, obedecendo aos critérios enunciados pelo Santo Padre, que não contemplam motivos como o simples gosto pelo antigo, o ser diferente, ou a forma de reagir a imperfeições na forma atual de celebrar a Liturgia.

3. Um outro objetivo do Santo Padre é salvaguardar a unidade da Igreja.”Trata-se de chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja”[1]. Na história da Igreja, mais do que uma vez, as grandes reformas originaram divisões com grupos de cristãos que não as aceitaram. Foi o caso dos “velhos católicos”, a seguir ao Concílio Vaticano I, e o do cisma de Mons. Lefebvre, a seguir ao Concílio Vaticano II. Bento XVI confessa que a primeira abertura ao uso do Missal de 1962, feita por João Paulo II no “Motu Proprio” Ecclesia Dei, foi motivada pela crise lefebriana e dirigia-se à Fraternidade S. PioX. O seu “Motu Proprio” dirige-se não apenas aos seguidores de Mons.Lefebvre, mas a outros cristãos, mesmo jovens que, pensa o Santo Padre, se sentem atraídos por essa Liturgia.

O horizonte de análise do Santo Padre é a Igreja toda. Mas esta preocupação por salvaguardar a unidade da Igreja tem, nos dois documentos do Papa, outras concretizações a que devemos dar grande relevo pastoral: antes de mais, o Missal de Paulo VI é a forma normal, para toda a Igreja, de celebrar a Liturgia. Diz o Santo Padre que, “obviamente, para viver em plena comunhão, também os sacerdotes das Comunidades aderentes ao uso antigo não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros.

De fato, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do novo rito a exclusão total do mesmo”; por outro lado, quando o Pároco acha que deve acolher o desejo de um grupo de fiéis da sua Paróquia de celebrar pelo Missal de 1962, “tenha em conta que o bem destes fiéis seja harmonicamente coordenado com o bem pastoral de toda a Paróquia, sob orientação do Bispo nos termos do c. 392, evitando divisões e promovendo a unidade de toda a Igreja” (art.º 5 §1 do Motu Proprio). Isto quer dizer que tem de se avaliar o significado dessa abertura na harmonia de toda a comunidade. Papel dos Sacerdotes na aplicação destas Normas.

4. Porque é o sacerdote quem preside à Eucaristia e aos Sacramentos, o bom discernimento pastoral dos sacerdotes é muito importante para uma aplicação positiva e equilibrada destas Normas. Como já ficou dito, o sacerdote não deve pôr o acento no seu possível gosto pessoal pela Liturgia anterior à Reforma Litúrgica, mas no bem dosfiéis e de toda a comunidade a que preside. O seu gosto pessoal só poderá ter lugar na missa privada, “sine populo” (art.º 2º). Estas celebrações não podem ser aquelas que são anunciadas ao Povo de Deus, como programa normal da Paróquia. Essas “missas privadas” não devem ser anunciadas.

A possibilidade de outros fiéis assistirem a elas, como está previsto no art.º4º do “Motu Proprio”, não pode entender-se como divulgação pública das mesmas. Quanto às celebrações públicas para os fiéis que as pedirem, dada a não premência do fenômeno entre nós, que ninguém se precipite a conceder essas celebrações, sem um discernimento prévio, de preferência feito em presbitério e em diálogo com o Bispo. Estejam os Párocos particularmente atentos para se certificarem que os sacerdotes que se apresentam para celebrar segundo o rito antigo, mesmo na missa “sine populo”, são idôneos e não impedidos pelo Direito (cf. Art.º 5º§4).

5. Os Párocos devem cuidar, particularmente, da qualidade e profundidade litúrgica dessas celebrações. O rito antigo, já muito distante da prática da Igreja, se não é celebrado com dignidade litúrgica, pode transformar-se em elemento desagregador do crescimento das comunidades. Neste aspecto tenham-se em conta, sobretudo os seguintes pontos:

5.1. O uso da língua latina. É claro na Carta do Santo Padre aos Bispos que o seu uso supõe o conhecimento da língua latina. Infelizmente muitos sacerdotes da nossa Diocese já não sabem o latim. Esses sacerdotes devem considerar-se não idôneos para presidir à Missa segundo o Missal de 1962. Se as circunstâncias pastorais o aconselharem, devem procurar-se sacerdotes que o possam fazer dignamente.

5.2. A música. Os textos do Missal de 1962 estão musicados
em gregoriano. A possibilidade de os cantar, com o mínimo de qualidade, deve ser condição para permitir missas comunitárias nesse rito.

5.3. O vernáculo. As leituras em português supõem traduções aprovadas pela Santa Sé (cf. Art.º 6º).

5.4. Os espaços sagrados. Os nossos templos estão orientados para a celebração da Missa segundo o Missal de Paulo VI. Fica proibida qualquer tentativa de alterações dos espaços, sobretudo do altar e do presbitério,por causa da possibilidade de celebrar o ritual de 1962, que aliás já previa a celebração “versus populum”. Princípios basilares a ter em conta.

6. Os textos litúrgicos emanados da Reforma Litúrgica constituem a Liturgia normal da Igreja para todos. O uso de textos de antes da Reforma Litúrgica, é excepcional, motivado pelo “bem dos fiéis”, a discernir e analisar ponderadamente.

7. As celebrações, segundo esse rito, devem ser durante a semana. Nos Domingos e dias festivos, celebra-se a Liturgia normal. O Santo Padre abre a hipótese, no caso dum grupo significativo de fiéis o aconselhar, de uma das celebrações paroquiais nos Domingos e dias festivos seguir o Missal de 1962. Na nossa Diocese, peço aos Párocos que, por enquanto, não permitam essas celebrações dominicais, antes de uma análise profunda da situação. Se chegarmos à conclusão que o “bem dos fiéis” o exige, encontraremos, em conjunto, formas de lhes garantir, ao Domingo e dias festivos, celebrações de grande qualidade segundo a Liturgia antiga.

8. Estejamos vigilantes para que esta abertura concedida pelo Santo Padre,tendo em conta o bem de toda a Igreja, não se transforme numa campanha em favor da Liturgia antiga. Isso seria contra a Reforma Litúrgica e todo o espírito do Concílio Vaticano II, e ignoraria o caráter extraordinário,claramente afirmado pelo Santo Padre, do uso do Missal de 1962.

9. Procuremos todos celebrar a Liturgia com qualidade, unção e sentido do Sagrado. Estas qualidades que aparecem a justificar os que procuram a Liturgia antiga, são aliás valores da Reforma Litúrgica, pois toda ela é expressão, em assembléia orante, da fé da Igreja.

Conclusão 10. Assino esta carta com data de 14 de Setembro, no dia em que entra emvigor a Carta Apostólica do Santo Padre “Summorum Pontificum Cura”. Ela é a expressão da nossa comunhão obediente com o Santo Padre, mas também oassumir das nossas responsabilidades pastorais, como Pastor desta Igreja de Lisboa.

Lisboa, 14 de Setembro de 2007, Festa da Exaltação da Santa Cruz - D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca

[http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=50703&seccaoid=9&tipoid=1

Sobre a autorização ampla da Missa em latim

O Papa Bento XVI publicou o “Motu Proprio”, com o nome de “Summorum Pontificum” (Dos maiores Pontífices) onde aprova a utilização universal do Missal do Papa Beato João XXIII em 1962, com o Rito de São Pio V (séc. XVI). A Igreja Católica usou este rito até à reforma litúrgica de 1970, do Papa Paulo VI - “Novus Ordo” (Novo Ordinário) - aprovada como resultado da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.

Com o novo documento, o Papa Bento XVI estende a toda a Igreja de Rito Latino a possibilidade de celebrar a Missa e os Sacramentos segundo livros litúrgicos promulgados antes do Concílio, isto é, em latim. A publicação do “Motu Próprio” é acompanhado por uma “carta explicativa do Santo Padre”. Esta aprovação universal significa que a Missa do antigo Rito poderá ser celebrada livremente em todo mundo, pelos sacerdotes que assim o desejarem, sem necessidade de autorização de um Bispo.

No entanto, os livros litúrgicos redigidos e promulgados após o Concílio continuarão, contudo, a constituir a forma ordinária e habitual do Rito Romano. Na Carta escrita aos bispos, o Papa Bento XVI disse que com esta medida não há qualquer contestação ao Sagrado Concilio Vaticano II. Ele disse: “Em primeiro lugar, há o temor de que seja aqui afetada a autoridade do Concílio Vaticano II e que uma das suas decisões essenciais – a reforma litúrgica – seja posta
em dúvida. Tal receio não tem fundamento. A este respeito, é preciso antes de mais afirmar que o Missal publicado por Paulo VI, e reeditado em duas sucessivas edições por João Paulo II, obviamente é e permanece a Forma normal – a Forma ordinária – da Liturgia Eucarística. A última versão do “Missale Romanum”, anterior ao Concílio, que foi publicada sob a autoridade do Papa João XXIII em 1962 e utilizada durante o Concílio, poderá, por sua vez, ser usada como Forma extraordinária da Celebração Litúrgica. Não é apropriado falar destas duas versões do Missal Romano como se fossem «dois ritos». Trata-se, antes, de um duplo uso do único e mesmo Rito.”

Portanto, o povo católico deve entender que a Santa Missa celebrada no vernáculo, em português no Brasil, continua sendo a forma ordinária; em latim será extraordinária. Em outras palavras, nada vai mudar na liturgia da Santa Missa. Não é a língua que define a sua validade e importância, mas a celebração válida do Santo Sacrifício de Cristo pela Redenção da humanidade. O objetivo do Papa com esta medida é de, caridosamente, atender aqueles que gostam da celebração da Santa Missa em latim, no rito anterior. Nenhuma divisão isto trará à Igreja; ao contrário, mais unidade e sadia diversidade, já que o latim continua sendo a língua oficial da Igreja. Isto, inclusive estimulará os sacerdotes, seminaristas e leigos a estudarem o latim.

Que ninguém portanto, em prejuízo da Igreja, faça mau uso do documento do Papa, tentando com isso lançar suspeitas de que o Santo Padre queira revogar normas e decisões do Concílio Vaticano II, que foi, como disse o Papa João Paulo II, “a Primavera da Igreja”. Ele disse que: “Graças ao sopro do Espírito Santo, o Concílio Vaticano II lançou as bases de uma nova primavera da Igreja. Ele não marcou a ruptura com o passado, mas soube valorizar o patrimônio da inteira tradição eclesial, para orientar os fiéis na resposta aos desafios da nossa época”. (L’Osservatore Romano, 15/10/95)

sábado, 16 de outubro de 2010

Santos Padres da Igreja.

Chamamos de «Padres da Igreja» (Patrística) aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII, que foram no Oriente e no Ocidente como que «Pais» da Igreja, no sentido de que foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas heresias e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a sua fonte mais rica. Certa vez disse o Cardeal Henri de Lubac:

«Todas as vezes que, no Ocidente tem florescido alguma renovação, tanto na ordem do pensamento como na ordem da vida – ambas estão sempre ligadas uma à outra – tal renovação tem surgido sob o signo dos Padres.»

Gostaria de apresentar aqui ao menos uma relação, ainda que incompleta, desses gigantes da fé e da Igreja, que souberam fixar para sempre o que Jesus nos deixou através dos Apóstolos.

Em seguida, vamos estudar um pouco daquilo que eles disseram e escreveram, a fim de que possamos melhor conhecer a Tradição. [...]

  1. S. Clemente de Roma (†102), Papa de Roma (88 - 97)
  2. Santo Inácio de Antioquia (†110)
  3. Aristides de Atenas (†130)
  4. São Policarpo de Esmira (†156)
  5. Pastor de Hermas (†160)
  6. Aristides de Atenas (†160)
  7. São Hipólito de Roma (160 - 235)
  8. São Justino (†165)
  9. Militão de Sardes (†177)
  10. Atenágoras (†180)
  11. São Teófilo de Antioquia (†181)
  12. Orígenes de Alexandria (184 - 254)
  13. Santo Ireneu (†202)
  14. Tertuliano de Cartago (†220)
  15. São Clemente de Alexandria (†215)
  16. Metódio de Olimpo (sec.III)
  17. São Cipriano de Cartago (210-258)
  18. Novaciano (†257)
  19. São Atanásio de Alexandria(295 -373)
  20. São Efrém - (306 - 373), diácono, Mesopotânia
  21. São Hilário de Poitiers - bispo (310 - 367)
  22. São Cirilo de Jerusalém, bispo (315 - 386)
  23. São Basílio Magno, bispo (330 - 369) - Cesaréia
  24. São Gregório Nazianzeno - (330 - 379), bispo
  25. São Ambrósio - (340 - 397), bispo, Treves - Itália
  26. Eusébio de Cesaréia (340)
  27. São Gregório de Nissa (340)
  28. Prudêncio (384 - 405)
  29. São Jerônimo ( 348 - 420), presbítero Strido, Itália
  30. São João Cassiano (360 - 407)
  31. São João Crisóstomo - (349 - 407), bispo
  32. São Agostinho - (354 - 430), bispo
  33. Santo Efrém (†373)
  34. Santo Epifânio (†403)
  35. São Cirilo de Alexandria - (370 - 442), bispo
  36. São Pedro Crisólogo - (380 - 451), bispo, Itália
  37. São Leão Magno (400 - 461), papa de Roma - Toscana, Itália
  38. São Paulino de Nola (†431) - Sedúlio (sec V)
  39. São Vicente de Lerins (†450)
  40. São Pedro Crisólogo (†450)
  41. São Bento de Núrcia (480 - 547)
  42. São Venâncio Fortunato (530-600)
  43. São Ildefonso de Toledo (617 - 667)
  44. São Máximo Confessor (580-662)
  45. São Gregório Magno (540 - 604), Papa de Roma
  46. São Ildefonso de Sevilha (†636)
  47. São Germano de Constantinopla - (610-733)
  48. São João Damasceno (675 - 749), bispo, Damasco

Neste capítulo vamos apresentar um pouco daquilo que esses grandes Padres da Igreja escreveram; isto nos ajudará a compreender melhor o que é a Sagrada Tradição da Igreja. Veremos de onde vem a fonte de tudo aquilo que cremos e vivemos na Igreja [...]

São Clemente de Roma (†102), Papa (88-97), foi o terceiro sucessor de São Pedro, nos tempos dos imperadores romanos Domiciano e Trajano (92 a 102). No depoimento de Santo Ireneu “ele viu os Apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido diretamente a sua pregação e ensinamento”. (Contra as heresias)

Santo Inácio de Antioquia (†110) foi o terceiro bispo da importante comunidade de Antioquia, fundada por São Pedro. Conheceu pessoalmente São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas às igreja de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Na carta aos esmirnenses, aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”.

Aristides de Atenas († 130) foi um dos primeiros apologistas cristãos; escreveu a sua Apologia ao imperador romano Adriano, falando da vida dos cristãos.

São Policarpo (†156) foi bispo de Esmirna, e uma pessoa muito amada. Conforme escreve Santo Irineu, que foi seu discípulo, Policarpo foi discípulo de São João Evangelista. No ano 155 estava em Roma com o Papa Niceto tratando de vários assuntos da Igreja, inclusive a data da Páscoa. Combateu os hereges gnósticos. Foi condenado à fogueira; o relato do seu martírio, feito por testemunhas oculares, é documento mais antigo deste gênero (publicado neste livro).

Hermas (†160) era irmão do Papa São Pio I, sob cujo pontificado escreveu a sua obra Pastor. suas visões de estilo apocalíptico.

Didaquè (ou Doutrina dos Doze Apóstolos) é como um antigo catecismo, redigido entre os anos 90 e 100, na Síria, na Palestina ou em Antioquia. Traz no título o nome dos doze Apóstolos. Os Padres da Igreja mencionaram-na muitas vezes. Em 1883 foi encontrado um seu manuscrito grego.

São Justino (†165), mártir nasceu em Naplusa, antiga Siquém, em Israel; achou nos Evangelhos “a única filo proveitosa”, filósofo, fundou uma escola em Roma. Dedicou a sua Apologias ao Imperador romano Antonino Pio, no ano 150, defendendo os cristãos; foi martirizado em Roma.

Santo Hipólito de Roma (160-235) discípulo de santo Irineu (140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde Orígenes o ouviu pregar. Morreu mártir. Escreveu contra os hereges, compôs textos litúrgicos, escreveu a Tradição Apostólica onde retrata os costumes da Igreja no século III: ordenações, catecumenato, batismo e confirmação, jejuns, ágapes, eucaristia, ofícios e horas de oração, sepultamento, etc.

Melitão de Sardes (†177) foi bispo de Sardes, na Lídia, um dos grandes luminares da Ásia Menor. Escreveu a Apologia, dirigida ao imperador Marco Aurélio.

Atenágoras (†180) era filósofo em Atenas, Grécia, autor da Súplica pelos Cristãos, apologia oferecida em tom respeitoso ao imperador Marco Aurélio e seu filho Cômodo; escreveu também o tratado sobre A Ressurreição dos mortos, foi grande apologista.

São Teófilo de Antioquia (†após 181) nasceu na Mesopotâmia, converteu-se ao cristianismo já adulto, tornou-se bispo de Antioquia. Apologista, compôs três livros, a Autólico.

Santo Ireneu (†202) nasceu na Ásia Menor, foi discípulo de são Policarpo (discípulo de são João), foi bispo de Lião, na Gália (hoje França). Combateu eficazmente o gnosticismo em sua obra Adversus Haereses (Refutação da Falsa Gnose) e a Demonstração da Preparação Apostólica. Segundo são Gregório de Tours (†594), são Irineu morreu mártir. É considerado o “príncipe dos teólogos cristãos”. Salienta nos seus escritos a importância da Tradição oral da Igreja, o primado da Igreja de Roma (fundada por Pedro e Paulo).

Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, foi bispo de Poitiers, combateu o arianismo, foi exilado pelo imperador Constâncio, escreveu a obra Sobre a Santíssima Trindade.

São Clemente de Alexandria (†215) Seu nome é Tito Flávio Clemente, nasceu em Atenas por volta de 150. Viajou pela Itália, Síria, Palestina e fixou-se em Alexandria. Durante a perseguição de Setímio Severo (203), deixou o Egito, indo para a Ásia Menor, onde morreu em 215. Seu grande trabalho foi tentar a aliança do pensamento grego com a fé cristã. Dizia: “Como a lei formou os hebreus, a filo formou os gregos para Cristo”.

Orígenes (184-254) Nasceu em Alexandria, Egito; seu pai Leônidas morreu martirizado em 202. Também desejava o martírio; escreveu ao pai na prisão: “não vás mudar de idéia por causa de nós”. Em 203 foi colocado à frente da escola catequética de Alexandria pelo bispo Demétrio. Em 212 esteve em Roma, Grécia e Palestina. A mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia Mammae, chamou-o a Antioquia para ouvir suas lições. Morreu em Cesaréia durante a perseguição do imperador Décio.

Tertuliano de Cartago (†220), norte da África, culto, era advogado em Roma quando em 195 se converteu ao Cristianismo, passando a servir a Igreja de Cartago como catequista. Combateu as heresias do gnosticismo, mas se desentendeu com a Igreja Católica. É autor das frases: “Vede como se amam” e “ O sangue dos mártires era semente de novos cristãos”.

São Cipriano (†258) Cecílio Cipriano nasceu em Cartago, foi bispo e primaz da África Latina. Era casado. Foi perseguido no tempo do imperador Décio, em 250, morreu mártir em 258. Escreveu a bela obra Sobre a unidade da Igreja Católica. Na obra De Lapsis, sobre os que apostataram na perseguição, narra ao vivo o drama sofrido pelos cristãos, a força de uns, o fracasso de outros. Escreveu ainda a obra Sobre a Oração do Senhor, sobre o Pai Nosso.

Eusébio de Cesaréia (260-339) bispo, foi o primeiro historiador da Igreja. Nasceu na Palestina, em Cesaréia, discípulo aí de Orígenes. Escreveu a sua Crônica e a História Eclesiástica, além de A Preparação e a Demonstração Evangélicas. Foi perseguido por Dioclesiano, imperador romano.

Santo Atanásio (295-373), doutor da Igreja, nasceu em Alexandria, jovem ainda foi viver o monaquismo nos desertos do Egito,onde conheceu o grande Santo Antão(†376), o “pai dos monges”. Tornou-se diácono da Igreja de Alexandria, e junto com o seu Bispo Alexandre, se destacou no Concílio de Nicéia (325) no combate ao arianismo. Tornou-se bispo de Alexandria em 357 e continuou a sua luta árdua contra o arianismo (Ário negava a divindade de Jesus), o que lhe valeu sete anos de exílio. São Gregório Nazianzeno disse dele: “O que foi a cabeleira para Sansão, foi Atanásio para a Igreja.”

Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, nasceu em Poitiers, na Gália (França); em 350 clero e povo o elegiam bispo, apesar de ser casado. Organizou a luta dos bispos gauleses contra o arianismo. Foi exilado pelo imperador Constâncio, na Ásia Menor, voltando para a Gália em 360, fazendo valer as decisões do Concílio de Nicéia. É chamado o “Atanásio do Ocidente”.Escreveu as obras Sobre a Fé, Sobre a Santíssima Trindade.

Santo Efrém, o Sírio (†373) doutor da Igreja é considerado o maior poeta sírio, chamado de “a cítara do Espírito Santo”. Nasceu em Nísibe, de pais cristãos, por volta de 306, deve ter participado do Concílio de Nicéia (325), segundo a tradição, com o seu bispo Tiago. Foi ordenado diácono em 338 e assim ficou até o fim da vida. Escreveu tratados contra os gnósticos, os arianos e contra o imperador Juliano, o apóstata. Escreveu belos hinos e louvores a Maria.

São Cirilo de Jerusalém (†386), doutor da Igreja, Bispo de Jerusalém, guardião da fé professada pela Igreja no Concílio de Nicéia (325). Autor das Catequeses Mistagógicas, esteve no segundo Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 381.

São Dâmaso (304-384), Papa da Igreja, instruído, de origem espanhola, sucedeu o Papa Libério que o ordenou diácono; obteve do Imperador Graciano o reconhecimento jurisdicional do bispo de Roma. Mandou que S. Jerônimo fizesse uma revisão da versão latina da Bíblia, a Vulgata. Descobriu e ornamentou os túmulos dos mártires nas catacumbas, para a visita dos peregrinos.

São Basílio Magno (329-379), Bispo e doutor da Igreja, nasceu na Capadócia; seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro, são santos. Foi íntimo amigo de S. Gregório Nazianzeno; fez-se monge. Em 370 tornou-se bispo de Cesaréia na Palestina, e metropolita da província da Capadócia. Combateu o arianismo e o apolinarismo (Apolinário negava que Jesus tinha uma alma humana). Destacou-se no estudo a Santíssima Trindade (Três Pessoas e uma Essência).

São Gregório Nazianzeno (329-390), doutor da Igreja – nasceu em Nazianzo, na Capadócia, era filho do bispo local, que o ordenou padre; foi um dos maiores oradores cristãos. Foi grande amigo de São Basílio, que o sagrou bispo. Lutou contra o arianismo. Sua doutrina sobre a Santíssima Trindade o fez ser chamado de “teólogo”, que o Concílio de Calcedônia confirmou em 481.

São Gregório de Nissa (†394) foi bispo de Nissa, e depois de Sebaste, irmão de São Basílio e amigo de São Gregório Nazianzeno. Os três santos brilharam na Capadócia. Foi poeta e místico; teve grande influência no primeiro Concílio de Constantinopla (381) que definiu o dogma da SS. Trindade. Combateu o apolinarismo, macedonismo (Macedônio negava a divindade do Espírito Santo) e arianismo.

São João Crisóstomo (354-407) ( = boca de ouro), doutor da Igreja, é o mais conhecido dos Padres da Igreja grega. Nasceu em Antioquia. Tornou-se patriarca de Constantinopla, foi grande pregador. Foi exilado na Armênia por causa da defesa da fé sã. Foi proclamado pelo papa S. Pio X, padroeiro dos pregadores.

São Cirilo de Alexandria (†444) Bispo e doutor da Igreja, sobrinho do patriarca de Alexandria, Teófilo, o substituiu na Sé episcopal em 412. Combateu vivamente o Nestorianismo (Nestório negava que em Jesus havia uma só Pessoa e duas naturezas), com o apoio do papa Celestino. Participou do Concílio de Éfeso (431), que condenou as teses de Nestório. É considerado um dos maiores Padres da língua grega, e chamado o “Doutor mariano”.

São João Cassiano (360-465) recebeu formação religiosa em Belém e viveu no Egito. Foi ordenado diácono por S. João Crisóstomo, em Constantinopla, e padre pelo papa Inocêncio, em Roma. Em 415 fundou dois mosteiros em Marselha, um para cada sexo. São Bento recomendou seus escritos.

São Paulino de Nola (†431) nasceu na Gália (França), exerceu importantes cargos civis até ser batizado. Vendeu seus bens, distribuindo o dinheiro aos pobres, e com sua esposa Terásia passou a viver vida eremítica. Foi ordenado padre em 394, em 409 bispo de Nola.

São Pedro Crisólogo (†450) (= palavra de ouro) bispo e doutor da Igreja – foi bispo de Ravena, Itália. Quando Êutiques, patriarca de Constantinopla pediu o seu apoio para a sua heresia (monofisismo - uma só natureza em Cristo), respondeu: “Não podemos discutir coisas da fé, sem o consentimento do Bispo de Roma”. Temos 170 de suas cartas e escritos sobre o Símbolo e o Pai – Nosso.

Santo Ambrósio (†397), doutor da Igreja, nasceu em Tréveris, de nobre família romana. Com 31 anos governava em Milão as províncias de Emília e Ligúria. Ainda catecúmeno, foi eleito bispo de Milão, pelo povo, tendo, então recebido o batismo, a ordem e o episcopado. Foi conselheiro de vários imperadores e batizou santo Agostinho, cujas pregações ouvia. Deixou obras admiráveis sobre a fé católica.

São Jerônimo (347-420), “Doutor Bíblico” – nasceu na Dalmácia e educou-se em Roma; é o mais erudito dos Padres da Igreja latina; sabia o grego, latim e hebraico. Viveu alguns anos na Palestina como eremita. Em 379 foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino de Antioquia; foi ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo de São Gregório de Nissa. De 382 a 385 foi secretário do Papa S. Dâmaso, por cuja ordem fez a revisão da versão latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, por 34 anos. Pregava o ideal de santidade entre as mulheres da nobreza romana (Marcela, Paula e Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de São Jerônimo destacam-se a austeridade, o temperamento forte, o amor a Igreja [...].

Santo Epifânio (†403), Nasceu na Palestina, muito culto, foi superior de uma comunidade monástica em Eleuterópolis (Judéia) e depois, bispo de Salamina, na ilha de Chipre. Batalhou muito contra as heresias, especialmente o origenismo.

Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja - Nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e S. Mônica. Grande teólogo, filósofo, moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi professor de Retórica na corte do Imperador. Alí se converteu ao cristianismo pelas orações e lágrimas, de sua mãe Mônica e pelas pregações de S. Ambrósio, bispo de Milão. Foi batizado por esse bispo em 387. Voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Foi um dos homens mais importantes para a Igreja. Combateu com grande capacidade as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”. São Leão Magno (400-461) - Papa e Doutor da Igreja - nasceu em Toscana, foi educado em Roma. Foi conselheiro sucessivamente dos papas Celestino I (422-432) e Xisto III (432-440) e foi muito respeitado como teólogo e diplomata. Participou de grandes problemas da Igreja do seu tempo e pôde travar contato pessoal e por cartas com Santo Agostinho, São Cirilo de Alexandria e São João Cassiano, que o descrevia como “ornamento da Igreja e do divino ministério”. Deixou 96 Sermões e 173 Cartas que chegaram até nós. Participou ativamente na elaboração dogmática sobre o grave problema tratado no Concílio de Calcedônia, a condenação da heresia chamada monofisismo. Leão foi o primeiro Papa que recebeu o título de Magno (grande). Em sua atuação no plano político, a História registrou e imortalizou duas intervenções de São Leão, respectivamente junto a Átila, rei dos Hunos, em 452, e junto a Genserico, em 455, bárbaros que queriam destruir Roma.

São Vicente de Lérins (†450) Depois de muitos anos de vida mundana se refugiou no mosteiro de Lérins. Escreveu o seu Commonitorium, “ para descobrir as fraudes e evitar as armadilhas dos hereges”.

São Bento de Núrcia (480-547) nasceu em Núrcia, na Úmbria, Itália; estudou Direito em Roma, quando se consagrou a Deus. Tornou-se superior de várias comunidades monásticas; tendo fundado no monte Cassino a célebre Abadia local. A sua Regra dos Mosteiros tornou-se a principal regra de vida dos mosteiros do ocidente, elogiada pelo papa S. Gregório Magno, usada até hoje. O lema dos seus mosteiros era “ora et labora”. O Papa Pio XII o chamou de Pai da Europa e Paulo VI proclamou-o Patrono da Europa, em 24/10/1964.

São Venâncio Fortunato (530-600) nasceu em Vêneto na Itália, foi para Poitiers (França). Autor de célebres hinos dedicados à Paixão de Cristo e à Virgem Maria, até hoje usados na Igreja.

São Gregório Magno (540-604), Papa e doutor da Igreja - Nasceu em Roma, de família nobre. Ainda muito jovem foi primeiro ministro do governo de Roma. Grande admirador de S. Bento, resolveu transformar suas muitas posses em mosteiros. O papa Pelágio o enviou como núncio apostólico em Constantinopla até o ano 585. Foi feito papa em 590. Foi um dos maiores papas que a Igreja já teve. Bossuet considerava-o “modelo perfeito de como se governa a Igreja”. Promoveu na liturgia o canto “gregoriano”. Profunda influência exerceram os seus escritos: Vida de São Bento e Regra Pastoral, usado ainda hoje.

São Máximo, o confessor (580 - 662) nasceu em Constantinopla, foi secretário do imperador Heráclio, depois foi para o mosteiro de Crisópolis. Lutou contra o monofisismo e monotelismo, sendo preso, exilado e martirizado por isso. Obteve a condenação do monotelismo no Concílio de Latrão, em 649.

Santo Ildefonso de Sevilha (†636) doutor da Igreja. Considerado o último Padre do ocidente. Bispo de Sevilha, Espanha desde 601. Em 636 dirigiu o IV Sínodo de Toledo. Exerceu notável influência na Idade Média com os seus escritos exegéticos, dogmáticos, ascéticos e litúrgicos.

São Germano de Constantinopla - (610-733) Bispo - Patriarca de Constantinopla (715-30), nasceu em Constantinopla ao final do reinado do imperador Heracleo (610-41); morreu em 733 ou 740. Filho de Justiniano, um patriciano, Germano dedicou seus serviços à Igreja e começou como clérigo na catedral de Metrópolis. Logo depois da morte de seu pai que havia ocupado vários altos cargos de oficial, pelas mãos do sobrinho de Herácleo, Germano se consagrou bispo de Chipre, o ano exato, porém, de sua elevação é desconhecido.

São João Damasceno (675-749) Bispo e Doutor da Igreja - É considerado o último dos representantes dos Padres gregos. É grande a sua obra literária: poesia, liturgia, filo e apologética. Filho de um alto funcionário do califa de Damasco, foi companheiro do príncipe Yazid que, mais tarde o promoveu ao mesmo encargo do pai, ministro das finanças. A um determinado tempo deixou a corte do califa e retirou-se para o mosteiro de São Sabas, perto de Jerusalém. Tornou-se o pregador titular da basílica do Santo Sepulcro. Enfrentou com muita coragem a heresia dos iconoclastas que condenavam o culto das imagens. Ficaram famosos os seus Três Discursos a Favor das Imagens Sagradas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Concílios e Sínodos

A partir da segunda metade do século II os bispos adotaram o costume de reunir-se para deliberar em conjunto e tomar decisões em questões doutrinárias e da disciplina da Igreja. No século III esse costume generalizou-se em Capadócia, na África. No entanto, tratava-se de reuniões locais, que hoje chamaríamos antes de sínodos. A primeira reunião ecumênica ou universal, cumprindo melhor as condições de um concílio no sentido de hoje, foi somente o concílio de Nicéia (325).

Os primeiros concílios ecumênicos não devem ser imaginados como o grande Concílio de Trento ou o Vaticano II. Naquele tempo era outro o procedimento de convocação dos sínodos (que eram convocados pelo imperador), outra era a composição pessoal, outra a representatividade das províncias eclesiásticas (o Ocidente era representado apenas por alguns delegados), outra a autoridade (não havia grande preocupação com a aprovação do papa).

A partir de R. Belarmino (+1621) - a Igreja católica romana reconhece 21 concílios universais:

1) Concílio de Nicéia (325), convocado pelo imperador Constantino com o objetivo de condenar Ário. Proclamou que o Verbo é co-essencial ao Pai. Formulou a profissão de fé conhecida por Símbolo de Nicéia.

2) Concílio de Constantinopla (381), convocado pelo imperador Teodósio I, condenou o macedonismo, que negava a divindade do Espírito Santo. O papa Dâmaso nem foi convidado.

3) Concílio de Éfeso (431), convocado por Teodósio II, dirigido por S. Cirilo de Alexandria por autorização do papa Celestino I, condenou a Nestório, que questionava a correção teológica do título Theotokos, confirmou a doutrina da união hipostática.

4) Concílio de Calcedônia (451), convocado pelo imperador Marciano e confirmado pelo papa Leão I Magno, condenou o monofisismo (Eutiques).

5) Concílio de Constantinopla II (553), convocado pelo imperador Justiniano. Contrariando a opinião do papa Vigílio, condenou os chamados três capítulos, ou seja, os escritos de Teodoro de Mopsvesta, Teodoreto e Íbaso, suspeitos de nestorianismo.

6) Concílio de Constantinopla III (680), condenou o monotelismo e formulou a doutrina das duas vontades em Cristo; confirmado pelo papa Agato e Leão II.

7) Concílio de Nicéia II (786), contra os iconoclastas, confirmou a ortodoxia teológica do culto das imagens.

8) Concílio de Constantinopla IV (869-870), discutiu a questão do governo da sé patriarcal de Constantinopla, depôs a Fócio e condenou-o. Participaram do concílio apenas 103 bispos; a maioria permaneceu fiel a Fócio. A grande maioria do clero bizantino nunca reconheceu essa reunião como um concílio universal, mas apenas como uma humilhação da Igreja bizantina. Apesar de as decisões do concílio terem sido assinadas pelos delegados do papa (foi presidido pelo representante do imperador, não pelos legados), nem no Ocidente essa reunião era considerada como um concílio universal. Apareceu na lista dos concílios universais pela primeira vez apenas no século XI (período da reação ao cisma de Cerulário).

9) Concílio de Latrão I (1123), primeiro concílio ecumênico do Ocidente, com uma representação muito fraca do Oriente. Questão das investiduras.

10) Concílio de Latrão II (1139); questão dos símbolos, da usura e do celibato.

11) Concílio de Latrão III (1179) condenou os cátaros.

12) Concílio de Latrão IV (1215), o maior concílio da Idade Média, condenou os albigenses e regulamentou as questões da disciplina eclesiástica: dos sacramentos, do matrimônio, da anunciação do Evangelho.

13) Concílio de Lyon I (1245), contra Frederico II; questões do poder temporal dos papas.

14) Concílio de Lyon II (1274), convocado pelo papa Gregório X, por iniciativa do imperador Miguel Paleólogo, empreeendeu uma tentativa de união da Igreja Ocidental com a Oriental, por motivos em boa parte políticos.

15) Concílio de Vienne (1311-1312), convocado pelo papa Clemente V, sob pressão de Filipe o Belo, para cassar a Ordem dos Templários.

16) Concílio de Constância (1414-1418), ocupou-se da questão da unificação do cristianismo, da reforma da Igreja, de Witklif, de Huss e do conflito entre os cavaleiros teutônicos e a Polônia.

17) Concílio de Florença (1439-1445), iniciou-se em Ferrara e terminou em Roma; abordou novamente a questão da união das Igrejas, publicou alguns documentos teológicos (Decreto aos Ormienses, Decreto aos Jacobitas). Com o Concílio de Florença esteve relacionada a União de Brest (1596).

18) Concílio de Latrão V (1512-1517), no tempo de Júlio II e Leão X, tinha por objetivo realizar uma reforma na Igreja. Não cumpriu a sua missão, o que demonstrou ser trágico alguns anos depois (pronunciamento de Lutero e divisão da Igreja Ocidental).

19) Concílio de Trento (1545-1563 - com interrupções), convocado por Paulo III, realizou a reforma da Igreja; proclamou uma série de decretos dogmáticos de grande significado eclesiástico (sobre a justificação, sobre os sacramentos). Desempenhou papel importante no concílio o cardeal polonês Estanislau Hozjusz.

20) Concílio Vaticano I (1869-1870), convocado por Pio IX, proclamou dois documentos dogmáticos: sobre a fé e o racionalismo e sobre a infalibilidade do papa.

21) Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado por João XXIII, encerrado por Paulo VI, abordou a questão da reforma interna da Igreja e da adaptação das suas atividades às necesidades atuais (aggiornamento).

A valorização conferida pelo Concílio Vaticano II às Igrejas locais, ou dioceses, estimulou os bispos ordinários a realizar sínodos diocesanos, cuja graduação cresce proporcionamente ao aumento do significado das Igrejas locais. O teólogo terá que dar maior atenção aos documentos sinodais, principalmente porque eles encerram um rico material teológico. Preparados não apenas pelos mais próximos colaboradores do bispo, mas igualmente por um círculo mais amplo do clero inferior, juntamente com os religiosos e as religiosas, bem como com a significativa participação do laicato, tornam-se um reflexo interessante da consciência da fé e da sensibilidade moral da Igreja local, que é autêntica Igreja, e não apenas uma parcela sua. Por isso incluiremos os textos elaborados e aceitos pelos sínodos entre os loci theologici de peso.

À pergunta sobre a graduação tológica das decisões dos concílios universais deve-se responder que as verdades do âmbito da fé e dos costumes, apresentadas pelo concílios universais de forma direta e explícita como verdades reveladas por Deus e que devem ser aceitas como tais se quisermos permanecer na comunidade da Igreja, possuem o caráter de dogmas da fé.

Naturalmente nem todos os textos conciliares possuem o caráter de dogmas. Pode ser reconhecido como dogmatizante apenas aquilo que o próprio concílio quis que fosse dogmatizante. Em princípio isso ocorre em relação aos temas teológicos para os quais o concílio se reuniu, que distingue a fórmula dogmática dessa maneira, a fim de excluir dúvidas quanto a isso.

Nos documentos conciliares, a par da exposição básica da fé e da moral (na medida em que ela de fato ocorra durante os debates), são abordadas muitas vezes questões acessórias, relacionadas mais de longe com a fé e a moral, por exemplo problemas políticos, organizacionais, disciplinares, etc. Em questões desse tipo as decisões conciliares não devem ser consideradas como dogmáticas.

Nos documentos conciliares do tipo estritamente teológico, isto é, que estabelecem a posição da Igreja em questões de fé e de costumes, não possuem caráter de dogma todos os tipos de introdução, conclusão, argumentação, maneiras de aplicar os textos bíblicos nessa argumentação, alusões históricas, etc. O carisma da infalibilidade não se estende às partes e trechos do texto conciliar. Devemos colocar a questão dessa forma cuidadosa se quisermos levar em conta seriamente as experiências da história.

A maioria dos concílios da Idade Média ocupava-se com questões práticas, como o combate à usura, a organização de cruzadas, a instituição do celibato do clero, e também a luta pelo poder... Por isso, em geral as decisões por eles deixadas não entram no âmbito do ensinamento maximamente autorizado e infalível, ainda que tenham abordado questões de certa forma relacionadas com os costumes.

Discute-se a graduação dos textos dos concílios da união: de Lyon II (1274) e de Ferrara-Florença-Roma, chamado sucintamente de Concílio de Florença (1439-1445). Ambos deixaram uma coleção relativamente rica de textos doutinários, nos quais definiram a sua posição em questões que distinguem a Igreja católica romana da orotodoxa, sobretudo as questões do purgatório, do Filioque, dos sacramentos e da primazia. Esses textos não devem ser considerados como dogmatizantes, visto que: 1) ambos os mencionados concílios não se reuniram para definir a doutrina da Igreja quanto a esse objeto, mas para realizar a união por importantes razões políticas; foi também com esse objetivo prático que formularam a doutrina; 2) alguns trechos desses textos repetem nitidamente as teses da teologia de então, que somente após o Concílio de Trento foram elevados à graduação de dogmas (algumas teses da sacramentologia).

Os documentos do Vaticanum II não devem ser considerados como dogmatizantes, visto que os padres do concílio fizeram a clara restrição de que não queriam proclamar novos dogmas. Diante disso não se deve argumentar: "através dos padres conciliares pronunciou-se a doutrina universal da Igreja, e por isso o que eles disseram deve ser aceito como dogma do ensinamento universal". Mesmo que de fato tenham constituído uma espécie de representação da consciência eclesiástica da fé, é preciso levar em conta sobretudo a vontade deles de não definir, e reconhecer isso como critério decisivo.

A história dos dogmas manda constatar que a graduação (significado, força obrigatória) de um documento conciliar é definida também pela sua aceitação na Igreja, chamada recepção. É preciso indagar se, e em que medida, um determinado documento foi praticamente aceito na Igreja como expressão de ensinamento solene, ou apenas comum. A recepção da Igreja insere no sistema circulatório da Igreja, e a sua falta elimina algumas doutrinas do ritmo da sua vida; Além disso, até as grandes reuniões dos bispos são nobilitadas à graduação de concílios; por exemplo o sínodo de Constantinopla (869-870) foi incluído no catálogo dos concílios universais apenas dois séculos mais tarde, e a doutrina do sínodo de Orange (529) sobre a graça é avaliada na Igreja como se fosse a doutrina de um concílio.

IMPERDÍVEL: Pe Paulo Ricardo responde acusações sobre a Igreja!

Reflexões sobre a Santa Cruz.

Em 312 Constantino estava prestes a vencer a última batalha para se tornar Imperador romano; faltava vencer Maxêncio. Ele estava se convertendo ao Cristianismo, porque sua mãe, Santa Helena, já tinha de convertido. Na véspera a batalha, Constantino teve um sonho; viu uma cruz no céu e uma voz lhe disse: “In hoc signo vincis” (Com este símbolo vencerás). Constantino mandou pintar a cruz nos escudos dos soldados e venceu a batalha; foi o primeiro imperador romano cristão. A espada romana se curvava diante da cruz de Cristo. Em 313 pelo Edito de Milão Constantino proibiu em todo o Império que os cristãos fossem perseguidos; a cruz redentora libertava os cristãos.


A Cruz é o maior sinal do amor de Deus, nela o Filho de Deus se imolou por amor a cada um de nós; ela nos livra do pecado, da morte e do inferno. É o sinal da vitória do Reino de Deus. Não devemos ter medo dela; Deus é fiel e não nos dá uma cruz mais pesada que as nossas forças; e junto com ele providencia sempre um bom Cirineu.


Muitos texto bíblicos louvam e exaltam a Cruz de Cristo:


Mt 10,38: “Aquele que não toma a sua cruz e me segue, não é digno de mim”. (Cf. Mc 8, 34; Lc 9,23; 14,27).


Mt 16,24: “Disse Jesus aos seus discípulos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.


Gl 2, 19: “Pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui crucificado com Cristo”.


Gl 5, 24: “Os que são de Cristo Jesus, crucificaram a carne com suas paixões e suas concupiscências”.


Gl 6, 14: “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.


O sinal da Cruz é o sinal dos cristãos ou o sinal do Deus vivo, de que fala provavelmente Ap 7, 2, fazendo eco a Ez 9,4:

1Cor 1,18: “A linguagem da Cruz… para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus”.


Gl 6, 14: “Não aconteça gloriar-me senão na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”.


1Cor 1, 17: “… anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a Cruz de Cristo”.

Desde o século IV é sinal de vitória: na arte, na Liturgia, na piedade particular, na literatura…


Tertuliano († 200) atesta:


“Quando nos pomos a caminhar, quando saímos e entramos, quando nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeições, quando nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessa ocasiões e em todas as nossas demais atividades, persignamo-nos a testa com o sinal da Cruz” (De corona militis 3).


Latâncio (início do séc. IV) apresenta: o Senhor quis recobrir com a sua morte extremamente dolorosa e ignominiosa, toda modalidade de morte que os homens possam experimentar; saibam todos que Deus feito homem já atravessou e santificou todas as angústias que afetam os homens (Instituições IV, 26), e abracem a sua cruz com ânimo confiante e esperançoso; quem padece com Cristo, ressuscitará com Cristo.


S. Hipólito de Roma (†235), descrevendo as práticas dos cristãos do século III:

“Marcai com respeito as vossas cabeças com o sinal da Cruz. Este sinal da Paixão opõe-se ao diabo e protege contra o diabo, se é feito com fé, não por ostentação, mas em virtude da convicção de que é um escudo protetor. É um sinal como outrora foi o Cordeiro verdadeiro; ao fazer o sinal da Cruz na fonte e sobre os olhos, rechaçamos aquele que nos espreita para nos condenar” (Tradição dos Apóstolos 42).


Luiz de Chardon ensina que “depois de termos admirado a violenta e insaciável inclinação do espírito de Jesus para a Cruz compreenderemos melhor como Ele a distribui pelas almas que lhe pertencem pelos vínculos da graça. Entendemos igualmente porque quanto maior é a elevação da alma em união com o espírito de Jesus Crucificado tanto maior será sua obrigação quanto ao sofrimento.”


Santo André de Creta, no século oitavo, escrevia: “Não há nada mais precioso do que a Cruz de Jesus que se tornou o troféu da misericórdia divina. Por ela o diabo foi ferido e vencido, os grilhões infernais foram quebrados”.


Santo Antônio, Doutor do Evangelho e “martelo dos hereges”, dizia: “Porque Adão no paraíso não quis servir ao Senhor (cf. Jr 2,20), por isso o Senhor assumiu a forma de servo (cf. Fl 2,7) para servir ao servo, a fim de que o servo já não se envergonhasse de servir ao Senhor.”

Na Oração de São Bento rezamos:

“A Cruz Sagrada seja a minha luz, não seja o dragão o meu guia. Retira-te, satanás! Nunca me aconselhes coisas vãs. É mal o que tu me ofereces. Bebe tu mesmo os teus venenos!”

Oração de São Francisco: “Senhor Jesus Cristo, nós vos louvamos e bendizemos porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo”.

“Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça. Por fim, por suas chagas fomos curados” (Is 53,5).


“É ele que nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz. Espoliou os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz.” (Col 2, 13-15)


“Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24b).


“Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8).


“Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja”. (Col 1, 24)


“Eis uma verdade absolutamente certa: Se morrermos com ele, com ele viveremos.” (2Tm 2, 11)


Gl 6, 14: “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.


“Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que tenhamos assinalado os servos de nosso Deus em suas frontes”. (Ap 7, 3).


“Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”. (Jo 19,25-27)


Fonte: Prof. Felipe Aquino

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Lógica do abortismo

Olavo de Carvalho - Filósofo.
Diário do Comércio, 14 de outubro de 2010

O aborto só é uma questão moral porque ninguém conseguiu jamais provar, com certeza absoluta, que um feto é mera extensão do corpo da mãe ou um ser humano de pleno direito. A existência mesma da discussão interminável mostra que os argumentos de parte a parte soam inconvincentes a quem os ouve, se não também a quem os emite. Existe aí portanto uma dúvida legítima, que nenhuma resposta tem podido aplacar. Transposta ao plano das decisões práticas, essa dúvida transforma-se na escolha entre proibir ou autorizar um ato que tem cinqüenta por cento de chances de ser uma inocente operação cirúrgica como qualquer outra, ou de ser, em vez disso, um homicídio premeditado. Nessas condições, a única opção moralmente justificada é, com toda a evidência, abster-se de praticá-lo. À luz da razão, nenhum ser humano pode arrogar-se o direito de cometer livremente um ato que ele próprio não sabe dizer, com segurança, se é ou não um homicídio. Mais ainda: entre a prudência que evita correr o risco desse homicídio e a afoiteza que se apressa em cometê-lo em nome de tais ou quais benefícios sociais hipotéticos, o ônus da prova cabe, decerto, aos defensores da segunda alternativa. Jamais tendo havido um abortista capaz de provar com razões cabais a inumanidade dos fetos, seus adversários têm todo o direito, e até o dever indeclinável, de exigir que ele se abstenha de praticar uma ação cuja inocência é matéria de incerteza até para ele próprio.

Se esse argumento é evidente por si mesmo, é também manifesto que a quase totalidade dos abortistas opinantes hoje em dia não logra perceber o seu alcance, pela simples razão de que a opção pelo aborto supõe a incapacidade – ou, em certos casos, a má vontade criminosa – de apreender a noção de "espécie". Espécie é um conjunto de traços comuns, inatos e inseparáveis, cuja presença enquadra um indivíduo, de uma vez para sempre, numa natureza que ele compartilha com outros tantos indivíduos. Pertencem à mesma espécie, eternamente, até mesmo os seus membros ainda não nascidos, inclusive os não gerados, que quando gerados e nascidos vierem a portar os mesmos traços comuns. Não é difícil compreender que os gatos do século XXIII, quando nascerem, serão gatos e não tomates.

A opção pelo abortismo exige, como condição prévia, a incapacidade ou recusa de apreender essa noção. Para o abortista, a condição de "ser humano" não é uma qualidade inata definidora dos membros da espécie, mas uma convenção que os já nascidos podem, a seu talante, aplicar ou deixar de aplicar aos que ainda não nasceram. Quem decide se o feto em gestação pertence ou não à humanidade é um consenso social, não a natureza das coisas.

O grau de confusão mental necessário para acreditar nessa idéia não é pequeno. Tanto que raramente os abortistas alegam de maneira clara e explícita essa premissa fundante dos seus argumentos. Em geral mantêm-na oculta, entre névoas (até para si próprios), porque pressentem que enunciá-la em voz alta seria desmascará-la, no ato, como presunção antropológica sem qualquer fundamento possível e, aliás, de aplicação catastrófica: se a condição de ser humano é uma convenção social, nada impede que uma convenção posterior a revogue, negando a humanidade de retardados mentais, de aleijados, de homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.

Com toda a clareza que se poderia exigir, a opção pelo abortismo repousa no apelo irracional à inexistente autoridade de conferir ou negar, a quem bem se entenda, o estatuto de ser humano, de bicho, de coisa ou de pedaço de coisa.

Não espanta que pessoas capazes de tamanho barbarismo mental sejam também imunes a outras imposições da consciência moral comum, como por exemplo o dever que um político tem de prestar contas dos compromissos assumidos por ele ou por seu partido. É com insensibilidade moral verdadeiramente sociopática que o sr. Lula da Silva e sua querida Dona Dilma, após terem subscrito o programa de um partido que ama e venera o aborto ao ponto de expulsar quem se oponha a essa idéia, saem ostentando inocência de qualquer cumplicidade com a proposta abortista.
Seria tolice esperar coerência moral de indivíduos que não respeitam nem mesmo o compromisso de reconhecer que as demais pessoas humanas pertencem à mesma espécie deles por natureza e não por uma generosa – e altamente revogável – concessão da sua parte.

Também não é de espantar que, na ânsia de impor sua vontade de poder, mintam como demônios. Vejam os números de mulheres supostamente vítimas anuais do aborto ilegal, que eles alegam para enaltecer as virtudes sociais imaginárias do aborto legalizado. Eram milhões, baixaram para milhares, depois viraram algumas centenas. Agora parece que fecharam negócio em 180, quando o próprio SUS já admitiu que não passam de oito ou nove. É claro: se você não apreende ou não respeita nem mesmo a distinção entre espécies, como não seria também indiferente à exatidão das quantidades? Uma deformidade mental traz a outra embutida.

Aristóteles aconselhava evitar o debate com adversários incapazes de reconhecer ou de obedecer as regras elementares da busca da verdade. Se algum abortista desejasse a verdade, teria de reconhecer que é incapaz de provar a inumanidade dos fetos e admitir que, no fundo, eles serem humanos ou não é coisa que não interfere, no mais mínimo que seja, na sua decisão de matá-los. Mas confessar isso seria exibir um crachá de sociopata. E sociopatas, por definição e fatalidade intrínseca, vivem de parecer que não o são.

Fonte: http://www.seminariodefilosofia.org