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quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Origem da Bíblia


Muitas pessoas se surpreendem ao saber que a Bíblia utilizada pelos protestanes é diferente da Bíblia utilizada pelos católicos. Mas qual é a diferença?
Como já escrevemos, o catálogo sagrado foi começou a ser definido pela Igreja Católica em 393 durante o Concílio Regional de Hipona (África). A Igreja desde os tempos apostólicos, utilizou a versão grega dos livros sagrados, chamada Septuaginta.
Desde o séc. IV até o séc. XVI, a Bíblia era a mesma para todos os cristãos. A diferença ocorreu durante a Reforma Protestante, quando Martinho Lutero renegou 7 livros do antigo testamento (Tobias, Judite, 1 Macabeus, 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, trechos de Daniel e Ester) e a carta de Tiago do Novo Testamento.
Lutero renegou tais livros porque eram fortemente contrários à sua doutrina. Por causa de uma das colunas de sua doutrina a "Sola Fide" ou Somente a fé, Lutero alterou o famoso versículo "Mas o justo viverá da fé" (Rm 1,17) para "Mas o justo viverá somente pela fé", e renegava a Carta de Tiago, que ensina que somente a fé não basta, é preciso as obras. Devido ao prestígio que a Carta de Tiago tinha, Lutero não obteve sucesso ao excluir tal livro. Quanto ao Antigo Testamento, os protestantes então revolveram ficar com o catálogo definido pelos Judeus da Palestina.
Este catálogo Judaico foi definido por volta de 100 DC na cidade de Jâmnia, e estes foram os critérios estabelecidos pelos judeus para formarem seu cânon bíblico:
  • O livro não poderia ter sido escrito fora do território de Israel;
  • O livro teria que ser totalmente redigido em Hebraico;
  • O livro teria que ser redigido até o tempo de Esdras (458-428 AC);
  • O livro não poderia contradizer a Torah de Moisés (os 5 livros de Moisés).

Devido à enorme conversão de judeus ao cristianismo, principalmente os judeus de língua grega, é que os judeus que não aceitaram a Cristo, desenvolveram um judaísmo rabínico, isto é, um judaísmo ultra-nacionalista, para frear a conversão das comunidades judaicas ao cristianismo. Com este cânon bíblico, era proibida pelo menos a leitura de todo o Novo Testamento, que mostra fortemente o cumprimento da promessa do Messias na pessoa de Cristo.
Muitos dos originais hebraicos de alguns livros foram perdidos, existindo somente a versão grega na época da definição do cânon judaico. Isto significa que livros como Eclesiástico e Sabedoria, escritos por Salomão, não foram reconhecidos pelos judeus de Jâmnia, além de outros livros que foram escritos em aramaico durante o domínio caldeu e persa. Recentemente os arqueólogos encontraram em Qruman no Mar Morto, o original hebraico do livro Eclesiástico.
Estes livros do Antigo Testamento que não foram unânimimente aceitos são chamados técnicamente de deuterocanônicos.
Os protestantes entram então em grande contradição, pois aceitam a autoridade dos Judeus da Palestina para o Antigo Testamento e não aceitam a mesma autoridade para o Novo Testamento. Aceitam a autoridade da Igreja Cátólica para o Novo Testamento e não aceitam a mesma autoridade para o Antigo Testamento.
Os apóstolos em suas pregações utilizavam a versão grega dos livros antigos, note que das 350 citações que o Novo Testamento faz dos livros do Antigo Testamento, 300 também se referem aos livros deuterocanônicos.

Fonte: www.veritatis.com.br - autor: Alessandro Lima , autor do livro; "O Cânon Bíblico"

Pax Christi
Diogo Pitta

São Luís Maria Grignion de Montfort - 28 de Abril

 
Fundador da Ordem dos Sacerdotes da Companhia de Maria
(Também conhecidos como  Missionários Monfortinos,  ou Padres  Marianos)

E da Congregação Filhas da Sabedoria - com a Beata Maria Luisa Trichet 
       
Revisão:  Pe. Luiz Augusto Stefani (Missionário Monfortino)
 
     São Luís Maria Grignion de Mantfort veio ao mundo aos 31 de janeiro de 1673. Seus pais eram João Batista Grignion de Bachelleraie e Joanna Visuelle de Chesnais, ambos de famílias nobres, mas pouco afortunados.
    No Batismo o menino recebeu o nome de Luís, ao qual na crisma se acrescentou o de Maria. Mais tarde abandonou o nome de sua família, passando a chamar-se Luís Maria Montfort, porque foi em Montfort onde recebeu o santo batismo. Do matrimônio abençoado dos Bachelleraie-Visuelle, além de Luís Maria procederam mais 17 filhos, dos quais um se fez padre, outro entrou na Ordem de S. Domingos, e uma irmã tomou o hábito de São Bento. Guyonne Jeanne, geralmente chamada Luísa, tornou-se Irmã do SS. Sacramento. Morreu em odor de santidade e era predileta do Santo.
      Luís Maria, a exemplo do seu patrono, S. Luís, tinha tomado por lema de sua vida: “Deus só”. Já nos dias de sua infância experimentou provas de amor e proteção especiais de Maria Santíssima, sua “Boa Mãe”, como ele habitualmente a chamava.
     Pouco afeito aos divertimentos e jogos próprios da idade infantil, encontrava todo o seu deleite nas cousas celestes. Alma privilegiada que era, na oração encontrava sua felicidade. Não lhe pareciam longas as horas passadas aos pés do tabernáculo ou do altar de Maria.
       Em seus pais e mestres via o próprio Deus, e mostrava-lhes o mais profundo respeito
      Embora tivesse que sofrer não pouco da parte do pai, que era irascível e violento, Luís nunca lhe causou o menor desgosto, como o próprio pai, na presença de numerosa reunião de sacerdotes e religiosos declarou.
   Jovenzinho ainda, já era missionário; vêmo-lo exercendo esta missão junto à mãe abatida pelo desgosto e pelas fadigas domésticas; Ele consola-a, anima-a, acenando-lhe o céu. Emprega a sua influência junto à irmã Luísa para levá-la ao caminho da piedade e do amor divino. Que de indústrias não empregava para subtraí-la aos folguedos infantis, próprios da idade, a fim de tê-la como companheira nos exercícios de devoção!
      O que, porém, se fazia notar, já neste tempo, como era em toda a sua vida, era a sua singular devoção à Santa Virgem. “O amor de Maria, diz um seu condiscípulo, era como inato nele”.
     “Não é de mais afirmar que esta boa Mãe o escolhera, desde o começo, para torná-lo um dos seus privilegiados”. Encontrando-se diante de uma imagem de Maria, parecia não conhecer mais ninguém, tanta a sua devoção, tal a imobilidade tal o êxtase em que se via arrebatado.
         Para nos dar uma idéia do temperamento de Luís Maria seu biógrafo escreve: “Para bem avaliarmos os componentes do seu temperamento, bastar-nos-ia a recordação do caráter áspero e irritadiço do seu pai. No entanto é o próprio santo que nos afirma a sua semelhança com o temperamento paterno. Diz que mais padeceu para dominar a sua vivacidade e a paixão da cólera, que todas as paixões reunidas. Se Deus, dizia ele, o tivesse destinado para o mundo, teria sido o homem mais terrível do seu século. Tinha ele os elementos característicos  e peculiaríssimos de legítimo bretão.  “A conduta de Grignion de Montfort, diz Grandet, oito anos apenas após a morte do Santo – de tal forma pareceu extraordinária aos seus contemporâneos, que os ímpios a tomavam como diabólica, chamando-o de malfeitor, de anti-cristo, de obsesso; os mundanos consideravam-no extravagante, e os bons pelo menos tinham-no como esquisito e fora do comum. Era extraordinariamente forte; vi-o – continua Grandet, de uma feita transportar uma laje sepulcral que dois homens fortes  não conseguiriam levantar, da terra”. Por causa mesmo desta sua complexão robusta, vigorosa e viva é que ele deveria muito lutar: para domá-la foi mister abatê-la com penitência e sofrimentos.
      Na idade de começar os estudos, Luís Maria se transferiu para Rennes, onde os Padres Jesuítas possuíam um florescente colégio. Como em Montfort, também em Rennes o tempo era inteiramente consagrado ao trabalho e à oração, sabiamente dirigido pelos mestres, Luís avançava rapidamente no caminho da santidade. Foi lá que Maria SS.  lhe revelou sua vocação para o estado eclesiástico;  foi lá que entrou para a Congregação Mariana.
       Não lhe faltaram ocasiões de se exercer nas virtudes, em suportar com paciência injúrias e contradições. Ávido de sacrifícios, reduzia seu corpo à servidão com toda a sorte de mortificações. Foi naquela época que fez o noviciado de caridade para com os pobres, virtude esta, cuja prática tornou-se nota característica de sua vida.
          Seu único divertimento era a pintura, para a qual tinha ótimas disposições. Só, e sem mestre aprendera desenhar em miniatura; sua habilidade era tão grande que lhe bastava ver para reproduzir maravilhosamente.
         Ocasião que se lhe ofereceu para iniciar o estudo de teologia no Seminário de S. Sulpício em Paris, com o aplauso de seus pais, aproveitou-a. A pé fez a viagem de dez dias para a capital onde se pôs a disposição do vigário  de S. Sulpício, que lhe confiou o lúgubre ofício de velar os mortos da paróquia. A pensão era escassa e a mesa, por causa da carestia, paupérrima. Não obstante, com grande ardor atendia aos seus estudos laboriosos.
       Em 1694, contando vinte e um anos, recebeu as ordens menores. Com a morte do vigário de S. Sulpício, perdera seu benfeitor, e viu-se a braços de grande pobreza, vivendo às  vezes em suprema penúria. Sempre pôde experimentar o auxílio de sua Boa Mãe, Maria SS. Assim aconteceu, quando gravemente enfermo, todos julgando-o nos momentos extremos, como de repente fugiram os sintomas do mal e em poucos dias se achava em condições de continuar os estudos.
       Pelo empenho de uma piedosa senhora, foi admitido ao pequeno Seminário de S. Sulpício, fundado e regido pelo Pe. Olied.
       A entrada neste seminário foi providencial para Montfort, que na convivência com o santo diretor mais ainda pode aprofundar-se, como  se aprofundou na devoção a Maria SS. Tomou forma concreta em sua alma a convicção de a vida do cristão deve ser uma vida dedicada e unida só a Maria, sempre e em tudo agindo segundo as suas intenções e em sua honra. Montfort, segundo os desígnios de Deus, devia ser o depositário desta doutrina, para, desenvolvendo-a e publicando-a, propagá-la em uma forma fácil, clara, atraente; escopo a que ele se dedicou com admirável fidelidade. Em sua vida posterior, missionária, todos os discursos, escritos cânticos e especialmente o seu magnífico “Tratado da verdadeira devoção à Virgem Maria”, subordinou ao apostolado desta devoção.
      Antes de levá-la ao mundo, Montfort, como piedoso seminarista, fê-la florescer no seminário de São Sulpício, e com a devida licença dos superiores introduziu a consagração  dos “Escravos de Jesus em Maria”.
        Maria SS. teve no Santo de Montfort um escravo de amor, obediente, desinteressado. Orgulhoso deste título era, mais que de outro qualquer, a ponto de, desta época (25 de março de 1697) em diante, subscreve-se simplesmente: “Escravo de Jesus em Maria”. É possível que já então desfrutasse da presença de Maria, como diz em um dos seus cânticos.
       Em grande estima era tido por seus superiores; mestres e alunos de S. Sulpício eram unânimes em afirmar que a SS. Virgem mesma inspirava o seu devoto servo, fecundando admiravelmente suas fadigas.
         Ainda que não tomasse parte nas preleções da afamada faculdade da Sorbona, sustentou com brilho uma disputa teológica sobre a graça, na qual enfrentou as objeções combinadas de seus companheiros e as rebateu soberanamente.
      Escravo de Maria, como o Primogênito da divina Mãe, havia de ser e foi uma vítima, homem de sofrimentos, saturado de opróbrios. Com facilidade, porém, carregou a sua cruz. Com o apóstolo podia exclamar: “No meio do sofrimento, estou repleto de gozo”.
       Desde sua chegada à S. Sulpício empenharam-se os superiores a corrigir tudo o que houvesse de singular em suas maneiras. Passou por uma escola duríssima, e nada foi  poupado para pôr à prova sua virtude. O Santo foi experimentado de mil maneiras. Tirava-se-lhe hoje a concessão ontem obtida; as permissões lhe eram dadas de má vontade, ou continuamente negadas ou reparadas imerecidamente. Parecia seu diretor se ter especializado em fazê-lo penar sem tréguas e em cobrí-lo sempre de confusão.
     Os clérigos, levados pelo exemplo do diretor, autorizavam-se também de experimentar a virtude do condiscípulo. Este, porém, com a lembrança do Divino Mestre, manteve-se sereno, benévolo, guardando sempre a paz e tranqüilidade.
       Foi ordenado a 5 de junho de l700. O restante deste dia passou aos pés do SS. Sacramento e vários dias dedicou à preparação para a primeira missa. “Assisti a este sacrifício, escreveu o seu biógrafo, Padre Blain – e pareceu-me ver celebrar não um homem e sim um anjo”.
     No mesmo ano da sua ordenação iniciou Montfort sua vida apostólica como missionário. Logo no princípio experimentou decepções das mais desconsoladoras, que puseram a duríssima prova a sua própria vocação. Começou seu magistério no hospital de Poitiers, que “era uma babilônia, onde em vez da ordem e da paz reinava só discórdia”. Enamorado da pobreza, escolheu para si o pior dos cubículos, não querendo viver senão de esmolas e sem demora pôs mãos à obra. Seu trabalho foi cumulado de bênçãos de Deus. Transformou aquela casa tanto material como espiritualmente.  Ingratidão, porém, foi a paga dos beneficiados.
      Tanto foram as maledicências, tão graves as calúnias levantadas contra a sua pessoa, que o próprio diretor do seminário chegou a repelí-lo, diante de todos os mestres e estudantes. O pároco de S. Sulpício deu-lhe idêntico acolhimento, não obstante ter sido ele um dos seus admiradores. Em meio de sua tristeza e no abandono por parte de seus melhores amigos, restava alguém que nunca o abandonara: recorreu à Virgem Protetora. Esta foi solícita, em atendê-lo.
      A reentrada no Hospital de Poitiers ocasionou a fundação feita por Montfort, de uma Congregação de Irmãs de Caridade, à qual deu o nome de “Filhas da Sabedoria”.
      Desde os primeiros momentos de sua vida sacerdotal Montfort sentia-se chamado para ser missionário. A este apostolado se dedicou de corpo e alma. Em muitas dioceses e inúmeras paróquias da França fez ouvir a sua voz de apóstolo e instrumento extraordinário,  tem sido na conversão de muitas almas. A sua palavra ardente e arrebatadora era sempre acompanhada pelo exemplo de um verdadeiro zelador das cousas de Deus. Não lhe faltaram, é certo, a bênção de Deus e bem visível até a assistência do Divino Espírito santo. Em Maria Santíssima tinha ele a mãe protetora e auxiliadora.
       Não eram poucas as missões por ele pregadas, que terminaram em verdadeiros triunfos de piedade e em conversões em massa. O inferno, por sua vez, não podia ver de bons olhos os grandiosos efeitos das operações missionárias do incansável  e santo missionário. Ocasião não deixava passar, sem perturbar-lhe os planos, e mover guerra contra a sua pessoa e seus intentos. Referindo-se a estas maquinações diabólicas, ele mesmo, bendizendo-as em uma das suas cartas atesta: “Jamais fui como hoje pobre, humilde e atribulado: homens e demônios movem contra mim uma guerra sumamente amável. Zombam de mim, caluniam-me, vejo eu em farrapos a minha própria fama, e minha pessoa em prisão! oh! dons preciosos!”
    Pesada cruz levava ele, e tempo houve, que duvidou, se ao menos por algum tempo não deveria abandonar os cuidados do ministério apostólico para atender à grande inclinação e ao incitamento para a vida contemplativa. Chegou mesmo a se associar aos eremitas do monte Valeriano. Fez-lhes o benefício de, não tanto pela palavra, senão pelo seu exemplo e espírito de penitência restabelecer a ordem e a disciplina naquela comunidade.
     Reclamada novamente sua presença no hospital de Poitiers, mais uma vez retornou a seu posto na vida de caridade e sacrifício.
     O inferno, no entanto, rugia de ódio e sua sanha se reacendeu decidida. Belzebu vomitou sobre o homem de Deus tamanha onda de procelas e perseguições que quase conseguiu abatê-lo.
     Foi a Roma para implorar do Sumo Pontífice Clemente XI, a licença de se poder dirigir para as terras dos infiéis.
     O Papa, entretanto, fê-lo voltar para a França, para combater a peste jansenista, honrando-o com o título de Missionário apostólico. Obedecendo a este mandamento, dedicou-se ele definitiva e completamente às santas empresas.
        Deus o requisitou para este cargo, concedendo-lhe dons admiravelmente aptos para este fim. Inaugurou em 1705 sua carreira apostólica em um subúrbio de Montfort, bairro conhecido como foco de vícios e maldades. Como esta, havia ainda outras populações, e Montfort deixou-as completamente transformadas e regeneradas. O distintivo especial do santo missionário em relação a outros Santos foi sua singular devoção à Virgem Maria.  Era esta devoção que insistentemente inculcava aos seus ouvintes, afirmando sempre com S. Bernardo, que todas as graças haviam de esperar que lhes viessem das mãos de Maria. Esta devoção nunca esmorecida e sempre comunicativa de Montfort explica a força, a uniformidade de seu apostolado. Sua vida, santificada por tão admirável devoção, abalava as populações num contínuo prodígio, dispondo-as a um acolhimento simpático de sua palavra inspirada.
       Em 1705, Montfort realizou a idéia, que havia muito, vivia em sua alma, de fundar uma “Companhia de sacerdotes, completamente dedicados às missões, e militando sob o estandarte e a proteção de Maria Santíssima”. Fundou a Companhia de Maria e para ela compôs uma regra conforme sua finalidade. Os missionários pertencentes a esta Companhia, seriam os herdeiros do seu entranhado amor a Maria: a missão deles seria fazer Maria conhecida e amada por todos a eles confiados. A Companhia fundada por Montfort tomou incremento e conta hoje com milhares de religiosos professos. Desde 1966 se acha estabelecida também no Brasil.
        Também a Congregação das Filhas da Sabedoria teve grande desenvolvimento na França, e com ótimos resultados exerceu seu apostolado da caridade e do ensino. Maria Luísa Trichet foi a grande coluna  sobre a qual São Luís estabeleceu sua congregação feminina. 
     Da sua vida missionária tenha lugar aqui apenas um fato bem de molde para ilustrar as situações que costumavam correr os seus trabalhos, acompanhando quase sempre da malquerença, da inveja e do ódio dos inimigos da Igreja.
       Em janeiro de 1716 encerrou-se a missão em Villiers-en-plaine, missão esta que dera ao santo pregador grandes motivos de alegria. Para tal concorreu o bom exemplo dos chefes locais, o senhor e a senhora d”Orion. Esta, a princípio, por demais crédula das calúnias espalhadas contra Montfort, hesitara em seguir os exercícios da santa missão.  Por temor de um escândalo público decidiu-se a comparecer, mais, porém, por curiosidade do que por convicção e piedade, disposta a ver as denominadas “palhaçadas do missionário” e a rir a bom gosto. S. Luís Maria e seus companheiros eram hóspedes da sogra da senhora d”Orion e pôde ela então de perto observar a pessoa do Santo e sua conduta.
     A realidade revelou-lhe então quão falsa era a descrição inspirada pelo ódio. Era este o sacerdote de quem tanto se falava ? Diziam-no ridículo, extravagante e indiscreto; ela, porém, contemplava um sacerdote de rara modéstia, de esmerada polidez, de admirável bom senso, respeitoso para os grandes, afabilíssimo para com os pequenos e humildes; não um severo e impertinente censor de mínimos defeitos, mas um padre bondoso, indulgente para com as fraquezas alheias, sempre sorridente, manso mesmo em suas necessárias repreensões. Encontrando ela uma ocasião muito propícia para entrar no quarto do Santo, pode ver de perto os seus terríveis instrumentos de penitência. Ao antigo desprezo sucedeu uma verdadeira admiração.
     Enfim, o próprio Altíssimo e bom Senhor quis manifestar a santidade de seu servo. Enlevado em um longo êxtase, S. Luís Maria esteve suspenso dois pés da terra por algum tempo, com os braços cruzados sobre o peito. Em outra ocasião, pouco posterior, predisse a sua morte dizendo: “Morrerei antes do fim do ano”.
    Missionário foi até o último dia da sua existência. Abalado em sua saúde, fatigado pelas missões, fez um último esforço para receber dignamente o Bispo, que o surpreendeu com sua inesperada visita, com o único intento de observar de perto as virtude e méritos do Santo.
   Nesta ocasião Montfort fez o seu último sermão, que versava sobre a ternura de Jesus para todos nós. Lágrimas de comoção brotaram dos olhos dos seus ouvintes. Não pode levar até o fim a sua alocução, pois a enfermidade o impossibilitava de concluir, e fê-lo recolher-se ao leito. E vinha a morte a grandes passos.
     Rodeado dos seus íntimos, sequioso por receber sua última bênção, com o crucifixo traçou sobre eles o sinal da cruz. Com grande amor beijava ele o crucifixo, trazido de Roma e seus lábios pronunciavam os nomes de Jesus e Maria. De súbito caiu em breve sonolência. Agitadíssimo, dela despertou exclamando em alta voz: “Inutilmente me tentas: estou entre Jesus e Maria. Graças a Deus e a Maria ! Minha carreira terminou; não pecarei mais”. Foram suas últimas palavras. 
    Assim no ósculo do Senhor exalou a sua puríssima alma no dia de 28 de abril de 1716 em Saint-Laurent-sur Sèvre.
      A fama de sua santidade espalhou-se de tal maneira que logo depois de ter sido permitido por autoridade do Bispo diocesano e mais tarde pela Santa Sé, procederam-se as indagações canônicas
      Depois do reconhecimento dos milagres, Leão XIII, honrou-o com a glória da beatificação, precisamente no dia 22 de janeiro de 1888. Pio XII, o canonizou solenemente no dia 20 de julho de 1947.   No dia 20 de julho de 1996 o Papa João Paulo II inseriu sua festa no calendário romano universal.  Sua festa é comemorada com muito júblilo pelas famílias monfortinas e seus devotos, no dia 28 de abril de cada ano. 
      O Santo é apresentado com o crucifixo sustentado na mão esquerda. Com o pé direito ele pisa a cabeça de satanás representado em figura humana, tentando destruir um livro sobre o qual se lê o título: “Tratado da Verdadeira Devoção”. O semblante do Santo é sereno. Ele  olha o demônio e parece dizer-lhe: “Em vão; tu não o destruirás!” A mão direita está estendida e um pouco elevada, apontando o céu num gesto de confirmação daquilo que ele parece nos dizer, isto é, a certeza da vitória sobre o demônio.

Fonte: www.paginaoriente.com
Pax Christi
Diogo Pitta

A Canonização dos Santos - D. Estevão Bettencourt, osb

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 13, Ano 1959, p. 20


 Qual a autoridade de que goza a Igreja para declarar que alguém está na glória celeste?"
Por canonização (= consignação no cânon ou no catálogo) entende-se a sentença definitiva pela qual o Sumo Pontífice declara estar algum servo de Deus na glória celeste e prescreve, lhe seja conseqüentemente prestada pública veneração.
Da canonização distingue-se a beatificação,  ato pelo qual o Sumo Pontífice permite seja tributado culto público a um servo de Deus em certa região ou certa família religiosa (excepcionalmente na Igreja universal).
Abaixo examinaremos sucessivamente a canonização dos santos através da história e a autoridade dogmática de que possa gozar uma sentença dessas.
1. Apoteose pagã e canonização cristã
Os fiéis falecidos em fama de santidade sempre foram objeto de particular estima por parte dos cristãos. Esse apreço  nada tem que ver com o que os pagãos tributavam aos seus mortos nas famosas apoteoses.
a) Os pagãos costumavam celebrar atos públicos nos quais um homem (um rei, no Egito; um herói, na Grécia; um Imperador, em Roma) era declarado deus ou semi-deus. Em Roma, a cerimônia baseava-se na crença oriental de que a alma, sendo produto de emanação da substância divina do sol, voltava a esta ou ao seio do fogo divino após a morte do indivíduo; costumava-se então preparar em praça pública uma fogueira, sobre a qual era colocado o cadáver do Imperador; enquanto este ardia juntamente com perfumes e ervas aromáticas, soltava-se, espantada pelo calor, uma águia que até aquele momento se achava oculta junto à fogueira; essa águia (ave divina por excelência), diziam, levava a alma do Divus Imperator (ou do Imperador Divino) aos céus (cf. Suetônio, Augusto 100; Herodiano IV 2).
Ora é claro que os cristãos de modo nenhum entendiam (ou entendem) elevar os justos à categoria de deuses. Apenas afirmam que os santos são frutos consumados da  Redenção de Cristo, criaturas nas quais se exprimem de maneira grandiosa a sabedoria e o amor de Deus; essas criaturas tornam-se assim motivo para que seus irmãos louvem e adorem o Pai do Céu. Os santos são também, conforme a concepção cristã, os grandes amigos de Deus, aos quais os viandantes da terra se dirigem para pedir sua intercessão junto ao Todo-Poderoso (cf. "P. R." 3/1958 qu. 5). Assim se vê que o culto dos santos é todo referente a Deus.
b) Os pagãos tributavam a apoteose exclusivamente aos Imperadores, aos membros e favoritos da família imperial; não se tem notícia de que endeusassem um homem do povo. Os cristãos, ao contrário, reconhecem como santos tanto os reis e pontífices como os irmãos de categoria humana mais modesta.
c) O critério pagão para endeusar alguém era unicamente a classe social da pessoa, de sorte que no Olimpo se colocavam homens de costumes depravados Assim Nero (+ 68) divinizou sua concubina impudica Popéia, depois de lhe ter tirado a vida mediante um ponta-pé. O imperador Caracala (+ 217) endeusou seu irmão Geta, que ele matara porque o tinha na conta de Rival; observou então ironicamente: "Sit divus, dummodo non sit vírus - - Seja divina, contanto que não seja vivo!" (cf. Tácito, Annal. XIII 45; XV 23; XVI 6; Suetônio, Nero 25). Em conseqüência, as apoteoses eram as vezes ridicularizadas pelos próprios escritores pagãos; foi o que Sêneca fez diante do endeusamento do Imperador Cláudio.
Quanto aos cristãos está claro que só estimam santos aqueles que hajam praticado as virtudes em grau comprovadamente heróico ou fora do comum.
Não será preciso insistir no contraste vigente entre o culto dos santos e as apoteoses pagãs (por isto é que tanto os cristãos como os judeus sempre resistiram ao culto dos Imperadores e às apoteoses em geral). A canonização dos santos se inspira, antes, em costumes bíblicos: o autor do Eclesiástico escreveu o "Louvor dos Pais (Enoque, Noé, Abraão, Isaque, os justos...)", redigindo desta forma o primeiro catálogo ou cânon dos santos de Israel (cf. Eclo 44-51).
2. O desenvolvimento dos processos de canonização através da história
1. O primeiro tipo de amigo de Deus cultuado pelos cristãos é o do mártir. Este desde cedo foi tido como o imitador mais perfeito de Cristo, visto ninguém ter maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos (cf. Jô 15,13).
Conscientes disto, os antigos cristãos recolhiam reverentes os despojos dos mártires e anualmente comemoravam o seu natalício (isto é, a sua entrada na glória celeste), celebrando junto ao túmulo dos mesmos o santo sacrifício da Missa. Tal foi a mais antiga forma de canonização, atestada por documentos do séc. II (cf. Martyrium Polycarpi 18,3).
Já nesses primeiros séculos nota-se o cuidado, da parte das autoridades da Igreja, de não permitir aos fiéis a veneração de qualquer aparente vítima da perseguição. Os bispos examinavam as "Atas dos mártires", isto é, os testemunhos referentes a cada cristão perseguido, a fim de apurar se de fato morrera por amor à fé; consoante o resultado desse exame, permitiam ou não o culto do mártir. Uma vez reconhecido um autêntico herói, a comunidade cristã a que ele pertencia, enviava às demais uma carta circular (Ata) narrando o glorioso combate do santo, a fim de se edificarem os irmãos.
2. A partir do séc. IV, começou a ser honrado outro tipo de santo: o chamado "Confessor", ou seja, o justo que, sem ter derramado o sangue para confessar a fé, a havia não obstante confessado, praticando as virtudes em grau heróico. Esta nova modalidade da piedade cristã se deve ao fato de que, após a paz de Constantino (313), as ocasiões de martírio se foram tornando raras. Muitos amigos de Deus procuraram então excitar em si a atitude do mártir e, conseqüentemente, a do Cristo, renunciando espontaneamente a tudo, até aos bens lícitos; esforçavam-se por viver um martírio incruento no celibato ou na virgindade. Desde fins do séc. IV, esses campeões da vida ascética foram sendo publicamente honrados. O culto de veneração se estendeu outrossim a grandes figuras de bispos (S. Atanásio, S. Martinho de Tours) e por fim a todo e qualquer justo que se tivesse distinguido na terra por virtudes eminentes.
Contudo as autoridades da Igreja zelavam, ainda mais que no caso dos mártires, para que somente os autênticos confessores ou homens de Deus fossem venerados pelo povo cristão; varões idôneos eram encarregados pelos bispos de consignar por escrito o que se dizia a respeito das virtudes de tal justo e dos milagres obtidos por sua intercessão. Diversos concílios da Antigüidade e do início da Idade Média tiveram que proibir o culto público tributado a servos de Deus antes que a autoridade eclesiástica se tivesse oficialmente pronunciado a seu respeito; também promulgaram cânones que mandavam cancelar das listas dos santos nomes aí prematuramente inseridos pelo fervor popular. Os nomes de santos cultuados em determinada diocese eram comunicados a outras dioceses, de sorte que havia justos unanimemente venerados na Igreja universal, enquanto outros só gozavam de culto local.
Tal estado de coisas se prolongou até o séc. XII... Nesta época sabe-se que os Papas Urbano II (+ 1099), Calixto II (+ 1124) e Eugênio III (+ 1153) repetidamente recomendaram que as virtudes e os milagres dos justos que pareciam dignos de ser inscritos no catálogo dos santos, fossem examinados de preferência em concílios, e principalmente em concílios  gerais. Esta exortação é bastante significativa: supõe que a piedade dos fiéis cristãs se deixara não raro enganar por virtudes mais aparentes do que reais e que os bispos não sempre davam conta da tarefa de se informar diligentemente a respeito das qualidades e dos milagres atribuídos a tal ou tal cristão falecido. A Santa Sé era conseqüentemente obrigada a não ficar mais na atitude de consentimento ou aprovação tácita ao culto dos santos; mais e mais ela então por diante tenderia a reservar ao seu supremo juízo a palavra definitiva em assunto tão importante.
No decorrer do séc. XII, nota-se que alguns Papas por si, sem recorrer a algum concílio, declararam certos justos dignos de culto público; assim procedeu Eugênio III (+ 1156) com o Imperador S. Henrique; Alexandre III (+ 1181) com o rei S. Eduardo da Inglaterra, com S. Tomaz de Cantuária e com S. Bernardo de Claraval. Aliás, já aos 11 de junho de 993 o Papa João XV fez semelhante declaração em favor do bispo S. Ulrico de Augsburgo (Baviera); os historiadores costumavam ver nesta declaração a primeira canonização da história (embora o termo "canonização" não recorra no mencionado documento pontifício; pela primeira vez, no seu sentido técnico atual, tal vocábulo aparece em uma carta do bispo Udalrico de Constança ao Papa Calixto II, 1119-1124). Não se poderia, porém, dizer com precisão desde quando os Papas começaram a se pronunciar explicitamente sobre a santidade dos justos falecidos nem desde quando reservaram a si o julgamento de tais assuntos.
Um incidente verificado no séc. XII tem chamado a atenção dos estudiosos da matéria: um grupo de monges honrava como santo um irmão de hábito que na verdade pouco se recomendava; o Papa Alexandre III escreveu, então aos Religiosos, mandando cessar a veneração e admoestando explicitamente: "... cu etiam si per eum miracula fierent, non liceret vobis ipsum pro sancto, absque auctoritate Romanae Ecclesiae venerari. - ... Ainda que por ele se realizassem milagres, não vos seria lícito venerá-lo como santo sem a aprovação da Igreja de Roma" (Decret. 1 III. Tit. XLV c. Audivimus).
Este texto, por lacônico que seja, significa, segundo muitos canonistas, que o Sumo Pontífice de então por diante atribuía exclusivamente à Santa Sé o direito de apresentar os santos à veneração dos fiéis.
O fato é que, apesar de tal texto pontifício, alguns poucos bispos continuaram a empreender processos regionais de canonização; na verdade, até o séc. XVII os canonistas duvidavam a respeito do significado preciso do decreto de Alexandre III.
Somente sob o Papa Urbano VIII a legislação concernente ao assunto foi claramente elaborada: sucessivamente em 1625 e 1634 este Pontífice  proibiu toda e qualquer forma de culto público tributado a pessoas não beatificadas ou canonizadas pela Santa Sé. Desde os tempos de Alexandre III, as causas de beatificação e canonização eram confiadas ao Colégio de Cardeais; o Papa Sixto V em 1587 as atribuiu à S. Congregação dos Ritos; por fim, Urbano VIII (1625-1634) determinou novo trâmite para os processos, o qual até hoje, com poucas modificações, está em vigor. Os atos de beatificação e canonização são de exclusiva competência do Sumo Pontífice, de sorte que, sem ordem deste, não poderiam ser validamente levados a efeito por algum bispo, nem por sínodos regionais nem pelo Colégio Cardinalício.
O esboço histórico acima explica a seguinte distinção hoje vigente no Direito Canônico: há sentenças de beatificação e canonização formais e sentenças ditas eqüipolentes. As primeiras constituem o resultado final de um processo regular, movido segundo a respectiva legislação eclesiástica. As sentenças eqüipolentes, ao contrário, são decretos baixados independentemente de processo anterior, decretos que se limitam a reconhecer a legitimidade do culto multissecular prestado a tal justo na base de autêntica fama de santidade e de milagres a ele atribuídos. As sentenças eqüipolentes, como se compreende, se aplicam aos santos mais antigos da história da Igreja.
Pergunta-se agora qual o valor dogmático que possam ter, para os fiéis católicos, as sentenças de canonização.
3. Canonização e infalibilidade
1. Os teólogos e canonistas, quase unanimemente, afirmam que o Sumo Pontífice goza de infalibilidade, quando define estar algum justo na glória celeste e, por conseguinte, merecer a veneração pública dos fiéis.
A razão em que se apóiam, é a seguinte:
O Papa não pode induzir um erro a Igreja universal em matéria de fé e costumes (como definiu o Concílio do Vaticano, consoante a mais autêntica tradição cristã; cf. a questão 2 deste fascículo). Ora uma sentença de canonização toca a moral do povo cristão, pois propõe à veneração e à imitação dos fiéis uma pessoa que, não há dúvida, representa um ideal de doutrina e de vida bem caracterizado. Não se pode conceber, pois, que o Sumo Pontífice, em declarações feitas solenemente ao orbe católico, não indique as pessoas correspondentes a tal propósito, ou seja, autênticos santos (disto, porém, não se segue que todos os autênticos santos são também canonizados ou publicamente proclamados tais).
Note-se outrossim que os Pontífices mesmos, nas bulas de canonização parecem professar a consciência da sua infabilidade (o que por si não é argumento decisivo, mas, ao menos, confirmativo). Eis as expressões categóricas de que costumam usar:
"Inter sanctos et electos ab Ecclesia universali honorari praecipimus...
Apostolicae Seis auctoritate catalogo sanctorum scribi mandavimus...
Memoriam inter sanctos ab omnibus de caetero fieri censemus, et anniversarium ipsius diem solemniter celebrari constituimus,... statuentes ab Ecclesia universali illius memoriam quolibet anno pia devotione recoli debere..."
Quem não queira reconhecer a sentença de canonização, incorre em falta grave, como dá a ver a seguinte formula:
"Si quis quod non credimus, temerário ausu, contraire tentaverit... sciat se, autoritate B. Petri, principis apostolorum, cuius vel immeriti vices agimus, anathematis vinculo innodatum".
Para se avaliar todo o alcance destas expressões, observem-se os termos intencionalmente mais brandos em que os Pontífices se costumam exprimir nas bulas de beatificação (declaração limitada a certas pessoas e regiões):
"Tenore praesentium indulgemus...; licentiam et facultatem concedimus...".
As reservas são explicitamente formuladas nos dizeres: "... donec aliud per Nos, vel per sedem apostolicam, fuerit solemniter ordinatum".
No caso, pois, de beatificação, o Santo Padre concede, não preceitua... e, embora tenha boas razões para conceder, não julga impossível uma reforma de sentença.
O fato de que os teólogos geralmente admitem a infalibilidade das sentenças de canonização torna gravemente temerária, escandalosa e próxima de heresia a posição de quem queira negar tal doutrina. Por conseguinte, também seria gravemente temerário duvidar de que tal ou tal santo canonizado esteja realmente na glória celeste. Não se poderia, porém, afirmar que a negação ou a dúvida em tais assuntos equivale à heresia: "Mesmo após o concílio do Vaticano, não há definição explícita da Igreja a tal respeito, de sorte que quem negasse não seria formalmente herege" (T. Ortolan, Canonisation dans l'Église Romaine, em "Dictionnaire de Théologie catholique" II 2. Paris 1939, 1624).
2. Para proferir uma sentença de canonização, o Sumo Pontífice, embora goze da assistência infalível do Espírito Santo, não é dispensado de recorrer a critérios sensíveis, capazes de gerar certeza no plano meramente humano (é o que se dá, aliás, no caso de qualquer definição dogmática pronunciada pelo S. Padre). Dois sinais raros e indispensáveis são exigidos para que um processo de canonização chegue a termo feliz:
a) comprovada heroicidade das virtudes do justo durante a sua vida terrestre;
b) o testemunho de milagres após a morte.
Qualquer dúvida a respeito de um ou de outro destes pré-requisitos retém ou anula toda a marcha do processo.
Quanto aos milagres em particular, a Igreja ainda hoje os reconhece como autênticos sinais de Deus, desde que se verifiquem em circunstâncias determinadas (cf. "P. R." 6/1958 qu. 1). Para que o processo chegue à sentença de beatificação, requerem-se dois, três ou quatro milagres, conforme a qualificação das testemunhas que os referem (cf. cân. 2117); no caso dos mártires, a exigência de milagres pode ser mitigada ou até dispensada (cf. cân. 2116 § 2). Para a canonização, tornam-se indispensáveis dois ou três milagres (segundo circunstâncias variáveis) verificados após a beatificação (cf. cân. 2138). Assim quer a Sta. Igreja assegurar-se de que realmente Deus falou ao mundo pela conduta de vida de tal ou tal justo. 

Fonte: www.cleofas.com.br

Pax Christi
Diogo Pitta

terça-feira, 26 de abril de 2011

Vocação de São Mateus

São Mateus
E, depois disto, saiu Jesus, e viu sentado no telônio um publicano, chamado Levi, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantando-se, O seguiu. E Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa, onde concorreu grande número de publicanos e de outros que estavam sentados à mesa com eles.

E os fariseus e os escribas murmuravam dizendo aos discípulos de Jesus: Por que comeis e bebeis vós com os publicanos e com os pecadores? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar os justos, mas os pecadores à penitência. (Lc. 5, 27-32)

Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino na Catena Aurea

Santo Agostinho  –– Depois da cura do paralítico, o Evangelista segue falando da conversão do publicano, dizendo: "E depois disto saiu e viu um publicano, chamado Levi que estava sentado no telônio". São Mateus é esse Levi.

São Cirilo –– Levi era, pois, publicano, homem avarento, desenfreado no que diz respeito às coisas supérfluas, que apetecia o alheio (este é, pois, o oficio dos publicanos); mas dos escritórios da malícia é arrancado pelo chamado de Cristo; de onde segue: "E disse-lhe: Segue-me".

Santo Ambrósio  –– Manda que o siga, não com o movimento do corpo, mas com o afeto da alma. E assim chamado ele por meio da palavra, abandona o que era próprio, aquele que antes tomava o alheio. De onde prossegue: "E levantando-se, deixou todas as suas coisas e o seguiu".

São João Crisóstomo  –– No que se pode ver o poder daquele que chama e a obediência do que é chamado. E não resistiu, nem sequer vacilou, mas imediatamente obedeceu; e não quis sequer voltar à sua casa para contar à sua família o que sucedia. .

São Basílio –– E não só abandonou a arrecadação dos impostos, mas tampouco menosprezou os perigos que podiam vir ao seu encontro, tanto a ele como à sua família, por não prestar em devida forma as contas da arrecadação.

São João Crisóstomo –– O Senhor honrou o chamado de Levi, aceitando imediatamente o convite que este lhe fez; isto lhe inspirava mais confiança. Pelo que segue: "E lhe fez Levi um grande banquete em sua casa".

E não estava só com Ele, mas havia muitos outros mais. Pelo que segue: E assistiu a ele um grande número de publicanos e de outros que estavam com eles à mesa".

Tinham vindo os publicanos à casa de Levi para ver seu companheiro e a um homem de sua mesma classe, mas Levi, gloriando-se da presença de Jesus Cristo os convidou a todos para comer.

Jesus Cristo empregava todo o gênero de meios para obter a salvação dos homens; e assim não só disputava, e curava as enfermidades, mas também repreendia aos que tinham inveja; e mesmo quando estava comendo, corrigia também os erros de alguém; ensinando-nos assim que qualquer ocupação e qualquer tempo pode ser-nos útil.

Não evitou a companhia dos publicanos, pela utilidade que se seguiria; como um médico que não curaria a enfermidade se não tocasse a chaga.

(Respondendo à acusação dos fariseus) o mesmo Senhor fez voltar o argumento contra eles, manifestando que não era pecado tratar com os pecadores, mas sim conforme a misericórdia, de onde prossegue: "E Jesus lhes respondeu, e lhes disse: Os sãos não necessitam de médico e sim os enfermos". No que lhe adverte que eles também pertencem ao número dos paralíticos; mas que Ele é o verdadeiro médico. E prossegue:

"Eu não vim para chamar os justos à penitência e sim os pecadores". Como que dizendo: Não detesto os pecadores, porque só vim para o bem deles; não para que continuem pecando, mas para que se convertam e se tornem bons.

Comentários do Padre Luís Cláudio Fillion

Depois deste grande milagre (a cura do paralítico de Cafarnaum) dirigiu-se Jesus para a margem do lago. Ali também se aglomerou a multidão de novo, e depois de distribuir-lhe o pão da divina palavra, prosseguiu seu passeio pela margem.

Vendo então sentado em seu escritório de cobrador de impostos o publicano Levi, filho de Alfeu, mais conhecido no Evangelho com o nome de Mateus, lhe disse: Segue-me, chamando-o assim para ser seu discípulo.

Não era a primeira vez que se conheciam; a obediência, pois, imediata e generosa de Levi se explica por si mesma. E ainda que sua conversão tivesse sido obra de um só instante, o fato psicológico estaria de acordo perfeito com o poder admirável de atração que Jesus exercia nos corações.

Pouco depois, este publicano, chamado à dignidade de Apóstolo e evangelista, deu em honra de seu novo mestre um banquete solene ao qual convidou seus antigos colegas e amigos.

Ocasião esta que foi bem oportuna para manifestarem os fariseus sua animosidade contra Jesus. Sem ousar dirigir-se a Ele em pessoa, os fariseus, castigados por suas respostas arrasadoras, perguntaram aos discípulos que estavam presentes ao banquete: 'Por que vosso mestre come e bebe com publicanos e pecadores?'Entre os judeus de então, publicanos e pecadores eram sinônimos.

O Salvador, que havia ouvido a pergunta insidiosa e pérfida de seus adversários, se encarregou de responder-lhes por si mesmo. 'Não são os que estão bem de saúde, e sim os enfermos os que necessitam de médico'. Ide e meditai o que significa esta palavra: Quero a misericórdia e não o sacrifício. 'Pois não vim chamar os justos e sim os pecadores'.


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Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Senõr Jesucristo según los Evangelios, Editorial Difusión, Tucumán, 1859, pp. 125-126.

Fonte: http://grandessantos.blogspot.com
PAX CHRISTI
Diogo Pitta

domingo, 24 de abril de 2011

São Fidélis (Fiel) de Sigmaringa, Mártir (+1622), 24 de Abril



São Fidélis nasceu em 1577, em Sigmaringa, na Alemanha. Estudou na Universidade de Fribourg, na Suíça. Formou-se em Direito e, por vários anos, exerceu o seu ofício em Colmar, na Alsácia. Ali era chamado de "o advogado dos pobres", porque prestava os seus serviços gratuitamente a quem não podia pagar. 
Aos 34 anos, ingressou no convento dos Capuchinhos de Fribourg e, em 1612, tornou-se frade. A pedido de Gregório XV, foi enviado à Récia (Suíça), a fim de combater a heresia *calvinista. Acusado de espionagem ao serviço do imperador austríaco, os calvinistas tramaram a sua morte, que ocorreu em Grusch. 
Dizem que, ferido por um golpe de espada, pôs-se de joelhos e perdoou aos seus assassinos, rezando por eles esta oração: "Senhor, perdoai meus inimigos. Cegos pela paixão, não sabem o que fazem. Senhor Jesus, tende piedade de mim. Santa Maria, Mãe de Jesus, assisti-me. Amém". 

*calvinista: Quem seguia, praticava a doutrina de João Calvino, o calvinismo. Maiores detalhes em: http://www.unificado.com.br/calendario/05/calvino.htm


Fontes:

sábado, 23 de abril de 2011

Porque Maria nos é necessária.


- Foi só Maria quem encontrou graça diante de Deus, para Si, e para cada homem em particular. Os patriarcas e os profetas, todos os santos da Antiga Lei não puderam encontrar esta graça.

- Foi Ela que deu o ser e a vida ao Autor de toda graça, e, por causa disso, Ela é chamada a Mãe da graça, Mater Gratiae.

- Deus Pai, de Quem todo dom perfeito e toda graça desce como de sua fonte essencial, dando-Lhe Seu Filho, deu-Lhe todas as Suas graças; de sorte que, como diz São Bernardo, a vontade de Deus Lhe foi dada nEle e com Ele.

- Deus A escolheu para ser a tesoureira, a ecônoma e a dispensadora de todas as Suas graças; de modo que todas Suas graças e todos Seus dons passam por Suas mãos; e, conforme o poder que Ela recebeu dEle, segundo São Bernardino, Ela dá a quem Ela quer, como Ela quer, quando Ela quer e tanto quanto Ela quer, as graças do Pai Eterno, as virtudes de Jesus Cristo e os dons do Espírito Santo.

- Assim como, na ordem natural, é preciso que uma criança tenha um pai e uma mãe, do mesmo modo, na ordem da graça, é necessário que um verdadeiro filho da Igreja tenha Deus por pai e Maria por mãe; e, se ele se gloria de ter Deus por pai, não tendo o carinho de um verdadeiro filho por Maria, é um farsante que não tem senão o demônio por pai.

- Uma vez que Maria formou o Chefe dos predestinados, que é Jesus Cristo, cabe a Ela também formar os membros deste Chefe, que são os verdadeiros cristãos: pois uma mãe não forma o chefe sem os membros, nem os membros sem o chefe. Quem deseje, portanto, ser membro de Jesus Cristo, pleno de graça e de verdade, deve ser formado em Maria por meio da graça de Jesus Cristo, que reside nEla em plenitude, para ser comunicada em plenitude aos verdadeiros membros de Jesus Cristo e a Seus verdadeiros filhos.

- O Espírito Santo tendo desposado Maria, e tendo produzido nEla, e por Ela, e dEla, Jesus Cristo, esta obra-prima, o Verbo Encarnado, como Ele nunca A repudiou, Ele continua a produzir todos os dias nEla e por Ela, de uma maneira misteriosa, mas verdadeira, os predestinados.

- Maria recebeu de Deus uma dominação particular sobre as almas para as nutrir e fazer crescer em Deus. Santo Agostinho diz mesmo que, neste mundo, os predestinados estão todos contidos no seio de Maria, e que eles não vêm à luz senão quando esta boa Mãe os faz nascer para a vida eterna. Em conseqüência, como a criança tira todo seu alimento de sua mãe, que o dá proporcionado à sua fraqueza, da mesma forma os predestinados tiram toda sua nutrição espiritual e toda sua força de Maria.

9º - Foi a Maria que Deus Pai disse: In Jacob inhabita: Minha Filha, habita em Jacó, quer dizer, nos Meus predestinados figurados por Jacó. Foi a Maria que Deus Filho disse: In Israel haereditare: Minha querida Mãe, tende Vossa herança em Israel, ou seja, nos predestinados. Enfim, foi a Maria que o Espírito Santo disse: In electis meis mitte radices: Lançai, minha fiel Esposa, raízes nos Meus eleitos. Qualquer um que seja, portanto, eleito e predestinado tem a Santíssima Virgem habitando em sua casa, quer dizer, em sua alma, e ele A deixa introduzir nela as raízes de uma profunda humildade, de uma ardente caridade e de todas as virtudes.

10º - Maria é chamada por Santo Agostinho, e é, com efeito, o molde vivo de Deus, forma Dei, quer dizer, somente nEla Deus feito homem foi formado ao natural, sem que Lhe falte nenhum traço da Divindade, e é também nEla somente que o homem pode ser formado em Deus ao natural, tanto quanto a natureza humana é capaz, pela graça de Jesus Cristo.

Fonte: http://catolicostradicionais.blogspot.com
PAX CHRISTI
Diogo Pitta