Em
raríssimas ocasiões, o bandido tem mais credibilidade do que a vítima; e uma
dessas raras ocasiões, é quando o larápio torna-se réu confesso, e simplesmente
escancara, para quem quiser constatar, a sua verdadeira face, dizendo por suas
próprias palavras, quais são as suas pretensões. No caso do Foro de São Paulo, entidade
que aos ouvidos moucos trata-se apenas de uma entidade mitológica, oriunda das
profundezas da fertilíssima imaginação da direita, isso não poderia ser mais
patente. Em 2005, o então presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva,
brindou-nos com um de seus quase inexistentes momentos de honestidade, e falou,
em pronunciamento que foi veiculado no site oficial do governo, sobre o Foro de
São Paulo e sobre as suas suspeitíssimas intenções. Tal pronunciamento, mereceu
um artigo cuja autoria é do Filósofo Olavo de Carvalho. Tais comentários foram
tecidos sob efusivos agradecimentos do Professor Olavo, aos serviços de
auto-delação prestados pelo “barba”. Este artigo pode ser lido no site do Olavo
de Carvalho, sob o título sugestivo de “Réu confesso”.
O Foro de
São Paulo conseguiu a proeza de manter-se sob as penumbras da mídia “rabo-preso”
durante 16 anos! Uma organização que mobiliza chefes de estado, delegações
inteiras, envolve uma organização colossal, consegue ser imperceptível à grande
mídia, o que faz com que quando alguém como o autor destas linhas, denuncie a
existência dessa organização, seja alcunhado de “lunático” e adepto das “teorias
da conspiração”. Nos últimos anos, tornou-se quase impossível esconder a existência
do Foro de São Paulo, graças, em primeiro lugar, à atividade incansável de
intelectuais de escol como o professor Olavo de Carvalho, a Graça Salgueiro, o
Heitor de Paola; e em segundo lugar, pela relação intrínseca entre os países da
América Latina componentes do Foro; a maneira como se sustentam mutuamente, e
pelos pronunciamentos “auto-delatores” dos respectivos presidentes, cuja ascensão
ao poder é obra do Foro de São Paulo, como no caso do Presidente da Venezuela,
Nicolás Maduro.
Portanto, é
um gozo indizível quando algum “braço” do Foro de São Paulo, como no caso
citado acima do Lula, nos dá a graça de explicar-nos pessoalmente o que é o
Foro de São Paulo, e quais as suas reais intenções. Segue abaixo uma carta, que
aqui a interpreto como uma “aula” sobre o Foro de São Paulo, proferida pela
boca de quem participou como organização fundadora do Foro de São Paulo: as
FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, organização de
comuno-narco-terroristas da Colômbia, com células em toda a América Latina, e
que recentemente, sob o manto de negociações de paz, está sendo erigida pelo
presidente da Colômbia, Juan Manoel Santos, à categoria de partido político.
Esta carta
foi redigida pelas lideranças das FARC, pela ocasião do XIII Foro de São Paulo,
realizado em El salvador, e foi publicada pelo PRAVDA.ru, que é o jornal do
partido comunista da Rússia.
Com a
palavra, as FARC:
“Mesa Diretora, Companheiros Delegados e Companheiras Delegadas ao XIII
Foro. San Salvador, El Salvador. Recebam nossa carinhosa e bolivariana
saudação, muitos êxitos em suas deliberações.
Ao não podermos nos fazer presentes em tão importante evento, lhes
entregamos este documento com nossos pontos de vista e agradecemos de antemão o
fato de tê-lo em conta nas deliberações.
Queridos companheiros.
Em 1990 já se via vir abaixo o campo socialista, todas as suas
estruturas fraquejavam como castelo de cartas, os inimigos do socialismo
festejavam a mais não poder, se cunhavam teorias como a do fim da história,
muitos revolucionários no mundo observavam atônitos e sem conhecer o que havia
falhado para que ocorresse semelhante catástrofe.
A utopia se dissipava, a desesperança se apoderou de muitíssimos
dirigentes que haviam dedicado toda sua vida à luta por conquistar um mundo
melhor, idealizando-o com o modelo de socialismo desenvolvido da União
Soviética.
Ao derrubar-se esse modelo, para muitos se acabou a motivação de luta e
só ficamos uns poucos sonhadores que nos mantivemos e seguimos mantendo na
teoria, na política e na realidade de novas expressões de socialismo, o que
potenciou a decisão de luta e acelerou o crescimento e fortalecimento desse
contingente de sonhadores que vê nessa luta por um mundo melhor algo realmente
possível.
Na Ásia: China, Vietnam e Coréia do Norte tremulavam suas bandeiras
socialistas sem dar espaço ao derrotismo e sem escutar os cantos de sereia para
que abandonassem o sistema que se lhe opunha ao capitalismo.
Na América: Cuba ficou só, navegando na crise mais profunda que tocou
viver a país algum, com seu comércio que alcançou níveis de queda que não
poucos acreditavam impossível de reverter dado a brusca mudança nas fontes e
condições de seu comércio exterior. O imperialismo acreditou equivocadamente
que havia chegado o momento de acabar com o socialismo na América, aumentou sua
agressão com o bloqueio econômico, comercial e financeiro, sem importar a vida
de milhões de crianças e anciãos que sofreriam as conseqüências de tão louca
manobra.
É nesse preciso momento que o PT lança a formidável proposta de criar o
Foro de São Paulo, trincheira onde nós pudéssemos encontrar os revolucionários
de diferentes tendências, de diferentes manifestações de luta e de partidos no
governo, concretamente o caso cubano. Essa iniciativa, que encontrou rápida
acolhida, foi uma tábua de salvação e uma esperança de que tudo não estava
perdido. Quanta razão havia, transcorreram 16 anos e o panorama político é hoje
totalmente diferente.
O outrora imperialismo arrogante e prepotente está afundado numa
profunda crise que ninguém sabe quando nem como terminará. As brutais e
ilegítimas agressões contra os povos de Afeganistão, Iraque e Líbano têm
recebido respostas inesperadas e, a cada dia, jogam no desconcerto o governo
norte-americano e seus aliados, que têm tido de carregar com o peso político e
social que significam milhares de mortos e feridos, assim como de uma
previsível derrota. Duras realidades como o déficit fiscal, o déficit na
balança comercial, a queda dos falcões: Rumsfeld, Boltón e Negroponte e a
crescente atitude crítica do povo norte-americano, agudiza ainda mais a crise
dos que sonharam e ainda sonham com o poder mundial, acreditando mortas e
enterradas as forças que se lhes pudessem opor.
Na América Latina, não fazemos mais que descrever, pois todos conhecemos
os processos: Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador, Brasil Uruguai e
Argentina, no total, oito países, se orientam pelo desenvolvimento de modelos
de governo e de sistemas diferentes ao tradicional imposto pelo imperialismo
ianque. Os povos optaram pela mudança, nada os deteve, a ameaça, a chantagem, a
compra de votos, as fraudes milionárias, não foram suficientes para fazer mudar
a opinião de milhões que buscaram e seguem buscando uma nova alternativa.
É no marco deste cenário político que se desenvolveu e se segue
desenvolvendo o Foro de São Paulo. De um partido no governo que inicialmente
fazia parte do Foro, o Partido Comunista Cubano, hoje são oito as forças
governantes que, ademais de ser forças no governo, foram fundadoras deste
importante movimento. Assim as coisas, qualquer pessoa pensaria que o haver
avançado em lutados e esperados objetivos, faria do Foro de São Paulo um
impulsionador da integração da América Latina, num aríete das lutas sociais,
num ente solidário com a luta dos povos, numa força capaz de buscar e propor
soluções políticas a conflitos internos que se apresentam como conseqüência da
iniqüidade, da injustiça e da antidemocracia.
Porém, não é assim, há os que pensam que o fato de ter chegado ao
governo os separa do Foro. Segundo tal e muito respeitável forma de pensar, uma
coisa é ser oposição e outra ser governo, em razão a ter que desenvolver, em
alguns casos, políticas que o Foro não comparte, como a política neoliberal.
Pensam que a nova condição os inibe de participar e querem um Foro menos
dinâmico, que não se faça sentir, que não seja propositivo, que não lute por
objetivos que foram e seguem sendo válidos.
Ante tal situação, outros pensam que se deve acabar o Foro, que o melhor
é dar-lhe enterro de terceira e criar um novo movimento.
Nas FARC cremos que não são corretas as duas apreciações anteriores e,
pelo contrário, pensamos que os partidos que se encontram no Foro e que fazem
parte dos governos têm o espaço, o justo direito e a necessidade de pleitear em
seus países o fortalecimento do movimento tal como foi criado: sem exclusões,
sem imposições e sem dogmatismo. Cremos, além disso, que se deve buscar que
esta organização seja mais funcional, seja um ente catalisador das opiniões dos
povos que sempre estão adiante de seus governantes, porque são os que sentem
como se está exercendo o governo, se é justo, se é pulcro, se é humano, se tem
cumprido com o que prometeu. Ter medo à crítica que possa fazer uma organização
como o Foro de São Paulo é negar sua mesma essência como governo democrático,
amplo e pluralista.
Pensar em criar outra organização atirando pela borda 16 anos de
experiências, de credibilidade, é desperdiçar a oportunidade de converter o Foro
num ente coordenador de diferentes partidos, movimentos e organizações
políticas que, respeitando as diferenças, nos ratificamos na luta contra o
imperialismo, o neoliberalismo, a solidariedade e a integração da América
Latina.
Fazemos um reconhecimento aos companheiros do Grupo de Trabalho pela
iniciativa de ajudar na solução ao conflito social, político e armado que vive
a Colômbia desde há 60 anos, a declaração de Bogotá é, sem dúvida, um documento
muito importante que, com o direito que nos assiste, pedimos seja difundido
entre os assistentes ao Foro.
Na Colômbia há uma intervenção direta do Imperialismo Ianque, na
atualidade há 1.400 oficiais do exército estadunidense dirigindo as operações
do Plano Colômbia, do Plano Patriota e do Plano Victoria. Os Estados Unidos
estão instigando e financiando a guerra com o pretexto do narcotráfico e, para
isso, diariamente se estão gastando 17.5 milhões de dólares para perseguir e
liquidar aos lutadores sociais, revolucionários e bolivarianos.
As fumigações estão acabando com a flora e a fauna da Amazônia, são
milhares de toneladas de Glifosato e Paraqua, igual que os experimentos com o
Fusarium Oxiporun. Que destrói a mata de coca, porém igualmente acaba toda a
flora que tenha no lugar, contamina as bacias hidrográficas, pois os troncos
dos vegetais, ao serem levados pelas águas, causam imensa perda ao sistema
ecológico.
Cremos ser oportuno manifestar nossa inquietação e desagrado pela
posição de alguns companheiros que, em forma e sob responsabilidade pessoal,
publicamente dizem que as FARC não podem participar no Foro, por ser uma
organização alçada em armas. A luta armada não se criou por decreto e tampouco
se acaba por decisão similar, é a expressão de um povo que sofreu a devastação
de sua população em mais de um milhão de pessoas que, nestes 60 anos, foram
assassinadas, é a expressão dos milhares de militantes que foram assassinados
do Partido Comunista e da União Patriótica, é a expressão de milhares de
sindicalistas que foram assassinados nestes últimos anos.
Aos companheiros que pensam que não podemos participar, fraternalmente
os convidamos a que nos acompanhem, não no acionar militar ao que as
circunstâncias nos obrigaram, pois sabemos que não a compartem e respeitamos
seus pontos de vista, os convidamos a participar da busca da solução política
e, para isso, os fazemos partícipes da Plataforma para um Governo de
Reconstrução e Reconciliação Nacional, aprovada por nossa 8ª Conferência
realizada em 1993.
Com esta Plataforma de 12 Pontos convidamos reiteradamente a todos os
setores sociais, econômicos e políticos de nosso país para que nos sentemos e,
entre todos, construamos a Nova Colômbia.
Ao Foro, em seu conjunto, o convidamos a que prossiga em seus
pronunciamentos e acionar pela solução política ao conflito social e armado na
Colômbia, passo importante para alcançar a paz com justiça social pela qual tem
lutado e seguirá lutando nosso povo, ao mesmo tempo que é passo necessário para
impedir que este conflito possa ser utilizado para que o imperialismo tente
ações desestabilizadoras na região.
Seguimos convidando a todos os partidos políticos, organizações sociais,
de estudantes, operários, intelectuais, campesinos, indígenas e a todos os que
estejam contra a injustiça, a buscar uma solução política. Convidamos a que nos
acompanhem na luta pelo Intercâmbio Humanitário, com o que estaremos abrindo as
portas para que centenas de colombianos e colombianas regressem a seus lares
para compartir com seus seres queridos.
COMISSÃO INTERNACIONAL
FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COLÔMBIA
EXÉRCITO DO POVO, FARC-EP
MONTANHAS DE COLÔMBIA, 7 DE JANEIRO DE 2007.”