“Suponhamos que surja em
uma rua grande comoção a respeito de alguma coisa, digamos, um poste de
iluminação a gás, que muitas pessoas influentes desejam derrubar. Um monge de
batina cinza, que é o espírito da Idade Média, começa a fazer algumas
considerações sobre o assunto, dizendo à maneira árida da Escolástica:
“Consideremos primeiro, meus irmãos, o valor da luz. Se a luz for em si mesma
boa…”. Nesta altura, o monge é, compreensivelmente, derrubado. Todo mundo corre
para o poste e o põe abaixo em dez minutos, cumprimentando-se mutuamente pela
praticidade nada medieval. Mas, com o passar do tempo, as coisas não funcionam
tão facilmente. Alguns derrubaram o poste porque queriam a luz elétrica;
outros, porque queriam o ferro do poste; alguns mais, porque queriam a
escuridão, pois seus objetivos eram maus. Alguns se interessavam pouco pelo
poste, outros, muito; alguns agiram porque queriam destruir os equipamentos
municipais. Outros porque queriam destruir alguma coisa. Então, aos poucos e
inevitavelmente, hoje, amanhã, ou depois de amanhã, voltam a perceber que o
monge, afinal, estava certo, e que tudo depende de qual é a filosofia da luz.
Mas o que poderíamos ter discutido sob a lâmpada a gás, agora devemos discutir
no escuro.”
G. K. Chesterton, Hereges, Ed. Ecclesiae
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