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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Raízes da Decadência - Um breve olhar para o Império Romano


Antes de qualquer contestação do que será explicitado neste texto, detenho-me no autor do livro do qual extraí este texto, que ao meu ver, apesar da distância histórica abismal que nos separa, reflete muito bem  algumas questões morais e políticas que acontecem atualmente. A semelhança é assustadora! Este é Henri Daniel Rops, membro da Academia Francesa de Letras (entenda, não é o mesmo que Academia Brasileira de Letras. Nesta, qualquer um torna-se um “imortal”), da qual recebeu um prêmio pela obra a História da Igreja de Cristo, com 11 “volumosos volumes”.  O capítulo do qual foi extraído o texto, fala sobre os motivos que levaram à queda do Grandioso Império Romano. Aquele mesmo, que dominava o mundo no início da era Cristã.  Leia e reflita. Com a palavra, Daniel Rops.

“ Estabelece-se nas grandes cidades, e sobretudo em Roma, uma massa popular mais ou menos ociosa, formada por camponeses desenraizados, trabalhadores autônomos privados de trabalho, escravos libertos e estrangeiros cosmopolitas; um terreno excelente para todas as doenças políticas e para todas as forças de desmoralização. O antigo romano, tão sólido no seu trabalho torna-se o cliente, o parasita a quem a “espórtula” remunera uma fidelidade suspeita. Os imperadores tem de contar com esta plebe lamentável e por isso a rodeiam de atenções. Mas um povo não se habitua à mendicidade e à preguiça, sem que sua alma seja atingida. Em breve a covardia e a crueldade andaram de mãos dadas com o vício, e o vício, como diz a sabedoria popular, é a mão de todos os males. Já não há quem queira combater nas fronteiras, assim como não há quem queira trabalhar a terra. E assim, aquela imensa multidão, para distrair-se, irá procurar nos jogos do circo os prazeres que acabam por degradar a sensibilidade humana.


Mas há algo pior do que esse deslizar da sociedade ruma à inércia mortal; ou melhor, há ainda outro fenômeno, que anda a par deste, proveniente das mesmas causas e sobretudo de enriquecimento excessivo. A sociedade romana foi atingida na fonte viva que alimenta toda a sociedade: A Família está abalada e a natividade decresce. A mãe dos Gracos, tivera doze filhos, mas no século II, serão louvados como uma exceção os pais que tiveram três. Evita-se o casamento; porventura a orbitas, o celibato (veja, não refere-se aqui ao celibato clerical; O Cristianismo ainda era marginalizado nesta data.) não traz ao rico todas as vantagens, assegurando-lhe uma fiel clientela de herdeiros expectantes? E de que poderá o celibato privar o homem, se a escravidão lhe proporciona companheiras mais dóceis que as esposas, podendo-se renova-las à vontade? O Aborto e o abandono de crianças assumem proporções espantosas. (...) Quanto ao divórcio, tornou-se tão corrente que já não se procuravam qualquer apar~encia de justificação: bastava o simples desejo de mudança!
Que se poderia opor a esta força degradante? Os estados tem-se mostrado sempre incapazes de recolocar a moral em suas verdadeiras bases, depois de a terem deixado definhar. Os dirigentes romanos não estão inteiramente conscientes do perigo, mas a sua boa vontade mostra-se irrisória, perante um conjunto de circunstâncias que arrastam a sociedade para a ruína. O exemplo de Augusto é revelador; multiplicou leis de intenção altamente moralizadora com intuito de combater o adultério e o divórcio. Quem as tomou a sério? Nem mesmo os da sua família. Aliás, não tinha sido ele que oficializara a preguiça, fundando a prefeitura de Anona, encarregada de alimentar gratuitamente o povo? (qualquer semelhança com as “Bolsas”, não é coincidência!)
Periodicamente veremos imperadores subsequentes reeditarem essas medidas, o que prova que foram totalmente ineficazes. Os costumes dissolutos de tantos de seus senhores, a resignação altaneira com que um Cláudio ou um Marco Aurélio suportam as suas desgraças conjugais esclarecem a plebe sobre o verdadeiro alcance das medidas legislativas. Nos começos do século III ao tomar posse do consulado, Dion Cássio há de encontrar só em Roma, três mil casos de adultério inscritos no respectivo registro. Pode-se dizer que ainda existe crime quando ele é universal ou quase universal?
Em todos os tempos e em todos os países, a substituição das tendências naturais do homem pela vontade do Estado é sempre um indício de decadência. Um povo está muito doente, quando para viver honestamente e ter filhos, precisa de prêmios ou de regulamentos. “Chegamos a um ponto – dizia já Tito Lívio – que já não podemos suportar nem os nossos vícios, nem os remédios que os poderiam curar”. Quatro séculos mais tarde, um São Jerônimo escreverá: “ São os nosso vícios que tornam os Bárbaros tão fortes!” Já não estava nas mãos do Imperador ou dos seus juristas restituir à sociedade romana ás suas sadias raízes. Tornava-se necessária nada menos que uma mudança radical nos próprios fundamentos da moral e nos seus meios de ação sobre a consciência.

Henri Daniel Rops – A história da Igreja de Cristo – p; 128-129 - Academia Francesa de Letras

Entendamos que quando a Igreja dá a sua palavra em termos de moral social, é por que      foi a única instituição, em 2 mil anos, que viveu e enfrentou situações onde o mundo encontrava-se numa derrocada moral, que arrastava as sociedades para um abismo impensável, e soube reconhecer nas linhas do Evangelho e na sua Sagrada Tradição, a luz que iluminaria os povos, e os arrancaria das areia movediças da morte. 

PAX CHRISTI
Diogo Pitta

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