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domingo, 27 de novembro de 2011

A mensagem de Jesus sobre a dor



A Quaresma é um tempo em que a Cruz de Jesus nos fala como um símbolo vivo do amor misericordioso de Deus. Eleva-se como um feixe de luz no cimo da montanha do Calvário, e os seus raios horizontais esticam-se para abraçar toda a angústia humana. Mostra-nos que aquilo que parece ser o fim da esperança é, na realidade, um novo começo.
Santa Teresa de Lisieux reflecte sobre o sofrimento humano e como este tem sentido para além da nossa capacidade pessoal de o aguentar. “Eu aceito com gratidão os espinhos que estão misturados com as flores”, escreveu ela. Porquê a gratidão? Ela continua, “A minha alegria é lutar incessantemente para dar à luz filhos espirituais. Eu continuo a dizer a Jesus “Por Ti... eu sou feliz porque sofro” (Poesias). Ela está a explicar que a nova vida pode nascer do ventre da nossa tribulação. Assim, a compressão da dor que nos tem agarrados dentro das suas cordas esticadas alarga-se para alcançar os outros nas suas necessidades. A dor pessoal não está fechada em si mesma mas assume poder apostólico.
Teresa declara: “Jesus fez-me compreender que era através do sofrimento que Ele me queria dar as almas”. Ela não diz que os seus desejos apostólicos a levaram a um aumento de dor. Ela diz “Jesus fez-me compreender”. Por outras palavras, a graça iluminou-a para ver que o sofrimento não era simplesmente devastação mas semente com fruto. A aceitação verdadeira daquilo que cada dia continha levou-a a uma “paz tão doce, tão profunda que seria impossível expressar... esta paz interior tem sido a minha herança, e não me abandonou no meio das maiores dificuldades” (História de uma Alma).
Santa Teresinha reflecte sobre o que é que o sofrimento pode fazer por nós no tempo, e também espera uma recompensa eterna que pague aquilo que nós aguentamos. Ela escreve à sua irmã Leónia: “Este pensamento da pequenez da vida dá-me coragem, ajuda-me a aguentar a fadiga da estrada... Jesus foi à nossa frente para nos preparar um lugar na casa do Seu Pai.... vamos esperar... a hora do descanso está a aproximar-se... alegro-me quando vejo quanto Deus te ama e te dá as Suas graças. Ele encontra-te merecedora de sofrer por Seu Amor, e esta é a maior prova de ternura que Ele te pode dar, porque o sofrimento nos faz como Ele” (Carta 173). Ela está a dizer-nos que a adversidade tem o seu trabalho especial a fazer em cada vida humana.
Mas, de que modo é que o sofrimento nos faz como Deus? Para compreender esta parte do mistério, vamos aos evangelhos e vemos como Jesus se relaciona com a aflição. “Depois, começou a percorrer a Galileia... curando entre o povo todas as doenças e enfermidades.... trouxeram-lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam doenças e tormentos, os possessos, os epilépticos e os paralíticos e Ele curou-os” (Mt 4, 23-24). Aqui vemos Deus Encarnado movimentando-se entre nós, revelando o divino amor num coração humano que bate com compaixão por cada membro da multidão que O segue. Os doentes eram curados das suas aflições. No entanto, à sua frente ainda estavam outras aflições — do corpo, da mente e do coração. O seu desaparecimento através do toque de Jesus foi só um alívio temporário porque a vida tinha ainda outras perdas. Teria sido só temporário? O que é que Jesus faz quando toca uma vida humana? O que é que acontece? O que é que é tão bom na Boa Nova?
Nós, cristãos, como os outros filhos do planeta terra, nascemos numa realidade em que será necessário incorporar a dor e a lamentação. Aceitamos isto realmente e rejeitamos qualquer explicação que diz que o nosso sofrimento é uma perda ou está fundamentado numa ilusão. Para descobrir o sentido dos nossos sofrimentos, subimos uma montanha onde o Deus-que-se-fez-homem morre em agonia. Depois desse acontecimento culminante, todo o resto da história humana tem uma nova iluminação — uma luz nascida da escuridão do Calvário. Nós vemos o espantoso espectáculo de um Deus na mais profunda necessidade, lutando em dor. Santa Teresinha descreve a face de Jesus como “luminosa .... no meio de feridas e lágrimas” (Carta 95).
O pecado original foi aceitar a promessa da serpente, “Vós sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal” (Gén. 3,5). E dessa decisão humana veio o sofrimento e a morte. Quem teria imaginado a resposta divina a esta traição, em que Deus abraçaria o castigo verdadeiro imposto pelo pecado: o sofrimento e a morte? Os salmos cantam vezes sem conta a abundante bondade de Deus, o amor de Deus que nunca se cansa. No entanto, nós cristãos cantamos uma misericórdia que não só derrama compaixão mas que entra na experiência da nossa desolação. Nós temos um Deus infinito que quis sentir as nossas limitações, mesmo as mais pequenas.
Jesus não explica a existência humana desde fora. Ele permitiu a Si próprio ser limitado pelas fronteiras da humanidade que Ele partilha connosco. Mas fazendo assim, Ele transforma essas mesmas limitações e enche-as de poder.
Ele olha para nós em qualquer incapacidade de andar que nos esteja a agarrar e a impedir de nos movimentarmos ao seu encontro. As suas palavras ressoam nos nossos ouvidos. “Levanta-te e anda” (Mt 9,5). Com este poder a dar-nos energia, nós sabemos que o caminho diante de nós, sim, neste mesmo dia, com todas as suas dificuldades, nos leva à vida eterna.

Ir. Margaret Dorgan DCM
(Tradução de Antonieta Vigário)
(inhttp://carmelitesofeldridge.org/dorgancurrentr.html)



PAX CHRISTI

Diogo Pitta

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