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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

OPÚSCULO SOBRE O MODO DE APRENDER E DE MEDITAR, Hugo de S. Vitor


Hugo de S. Vitor

OPÚSCULO SOBRE O MODO DE
APRENDER E DE MEDITAR


A humildade é necessária ao que deseja aprender.

A humildade é o princípio do aprendizado, e sobre ela, muita coisa tendo sido escrita, as três seguintes, de modo principal, dizem respeito ao estudante.

A primeira é que não tenha como vil nenhuma ciência e nenhuma escritura.

A segunda é que não se envergonhe de aprender de ninguém.

A terceira é que, quando tiver alcançado a ciência, não despreze aos demais.

Muitos se enganaram por quererem parecer sábios antes do tempo, pois com isto envergonharam-se de aprender dos demais o que ignoravam. Tu, porém meu filho, aprende de todos de boa vontade aquilo que desconheces. Serás mais sábio do que todos, se quiseres aprender de todos. Nenhuma ciência, portanto, tenhas como vil, porque toda ciência é boa. Nenhuma Escritura, ou pelo menos, nenhuma Lei desprezes, se estiver à disposição. Se nada lucrares, também nada terás perdido. Diz, de fato, o Apóstolo: "Omnia legentes, quae bona sunt tenentes" (I Tess 5, 21).

O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio aos cuidados do mundo e às tentações dos prazeres, e solícito em aprender de boa vontade de todos. Nunca presuma de sua ciência;  não queira parecer douto, mas sê-lo; busque os ditos dos sábios, e procure ardentemente ter sempre os seus vultos diante dos olhos da mente, como um espelho.



Três coisas necessárias ao estudante.

Três coisas são necessárias ao estudante: a natureza, o exercício e a disciplina.

Na natureza, que facilmente perceba o que foi ouvido e firmemente retenha o percebido.

No exercício, que cultive o senso natural pelo trabalho e diligência.

Na disciplina, que vivendo louvavelmente, componha os costumes com a ciência.



Prime pelo engenho e pela memória.

Os que se dedicam ao estudo devem primar simultâneamente pelo engenho e pela memória, ambos os quais em todo estudo estão de tal modo unidos entre si que, faltando um, o outro não poderá conduzir ninguém à perfeição, assim como de nada aproveitam os lucros onde faltam os vigilantes, e em vão se fortificam os tesouros quando não se tem o que neles guardar.

O engenho é um certo vigor naturalmente existente na alma, importante em si mesmo.

A memória é a firmíssima percepção das coisas, das palavras, das sentenças e dos significados por parte da alma ou da mente.

O que o engenho encontra, a memória custodia.

O engenho provém da natureza, é auxiliado pelo uso, é embotado pelo trabalho imoderado e aguçado pelo exercício moderado.

A memória é principalmente ajudada e fortificada pelo exercício de reter e de meditar assiduamente.



A leitura e a meditação.

Duas coisas há que exercitam o engenho: a leitura e a meditação.

Na leitura, mediante regras e preceitos, somos instruídos pelas coisas que estão escritas. A leitura é também uma investigação do sentido por uma alma disciplinada.

Há três gêneros de leitura: a do docente, a do discípulo e a do que examina por si mesmo. Dizemos, de fato: "Leio o livro para o discípulo", "leio o livro pelo mestre", ou simplesmente "leio o livro".



A meditação.

A meditação é uma cogitação frequente com conselho, que investiga prudentemente a causa e a origem, o modo e a utilidade de cada coisa.

A meditação toma o seu princípio da leitura, todavia não se realiza por nenhuma das regras ou dos preceitos da leitura. Na meditação, de fato, nos deleitamos discorrendo como que por um espaço aberto, no qual dirigimos a vista para a verdade a ser contemplada, admirando ora esta, ora aquelas causas das coisas, ora também penetrando no que nelas há de profundo, nada deixando de duvidoso ou de obscuro.

O princípio da doutrina, portanto, está na leitura;  a sua consumação, na meditação.

Quem aprender a amá-la com familiaridade e a ela se dedicar frequentemente tornará a vida imensamente agradável e terá na tribulação a maior das consolações.  A meditação é o que mais do que todas as coisas segrega a alma do estrépito dos atos terrenos; pela doçura de sua tranquilidade já nesta vida nos oferece de algum modo um gosto antecipado da eterna; fazendo-nos buscar e inteligir, pelas coisas que foram feitas, àquele que as fez, ensina a alma pela ciência e a aprofunda na alegria, fazendo com que nela encontre o maior dos deleites.



Três gêneros de meditação.

Três são os gêneros de meditação. O primeiro consiste no exame dos costumes, o segundo na indagação dos mandamentos, o terceiro na investigação das obras divinas.

Nos costumes a meditação examina os vícios e as virtudes. Nos mandamentos divinos, os que preceituam, os que prometem, os que ameaçam.

Nas obras de Deus, as em que Ele cria pela potência, as em que modera pela sabedoria, as em que coopera pela graça, as quais todas tanto mais alguém conhecerá o quanto sejam dignas de admiração quanto mais atentamente tiver se habituado em meditar as maravilhas de Deus.



Do confiar à memória aquilo que aprendemos.

A memória custodia, recolhendo-as, as coisas que o engenho investiga e encontra.

Importa que as coisas que dividimos ao aprender as recolhamos confiando-as à memória: recolher é reduzir a uma certa breve e suscinta suma as coisas das quais mais extensamente se escreveu ou se disputou, o que foi chamado pelos antigos de epílogo, isto é, uma breve recapitulação do que foi dito.

A memória do homem se regozija na brevidade, e se se divide em muitas coisas, torna-se menor em cada uma delas.

Devemos, portanto, em todo estudo ou doutrina recolher algo certo e breve, que guardemos na arca da memória, de onde posteriormente, sendo necessário, as possamos retirar. Será também necessário revolvê-las frequentemente chamando-as, para que não envelheçam pela longa interrupção, do ventre da memória ao paladar.



As três visões da alma racional. Diferença entre
  meditação e contemplação.

Três são as visões da alma racional: o pensamento, a meditação e a contemplação.

O pensamento ocorre quando a mente é tocada transitoriamente pela noção das coisas, quando a própria coisa se apresenta subitamente à alma pela sua imagem, seja entrando pelo sentido, seja surgindo da memória.

A meditação é um assíduo e sagaz reconduzir do pensamento em que nos esforçamos por explicar algo obscuro ou procuramos penetrar no que é oculto.

A contemplação é uma visão livre e perspicaz da alma de coisas amplamente esparsas.

Entre a meditação e a contemplação o que parece ser relevante é que a meditação é sempre das coisas ocultas à nossa inteligência; a contemplação, porém é de coisas que segundo a sua natureza ou segundo a nossa capacidade são manifestas;  e que a meditação sempre se ocupa em buscar alguma coisa única, enquanto que a contemplação se estende à compreensão de muitas ou também de todas as coisas.

A meditação é, portanto, um certo vagar curioso da mente, um investigar sagaz do obscuro, um desatar do que é intrincado. A contemplação é aquela vivacidade da inteligência que, possuindo todas as coisas, as abarca em uma visão plenamente manifesta, e isto de tal maneira que aquilo que a meditação busca, a contemplação possui.



Dois gêneros de contemplação.

Há, porém, dois gêneros de contemplação. Um deles, que é o primeiro e que pertence aos principiantes, consiste na consideração das criaturas.  O outro, que é o último e que pertence aos perfeitos, consiste na contemplação do Criador.

No livro dos Provérbios, Salomão principiou como que meditando; no Eclesiastes elevou-se ao primeiro grau da contemplação; finalmente, no Cântico dos Cânticos transportou-se ao supremo.

Para que, portanto, possamos distinguir estas três coisas pelos seus próprios nomes, diremos que a primeira é meditação; a segunda, especulação; a terceira, contemplação.

Na meditação a perturbação das paixões carnais, surgindo importunamente, obscurece a mente inflamada por uma piedosa devoção; na especulação a novidade da insólita visão a levanta à admiração; na contemplação o gosto de uma extraordinária doçura a transforma toda em alegria e contentamento.

Portanto, na meditação temos solicitude; na especulação, admiração; na contemplação, doçura.



Três partes da exposição.

A exposição contém três partes: a letra, o sentido e a sentença. A letra é a correta ordenação das palavras, a qual também chamamos de construção. O sentido é um delineamento simples e adequado que a letra tem diante de si como um primeiro semblante. A sentença é uma mais profunda inteligência, a qual não pode ser encontrada senão pela exposição ou interpretação. Para que uma exposição se torne perfeita requerem-se, nesta ordem, primeiro a letra, depois o sentido e posteriormente a sentença.



Os três gêneros de vaidades.

Três são os gêneros de vaidades. O primeiro é a vaidade da mutabilidade, que está em todas as coisas caducas por sua condição. O segundo é a vaidade da curiosidade ou da cobiça, que está na mente dos homens pelo amor desordenado das coisas transitórias e vãs. O terceiro é a vaidade da mortalidade, que está nos corpos humanos pela penalidade.



As obrigações da eloquência.

Disse Agostinho, famoso por sua eloqüência, e o disse com verdade, que o homem eloqüente deve aprender a falar de tal modo que ensine, que deleite e que submeta. A isto acrescentou que o ensinar pertence à necessidade, o deleitar à suavidade e o submeter à vitória.

Destas três coisas, a que foi colocada em primeiro lugar, isto é, a necessidade de ensinar, é constituída pelas coisas que dizemos, as outras duas pelo modo como as dizemos.

Quem, portanto, se esforça no falar em persuadir o que é bom, não despreze nenhuma destas coisas: ensine, deleite e submeta, orando e agindo para que seja ouvido inteligentemente, de boa vontade e obedientemente. Se assim o fizer, ainda que o assentimento do ouvinte não o siga, se o fizer apropriada e convenientemente, não sem mérito poderá ser dito eloqüente.

O mesmo Agostinho parece ter querido que ao ensino, ao deleite e à submissão também pertençam outras três coisas, ao dizer, de modo semelhante:

"Será eloqüente aquele que puder dizer
 o pequeno com humildade,
 o moderado com moderação,
o grande com elevação".

Quem deseja conhecer e ensinar aprenda, portanto, quanto há para se ensinar e adquira a faculdade de dizê-las como convém a um homem de Igreja. Quem, na verdade, querendo ensinar, às vezes não é entendido, não julgue ainda ter dito o que deseja àquele a quem quer ensinar, porque, mesmo que tenha dito o que ele próprio entendeu, ainda não foi considerado como tendo-o dito àquele por quem não foi entendido. Se, porém, foi entendido, de qualquer modo que o tenha dito, o disse.

Deve, portanto, o doutor das divinas Escrituras ser defensor da reta fé, debelador do erro, e ensinar o bem; e neste trabalho de pregação conciliar os adversos, levantar os indolentes, declarar aos ignorantes o que devem agir e o que devem esperar. Onde tiver encontrado, ou ele próprio os tiver feito, homens benévolos, atentos e dóceis, há de completar o restante conforme a causa o exija. Se os que ouvem devem ser ensinados, seja-o feito por meio de narração; se, todavia, necessitar que aquilo de que trata seja claramente conhecido, para que as coisas que são duvidosas se tornem certas, raciocine através dos documentos utilizados.



                        Hugo de São Vitor

                                               (1096-1141)

   


Texto disponível para Download no site de
Introdução ao Cristianismo segundo a obra de
 Santo Tomás de Aquino e Hugo de S. Vitor



sábado, 9 de janeiro de 2016

A Benção da cerveja

 

Sinceramente, não gosto de cerveja. Prefiro um bom vinho à cerveja. Porém, gosto menos ainda do puritanismo pérfido, fruto de infiltração protestante, que só faz deturpar aquilo que é realmente a mensagem da Igreja: a salvação das almas. E as almas não se perdem por beberem cerveja, pois beber cerveja, ou qualquer outro tipo de bebida a base de álcool, não é pecado. O Pecado está em fazer o mau uso da bebida, assim como o pecado não está em comer, mas fazer mal uso da comida. 

Para seu governo, sr. puritano, pasme, os monges são pioneiros na fabricação de cervejas, vinhos e whisky. 

Prova de que a Igreja nada tem contra a ingestão moderada e racional de bebidas a base de alcool, é que há uma fórmula específica, autorizada pelo Sagrado Magistério, para abençoar cervejas.

Se beber bebida alcoólica fosse pecado, Nosso Senhor não teria transformado água em vinho, mas em Ki-suco.


Ei-la, reze-a antes de beber e seja moderado. 


V. Adjutorium nostrum in nomine Domini.
R. Qui fecit caelum et terram.

V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.

Oremus.

Bene+dic, Domine, creaturam istam cerevisae, quam ex adipe frumenti producere dignatus es: ut sit remedium salutare humano generi: et praesta per invocationem nominis tui sancti, ut, quicumque ex ea biberint, sanitatem corporis, et animae tutelam percipiant. Per Christum Dominum nostrum. Amen.


Na tradução do latim:

V. Nosso socorro está no nome do Senhor.
R. Quem fez o céu ea terra.

V. Deus te abençoe.
R. E também com você.

Oremos.

Abençoa, + ó Senhor, esta criatura cerveja, que Tu se dignou a produzir a partir da gordura do grão: a de que ele pode ser um remédio salutar para a raça humana, e concede através da invocação do Teu santo nome, para que, quem beber de que pode obter a saúde do corpo e da proteção da alma. Através de Cristo, nosso Senhor. Amém.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Um Jardim que vai contra a maré: o documentário sobre Olavo de Carvalho




O polêmico Olavo de Carvalho – por suas obras e opiniões em redes sociais – será o personagem de um documentário lançado pelo cineasta Josias Teófilo. De acordo com a produção do filme, a obra cinematográfica “se propõe como um estudo poético sobre o personagem cada vez mais conhecido e estudado no Brasil, porém sempre à distância, através dos seus escritos ou pela internet, já que ele mora atualmente nos Estados Unidos. Dirigido por Josias Teófilo, jornalista e cineasta recifense radicado em Brasília, o filme terá entrevistas de Wagner Carelli, também jornalista e criador das revistas Bravo! e República. Além disso, o filme contará com a produção de Ana Garcia, e assistência de direção e produção de Matheus Bazzo”.

Olavo de Carvalho é intelectual brasileiro que possui milhares de admiradores e alunos, mas também é alvo de inúmeros críticos e detratores, geralmente ligados ao campo do pensamento ideológico de esquerda. O Jardim das Aflições – que leva o nome de uma das principais obras de Carvalho – “retratará o cotidiano do filósofo na sua casa em Colonial Heights, estado da Virgínia (EUA), onde reside atualmente, captando a atmosfera de trabalho intelectual, convívio familiar e, principalmente, o seu pensamento filosófico no que concerne à autonomia da consciência individual em oposição à tirania da coletividade”.

O CadaMinuto PRess conversou com Josias Teófilo sobre o filme que “se diferencia da maior parte da produção cinematográfica brasileira pela forma com que será viabilizado: sem um centavo de dinheiro público (o que seria incompatível com o pensamento de Olavo de Carvalho, que fez todos os seus livros e cursos de forma independente do estado), financiado através de uma rede de colaboradores, que serão também difusores do projeto. No site (ojardimdasaflicoes.com.br), os interessados podem cadastrar o seu email e colaborar financeiramente com o projeto”. Confira.

Como surgiu a ideia de um documentário sobre Olavo de Carvalho?

Surgiu de uma necessidade que eu sentia de ver documentários voltados para questões internas ou até mesmo espirituais, e não só para questões sociais ou de identidade cultural ou sexual, que são os temas predominantes do cinema documentário brasileiro. Nesse sentido, vi o pensamento de Olavo de Carvalho como um ótimo tema para um filme, que mostrasse ao mesmo tempo o cotidiano e o seu trabalho filosófico.

 Como o senhor definiria o pensamento de Olavo de Carvalho?

Taí uma tarefa difícil: definir o pensamento de Olavo. Mas eu vou tentar: em um dos cursos não-publicados de Olavo de Carvalho fala da pretenção de juntar jornalismo e metafísica. É algo absolutamente inusitado, mas ele de fato consegue isso. Quando eu fazia meu mestrado em Filosofia, expliquei para um amiga que não conseguia deixar a vida acadêmica porque gostava dos estudos aprofundados, e ao mesmo tempo não conseguia deixar o jornalismo porque gostava de tratar da atualidade. Olavo não faz essa divisão, ele estuda a realidade como um todo.

 Alguns admiradores da obra de Olavo de Carvalho costumam colocar – ao menos já li alguns artigos neste sentido – que é preciso separar o Olavo de Carvalho que fala de política e mais especificamente do Partido dos Trabalhadores, em vídeos e redes sociais, daquele que tem uma obra muito mais densa e rica. O senhor concorda que é preciso fazer separações para entender o pensamento de Olavo de Carvalho?

Eu gostaria de pensar sobre outro ponto de vista: Olavo é um dos poucos pensadores que eu conheço que consegue pegar um fato atual, inclusive um fato político, e dali extrair uma discussão filosófica elevadíssima. É isso que ele faz no livro O Jardim das Aflições, e é isso que pretendemos que ele faça no filme homônimo. No livro ele pega um palestra de José Américo Mota Pessanha, e a partir desse elemento extrai toda uma lição sobre a história do ocidente, a partir da tentativa de restauração do Império Romano. É uma construção intelectual admirável. Se algum dia Francisco Razzo fizerem algo parecido, eu faço um filme sobre ele também.

 Poucos escritores, no Brasil, são tão odiados, pela patrulha, quanto o professor Olavo de Carvalho. Todavia, é um pensador quem sido sucesso no mercado editorial. De certa forma, o trabalho que você desenvolve visa apresentar ideias de Carvalho que vão para além do campo político. Como o senhor enxerga a importância deste trabalho que se propôs a realizar?

A importância está em revelar Olavo de Carvalho numa obra que capte a unidade do seu pensamento, mesmo que seja de forma introdutória, e a realidade em que ele vive – tão desconhecida do público brasileiro, até mesmo dos seus admiradores. O filme pode também popularizar o seu trabalho para um público mais amplo, que não o conhecia ou que tinha inúmeros preconceitos criados nas redes sociais em torno do seu nome.

Olavo de Carvalho possui uma obra vasta com estudo que envolve vários nomes da filosofia, como Aristóteles, Maquiavel e até – mais recentemente Descartes. Por que a escolha do documentário se deu em torno de O Jardim das Aflições? É a maior obra de Olavo de Carvalho em sua visão?

É sim a maior obra dele em nossa visão, e na visão dele também. O nome veio de um paralelo estrutural entre o livro e o filme, e esse paralelo está naquilo que Bruno Tolentino notou no livro: ele se parece com uma sinfonia de Sibelius, com temas que se repetem em forma de espiral. O filme se estrutura dessa forma, mimetizando o livro. Mas o filme não tratará exclusivamente dos temas incluídos no livro, mas de muitos outros.

 Como o senhor avalia o êxito de O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota no mercado editorial brasileiro?

O livro é o resultado de um bom trabalho editorial, um nome bem pensado para causar impacto, e mostra o quanto o público brasileiro é ávido de uma obra que o ajude a entender o Brasil atual. Eu acho que Olavo de Carvalho é o grande pensador para entender o Brasil atual, assim como Gilberto Freyre foi o grande pensador para entender o Brasil do passado.

 Muitos creditam a Olavo de Carvalho o “agrupamento” de uma “nova direita” no país. O senhor também enxerga assim?

 Não digo o agrupamento, mas ele trouxe uma série de autores que oxigenaram o pensamento brasileiro, e um dos resultados disso é o surgimento de uma "nova direita", que na verdade nem reconhece, em parte, o trabalho que ele fez, o que é lamentável. Mas não há a menor dúvida que Olavo é qualitativamente a pessoa mais influente do pensamento de oposição no Brasil – e é lido por muita gente que nem admite lê-lo ou o cita publicamente.

Um ponto interessante da obra de Olavo de Carvalho é o quanto ele remete a fontes primárias do que analisa e nos apresenta (ou em alguns casos resgata) outros pensadores como Eric Voegelin, Victor Frankl, dentre outros. Por qual razão estas obras ainda não fazem parte dos cursos de filosofia do país?

Porque o estudo universitário no Brasil foi instrumentalizado pela esquerda marxista, a tal ponto que a maioria dos professores e alunos nem conhecerem esses autores. Ele próprio disse ontem – eu estou aqui na Virgínia filmando o documentário sobre Olavo – que os autores que leu a partir dos 30 anos de idade não são conhecidos por ninguém no Brasil. Seria preciso ler durante 20 anos uma bibliografia para estudar seriamente o pensamento de Olavo.

 O senhor já vem sofrendo algum tipo de patrulha em função do documentário?

Sim, já pediram boicote às pessoas que trabalham no meu filme, outros disseram que meu filme "não deveria existir", outros deixaram de falar comigo ou me excluíram do Facebook. Mas isso tudo é bobagem,

 Falamos muito sobre o documentário, que é o eixo central da entrevista, mas permita-me fazer uma pergunta em relação ao mercado editorial. Como o senhor está vendo estas recentes publicações – como no caso da Record, por exemplo, que está traduzindo obras de Roger Scruton – que começam a acordar para o pensamento que existe fora da esquerda?

Vejo com muito entusiasmo, porque fica claro que existe um imenso público para essas obras. As pessoas querem oxigenar-se com conhecimento autêntico, fora da jaula que nos colocaram nas universidades. Não é porque pouco se fala no meio acadêmico e na mídia de Roger Scrutor, Eric Voegelin, Louis Lavelle, que não exista interesse autêntico por eles. E o interesse foi criado a partir do meio cultural inteiramente novo criado por Olavo de Carvalho. É esse público também que vai mais avidamente ver o meu filme e está pagando por ele através do crowdfunding que nos trouxe à Virgínia com uma equipe excepcional.

Estou no twitter: @lulavilar