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domingo, 3 de janeiro de 2016

Um Jardim que vai contra a maré: o documentário sobre Olavo de Carvalho




O polêmico Olavo de Carvalho – por suas obras e opiniões em redes sociais – será o personagem de um documentário lançado pelo cineasta Josias Teófilo. De acordo com a produção do filme, a obra cinematográfica “se propõe como um estudo poético sobre o personagem cada vez mais conhecido e estudado no Brasil, porém sempre à distância, através dos seus escritos ou pela internet, já que ele mora atualmente nos Estados Unidos. Dirigido por Josias Teófilo, jornalista e cineasta recifense radicado em Brasília, o filme terá entrevistas de Wagner Carelli, também jornalista e criador das revistas Bravo! e República. Além disso, o filme contará com a produção de Ana Garcia, e assistência de direção e produção de Matheus Bazzo”.

Olavo de Carvalho é intelectual brasileiro que possui milhares de admiradores e alunos, mas também é alvo de inúmeros críticos e detratores, geralmente ligados ao campo do pensamento ideológico de esquerda. O Jardim das Aflições – que leva o nome de uma das principais obras de Carvalho – “retratará o cotidiano do filósofo na sua casa em Colonial Heights, estado da Virgínia (EUA), onde reside atualmente, captando a atmosfera de trabalho intelectual, convívio familiar e, principalmente, o seu pensamento filosófico no que concerne à autonomia da consciência individual em oposição à tirania da coletividade”.

O CadaMinuto PRess conversou com Josias Teófilo sobre o filme que “se diferencia da maior parte da produção cinematográfica brasileira pela forma com que será viabilizado: sem um centavo de dinheiro público (o que seria incompatível com o pensamento de Olavo de Carvalho, que fez todos os seus livros e cursos de forma independente do estado), financiado através de uma rede de colaboradores, que serão também difusores do projeto. No site (ojardimdasaflicoes.com.br), os interessados podem cadastrar o seu email e colaborar financeiramente com o projeto”. Confira.

Como surgiu a ideia de um documentário sobre Olavo de Carvalho?

Surgiu de uma necessidade que eu sentia de ver documentários voltados para questões internas ou até mesmo espirituais, e não só para questões sociais ou de identidade cultural ou sexual, que são os temas predominantes do cinema documentário brasileiro. Nesse sentido, vi o pensamento de Olavo de Carvalho como um ótimo tema para um filme, que mostrasse ao mesmo tempo o cotidiano e o seu trabalho filosófico.

 Como o senhor definiria o pensamento de Olavo de Carvalho?

Taí uma tarefa difícil: definir o pensamento de Olavo. Mas eu vou tentar: em um dos cursos não-publicados de Olavo de Carvalho fala da pretenção de juntar jornalismo e metafísica. É algo absolutamente inusitado, mas ele de fato consegue isso. Quando eu fazia meu mestrado em Filosofia, expliquei para um amiga que não conseguia deixar a vida acadêmica porque gostava dos estudos aprofundados, e ao mesmo tempo não conseguia deixar o jornalismo porque gostava de tratar da atualidade. Olavo não faz essa divisão, ele estuda a realidade como um todo.

 Alguns admiradores da obra de Olavo de Carvalho costumam colocar – ao menos já li alguns artigos neste sentido – que é preciso separar o Olavo de Carvalho que fala de política e mais especificamente do Partido dos Trabalhadores, em vídeos e redes sociais, daquele que tem uma obra muito mais densa e rica. O senhor concorda que é preciso fazer separações para entender o pensamento de Olavo de Carvalho?

Eu gostaria de pensar sobre outro ponto de vista: Olavo é um dos poucos pensadores que eu conheço que consegue pegar um fato atual, inclusive um fato político, e dali extrair uma discussão filosófica elevadíssima. É isso que ele faz no livro O Jardim das Aflições, e é isso que pretendemos que ele faça no filme homônimo. No livro ele pega um palestra de José Américo Mota Pessanha, e a partir desse elemento extrai toda uma lição sobre a história do ocidente, a partir da tentativa de restauração do Império Romano. É uma construção intelectual admirável. Se algum dia Francisco Razzo fizerem algo parecido, eu faço um filme sobre ele também.

 Poucos escritores, no Brasil, são tão odiados, pela patrulha, quanto o professor Olavo de Carvalho. Todavia, é um pensador quem sido sucesso no mercado editorial. De certa forma, o trabalho que você desenvolve visa apresentar ideias de Carvalho que vão para além do campo político. Como o senhor enxerga a importância deste trabalho que se propôs a realizar?

A importância está em revelar Olavo de Carvalho numa obra que capte a unidade do seu pensamento, mesmo que seja de forma introdutória, e a realidade em que ele vive – tão desconhecida do público brasileiro, até mesmo dos seus admiradores. O filme pode também popularizar o seu trabalho para um público mais amplo, que não o conhecia ou que tinha inúmeros preconceitos criados nas redes sociais em torno do seu nome.

Olavo de Carvalho possui uma obra vasta com estudo que envolve vários nomes da filosofia, como Aristóteles, Maquiavel e até – mais recentemente Descartes. Por que a escolha do documentário se deu em torno de O Jardim das Aflições? É a maior obra de Olavo de Carvalho em sua visão?

É sim a maior obra dele em nossa visão, e na visão dele também. O nome veio de um paralelo estrutural entre o livro e o filme, e esse paralelo está naquilo que Bruno Tolentino notou no livro: ele se parece com uma sinfonia de Sibelius, com temas que se repetem em forma de espiral. O filme se estrutura dessa forma, mimetizando o livro. Mas o filme não tratará exclusivamente dos temas incluídos no livro, mas de muitos outros.

 Como o senhor avalia o êxito de O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota no mercado editorial brasileiro?

O livro é o resultado de um bom trabalho editorial, um nome bem pensado para causar impacto, e mostra o quanto o público brasileiro é ávido de uma obra que o ajude a entender o Brasil atual. Eu acho que Olavo de Carvalho é o grande pensador para entender o Brasil atual, assim como Gilberto Freyre foi o grande pensador para entender o Brasil do passado.

 Muitos creditam a Olavo de Carvalho o “agrupamento” de uma “nova direita” no país. O senhor também enxerga assim?

 Não digo o agrupamento, mas ele trouxe uma série de autores que oxigenaram o pensamento brasileiro, e um dos resultados disso é o surgimento de uma "nova direita", que na verdade nem reconhece, em parte, o trabalho que ele fez, o que é lamentável. Mas não há a menor dúvida que Olavo é qualitativamente a pessoa mais influente do pensamento de oposição no Brasil – e é lido por muita gente que nem admite lê-lo ou o cita publicamente.

Um ponto interessante da obra de Olavo de Carvalho é o quanto ele remete a fontes primárias do que analisa e nos apresenta (ou em alguns casos resgata) outros pensadores como Eric Voegelin, Victor Frankl, dentre outros. Por qual razão estas obras ainda não fazem parte dos cursos de filosofia do país?

Porque o estudo universitário no Brasil foi instrumentalizado pela esquerda marxista, a tal ponto que a maioria dos professores e alunos nem conhecerem esses autores. Ele próprio disse ontem – eu estou aqui na Virgínia filmando o documentário sobre Olavo – que os autores que leu a partir dos 30 anos de idade não são conhecidos por ninguém no Brasil. Seria preciso ler durante 20 anos uma bibliografia para estudar seriamente o pensamento de Olavo.

 O senhor já vem sofrendo algum tipo de patrulha em função do documentário?

Sim, já pediram boicote às pessoas que trabalham no meu filme, outros disseram que meu filme "não deveria existir", outros deixaram de falar comigo ou me excluíram do Facebook. Mas isso tudo é bobagem,

 Falamos muito sobre o documentário, que é o eixo central da entrevista, mas permita-me fazer uma pergunta em relação ao mercado editorial. Como o senhor está vendo estas recentes publicações – como no caso da Record, por exemplo, que está traduzindo obras de Roger Scruton – que começam a acordar para o pensamento que existe fora da esquerda?

Vejo com muito entusiasmo, porque fica claro que existe um imenso público para essas obras. As pessoas querem oxigenar-se com conhecimento autêntico, fora da jaula que nos colocaram nas universidades. Não é porque pouco se fala no meio acadêmico e na mídia de Roger Scrutor, Eric Voegelin, Louis Lavelle, que não exista interesse autêntico por eles. E o interesse foi criado a partir do meio cultural inteiramente novo criado por Olavo de Carvalho. É esse público também que vai mais avidamente ver o meu filme e está pagando por ele através do crowdfunding que nos trouxe à Virgínia com uma equipe excepcional.

Estou no twitter: @lulavilar

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