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terça-feira, 28 de junho de 2011

Santo Irineu de Lião, Bispo da Igreja.


Sempre que medito sobre a vida e as obras dos Santos Padres dos primeiros séculos do Cristianismo, visualizo um caminho pronto, já construído e bem alicerçado que me leva a Cristo, livre das heresias e dos enganos que constantemente nos são apresentados. No dia de hoje, a Igreja celebra Santo Irineu de Lião.
Santo Irineu de Lião nasceu na Ásia Menor, provavelmente em Esmirna (hoje Izmir, na Turquia) por volta do ano 135-140, e sua obra antignosticista influenciou o pensamento católico do século XX. Filho de gregos passou a infância e a juventude em Esmirna, onde foi discípulo de São Policarpo, Bispo de Esmirna. Numa de suas obras, refere-se  a São Policarpo:
“O que eu aprendi enquanto criança, cresceu com minha alma e se fez um com ela, de tal modo que eu posso dizer o lugar onde se assentava o bem-aventurado Policarpo para falar, como ele entrava e saía, seu modod de viver, seu aspecto físico, os diálogos que mantinha com a multidão como relatava sua relação com João (que viu o Senhor), e com os outros que viram o Senhor, como ele recordava o que ouvira das coisas acerca do Senhor, de seus milagres, de seus ensinamentos; como Policarpo, depois de ter recebido tudo isto de testemunhas oculares da vida do Verbo, relatava-o de acordo com as Escrituras” ( Adv. Her. 20,6)
De origem grega e pré-nissênico, após atuar como missionário no sul da Gália, foi escolhido bispo de Lyon, Lugdunum (175), destacando-se como mediador das controvérsias religiosas entre a igreja oriental e a ocidental, durante os papados de Eleutério e Vítor (175-199). Ele se aproximou dos bispos das outras comunidades cristãs para o triunfo da concórdia e da unidade, sobretudo exortando que se mantivessem ancorados na tradição apostólica para combater o racionalismo gnóstico e aconselhou ao Papa Vítor, respeitosamente a não excomungar as Igrejas da Ásia que não queriam celebrar a Páscoa na mesma data das outras comunidades cristãs. Discípulo de São Policarpo, o santo que havia conhecido pessoalmente o apóstolo São João e outras testemunhas oculares de Jesus, tornou-se o escritor cristão mais importante do século II.

São Gregório de Tours e São Jerônimo o enumeram como mártir, de forma tardia, o que faz com que a Igreja reconheça sua honra como mártir. Porém, não há provas cabais que permitam constatar ou negar tal possibilidade.
Sua principal obra é um conjunto de cinco livros escritos em grego com tradução latina Adversus haereses (Contra os hereges), porém de seus escritos só restam intactos os cinco livros Contra os hereges, nos quais demonstrou ser um teólogo equilibrado e também um dos pastores mais completos que serviram a Igreja de seu tempo. Chegou a Lião (178), para suceder o nonagenário bispo e mártir, São Flotino, e governou a Igreja de Lião até a morte e é celebrado no Ocidente em 28 de junho e no Oriente em 23 de agosto.
Este longo e apologético estudo é a mais antiga discussão sobre as heresias de que se tem memória. Ele teve aceitação muito grande e sucesso tal que conseguiu estabelecer bases mortais para o gnosticismo e critérios para o fazer teológico.

1.                 Demonstração da Pregação apostólica: Esta obra visa apresentar e justificar o ensinamento dos Apóstolos. Não deixa de ser uma catequese para os adultos.
2.                Carta a Flotino; Foi também discípulo de São Policarpo e Sacerdote da Igreja de Roma, porém, à época de envio da carta, Flotino já havia abandonado a fé pelo gnosticismo.

A Igreja do século II estava ameaçada pela chamada gnose, uma doutrina que afirmava que a fé ensinada na Igreja seria apenas um simbolismo para os simples, que não são capazes de compreender coisas difíceis; ao contrário, os idosos, os intelectuais chamavam-se gnósticos teriam compreendido o que está por detrás destes símbolos, e assim teriam formado um cristianismo elitista, intelectualista.
Radicando-se firmemente na doutrina bíblica da criação, Santo Ireneu contesta o dualismo e o pessimismo gnóstico que diminuíam as realidades corpóreas. Ele reivindicava decididamente a santidade originária da matéria, do corpo, da carne, não menos que a do espírito. Mas a sua obra vai muito mais além da confutação da heresia: pode-se dizer de facto que ele se apresenta como o primeiro grande teólogo da Igreja, que criou a teologia sistemática; ele mesmo fala do sistema da teologia, isto é, da coerência interna de toda a fé. No centro da sua doutrina situa-se a questão da "regra da fé" e da sua transmissão. Para Ireneu a "regra da fé" coincide na prática com o Credo dos Apóstolos, e dá-nos a chave para interpretar o Evangelho, para interpretar o Credo à luz do Evangelho. O símbolo apostólico, que é uma espécie de síntese do Evangelho, ajuda-nos a compreender o que significa, como devemos ler o próprio Evangelho.
Num trecho da introdução da obra Adversus Heareses, ele mostra como agem os hereges:
“Alguns, ao rejeitar a verdade, apresentam discursos mentirosos e genealogias sem fim, as quais favorecem mais as discussões do que a construção do edifício de Deus que se realiza na fé, no dizer do Apóstolo e,  por súbdola aparência de verdade, seduzem a mente dos inexpertos e escravizam-nos, falsificando as palavras do Senhor, tornando-se maus intérpretes do que foi corretamente expresso. Sob pretexto de gnose afastam muitos daquele que criou e pôs em ordem este universo, como se pudessem apresentar alguma coisa mais elevada e maior daquele Deus que fez o céu e a terra e tudo o que eles encerram. Ardilosamente, pela arte das palavras, induzem os mais simples a pesquisas e omitindo até as aparências da verdade, levam à ruína, tornando-os ímpios e blasfemos contra o seu Criador, os que são incapazes de discernir o falso do verdadeiro.” (Adv. Heareses Livro I)
Em particular sempre polemizando com o carácter "secreto" da tradição gnóstica, e observando os seus numerosos êxitos entre si contraditórios Ireneu preocupa-se por ilustrar o conceito genuíno de Tradição apostólica:
“A Igreja disseminada por todo o mundo, até aos confins da terra, recebeu dos apóstolos e dos seus discípulos a fé num só Deus, Pai todo-poderoso, que “fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto contém” (Ex 20, 11; Act 4, 24); num só Cristo Jesus, Filho de Deus, que encarnou pela nossa salvação; e no Espírito Santo que, através dos profetas, anunciou os desígnios de Deus e a vinda do bem-amado Jesus Cristo nosso Senhor, o seu nascimento da Virgem, a sua Paixão, a sua ressurreição de entre os mortos, a sua ascensão em corpo e alma aos céus, na glória do Pai, para “sujeitar todas as coisas “ (Ef 1, 22) e ressuscitar a carne de todo o género humano – a fim de que, diante de Cristo Nosso Senhor, nosso Deus, nosso Salvador e nosso Rei, segundo os desígnios do Pai invisível, “todo o joelho se dobre nos céus, na terra e nos infernos, e toda a língua O confesse” (Fil 2, 10-11) e de que Ele julgue com justiça todas as criaturas. […]
Esta pregação que a Igreja recebeu, esta fé, é guardada com cuidado, como se a Igreja habitasse uma só casa; embora disseminada por todo o mundo, acredita em tudo isto de forma idêntica em toda a parte, como se tivesse “um só coração e uma só alma” (Act 4, 32); prega, ensina e transmite esta mensagem com voz humana, como se tivesse uma só boca. As línguas que se falam no mundo são diversas, mas a força da tradição é uma e a mesma. As Igrejas estabelecidas na Germânia não crêem nem ensinam coisas diferentes das dos Iberos ou dos Celtas, ou das do Oriente, do Egipto ou da Líbia, nem das que foram fundadas no centro do mundo [a Terra Santa]. Assim como o sol, criatura de Deus, é único e o mesmo em todo o mundo, assim a pregação da verdade brilha em toda a parte, iluminando todos os homens que querem “conhecer a verdade” (1 Tim 2, 4).”( Adv Heareses I, 10, 1-2)
Aprendamos com os Santos Padres da Igreja!

PAX CHRISTI
Diogo Pitta

Referências:
1.                 Introdução à Patrística. Dom Fernando Antônio Figueiredo – Editora Vozes – 2009
2.                 Riquezas da Igreja. Professor Felipe Aquino – Editora Canção Nova – 2008
3.                 Audiência Geral /2007 – Papa Bento XVI - http://www.vatican.va
4.                 Liturgia das Horas. .Do Tratado de Santo Ireneu, bispo, «Contra as heresias» (Livro 4, 20, 5-7: SC 100, 640-642.644-648) (Sec. II)

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