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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Onde está Deus?


O momento mais terrível da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, deve ter sido no instante em que no tormento extremo da Cruz, gritou em alta voz; “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?” É uma frase de um salmo, na qual, Israel sofredor, maltratado e insultado por causa de sua fé, brada perante Deus seu sofrimento. Mas esse grito de oração de um povo para qual a sua eleição, a sua parceria com Deus se tornou uma maldição, recebe todo o seu terror apenas na boca daquele que é a proximidade salvadora de Deus entre os homens.


Se ele se tem por abandonado por Deus, onde ainda se poderá achar Deus? Não é isso verdadeiramente o eclipse do Sol da história, no qual apagou-se a luz do mundo? Mas hoje o eco desse grito ressoa mil vezes multiplicado nos nossos ouvidos: o inferno dos campos de concentração, das frentes de batalha da luta de guerrilha, dos quarteirões de famintos e desesperados: Onde está Deus? Por que pudeste criar tal mundo? Por que podes ficar vendo como, muitas vezes, precisamente as tuas criaturas mais inocentes sofrem de modo mais terrível, são levadas como ovelhas para o matadouro, não podendo abrir a boca?

A antiga pergunta de Jó adquiriu uma insistência como dificilmente chegou a atingir antes. É verdade que por vezes toma um tom bastante exagerado, dando no fundo uma satisfação má; Assim, quando os jornais de estudantes de todas as partes copiam arrogantemente o que lhes foi pregado: que num mundo que teve de aprender os nomes Auscwitz e Vietnã, não se pode mais falar seriamente do Bom Deus! Mas os tons falsos, que demasiadamente frequentes, não eliminam a legitimidade da questão – na nossa hora da história todos parecemos transportados verdadeiramente àquele ponto na Paixão de Jesus, no qual ela se torna o brado de socorro ao Pai; “Meu Deus, Meus Deus, por que me abandonastes?”

Que dizer a isso? No fundo, é uma pergunta a que não se pode responder com palavras e argumentos, por que atinge uma profundidade que o intelecto só e a palavra pronunciada por ele não podem alcançar: O fracasso dos amigos de Jó é o destino necessário de todos que aqui, positiva ou negativamente, com pensamentos e palavras eruditas, creem poder resolver a questão. Ela só pode ser suportada, sofrida, com Jesus, perto de Jesus que sofreu por todos nós e conosco! Pensar arrogantemente que ela esteja liquidada – seja no sentido das revistas de estudantes, seja no sentido da Apologética  Teológica – só pode conduzir a um desvio do ponto central. 

Joseph Ratzinger - Dogma e Anúncio, Editora Loyola - p. 284-285

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

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