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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

São Brás, Bispo e Mártir (?-315)

     São Brás era de Sebaste, na Armênia. Tinha estudado medicina na juventude; sua ciência o tinha tornado conhecido bem além de sua cidade natal mas, mais ainda, suas virtudes. Era piedoso até o fervor, humilde e casto;  era sobretudo caridoso, doce e compassivo para com os pobres de Jesus Cristo. E assim, quando o trono episcopal da cidade se tornou vago, a escolha unânime caiu sobre ele, como sendo o mais digno e o mais capaz de deirigir o povo cristão nos tempos difíceis de então.
     Com efeito, Galério era o imperador: Galério significava a tirania mais infame e  cruel, e um ódio feroz da fé cristâ. Quando Brás se tornou bispo, os fiéis tremiam, pois estavam expostos coninuamente aos suplícios e à morte. Porém, dois anos depois Galério foi atingido por uma doença  atroz e, no meio dos sofrimentos , diante da morte iminente, ele se esforçou em acalmar a vingança divina publicando um edito de pacificação (311). Logo depois se tomava conhecimento da vitória de Constantino contra Maxêncio, vitória sob a égide da bandeira ornada da cruz, e uma paz respeitosa era oferecida ao cristinanismo. Todos os corações se alegraram. Mas depois o mestre do Oriente, Licínio, aliado, cunhado do vencedor -  que antes estava de acordo com Constantino em favorecer os cristãos – entrava em guerra contra ele e, em ódio de seu rival mais que do que por causa da política, recomeçava a perseguição nos seus estados (314).
     Lícínio enviou à Armênia, como governador, um homem muito mau chamado Agricolaüs, que empregava todo o seu zelo para satisfazer a crueldade de seu mestre. Ora, o santo bispo Brás, ou porque tinha seguido a sua inclinação para a solidão, ou porque, para cumprir o preceito divino, achou que era seu dever tentar a fuga diante do carrasco, tinha se retirado a uma caverna do monte Argéia; esta montanha, de quase 4.000 metros de altura, coroada por neve perpétua, se eleva ao sul do rio Hélis e domina o vale de Cesaréia. Lá, conta a legenda, sua doçura amestrava até as feras selvagens. Um dia, no ano de 316, o governador, porque se aproximavam os jogos públicos, enviou caçadores à montanha a fim de capturar animais ferozes. Estes encontraram Brás na caverna em oração. Transmitiram então a novidade a Agricolaüs, que deu-lhes imediatamente ordem de busca. Quando os agentes do governo disseram ao bispo: “O governador te procura. _ Vamos então, caros filhos, em nome do Senhor, respondeu ele sorrindo, pois Ele quis se lembrar de mim. Esta noite, pela terceira vez, Ele se mostrou a mim, dizendo: ’Brás, levanta-te e oferece o sacrifício de costume’. Os senhores portanto me anunciam uma boa-nova”.
     Na longa estrada que separa o monte Argéia de Sebaste, grupos de fiéis e também de pagãos vieram ao encontro do santo homem. Ofereciam-lhe meninos para que ele os abençoasse, também doentes lhe eram apresentados. Com sua amabilidade habitual, fazia sobre uns o sinal da cruz, invocava sobre outros o socorro divino que os curava, e todos saíam cheios de gratidão e admiração. Uma mãe acorreu em lágrimas, trazendo seu filho que se sufocava por causa de uma espinha de peixe engolida com a comida. Ela se lançou aos pés de Brás, gemendo e suplicando em favor desse filho único, seu único amor. E Brás, comovido, pôs a mão sobre a garganta do menino, fêz o sinal da cruz, invocando o nome do Senhor Jesus, e a espinha acabou sendo expelida pelo menino, o que lhe devolveu a saúde.
     Chegando a Sebaste, o confessor foi levado a Agricolaüs; e este, fingindo primeiro ser benevolente: 
     _ Saúde e alegria, Brás, amigo dos deuses.
    _ Saúde e alegria a ti também, excelente governador. Mas eu não posso ser amigo dos deuses; se fôsse assim, eu acabaria queimando junto com eles nas chamas eternas.
      Logo Agricolaüs mudou de tom; furioso, mandou açoitar Brás com varas e depois encerrá-lo no calabouço, mas isto não lhe provocou a mínima queixa. No dia seguinte, segundo interrogatório:
     _ Brás – reclamou o governador –  escolha a adoração dos deuses, tornando-se assim nosso amigo, ou então sofrerás os piores suplícios.
      _ Os vossos deuses não passam de vãos simulacros, de madeira, de pedra, de metal. Eu não os adoro e não tenho medo de nenhuma das tuas torturas: elas me conduzirão à vida eterna. Desta vez Agricolaüs o fêz suspender no cavalete e rasgar sua pele com pentes de ferro. Impassível, amável, mas firme, o bispo encontrava ainda a força de ironizar:
     _ Eis aí o que eu desejava há muito tempo: minha alma se eleva acima da terra e meu corpo a segue nesta ascensão; estou perto do Céu e desprezo tudo o que é da terra.
     Vencido, o governador deu ordem de reconduzí-lo ao calabouço.
     Entretanto, enquanto ia, sete mulheres cristâs se aproximaram do cortejo sangrento; recolhiam com reverência nas mãos, em panos, as gotas de sangue que corriam das chagas. Molhavam suas faces com este sangue, e se exortavam umas às outras a sofrer a mesma morte. Os agentes do governo prenderam-nas e as conduziram ao tribunal. E como Agricolaüs as exortava a sacrificar:
     _ Leva-nos ao lago, junto com os deuses; nós nos purificaremos antes de oferecer o incenso.  
     Assim o fizeram. Mas quando elas tiveram diante se si os ídolos, elas os precipitaram no fundo da água. O  juiz quase enlouqueceu de raiva.  Mas as valentes mulheres zombavam:
     _ Se os vossos deuses não pudessem ser enganados, eles teriam previsto este afogamento!
     Encolerizado, o juiz as condenou à morte.
     Elas caminhavam em direção do lugar do suplício, e uma delas, era seguida por dois meninos pequenos.
     _ Mamãe, porque a senhora nos deixa, indo receber a coroa? Pelo menos nos confie ao santo mártir Brás, para que cheguemos com esse pai ao Paraíso, já que não podemos chegar com nossa mãe.
     Chegados à beira do lago, pediram tempo para rezar; agradecendo a Deus por lhes ter dado a fé, imploravam: ”Recebei, Senhor, nossas almas, que nós entregamos em vossas mãos pelos méritos e intercessão do vosso servidor Brás, que foi o primeiro a nos conduzir ao conhecimento da tua verdade e à confissão do teu nome. E fazei que estes dois meninos se consolem com o vosso santo mártir e com ele alcancem a vossa misericórdia, ò Cristo nosso Deus, que com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais por todos os séculos dos séculos”.” Amém”, disseram os meninos. E todas foram decapitadas às margens do riacho. Os pequenos orfãos, gloriosos, voltaram para junto do santo bispo, que os adotou, e não deveria mais lhes deixar.
     Foi com eles, jovens e valentes minstros do último sacrifício, que ele compareceu pela terceira vez diante do seu juiz. Às ameaças, respondia:   
     _ Cristo, meu Mestre, disse: ‘Não temais aqueles que matam o corpo, mas que não podem matar a alma’ . Aquele a quem sirvo, o Deus do Céu, pode, se quiser, tirar meu corpo das vossas mãos.
     _  Como teu Cristo te salvará, se eu te jogar no lago?
     _ Tolo! Invocais os demônios nas necessidades e esperais a sua ajuda, e eu que adoro o verdadeiro Deus, deveria eu duvidar do seu poder e do seu socorro? Ele andou sobre as áaguas; e fez também Pedro marchar sobre elas. O que ele concedeu ao seu apóstolo, ele pode conceder ao seu pequeno servidor que sou eu. 
     Levaram-no então ás margens do lago. Ele fêz sobre ele o sinal da cruz e avançou com intrepidez em direção da água; e esta, como se estivesse endurecida como gêlo, permitiu que ele marchasse sobre ela até o meio do lago.
     _ Venham! – disse ele se essentando sobre a água - Se existe alguém entre os senhores que tenha esta confiança nos vossos deuses! 
     E alguns realmente tentaram o mesmo, mas afundaram.
     Espantado, mas também endurecido no coração, Agricolaüs condenou o santo a ser degolado, junto com os seus dois caros pequenos companheiros. As três cabeças caíram debaixo dos muros de Sebaste; uma senhora piedosa, Elisa, recolheu os corpos e os sepultou devotamente no lugar do suplício.

(Extraído de René Moreau  S.J., Saints et Saintes de Dieu, tomo I).

PAX CHRISTI
Diogo Pitta

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