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terça-feira, 3 de abril de 2012

A identidade da Liturgia na Era dos Mártires


    O período que chamamos de Era apostólica foi um dos principais momentos da Igreja, sobretudo pela incessante busca pela unidade, tratava-se portanto, de um novo tempo, onde não estavam mais presentes aqui, algum daqueles que poderiam dizer “Eu vi o Mestre”.

   Trata-se de um 2º período da vida litúrgica da Igreja Católica, um momento em que a Igreja primitiva na medida em que se espalha pelo mundo para Anunciar a Boa Nova da salvação em Jesus Cristo vai se penetrando progressivamente no mundo greco-latino. As comunidades cristãs se afirmam em sua originalidade, já não se preocupam mais em ir a sinagogas não apenas pela perseguição, mas principalmente pela sua própria originalidade. Vale lembrar também que pouco antes deste período, entre os anos 70 e 140 d.C, houve uma grande multiplicação de seitas gnósticas e, por consequência, o surgimento do sincretismo religioso.

    O cristianismo nascente encontrou no gnosticismo um perigoso inimigo que, no interior de suas próprias comunidades, ameaçava e muito a verdadeira identidade cristã.     
        
    Contudo, no decorrer das primeiras décadas deste período, a Igreja não aparece como uma realidade sociológica capaz de levantar certo tipo de problema e preocupação por parte do Império Romano. No entanto, muito cedo, o modo de vida das primeiras comunidades cristãs começam a atrair a atenção dos movimentos pagãos, causando uma repulsa por parte desses movimentos e das pessoas que assim viviam. A causa dessa reação hostil é, sem dúvida, o enfrentamento aberto com a religião dominante, a romana. Além disso, esse ambiente de hostilidade é alimentado pelo judaísmo da diáspora, que não pode perdoar aos judeus-cristãos sua apostasia da antiga fé.

    Já nos séculos II e III a Igreja nascente passa a estruturar-se interna e externamente, e é neste sentido, que surgem os primeiros textos que sugerem orientações litúrgicas, sobretudo na administração dos sacramentos do Batismo e da Eucaristia.

    No entanto, é a partir do século III que temos talvez a maior e melhor fonte deste tempo a respeito de conhecimento litúrgico com Santo Hipólito de Roma. Foi através dele e de sua defesa da fé católica transmitida pelos apóstolos no seu mais famoso escrito, conhecido como “Tradição Apostólica”, texto este que possibilita perceber a conservação da liturgia da época apostólica.

   Hipólito desenvolve seu texto apoiado na instituição catecumenal para que pudesse haver uma importante ação evangelizadora e principalmente para acolher os novos convertidos e as novas comunidades cristãs de uma melhor maneira. Percebe-se, portanto, uma preocupação que já vinha presente no Novo Testamento. Na entrada no catecumenato, por exemplo, é feito um exame de admissão e triagem dos candidatos, que devem ter um “fiador” (padrinho) cristão reconhecido e este padrinho deve, portanto, ter responsabilidades diante de Deus e da Igreja por este recém convertido, cabendo a ele (o padrinho ) “dar testemunho deles, informando se estão preparados para ouvir a Palavra”.

   Após esta iniciação, segundo Hipólito relata, o catecúmeno deveria começar seu período propriamente catequético, onde  “os catecúmenos devem escutar a Palavra por três anos” . Este período poderia ser encurtado caso algum destes catecúmenos fosse considerado dedicado e atencioso. Concluída esta fase, o catecúmeno estaria pronto para ser batizado, onde mais uma vez o padrinho se apresenta e procura-se saber da vida este catecúmeno e de suas ações no catecumenato, visto que durante este tempo o catecúmeno obteve uma conduta configurada a sua conversão a Cristo, logo ele receberá do Bispo o batismo.

           Os escritos de Hipólito são de grande base para estudarmos a vida litúrgica nos tempos dos mártires. Ele desdobra-se sobretudo na liturgia Eucarística da Igreja primitiva, onde se percebe claramente o zelo e o amor da Igreja primitiva pela Santa Eucaristia. Vale lembrar ainda que o próprio santo Hipólito foi martirizado em Roma  pelo imperador Maximino supostamente junto com o Papa Fabiano, o que demonstra também a sua reconciliação com a Igreja depois de um período de divergências.

          A liturgia no tempo dos mártires é prova viva da fidelidade e da unidade da Igreja Católica nos tempos de perseguição, onde esta se manteve una e fiel alicerçada pelos Santos Sacramentos.


Pax Christi

Diogo Pitta

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