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domingo, 3 de maio de 2015

Padre Garrigou Lagrange: O Rosário Escola de contemplação,

Traduzido por Diogo Pitta
Trecho da obra "La Madre del Salvador y nuestra vida interior" de Réginald Garrigou Lagrange, O.P.


Entre as formas habituais de Devoção Mariana, como o Angelus, o ofício da Santíssima Virgem e o Rosário, só falaremos especialmente desta última, pois nos conduz e dispõe à contemplação dos grandes mistérios da Salvação.

É, depois do Santo Sacrifício da Missa, uma das mais belas e eficazes orações, com a condição de entendê-la bem e viver verdadeiramente dela.

Acontece frequentemente que o terço, uma das partes do Rosário completo, tem se convertido numa oração mecânica, durante a qual o espírito é vítima das distrações, ao não ocupar-se das coisas divinas; oração, no mais das vezes, precipitada e sem espírito, pela qual se pedem os bens materiais sem nenhuma relação com os espirituais, com a santificação e com a salvação.

Então, ao ouvir recitar assim de uma maneira demasiado mecânica e negligente, pergunta-se: O que resta, desta oração, feita desta maneira, dos ensinamentos contidos nas grandes e numerosas encíclicas de Leão XIII sobre o Rosário, encíclicas  estas que recordava Pio XI numa de suas ultimas letras apostólicas pouco antes de sua morte? Pode-se fazer, desde já, uma boa oração, pensando confusamente na bondade de Deus e na Graça que se pede, mas para ao que vulgarmente chamamos de Rosário, sua alma e sua vida tem-se que recordar que não é mais uma das três partes do Rosário, e que deve ir acompanhado da meditação nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, que nos recordam toda a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, e a de Sua Santíssima Mãe e a subida de ambos aos Céus.

Os três grandes mistérios da salvação

Os quinze mistérios do Rosário, divididos em três grupos não são outra coisa que os diversos aspectos dos três grandes mistérios da Salvação: o da Encarnação, o da Redenção e o da Vida Eterna.

O Mistério da Encarnação recorda-nos os gozos da Anunciação, da visitação, da Natividade do Senhor, sua apresentação no templo, e seu encontro no meio dos doutores na sinagoga.

O mistério da Redenção está representado pelos diversos momentos da Paixão de Jesus: a agonia no Horto do Getsémani, a flagelação, a coroação de espinhos, o caminho ao Calvário com a Cruz às costas, e a crucifixão.

O mistério da Vida Eterna nos é recordado pela Ressurreição, a ascenção, Pentecostes, a Assunção de Maria Santíssima e sua coroação no Céu.

Todo o Credo passa, pois, diante de nossos olhos, não de uma maneira abstrata, com fórmulas dogmáticas, mas de uma maneira concreta na vida de Cristo, que desceu até nós, e subiu à seu Pai para conduzir-nos a Ele. É todo o dogma cristão, em toda a sua profundidade e esplendor, para que possamos desta maneira e todos os dias, compreendê-lo, saboreá-lo e alimentarmos nossa alma com ele.

Por isso, o Rosário é uma escola de contemplação, pois nos eleva pouco a pouco acima da oração vocal e da meditação fundamentada em discursos. Os teólogos antigos compararam esta ascensão da contemplação ao movimento em espiral. Este movimento em espiral é também como um caminho que serpenteia uma alta montanha para fazer-se uma subida mais fácil. Os mistérios gozosos da infância do salvador conduzem à sua Paixão, e sua Paixão ao Céu. É pois, uma oração muito elevada, se a entende bem, pois põe ante nossos olhos todo o dogma de maneira acessível a todos.

É também muito prática, porque nos recorda toda a moral e a espiritualidade cristã, contempladas desde o alto, por meio da imitação de Jesus Redentor e de Maria Medianeira, que são nossos grandes modelos.

Estes mistérios devem reproduzir-se em nossa vida na medida exigida para cada um de nós pela Divina Providência. Cada um deles nos recorda uma virtude, sobretudo a humildade, a confiança, a paciência e a caridade. Pode-se até dizer que existem três momentos em nossa viajem até Deus: contemplamos primeiro o fim último, daí nasce o desejo da Salvação e a alegria que o acompanha; isto é o que contemplamos nos mistérios gloriosos, a Boa nova da Encarnação do filho de Deus que nos abra o caminho da Salvação.

Devemos logo procurar meios, muitas vezes penosos e dolorosos, para a libertação do pecado e a conquista do Céu. Insistem sobre esse ponto os mistérios dolorosos.

Descansamos, finalmente, no ultimo fim a conquistar, na Vida eterna, cujo prelúdio deve estar presente. Contemplamos isto antecipadamente nos mistérios Gloriosos.

O Rosário é muito prático, pois nos toma do meio de nossas alegrias demasiado humanas e às vezes perigosas, para fazer-nos pensar naquelas outras muito mais elevadas da Vinda do Salvador. Nos toma também do meio de nossas dores irracionais e com frequência exaustivas e quase sempre mal suportados, para recoradarmos que Jesus sofreu muito mais que nós e para aprender a segui-lo levando a Cruz que a providência Divina elegeu para purificar-nos. O Rosário, finalmente, nos torna em meio às nossas esperanças demasiado terrenas, para fazer-nos pensar no verdadeiro objeto da esperança cristã, na Vida Eterna e na Graças necessárias para chegar a ela, por meio do cumprimento dos grandes do amor a Deus e ao próximo.

LAGRANGE, Reginald Garrigou, "La Madre del Salvador y nuestra vida interior", p. 260-263

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