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sábado, 18 de julho de 2015

O deliqüente espancado, a capa ideológica e a Prudência.


A prudência é a virtude mais necessária à vida humana, pois viver bem consiste em agir bem. Ora, para agir bem é preciso não só fazer alguma coisa, mas fazê-lo também do modo certo, ou seja, por uma escolha correta e não por impulso ou paixão. Como a escolha visa aos meios para se conseguir um fim, para ser correta exigem-se duas coisas: o fim devido (debitum finem) e os meios adequados a esse fim … Quanto aos meios adequados a esse fim, importa que o homem esteja diretamente disposto pelo habitus da razão, porque aconselhar e escolher, que são ações relacionadas com os meios, são atos da razão. É necessário, pois, haver na razão alguma virtude intelectual que a aperfeiçoe, para que proceda com acerto em relação aos meios. Essa virtude é a prudência, virtude portanto necessária para bem viver." Suma Teológica P I-II,q.57

Santo Tomás de Aquino expõe-nos os princípios metafísicos da Prudência, uma das nobilíssimas virtudes cardeais, como sendo princípios necessários para bem escolhermos os meios adequados para obtermos êxito em determinado fim. 

Até que ponto, nossas escolhas estão ou não eivadas das mais inflamadas paixões? Nossas capacidades de retamente julgar nas ocasiões que nos exigem uma ação mais concreta e enfática podem estar obnubiladas pelas paixões?

Sim, pode. Aristóteles, na sua "Ética a Nicômaco",  ao falar da Temperança, fala da subordinação que as faculdades Racionais devem exercer sobre as faculdades irascíveis.

Notadamente, há na humanidade um desequilíbrio nestas duas faculdades, que quando em harmonia, nos auxiliam no "escolher retamente" os meios para melhor realizarmos as mais simples operações cotidianas.

O cristianismo tem uma reposta para este desequilíbrio entre razão e ira: o Pecado Original. Antes da queda de Adão e Eva por instigação da serpente maldita, o Homem (ha - Adam), era dotado de dons magníficos, dons preternaturais, e dentre estes, estava o reinado do dom da Integridade, dom este que lhes conferia absoluta harmonia entre a razão e os apetites sensitivos. (Gen 3,15)

Caídos nossos primeiros pais, a humanidade não mais conteve o mais breve e discreto vento de ira sobra a sua alma, e arderam-se de ódio uns contra os outros, e isto é absolutamente constatável pelo primeiro Fratricídio da História: O assassinato de Abel, pelas mãos de Caim. 

Podemos também agir com prudência, quando ao olharmos os fatos do passado, os pomos em paralelo com os acontecimentos hodiernos, para daí auferirmos algo, mesmo que breve, do futuro. Não se trata absolutamente de adivinhação ou vidência sensacionalista, mas previsões baseadas em evidências postas em acareação. 

Pois bem. Há alguns dias, fui surpreendido, ainda pela manhã, com a audaciosa e desonesta capa do jornal EXTRA, onde era noticiada a delapidação de um delinqüente que ao ser abordado assaltando um estabelecimento comercial, foi espancado até a morte, por uma população enfurecida. 

Por ser considerado "de direita", algumas pessoas julgam-me coadunante com aquela barbárie, o que de fato não o sou. Antes de ser de "direita" ou "conservador" - como o queiram -ou cristão! 

Sinceramente, assusta-me a possibilidade de que diante da mais ínfima acusação de ter incorrido nos crimes comuns da delinqüência, mesmo que na realidade não tenha cometido crime algum, um cidadão, um indigente ou mesmo um delinquente ipso facto, seja espancado até a morte!

Quero deixar claro que não sou adepto do protecionismo atávico com o qual a Esquerda presenteia a bandidagem, tampouco debulho-me em lágrimas quando algum traficante, utilizando a linguagem jurídico-penal, sofre "auto de resistência", mas creio que pela lógica, dois erros não constituem um acerto. Assassinar temerariamente e justiçamento com as próprias mãos são crimes. Obviamente, isto ,exclui a violência em legítima defesa, o que deve dar-se proporcionalmente ao ataque sofrido.

Recordo-me de um ocorrido datado da Idade das Luzes, quando do medo que causava aos medievos a heresia Cátara. Os cátaros eram adeptos do Maniqueísmo, a existência de dois princípios opostos: o do Bem e o do Mal, onde a alma teria sido criada pelo princípio bom, e a matéria, pelo princípio mal. Portanto, tudo o que gerava a matéria também era mal. Tal era a sanha dos cátaros contra a matéria e tudo o que gerava a matéria, que começaram a linchar mulher grávidas, pelo simples fato de estarem gerando matéria em seus ventres. Não bastasse essa barbaridade, a simples suspeita de uma mulher estar grávida, ou a simples suspeita de ser alguém cátaro, mesmo que este não o fosse, resultava não raramente em linchamento até a morte. A ação destes facínoras só arrefeceu-se quando da instituição pela Igreja do tribunal do Santo Ofício. Isso mesmo, o Santo Ofício existia para proteger as pessoas, ao contrário do que afirmam os arautos do mais ferrenho iluminismo anticlericalista. 

A capa do referido jornal, porém, era desonesta e ideológica: punha um assaltante; um marginal, que embora não tenha tido direito à julgamento segundo os devidos trâmites legais, não deixava de ser um marginal. Pô-lo como vítima da violência urbana, quando ele mesmo a havia praticado primeiro àquela ocasião é intelectualmente desonesto. Pior ainda, foi pô-lo em analogia com os negros que sofreram sob o jugo da escravidão. São situações diferentes: estes, nada roubaram, mas tiveram suas liberdade roubadas; aquele, roubou, e teve sua vida ceifada.

O que exorto a quem me pergunta sobre o ocorrido é: É prudente olhar para trás nas esteiras do tempo e contemplar que outrora estas práticas não deram certo. É prudente, mesmo sob o arder da fúria, deter o criminoso, quando possível, dar-lhe voz de prisão, e entregá-lo às autoridades, sejam elas competentes ou incompetentes. se incompetentes, e consequentemente coadunantes com a injustiça, tenhamos em nossas alma a certeza de que é melhor sofrer injustiça do que praticá-la.

Precisamos urgentemente de equilíbrio.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra...

* Perdoem-me os erros de ortografia e concordância. Escrevo do celular, e quem tem dedos gigantescos entende o martírio que é digitar nestas benditas e minúsculas teclas... assim que puder, os corrijo.




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