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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

G. K. Chesterton e o ceticismo irracional.


Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) é um dos maiores pensadores católicos do século XX e, infelizmente, por diversos motivos, desconhecido  no Brasil. Chesterton era uma "máquina" intelectual. Escreveu mais de 4.000 artigos para jornais. Não bastasse a infinidade de artigos, escreveu mais de 100 livros e aproximadamente 200 contos, quase todos ditados para sua secretária. Destacam-se ainda as biografias sobre Tomás de Aquino e Francisco de Assis, além do livro O homem que foi quinta-feira (The Man Who Was Thursday) e a série de livros ficcionais que contam as peripécias protagonizadas pelo personagem Padre Brown.

Sua obra literária é tão versátil quanto marcante. Além de Ortodoxia, em que expõe os pilares da fé cristã, Chesterton escreveu Everlasting Man [O homem eterno], obra responsável por levar um jovem ateu, C. S. Lewis, ao cristianismo. Também é atribuída a Chesterton, decisiva influência na vida de líderes de movimentos de libertação como Michael Collins (Irlanda), Mahatma Gandhi (Índia) e Martin Luther King (Estados Unidos).

Chesterton era extremamente consciente de sua fé. Mesmo quando tachado de retrógrado, não se intimidava em defender o ideário cristão e opunha-se, sem pedir licença, ao encantamento que o socialismo, o relativismo, o materialismo e o ceticismo despertavam na intelligentsia européia da primeira metade do século XX.

O texto abaixo, é um trecho de Ortodoxia, uma das mais influentes obras de Chesterton, e  mostra que para negar as bases do Cristianismo, os ateus, céticos e adeptos de filosofias modernistas, são capazes de negar qualquer base que lhes dê o mínimo resquício de coerência.

Ortodoxia – G.K Chesterton

Há homens que destroem a si mesmos e destroem a própria civilização se também puderem destruir essa fantástica história [a história do cristianismo].
Esse é o fato supremo e mais aterrador envolvendo a fé: que seus inimigos usarão qualquer arma contra ela, as espadas que cortam os próprios dedos e as lenhas que queimam as próprias casas. Homens que começam a combater a Igreja em benefício da liberdade e da humanidade terminam jogando fora a liberdade e a humanidade só para poderem com isso combater a Igreja. Não é exagero. Eu poderia encher um livro com exemplos disso.
O sr. Blatchford iniciou, como um demolidor bíblico comum, querendo provar que Adão não teve culpa em seu pecado contra Deus; manobrando para defender essa ideia, ele admitiu, como mera questão secundária, que todos os tiranos, de Nero ao rei Leopoldo, não tiveram culpa em nenhum de seus pecados contra a humanidade.
Conheço um homem que tem tal paixão por provar que ele não terá uma existência pessoal depois da morte que recorre à tese de que ele não tem uma existência pessoal agora. Invoca o budismo e diz que todas as almas desaparecem uma na outra. Para provar que não pode ir para o céu ele prova que não pode ir para a cidade de Hartle-pool.
Conheci pessoas que protestavam contra a educação religiosa com argumentos contra qualquer tipo de educação, dizendo que a mente da criança deve crescer livre ou que os mais velhos não devem ensinar aos jovens.
Conheci pessoas que demonstraram que não poderia existir nenhum julgamento divino mostrando que não pode haver nenhum julgamento humano, nem mesmo em prol de objetivos práticos. Elas queimaram o próprio trigo para atear fogo à Igreja; destruíram as próprias ferramentas para destruí-la; qualquer pedaço de pau era bom para bater nela, mesmo que fosse o último pedaço de sua mobília desmantelada.
Não admiramos, mal desculpamos o fanático que destroça este mundo pelo amor do outro. Mas que devemos dizer do fanático que destroça este mundo por causa do ódio pelo outro? Ele sacrifica a própria existência da humanidade à não-existência de Deus. Oferece suas vítimas não para o altar, mas simplesmente para afirmar a inutilidade do altar e o vazio do trono. Ele está disposto a destruir até mesmo aquela ética primária pela qual todas as coisas vivem, em prol de sua estranha e eterna vingança contra alguém que jamais sequer viveu. E, no entanto, a coisa pende dos céus, incólume. Seus opositores só conseguem destruir tudo aquilo a que eles mesmos com justiça dão valor. Não destroem a ortodoxia; destroem apenas o sentido comum e político de coragem. Não provam que Adão não foi responsável perante Deus; como poderiam fazê-lo? Provam apenas (a partir de suas premissas) que o czar não é responsável perante a Rússia. Não provam que Adão não deveria ter sido punido por Deus; provam apenas que o patrão explorador mais próximo não deveria ser punido pelos homens. Com suas dúvidas orientais sobre a personalidade, não nos dão certeza de que não teremos uma vida pessoal depois da morte; apenas nos dão certeza de que não teremos uma vida muito divertida ou completa aqui.
Não é apenas verdade que a fé é a mãe de todas as energias deste mundo, mas é também verdade que os inimigos dela são os pais de toda a confusão do mundo. Os secularistas não destruíram coisas divinas; destruíram coisas seculares, se isso servir de algum conforto para eles. Os Titãs não escalaram o céu; mas devastaram o mundo.

PAX CHRISTI

Diogo Pitta

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