Gosto de meditar sobre a vida dos Santos Mártires da Igreja, pois tais meditações me trazem a certeza de que a vivência Cristã atualmente, é vivida com facilidade, quando comparada com a vivência dos primeiros séculos do Cristianismo. Um exemplo da facilidade de viver o Cristianismo atualmente, quando comparado com o século I, por exemplo, é o acesso à Sagrada Escritura. Hoje, é fácil encontrarmos uma Bíblia, compacta, portátil, impressa em papel de qualidade, e até mesmo, como adoram fazer nossos irmãos protestantes, Bíblia para todo tipo de pessoa; “Bíblia do Homem”, “Bíblia da Mulher”, “Bíblia da saúde”, “Bíblia da Vitória Financeira” e até mesmo, pasmem, “Bíblia do Homossexual” (isso sim é martírio!!!). Porém, não ocorria desta forma nos primeiros séculos; a Bíblia era um conjunto de alguns muitos livros, enrolados em papiros, rolos, escritos em pele de carneiro, e que para carregar todos os livros da Bíblia, o cidadão deveria dispor de alguma força física, pois devia ser realmente pesado. Não era nada prático. Pois bem, imagine também, copiar manualmente os livros da Sagrada Escritura, à pena e tinta, à noite e sob a luz de velas; pois é, assim faziam séculos mais tarde os chamados monges “copistas”. Logo, ler a Bíblia hoje é fácil do ponto de vista da praticidade.
"A Igreja do primeiro milênio nasce do sangue dos mártires: Ao término do segundo milênio, a Igreja tornou-se novamente Igreja de Mártires. É um testemunho que não se deve esquecer”. - escreveu o Papa João Paulo II na "Tertio Millennio Adveniente" ("Ao aproximar-se do terceiro milênio" - carta apostólica sobre a preparação do Jubileu, 10.11.1994, n. 43).
Santa Felicidade, uma Mártir da Igreja, era escrava e foi martirizada em 7 de março de 203, na cidade de Cartago, por ordem do imperador romano Sétimo Severo, que havia proibido a conversão de Cristãos. A história do seu martírio conta que ela estava grávida e foi martirizada dois dias depois de dar a luz, porém, quando iniciaram as dores de parto ainda no cárcere, antes do martírio, os guardas começaram a zombar de Felicidade por estar ela sentindo dores, dizendo; “se sofres assim agora, imagine quando estiver entre os dentes das feras?”. Ela dirigiu-se aos guardas e disse: “ Agora sou eu quem sofro, mas quando eu for à feras, é Cristo que sofrerá em mim!”
É o pleno cumprimento da carta aos Gálatas, capítulo 2, versículo 20; "Eu vivo, mas já não sou eu quem vive; é Cristo que Vive em mim!"
É o pleno cumprimento da carta aos Gálatas, capítulo 2, versículo 20; "Eu vivo, mas já não sou eu quem vive; é Cristo que Vive em mim!"
Santo Inácio de Antioquia, Bispo de Antioquia, teve contato direto com São João Evangelista e quando encaminhava-se para o martírio escreveu cartas belíssimas à Igrejas de várias localidades como Trália, Roma e Esmirna, ainda no ano 100. Santo Inácio, em sua carta aos Romanos, pede para que os membros das Igrejas não intercedam por ele, na tentativa de impedir o seu martírio: “ Perdoai-me irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus. Não me entregueis ao mundo, nem me fascineis com o que é material. Deixai-me contemplar a Luz pura, onde lá chegando, serei homem. Concedei-me ser imitador da Paixãio de meu Deus. Se alguém o possui no coração, entenderá o que quero e terá compaixão de mim, sabendo que ânsia me atormenta”
Santo Inácio não só adverte para que não intervenham, como também revela desejar morrer por Cristo; “Quem me dera alegrar-me com as feras preparadas para mim! Desejo-as bem velozes! Afagá-las-ei para que me devorem depressa! Não aconteça comigo como a outros, os quais, elas medrosas, nem sequer os tocaram. Se elas não me quiserem, eu as obrigarei à força! Perdoai-me!”
Como não encontrar coragem para dar o testemunho e gritar a verdade ao mundo após ler sobre a vida dos mártires da Santa Igreja? Não compreendo como alguém, que se considera Católico, pode ignorar tal verdade!
Outro mártir que me inspira é São Policarpo de Esmirna. São Policarpo, converteu-se ao cristianismo no ano de 80, e teve a grande dita de ter sido discípulo do grande Apóstolo São João Evangelista, de quem recebeu o espírito e a doutrina de Jesus Cristo. Em 96 recebeu a sagração episcopal e foi-lhe confiada a diocese de Esmirna. É possível que São João Evangelista no livro Apocalipse tenha-se referido a Policarpo quando escreveu: "Sei tua tribulação e pobreza, porém, és rico", e mais adiante: "Se fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida". (Apoc. 2, 9.). O santo Bispo-mártir de Antioquia Inácio, alegrou-se muito com a visita de Policarpo, e escreveu duas epístolas importantes, uma a Policarpo e outra aos fiéis de Esmirna, em que lhe dá sábios ensinamentos sobre a santa doutrina.
O interessante, é que São Policarpo, havia previsto como iria ser martirizado; "Meus irmãos, sei que serei condenado à morte pelo fogo. Deus seja bendito, porque se digna de dar-me a coroa do martírio" . Quando foi apresentado ao governador de Esmirna, o mesmo o interrogou se ele era Policarpo e tentou fazer com que ele negasse a Cristo: "Sim, sou Policarpo. Oitenta e seis anos são que completo no serviço de Jesus Cristo e Ele nunca me fez mal algum; como poderia injuriá-lo?". E o governador continuou; "Tenho as feras à minha disposição; se não obedeceres, serás atirado a elas!" Policarpo: "Deixa-as vir! Persisto no meu intento e não mudarei!" O governador: "Se não tens medo das feras, temos ainda o fogo; este te porá manso!" Policarpo: "Ameaças com um fogo que arde por algum tempo, para depois se apagar e nada sabes daquele fogo eterno, que é preparado para os ímpios. Não percas tempo! Manda vir as feras ou faze o que quiseres. Sou cristão e não abandonarei a Cristo".
O que conta-se da coragem de São Policarpo, é que quando se encontrava prestes a ser queimado, os guardas foram amarrá-lo e ele exclamou; "Aquele que me dá a graça de sofrer a pena do fogo, há de dar-me também força para que fique imóvel no meio das labaredas"
O que me questiono é se atualmente, teríamos a coragem apresentada por estes homens e mulheres da Igreja? Creio que não; infelizmente temos cravada em nossas almas a filosofia do “politicamente correto” que impede o martírio pela fé, pois, se acorrentados às verdades impostas pelo mundo atual, nunca gritaremos ao mundo as verdades de Cristo. Não há como servir a Cristo e crer no que o mundo nos apresenta. O mundo apresenta seus sinais, nós devemos apresentar os nossos!
O Cristão é chamado a estar acordado para a verdade, enquanto o mundo dorme na mentira. Somos chamados a proclamar a verdade do Evangelho! “Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, a fim de que se veja que o nosso poder extraordinário é de Deus e não nosso. Em tudo somos atribulados, mas não esmagados. Somo confundidos, mas não desesperados. Somos perseguidos, mas não abandonados. Somo abatidos, mas não aniquilados” (2 Cor 4, 8-9; cf. 11, 22-29).
A perseguições ocorrem e isto é fato! Porém, é também um fato, Cristo já nos ter alertado sobre tais perseguições; “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa. Mas vos farão tudo isso por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viesse e não lhes tivesse falado, não teriam pecado; mas agora não há desculpa para o seu pecado. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles obras, como nenhum outro fez, não teriam pecado; mas agora as viram e odiaram a mim e a meu Pai. Mas foi para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo (Sl 34,19; 68,5). (Jô 15, 18-25) .
Porém, mais adiante, no mesmo Evangelho, Cristo nos da um alento doce porém, com tom profético; uma promessa imersa numa profunda certeza de que a vitória contra este mundo em que vivemos é certa;“Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.”(Jô 16,33).
Portanto, tenhamos a coragem dos Mártires!
PAX CHRISTI
Diogo Pitta
Muito bom artigo, Diogoo!!
ResponderExcluirO mártirio ainda é uma realidade nos dias de hoje, principalmente o martirio branco, que sofremos todos os dias. D. Bruno uma vez disse que de tempos em tempos surgem vários santos, e disse também que este é o momento propício para o surgimento de novos santos. E isso se dá pela situação do mundo de hoje. Estejamos preparados para morrer em nome de Cristo, fisica e socialmente...
Deus o abençoe!
Bjs
Bruna Carla
Obrigado Bruna. Firmes no Serviço! Deus te abençoe também!
ResponderExcluirExcelente! Parabéns, Diogo!
ResponderExcluirObrigado, Bruno, conto com sua ajuda!
ResponderExcluirOra, prezado anônimo, Saramago está para a Teologia, assim como o preto está para o branco; ou seja, são antagônicos! O que esperar de um homem que nutre um profundo desprezo de Deus (mesmo que esse Deus o ame profundamente!) Diante do exposto acima, devo orienta-lo que o Novo testamento, está implícito no antigo, enquanto que o antigo, da-se a entender no Novo.
ResponderExcluirAgradeço por elucidar este ponto da Sagrada Escritura, pelo qual já devo ter passado, porém, não dei-me conta do seu valor profético! Realmente, você contribuiu para que minha fé fosse fortalecida mais ainda, mostrando uma analogia profética entre Mt 16 e Is 22, indicando mais uma vez o que todos nós sabemos; Deus não seria Deus se de um mal não tirasse um bem infinitamente maior! Muito Obrigado, o Reino de Deus agradece! VIVA CRISTO REI!!!!