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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Reflexão sobre o Martírio.

Gosto de meditar sobre a vida dos Santos Mártires da Igreja, pois tais meditações me trazem a certeza de que a vivência  Cristã atualmente, é vivida com facilidade, quando comparada com a vivência dos primeiros séculos do Cristianismo. Um exemplo da facilidade de viver o Cristianismo atualmente, quando comparado com o século I, por exemplo, é o acesso à Sagrada Escritura. Hoje, é fácil encontrarmos uma Bíblia, compacta, portátil, impressa em papel de qualidade, e até mesmo, como adoram fazer nossos irmãos protestantes, Bíblia para todo tipo de pessoa; “Bíblia do Homem”, “Bíblia da Mulher”, “Bíblia da saúde”, “Bíblia da Vitória Financeira” e até mesmo, pasmem, “Bíblia do Homossexual” (isso sim é martírio!!!). Porém, não ocorria desta forma nos primeiros séculos; a Bíblia era um conjunto de alguns muitos livros, enrolados em papiros, rolos, escritos em pele de carneiro, e que para carregar todos os livros da Bíblia, o cidadão deveria dispor de alguma força física, pois devia ser realmente pesado. Não era nada prático. Pois bem, imagine também, copiar manualmente os livros da Sagrada Escritura, à pena e tinta, à noite e sob a luz de velas; pois é, assim faziam séculos mais tarde os chamados monges “copistas”. Logo, ler a Bíblia hoje é fácil do ponto de vista da praticidade.

Mas, retornando ao tema do martírio, o que me fascina nesse tema, é a força e a coragem que emanavam destes homens que viviam realmente o chamado de Cristo, em meio a um mundo que os odiava até o derramamento de sangue. Muitos eram entregues aos leões por sua fé em Cristo! Muitos eram decapitados pela fé em Cristo! O que seria da Igreja sem o Sangue dos Mártires? Um escritor Cristão dos primeiros séculos, chamado Tertuliano, observando todas as mortes que ocorriam por causa do nome de Jesus, escreveu ao Imperador Trajano uma carta onde dizia ao Imperador que não adiantariam seus atos e suas perseguições, e questionava ao Imperador: “ Não percebestes que o Sangue dos Mártires é semente de novos Cristãos ?”, ou seja, semente da Igreja!


Refletindo um pouco sobre isso, percebo o que pode parecer óbvio aos olhos mais apurados; em todos os lugares do mundo onde a Igreja chegou com seus representantes, o sangue dos mártires foi derramado, e ali, a Igreja se estabeleceu com a força do Espírito Santo. Não é por acaso, que o Vaticano é o único País que possui “embaixadas” em quase todos os países do mundo! Onde há um ser humano, ali estará a Igreja Católica, para que se cumpra o que nos ordenou nosso Senhor; “ Portanto ide, e ensinai a todas as Nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que eu vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (MT 28, 19-20).

"A Igreja do primeiro milênio nasce do sangue dos mártires: Ao término do segundo milênio, a Igreja tornou-se novamente Igreja de Mártires. É um testemunho que não se deve esquecer”. - escreveu o Papa João Paulo II na "Tertio Millennio Adveniente" ("Ao aproximar-se do terceiro milênio" - carta apostólica sobre a preparação do Jubileu, 10.11.1994, n. 43).

Santa Felicidade, uma Mártir da Igreja, era escrava e foi martirizada em 7 de março de 203, na cidade de Cartago, por ordem do imperador romano Sétimo Severo, que havia proibido a conversão de Cristãos. A história do seu martírio conta que ela estava grávida e foi martirizada dois dias depois de dar a luz, porém, quando iniciaram as dores de parto ainda no cárcere, antes do martírio, os guardas começaram a zombar de Felicidade por estar ela sentindo dores, dizendo; “se sofres assim agora, imagine quando estiver entre os dentes das feras?”. Ela dirigiu-se aos guardas e disse: “ Agora sou eu quem sofro, mas quando eu for à feras, é Cristo que sofrerá em mim!” 


É o pleno cumprimento da carta aos Gálatas, capítulo 2, versículo 20; "Eu vivo, mas já não sou eu quem vive; é Cristo que Vive em mim!"

Santo Inácio de Antioquia, Bispo de Antioquia, teve contato direto com São João Evangelista e quando encaminhava-se para o martírio escreveu cartas belíssimas à Igrejas de várias localidades como Trália, Roma e Esmirna, ainda no ano 100. Santo Inácio, em sua carta aos Romanos, pede para que os membros das Igrejas não intercedam por ele, na tentativa de impedir o seu martírio: “ Perdoai-me irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus. Não me entregueis ao mundo, nem me fascineis com o que é material. Deixai-me contemplar a Luz pura, onde lá chegando, serei homem. Concedei-me ser imitador da Paixãio de meu Deus. Se alguém o possui no coração, entenderá o que quero e terá compaixão de mim, sabendo que ânsia me atormenta”

Santo Inácio não só adverte para que não intervenham, como também revela desejar morrer por Cristo; “Quem me dera alegrar-me com as feras preparadas para mim! Desejo-as bem velozes! Afagá-las-ei para que me devorem depressa! Não aconteça comigo como a outros, os quais, elas medrosas, nem sequer os tocaram. Se elas não me quiserem, eu as obrigarei à força! Perdoai-me!”

Como não encontrar coragem para dar o testemunho e gritar a verdade ao mundo após ler sobre a vida dos mártires da Santa Igreja? Não compreendo como alguém, que se considera Católico, pode ignorar tal verdade!

Outro mártir que me inspira é São Policarpo de Esmirna. São Policarpo, converteu-se ao cristianismo no ano de 80, e teve a grande dita de ter sido discípulo do grande Apóstolo São João Evangelista, de quem recebeu o espírito e a doutrina de Jesus Cristo. Em 96 recebeu a sagração episcopal e foi-lhe confiada a diocese de Esmirna. É possível que São João Evangelista no livro Apocalipse tenha-se referido a Policarpo quando escreveu: "Sei tua tribulação e pobreza, porém, és rico", e mais adiante: "Se fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida". (Apoc. 2, 9.). O santo Bispo-mártir de Antioquia Inácio, alegrou-se muito com a visita de Policarpo, e escreveu duas epístolas importantes, uma a Policarpo e outra aos fiéis de Esmirna, em que lhe dá sábios ensinamentos sobre a santa doutrina.

O interessante, é que São Policarpo, havia previsto como iria ser martirizado; "Meus irmãos, sei que serei condenado à morte pelo fogo. Deus seja bendito, porque se digna de dar-me a coroa do martírio" . Quando foi apresentado ao governador de Esmirna, o mesmo o interrogou se ele era Policarpo e tentou fazer com que ele negasse a Cristo: "Sim, sou Policarpo. Oitenta e seis anos são que completo no serviço de Jesus Cristo e Ele nunca me fez mal algum; como poderia injuriá-lo?". E o governador continuou; "Tenho as feras à minha disposição; se não obedeceres, serás atirado a elas!" Policarpo: "Deixa-as vir! Persisto no meu intento e não mudarei!" O governador: "Se não tens medo das feras, temos ainda o fogo; este te porá manso!" Policarpo: "Ameaças com um fogo que arde por algum tempo, para depois se apagar e nada sabes daquele fogo eterno, que é preparado para os ímpios. Não percas tempo! Manda vir as feras ou faze o que quiseres. Sou cristão e não abandonarei a Cristo".

O que conta-se da coragem de São Policarpo, é que quando se encontrava prestes a ser queimado, os guardas foram amarrá-lo e ele exclamou; "Aquele que me dá a graça de sofrer a pena do fogo, há de dar-me também força para que fique imóvel no meio das labaredas"
O que me questiono é se atualmente, teríamos a coragem apresentada por estes homens e mulheres da Igreja? Creio que não; infelizmente temos cravada em nossas almas a filosofia do “politicamente correto” que impede o martírio pela fé, pois, se acorrentados às verdades impostas pelo mundo atual, nunca gritaremos ao mundo as verdades de Cristo. Não há como servir a Cristo e crer no que o mundo nos apresenta. O mundo apresenta seus sinais, nós devemos apresentar os nossos!

O Cristão é chamado a estar acordado para a verdade, enquanto o mundo dorme na mentira. Somos chamados a proclamar a verdade do Evangelho! “Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, a fim de que se veja que o nosso poder extraordinário é de Deus e não nosso. Em tudo somos atribulados, mas não esmagados. Somo confundidos, mas não desesperados. Somos perseguidos, mas não abandonados. Somo abatidos, mas não aniquilados” (2 Cor 4, 8-9; cf. 11, 22-29).

A perseguições ocorrem e isto é fato! Porém, é também um fato, Cristo já nos ter alertado sobre tais perseguições; “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa. Mas vos farão tudo isso por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viesse e não lhes tivesse falado, não teriam pecado; mas agora não há desculpa para o seu pecado. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles obras, como nenhum outro fez, não teriam pecado; mas agora as viram e odiaram a mim e a meu Pai. Mas foi para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo (Sl 34,19; 68,5). (Jô 15, 18-25) .

Porém, mais adiante, no mesmo Evangelho, Cristo nos da um alento doce porém, com tom profético; uma promessa imersa numa profunda certeza de que a vitória contra este mundo em que vivemos é certa;“Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.”(Jô 16,33).
Portanto, tenhamos a coragem dos Mártires!

PAX CHRISTI
Diogo Pitta

5 comentários:

  1. Muito bom artigo, Diogoo!!

    O mártirio ainda é uma realidade nos dias de hoje, principalmente o martirio branco, que sofremos todos os dias. D. Bruno uma vez disse que de tempos em tempos surgem vários santos, e disse também que este é o momento propício para o surgimento de novos santos. E isso se dá pela situação do mundo de hoje. Estejamos preparados para morrer em nome de Cristo, fisica e socialmente...
    Deus o abençoe!
    Bjs

    Bruna Carla

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  2. Obrigado Bruna. Firmes no Serviço! Deus te abençoe também!

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  3. Ora, prezado anônimo, Saramago está para a Teologia, assim como o preto está para o branco; ou seja, são antagônicos! O que esperar de um homem que nutre um profundo desprezo de Deus (mesmo que esse Deus o ame profundamente!) Diante do exposto acima, devo orienta-lo que o Novo testamento, está implícito no antigo, enquanto que o antigo, da-se a entender no Novo.
    Agradeço por elucidar este ponto da Sagrada Escritura, pelo qual já devo ter passado, porém, não dei-me conta do seu valor profético! Realmente, você contribuiu para que minha fé fosse fortalecida mais ainda, mostrando uma analogia profética entre Mt 16 e Is 22, indicando mais uma vez o que todos nós sabemos; Deus não seria Deus se de um mal não tirasse um bem infinitamente maior! Muito Obrigado, o Reino de Deus agradece! VIVA CRISTO REI!!!!

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