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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

J.R.R.Tolkien e a conversão de C.S. Lewis





Estou lendo uma envolvente biografia de J.R.R. Tolkien, e para quem não faz idéia de quem seria este nobre e eruditíssimo senhor, ele é autor, dentre inúmeras obras de literatura fantástica de garbo, do magnífico “ O Senhor dos Anéis”, e do não menos magnífico “ O Hobbit”. Ambos tornram-se sucessos de bilheteria ao serem produzidos para a cinematografia sob forma de trilogias. Estas duas obras de Tolkien, juntamente com “O Silmarillion” – uma espécie de livro do Gênesis da Terra Média, que é o lugar onde se passa toda a saga - coroam J.R.R. Tolkien como o “Senhor da Fantasia”.

O capítulo 8 da referida biografia, é dedicado às amizades de Tolkien, e de que maneira estas amizades influenciaram seu pensamento. Todos os amigos de Tolkien nutriam a mesma afeição ao cultivo do intelecto, e davam-se em seus encontros semanais, à leitura em voz alta, à conversas sobre os mais variados temas, e à cerveja. Dentre os membros desse grupo, o qual chamavam de “Iklings”, que significa “Tinteiros” ( uma alusão ao fato de serem escritores e apaixonados pela escrita.) havia um membro ilustre e eminente, membro cujas obras de literatura fantástica também foram transportadas para as telas dos cinemas: refiro-me à C.S. Lewis. Tolkien, assim como outros do grupo, era fervorosamente católico.

A amizade entre os dois revela-se intensa e complexa desde o início, porém, há um fato que é relatado no final do capítulo que particularmente chamou minha atenção; fala sobre a conversão de C.S Lewis de agnóstico para Cristão, operada pela apologética de J.R.R. Tolkien. Assim se expressa Michael White, biógrafo de Tolkien:

“Entre muitos debates intensos e frutíferos que Tolkien e Lewis tiveram, houve um que se destacou como um momento decisivo, marcando a circunstância em que Lewis passou de agnóstico para crente.

Foi em um sábado à noite, 19 de setembro de 1931. Amigo de Lewis e Tolkien, Hugo Dyson – também ele cristão – estava fazendo uma de suas visitas frequentes a Oxford e havia jantado com Jack (apelido como era chamado Lewis) e Tolkien em Magdalen. Ele estava bem ciente das conversas que seus dois amigos haviam tido sobre o assunto e entusiasmado para juntar-se a eles. Depois do jantar, os três saíram para um passeio, e a conversa naturalmente voltou-se para o Cristianismo. Lewis havia se entrincheirado em sua visão panteísta de Deus e, por conta disso, não podia começar a adotar o dogma cristão, que em seu âmago, requer uma crença em Cristo e uma convicção resoluta que Jesus foi enviado para morrer na Cruz com o objetivo de salvar nossas almas. Lewis só podia aceitar isso como sendo nada mais que um mito. Ele, como Tolkien, era um estudioso das mitologias antigas, das fábulas de heróis e da salvação moral pagã. Para ele, a história de Cristo  era simplesmente apenas outra lenda, outro mito que não era mais preciso ou significante para ele e o mundo moderno de qualquer outro. E lá, no fundo, ele acreditava, mitos eram claramente mentiras. 

Tolkien escutou cuidadosamente o que seu amigo disse e quando Lewis chegou a essa conclusão, ele (Tolkien) ergueu os braços, como se dissesse: “Como você pode acreditar que história de Cristo não passa de uma lenda antiga?” Então Tolkien respondeu com um argumento que mudou o rumo da vida de Lewis.
Mitos, declarou ele, com certeza não são mentiras. Mitos derivam de um núcleo verdadeiro e carregam consigo um significado cultural muito específico. O cristianismo é baseado naquilo que Lewis considerava o “mito de Cristo”. Muito bem então, Tolkien argumentava, chame-o de mito se assim quiser, mas ele é construído a partir de eventos reais e inspirado em uma verdade profunda. Em última instância, nenhum mito é mentira, acreditava Tolkien, e o “Mito” que reside no centro do cristianismo,  fornece um caminho a ser seguido em busca dos aspectos não materialistas de cada ser humano, uma estrada para a verdade espiritual mais profunda. 

A revelação não chegou instantaneamente, mas é claro que esta conversa fez Lewis pensar a respeito do problema da Fé de uma maneira bem diferente daquela a qual estava acostumado. Lewis nunca aceitou alguns aspectos do conservadorismo cristão; parecia que seu intelecto sempre ficava no caminho de sua Fé. Uma vez escreve para um amigo: “ Como eu – eu, mais do que ninguém – poderia chegar a acreditar numa história ridícula como essa?” No entanto, duas semanas após seu debate dom Tolkien e Dyson, Lewis estava escrevendo a um amigo Arthur Greeves, contando-lhe que havia deixado suas convicções de longa data  para assumir uma nova posição na qual poderia finalmente aceitar Cristo; em outras palavras, ele agora se considerava “um cristão”.”

WHITE, Michael, “J.R.R. Tolkien, o senhor da fantasia”; tradução de Bruno Dorigatti. Rio de Janeiro; Darkside Books, 2013

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