Por Antonio Royo Marín, O.P.
Tradução: Diogo Pitta
A
meditação dos principais mistérios da vida de Jesus e seu nascimento constitui
como a alma do Rosário, assim como a reza vocal dos“Pai Nossos” e das “Ave
Marias”, constituem como seu corpo material. Ambas as coisas são absolutamente
necessárias para que exista o Rosário. Quem limitar-se a rezar os Pais nossos e
as Ave Marias, sem meditar nos mistérios, faria, sem dúvida, uma excelente
oração, mas não rezaria o Rosário. E o que meditasse atentamente os mistérios,
mas sem rezar os “Pai Nossos” e as “Ave Marias”, faria uma excelente meditação,
mas é claro que tampouco estaria rezando o Rosário. Para que exista o Rosário, é
imprescindível, juntar as duas coisas: a récita das orações e a meditação dos
mistérios.
De
que maneira pode-se rezar eficazmente o Santo Rosário?
Para
obter do Santo Rosário toda sua eficácia impetratória e santificadora, é
evidente que não basta rezá-lo de uma maneira mecânica e distraída, como se
fosse uma fita-métrica. É preciso rezá-lo digna, atenta e devotamente, como
qualquer outra oração vocal.
Em
teoria, tem-se que reconhecer que é difícil rezar bem o Rosário, precisamente
porque tem que juntar-se a oração vocal com a mental, sob pena de invalidá-lo
enquanto Rosário. Porém na prática, é fácil encontrar alguns procedimentos que
ajudem-nos na reza correta e piedosa desta grande devoção Mariana.
O Rosário deve rezar-se
dignamente. Esta
primeira condição exige, primordialmente, que a récita do Rosário se faça de
maneira decorosa, como corresponde a Majestade de Deus, a quem principalmente
nos dirigimos nesta oração. O melhor procedimento é rezá-lo de joelhos diante
de um Sacrário, ou de uma Imagem devota da Santíssima Virgem Maria, mas em
geral, pode-se rezá-lo em qualquer outra postura digna, modestamente sentado,
passeando pelo campo, etc. seria indecoroso rezá-lo na cama, salvo por razões
de enfermidade; ou o interrompendo constantemente para contestar perguntas
alheias à reza, ou em lugar público e concorrido, que inevitavelmente dificultará
a atenção.
O Santo Rosário deve rezar-se
atentamente. A atenção
é necessária para evitar a irreverência plenamente voluntária. Como queremos
que Deus nos escute, se começamos por não nos escutarmos a nós mesmos? Porém,
nem toda distração é culpável. Não temos o controle despótico sobre a nossa
imaginação, senão unicamente política, e não podemos evitar que se nos escape
sem permissão, como um servo desobediente e indômito, que tal é “a louca da
casa” (a imaginação). As distrações involuntárias não invalidam o efeito
meritório e impetratório da oração, sob a condição de que se faça o possível
para contê-las e evitá-las. Escutemos Santo Tomás, que explica-nos
admiravelmente este ponto interessantíssimo ao perguntar-se “se a oração deve
ser atenta” :
“Esta
questão afeta principalmente a oração vocal. E para resolvê-la com acerto,
tem-se que distinguir em primeiro lugar, o que é maior e o que é absolutamente
necessário. É evidente que para obter o fim da oração, é melhor que seja
atenta. Porém, se fixamo-nos no que é absolutamente necessário, tem-se que
distinguir na oração um tríplice efeito: meritório, impetratório e certo
deleite espiritual que a oração produz na alma que ora. Para os efeitos
meritório e impetratório, não é necessário que a oração seja atenta de uma
maneira constantemente atual ( ou seja, todos e cada um dos momentos), senão
que basta e é eficiente a atenção virtual, que é aquela que se pôs ao princípio
da oração e perdura ao longo dela, embora sejamos submetidos à distrações
involuntárias. Desde já, se faltasse a primeira intenção, a oração não seria
meritória nem impetratória. Ao invés, a atenção atual é absolutamente
necessária para obter aquele deleite espiritual que leva consigo a oração
fervorosa, que é incompatível com a distração, embora seja involuntária.
Tenha-se em conta,
ademais, que na oração vocal pode-se pôr uma tripla atenção. A primeira e mais
perfeita refere-se à correta pronúncia das palavras constantes. A segunda,
fixa-se no sentido dessas palavras. A terceira, finalmente, põe todo o seu
empenho no fim da oração, ou seja, em Deus e na coisa pela qual se ora. Esta
última é a mais importante e necessária, e podem tê-la incluso as pessoas de
curto alcance intelectual, ou que não entendem o sentido das palavras que
pronunciam (por exemplo, por rezar em latim). Esta última atenção pode ser tão
intensa, que pode arrebatar a mente à Deus, até o ponto de fazermos perder de
vista todas as demais coisas.”
Tendo
em conta estes princípios do Doutor Angélico e com o fim de facilitar a atenção
na récita do Santo Rosário, e extrair dele sua máxima eficácia santificadora,
pode seguir-se o seguinte método, que tem sido ensinado com êxito por muitas
pessoas que sofriam distrações na reza do mesmo:
1.
Durante a récita do Pai-Nosso, fixar-se
unicamente no sentido maravilhoso de cada uma das palavras, sem pensar em nada
do mistério correspondente do Rosário, já que é psicologicamente impossível dar
atenção a duas coisas de uma vez.
2.
Durante
a récita das três primeiras Ave-Marias, fixar-se exclusivamente no sentido
dessas Ave-Marias, saudando à Virgem Santíssima com elas e sem levar em conta o
mistério a que pertencem, pela razão já exposta.
3.
Durante
a reza das três Ave-Marias seguintes, pensar somente no mistério correspondente
que se está rezando, sem pensar em nada sobre as Ave-Marias que se recitam.
4.
Durante
as três ou quatro Ave-Marias finais, pensar somente nas conseqüências práticas
que se desprendem do mistério correspondente (exemplo: humildade de Maria, seu
amor pela Cruz, etc...)
5.
Durante
o “Glória”, pensar unicamente em glorificar com Ela (com a santíssima Virgem) a
Santíssima Trindade. O término, o Rosário tem de ser rezado devotamente. A
devoção consiste em uma prontidão de ânimo para com as coisas tocantes ao
serviço de Deus. É impossível que a alma não se sinta plena de devoção se reza
tão perfeitamente possível o Rosário.
Aqui,
temos de advertir para algo importantíssimo. O fim principal de toda oração
vocal ou mental é unir a alma com Deus de maneira mais íntima realizável. Todo
o resto, inclusa a impetração das Graças que pedimos, é secundário em relação a
esta finalidade suprema. De onde temos de concluir que, se durante a récita do
Santo Rosário, ou de qualquer outra oração vocal obrigatória sentir-se a alma
plena de um amor de Deus tão intenso, que a reza se torne penosa caso seja um
pouco menos que o impossível, haver-se-ia de suspender imediatamente a récita
sem escrúpulo algum, para “desejar-se abrasar em silêncio” por aquela chama de
amor viva “que dá a Vida Eterna e paga toda a dívida”, como disse São João da
Cruz.
A
reza do Santo Rosário nas condições as quais acabamos de indicar, constitui um
dos maiores e claros sinais de predestinação que podemos alcançar neste mundo,
ao reunir a eficácia inefável da oração impetratória, a perseverança final, e a
poderosíssima intercessão da Santíssima Virgem Maria, como mediadora universal
de todas as Graças. Queira Deus conceder a cada um dos leitores o desejo
ardente de um grande devoto da Virgem Santíssima em sua dupla invocação, do Carmelo
e do Rosário:
Quando com branco sudário
cobrirem os despojos meus,
salva-me teu escapulário
e tenham meus dedos frios
as contas do teu Rosário!
Trecho original em http://www.statveritas.com.ar
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