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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Santo Rosário, prenda dileta do Imaculado Coração de Maria



Por Antonio Royo Marín, O.P.


Tradução: Diogo Pitta

A meditação dos principais mistérios da vida de Jesus e seu nascimento constitui como a alma do Rosário, assim como a reza vocal dos“Pai Nossos” e das “Ave Marias”, constituem como seu corpo material. Ambas as coisas são absolutamente necessárias para que exista o Rosário. Quem limitar-se a rezar os Pais nossos e as Ave Marias, sem meditar nos mistérios, faria, sem dúvida, uma excelente oração, mas não rezaria o Rosário. E o que meditasse atentamente os mistérios, mas sem rezar os “Pai Nossos” e as “Ave Marias”, faria uma excelente meditação, mas é claro que tampouco estaria rezando o Rosário. Para que exista o Rosário, é imprescindível, juntar as duas coisas: a récita das orações e a meditação dos mistérios. 


De que maneira pode-se rezar eficazmente o Santo Rosário?


Para obter do Santo Rosário toda sua eficácia impetratória e santificadora, é evidente que não basta rezá-lo de uma maneira mecânica e distraída, como se fosse uma fita-métrica. É preciso rezá-lo digna, atenta e devotamente, como qualquer outra oração vocal.


Em teoria, tem-se que reconhecer que é difícil rezar bem o Rosário, precisamente porque tem que juntar-se a oração vocal com a mental, sob pena de invalidá-lo enquanto Rosário. Porém na prática, é fácil encontrar alguns procedimentos que ajudem-nos na reza correta e piedosa desta grande devoção Mariana.


O Rosário deve rezar-se dignamente. Esta primeira condição exige, primordialmente, que a récita do Rosário se faça de maneira decorosa, como corresponde a Majestade de Deus, a quem principalmente nos dirigimos nesta oração. O melhor procedimento é rezá-lo de joelhos diante de um Sacrário, ou de uma Imagem devota da Santíssima Virgem Maria, mas em geral, pode-se rezá-lo em qualquer outra postura digna, modestamente sentado, passeando pelo campo, etc. seria indecoroso rezá-lo na cama, salvo por razões de enfermidade; ou o interrompendo constantemente para contestar perguntas alheias à reza, ou em lugar público e concorrido, que inevitavelmente dificultará a atenção.


O Santo Rosário deve rezar-se atentamente. A atenção é necessária para evitar a irreverência plenamente voluntária. Como queremos que Deus nos escute, se começamos por não nos escutarmos a nós mesmos? Porém, nem toda distração é culpável. Não temos o controle despótico sobre a nossa imaginação, senão unicamente política, e não podemos evitar que se nos escape sem permissão, como um servo desobediente e indômito, que tal é “a louca da casa” (a imaginação). As distrações involuntárias não invalidam o efeito meritório e impetratório da oração, sob a condição de que se faça o possível para contê-las e evitá-las. Escutemos Santo Tomás, que explica-nos admiravelmente este ponto interessantíssimo ao perguntar-se “se a oração deve ser atenta” :


            “Esta questão afeta principalmente a oração vocal. E para resolvê-la com acerto, tem-se que distinguir em primeiro lugar, o que é maior e o que é absolutamente necessário. É evidente que para obter o fim da oração, é melhor que seja atenta. Porém, se fixamo-nos no que é absolutamente necessário, tem-se que distinguir na oração um tríplice efeito: meritório, impetratório e certo deleite espiritual que a oração produz na alma que ora. Para os efeitos meritório e impetratório, não é necessário que a oração seja atenta de uma maneira constantemente atual ( ou seja, todos e cada um dos momentos), senão que basta e é eficiente a atenção virtual, que é aquela que se pôs ao princípio da oração e perdura ao longo dela, embora sejamos submetidos à distrações involuntárias. Desde já, se faltasse a primeira intenção, a oração não seria meritória nem impetratória. Ao invés, a atenção atual é absolutamente necessária para obter aquele deleite espiritual que leva consigo a oração fervorosa, que é incompatível com a distração, embora seja involuntária. 


Tenha-se em conta, ademais, que na oração vocal pode-se pôr uma tripla atenção. A primeira e mais perfeita refere-se à correta pronúncia das palavras constantes. A segunda, fixa-se no sentido dessas palavras. A terceira, finalmente, põe todo o seu empenho no fim da oração, ou seja, em Deus e na coisa pela qual se ora. Esta última é a mais importante e necessária, e podem tê-la incluso as pessoas de curto alcance intelectual, ou que não entendem o sentido das palavras que pronunciam (por exemplo, por rezar em latim). Esta última atenção pode ser tão intensa, que pode arrebatar a mente à Deus, até o ponto de fazermos perder de vista todas as demais coisas.”


Tendo em conta estes princípios do Doutor Angélico e com o fim de facilitar a atenção na récita do Santo Rosário, e extrair dele sua máxima eficácia santificadora, pode seguir-se o seguinte método, que tem sido ensinado com êxito por muitas pessoas que sofriam distrações na reza do mesmo:


1.       Durante a récita do Pai-Nosso, fixar-se unicamente no sentido maravilhoso de cada uma das palavras, sem pensar em nada do mistério correspondente do Rosário, já que é psicologicamente impossível dar atenção a duas coisas de uma vez.


2.      Durante a récita das três primeiras Ave-Marias, fixar-se exclusivamente no sentido dessas Ave-Marias, saudando à Virgem Santíssima com elas e sem levar em conta o mistério a que pertencem, pela razão já exposta.


3.      Durante a reza das três Ave-Marias seguintes, pensar somente no mistério correspondente que se está rezando, sem pensar em nada sobre as Ave-Marias que se recitam.


4.      Durante as três ou quatro Ave-Marias finais, pensar somente nas conseqüências práticas que se desprendem do mistério correspondente (exemplo: humildade de Maria, seu amor pela Cruz, etc...)


5.      Durante o “Glória”, pensar unicamente em glorificar com Ela (com a santíssima Virgem) a Santíssima Trindade. O término, o Rosário tem de ser rezado devotamente. A devoção consiste em uma prontidão de ânimo para com as coisas tocantes ao serviço de Deus. É impossível que a alma não se sinta plena de devoção se reza tão perfeitamente possível o Rosário.


Aqui, temos de advertir para algo importantíssimo. O fim principal de toda oração vocal ou mental é unir a alma com Deus de maneira mais íntima realizável. Todo o resto, inclusa a impetração das Graças que pedimos, é secundário em relação a esta finalidade suprema. De onde temos de concluir que, se durante a récita do Santo Rosário, ou de qualquer outra oração vocal obrigatória sentir-se a alma plena de um amor de Deus tão intenso, que a reza se torne penosa caso seja um pouco menos que o impossível, haver-se-ia de suspender imediatamente a récita sem escrúpulo algum, para “desejar-se abrasar em silêncio” por aquela chama de amor viva “que dá a Vida Eterna e paga toda a dívida”, como disse São João da Cruz.


A reza do Santo Rosário nas condições as quais acabamos de indicar, constitui um dos maiores e claros sinais de predestinação que podemos alcançar neste mundo, ao reunir a eficácia inefável da oração impetratória, a perseverança final, e a poderosíssima intercessão da Santíssima Virgem Maria, como mediadora universal de todas as Graças. Queira Deus conceder a cada um dos leitores o desejo ardente de um grande devoto da Virgem Santíssima em sua dupla invocação, do Carmelo e do Rosário:


Quando com branco sudário

cobrirem os despojos meus,

salva-me teu escapulário

e tenham meus dedos frios

as contas do teu Rosário!

Trecho original em http://www.statveritas.com.ar

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