Translate

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pedagogia do Sofrimento



“Jesus sempre tem um olhar diferente do nosso. Nós temos a tendência ao pessimismo imediatista, mas Jesus nos eleva para lugares mais altos para que possamos enxergar mais adiante.”

É árdua a tentativa de encarar o sofrimento com serenidade, seja ele de ordem psíquica, física ou espiritual, porém a tentativa já é um começo. Tenho tentado refletir sobre o assunto “sofrimento”, mas não sob uma ótica de meras dores estéreis, mas tenho tentado olhar para alguns episódios sob a hermenêutica do aprendizado, ou como alguns chamam, a “pedagogia do sofrimento”. 

“A Cruz é uma escola”, disse, Santo Agostinho em um de seus sermões, e é explícita a intenção deste Doutor da Igreja em correlacionar sofrimento com aprendizado. 

O que percebo, é que na grande maioria das vezes, a pessoa que sofre, por algum tempo, é acometido por algum tipo de inércia, que o torna paralítico diante de acontecimentos que geram algum tipo de dor ou algo que agrida de alguma forma seu “universo”, e em muitas destas ocasiões não há opções satisfatórias se não sofrer!  

O que tenho a impressão (quase uma certeza), é que Deus, na sua infinita e insondável sabedoria, permite que em algumas ocasiões, nós tomemos uma via errada, mas que sob seu controle, em algum momento retornaríamos à via certa, isto para que durante a passagem pela via errada, aprendamos com os tropeções e feridas, que aquela via não é a correta.

Parece um raciocínio simples; sim, é bem simples, porém, o olhar de quem protagoniza o sofrimento é prejudicado pelo desespero, que não raro, assola quem vive a situação.

Sim, coisas belas podem surgir do sofrimento. O catecismo da Igreja católica aborda o sofrimento, com afirmação semelhante à exposta acima:

A enfermidade pode levar a pessoa à angústia, a fechar-se sobre si mesma e, às vezes, ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também pode tornar a pessoa mais madura, ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para voltar-se àquilo que é essencial. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus, um retorno a Ele.” (CIC 1501).

O Cristianismo é rico em exemplos de homens e mulheres que souberam extrair de seus sofrimentos o mais belo do relacionamento com Deus, como os Santos Mártires, que viram nos sofrimentos que os aguardavam nos dentes das feras, um ponte direta para o coração de Jesus. Conta-se que Santo Irineu de Lyon, quando era conduzido para seu martírio, escrevia cartas às Igrejas constituídas no oriente, e que numa dessas cartas, clamava aos seus irmãos que não o impedissem de nascer para Cristo, pelo seu martírio. Eles souberam encontrar no sofrimento um tesouro, uma forma de desenvolver intimidade com Cristo, que além de ser nosso Senhor, é ícone maior do sofrimento humano, mesmo entre os não cristãos. 

Mas se há aprendizado e algo de bom no sofrimento, por que fugimos do sofrimento? Por que esta repulsa; esta negação para o sofrimento? São Máximo Confessor, diz que temos a tendência humanade fugir da dor e buscar o prazer, e segundo seus escritos esta fuga seria a origem de muitas de nossas faltas e pecados, pois no desespero, no intuito de fugir da dor, buscamos um prazer que não nos edifica, tampouco nos ensina algo proveitoso. 

Eu tinha a mania de pedir a Deus, que me privasse dos meus sofrimentos, e em dado momento me conscientizei, que não era a privação dos sofrimentos que Deus queria para mim, mas sim que eu aprendesse algo de bom com o que me causava sofrimento. Gosto muito de uma frase de Santo Agostinho, que descreve o que penso sobre o sofrimento: “Deus não seria Deus, se de um mal, ele não tirasse um bem infinitamente maior!” 

Uma lembrança simples, porém que sempre é luz para mim, é um episódio contado pela minha mãe; dizia ela, que ou eu ou meus irmãos (não me recordo quem) quando éramos bem pequenos, insistíamos em colocar os dedinhos curiosos numa tomada, e mesmo sendo chamados a atenção insistentemente por ela, a tentativa era recorrente. Em determinado momento, ela permitiu que os dedos “nervosos” fossem colocados na tomada. O resultado, é que um choque breve foi sentido pela ponta dos dedos, porém, foi o suficiente para causar choro e medo. Nunca mais colocamos dedos em tomadas. 

Foi uma dor necessária, algo que precisava ocorrer para que ficasse de alguma forma gravado no íntimo, que aquela atitude errada  e nociva causou sofrimento. É algo que está embutido na nossa genética; um instinto que mantém a espécie humana.

Devemos ter gravadas no coração, as Revelações da Sagrada Escritura a respeito do sofrimento, na qual São Paulo nos diz: Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos.” (II Coríntios 1,6). 

São Tiago nos mostra os frutos provenientes de saber suportar com o discernimento do espírito as provações: Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência.” (Tiago 1,2-3)

São João Crisóstomo, um grande Doutor da Igreja, nos diz: “Quando o Senhor concede a alguém a graça de sofrer, faz-lhe um bem maior do que se lhe desse o poder de ressuscitar os mortos. Isto porque o homem que faz milagres se torna devedor de Deus, mas no sofrimento, Deus se torna devedor do Homem.”

Creio que é melhor saber lidar com o sofrimento que não sofrer. Precisamos olhar os acontecimentos do alto, e isto se faz possível se olharmos com o olhar de Jesus para as situações. Ele sempre tem um olhar diferente do nosso. Nós tendemos ao pessimismo imediatista, mas Jesus nos eleva para lugares mais altos para que possamos enxergar mais adiante. Por isso é muito difícil passar por momentos de tempestade, de tormentas, sem estar aliados à Jesus, que em todos os momentos, nos guia por caminhos mais seguros. Jesus nos ensina como sofrer de maneira fértil através dos Evangelhos e de Toda a Sagrada Escritura, o problema é que esta proposta é menos atrativa para o mundo de hoje. O mundo está mais atraído pela busca pelo prazer, como anestésico ou fuga da dor.

Uma família que passa por momentos de intenso sofrimento, teria uma luz forte e um caminho já sinalizado, se olhassem pelo menos rapidamente para Jesus. Suportar os espinhos da vida cotidiana, ao lado de quem suportou os espinhos dos pecados de toda a humanidade, parece-me a opção mais sensata e produtiva. Ele passou por isso, logo pode nos ensinar como.

PAX CHRISTI
Diogo Pitta

4 comentários:

  1. Muito bom, Diogo!!!

    Santa Felicidade, mãe e mártir, rogai por nós!

    ResponderExcluir
  2. "Se o sofrimento nos torna mais perto do PAI, então o sofrimento é uma DADIVA?!"

    ResponderExcluir
  3. OLHANDO PELO LADO PEDAGÓGICO SIM.

    ResponderExcluir
  4. não somente pelo lado pedagógico, mas salvífico! Não pode cantar Aleluia nas Glórias da ressurreição quem não chorou e gemeu aos pés da Cruz na Paixão...

    ResponderExcluir